Guriri

ilha em São Mateus, município do Espírito Santo
 Nota: Se procura outros significados de Guriri, veja Guriri (desambiguação).


Guriri é um bairro localizado no município de São Mateus, estado do Espírito Santo. Cercada por água por todos os lados, é uma ilha, mesmo que tenha "nascido" de forma artificial após a detonação de uma barreira natural que criou a foz artifical do Rio Mariricu em Barra Nova. A foz artificial foi formada artificialmente em meados do século XX com o intuito de drenar a região da Suruaca. Logo, a partir da criação dessa foz formou-se a Ilha de Guriri, maior ilha do estado do Espírito Santo. [2]

Guriri
  Bairro do Brasil  
Diversas imagens sobre Guriri
Diversas imagens sobre Guriri
Diversas imagens sobre Guriri
Localização
Unidade federativa  Espírito Santo
Distrito Barra Nova
Município São Mateus
Outras informações
Limites Bairro Rio Preto e município de Conceição da Barra
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)[1]

É muito procurada por turistas mineiros e do norte do estado capixaba. O litoral mateense mede aproximadamente 43 quilômetros de extensão, sendo Guriri a praia mais conhecida.

Durante o verão o Guriri recebe milhares de veranistas de várias cidades do Estado e de outros estados principalmente Minas Gerais, o que classifica a Ilha de Guriri como um dos lugares mais procurados do Espírito Santo.

Está a 13 km do centro de São Mateus com acesso em estrada pavimentada.

Etimologia editar

O termo Guriri advém do tupi antigo e significa coco pequeno,[3] sendo uma referência aos frutos da palmeira Allagoptera arenaria, endêmica e muito abundante na região que compreende o extremo sul da Bahia e extremo norte do Espírito Santo. [4]

História editar

Formação da Ilha editar

Em 1866, sabendo que em certo ponto o rio Mariricu encontrava-se apenas a alguns metros do mar, separado apenas por um fino cordão de arenito, o comendador Reginaldo Rodrigues da Cunha, irmão do Barão dos Aymorés, mandou dinamitar esta formação rochosa com a intenção de drenar os brejos da região do Nativo, visando assim o favorecimento da criação de gado e a construção de um porto marítimo para São Mateus, uma vez que a barra do rio São Mateus, em Conceição da Barra, era demasiadamente rasa, o que dificultava a navegação de navios com maior calado rumo ao Porto de São Mateus[5] Sendo assim, a atual área que conhecida como Ilha de Guriri constituía-se como tal apenas nas marés altas, quando o mar conseguia transpor esta formação arenítica.[6]

Também nessa região havia uma grande lagoa conhecida como Suruaca e que, em determinado ponto, aproximava-se a apenas 300 metros do Maririu, sendo separado por um pequeno cordão arenoso. Isso levou com que os proprietários de terra da região tomassem a iniciativa de abir outro canal, ligando a lagoa ao rio, com a finalidade de esgotar o pantanal e aproveitar o terreno fértil das turfas ali existentes. A prefeitura de São Mateus iniciou os serviços no fim da década de 1930, não chegando a concluí-los, pois foi encontrado abaixo deste seguimento de areia um cordão de arenito. A ideia foi retomada em 1959, pelo agrimensor Eugênio Neves Cunha que conseguiu baixar o canal até o nível de preamar, conseguindo assim esgotar as águas da Suruaca.[7]

Urbanização editar

 
Pilar da segunda ponte sobre o rio Mariricu

Os primeiros moradores de Guriri eram caboclos descendentes de índios e de negros escravos remanescentes das fazendas da região e se dedicavam, basicamente, à pesca, à coleta de mariscos e plantio de mandioca. Nesse período as poucas famílias estavam espalhadas ao longo das margens dos rios São Mateus e Mariricu, com concentrações em Barra Nova, Mariricu e Barreiras e Meleiras.[8]

Os primeiros banhistas passaram a frequentar a praia de Guriri na década de 1950. Não havia estrada e a viagem era feita em canoas, pelos rios São Mateus e Mariricu, ou por uma trilha muito difícil entre as localidades de Pedra D'Água e Mariricu, onde os banhistas tinha de atravessar o rio de balsa e ainda andavam cerca de dois quilômetros na areia para chegar até a praia.[8]

 
Capela Nossa Senhora dos Navegantes - Igrejinha de Guriri

Em 1951 tiveram início as obras da estrada ligando São Mateus a Guriri, que só foi findada em 1962. Também em 1962 foi inaugurada a primeira ponte sobre o Rio Mariricu. Esta ponte era totalmente de madeira, tendo sido destruída em umas das enchestes deste rio, graças a corrosão de seus pilares por um molusco vermiforme conhecido como Buzano. Tanto a estrada como a ponte foram considerados desafios difíceis de serem vencidos, devido aos poucos recursos que a prefeitura dispunha à época. Boa parte do barro utilizado no leito dessa estrada foi extraído dos barrancos da Pedra D'Água e arrastado em pedaços de couro por juntas de bois, pois não existiam caminhões nem máquinas para executarem os serviços.[9] Uma segunda ponte foi construída ainda na década de 1960, com pilares de concreto armado e corpo de madeira, sendo utilizada até o ano de 1998, quando foram concluídas as obras da ponte Roberto Arnizant Silvares.[10]

Com a abertura da estrada, teve início a urbanização do balneário com a aquisição, pela prefeitura, de 3 alqueires de terra da família Vila Nova. A intenção do então prefeito Othovarino era urbanizar a ilha para que os moradores de São Mateus não precisassem se deslocar até o município de Conceição da Barra para desfrutar da praia.[11]

O primeiro grande loteamento foi feito na década de 1970, na gestão o prefeito Amocim Leite, que doava os lotes a quem se comprometesse construir. O prefeito tinha por intenção povoar a todo custo o local e, em suas viagens para fora do município, oferecia lotes de forma gratuita em Guriri. Esses lotes não tinham marcações corretas, o que acabou acarretando numa desorganização espacial na região que fica entre a Avenida Praiano e o lado sul da balneário.[8][11] Um segundo loteamento foi feito na gestão do prefeito Gualter Nunes Loureiro, onde os lotes eram vendidos a um preço abaixo do valor de mercado a quem se comprometesse a construir em dois anos, período após o qual o mesmo deveria ser devolvido à prefeitura.[12] Também nesta época o balneário passou a contar com rede de energia elétrica.[12] No início da década de 1990 foi instalado o sistema de telefonia pública.[13]

Geografia e demografia editar

Guriri possui relevo predominantemente plano, estando a uma altura média de 2 metros acima do nível do mar.[14][15] Está localizado na região denominada de Planície Quaternária do Rio Doce, descrita como um aglomerado de três compartimentações geológicas: uma de formação do período quaternário holocênico; a segunda por processo de deposições de sedimentos fluviomarinhos e a terceira do quaternário pleistocênico marinho, distribuído em uma faixa litorânea que abrange o sul do rio Doce, os municípios de Linhares, São Mateus e Conceição da Barra.[16]

O clima é caracterizado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, como tropical quente super-úmido (tipo Aw segundo Köppen),[17] tendo temperatura média anual de 24,2 °C com invernos secos e amenos e verões chuvosos com temperaturas elevadas.[18][19] O mês mais quente, janeiro, tem temperatura média de 26,5 °C, sendo a média máxima de 31,0 °C e a média mínima de 22,0 °C,e o mês mais frio, julho, de 22,5 °C, sendo 25,0 °C e 18,0 °C as médias máxima e mínima, respectivamente. Outono e primavera são estações de transição.[20]

A precipitação média anual é de 1 243,0 mm, sendo agosto o mês mais seco, quando ocorrem apenas 53,0 mm. Em novembro, o mês mais chuvoso, a média fica em 198,0 mm.[20]


Dados climatológicos para Guriri
Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Ano
Temperatura máxima média (°C) 31,0 30,0 29,0 28,0 27,0 26,0 25,0 26,0 27,0 29,0 28,0 29,0 27,9
Temperatura mínima média (°C) 22,0 22,0 22,0 21,0 20,0 18,0 18,0 18,0 19,0 20,0 21,0 22,0 20,4
Precipitação (mm) 137 74 132 108 62 55 62 53 70 113 198 179 1 243
Fonte: Climatempo (médias climatológicas de 1961 a 1990);[20]


 
Palmeira Allagoptera arenaria, endêmica da região

No bairro, predominava o bioma de restinga,[21] sendo que quase toda a vegetação deu lugar ao avanço urbano,[15][22] podendo ainda ser encontrado pequenos espaços baldios onde ainda é possível observar espécies de fauna e flora nativos da região, como bromélias, samambaias, o Amescla e a palmeira Allagoptera arenaria, endêmica da região.[22] Além disso, o bairro encontra-se dentro da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica,[23] além de sua orla ser parte integral da área de amortecimento do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos[24][25] e servir como área de desova de quatro das sete espécies de tartarugas marinhas existentes no mundo.[26][23]

Cultura e lazer editar

 
Uma moqueca capixaba feita em casa em panela de barro

Guriri é conhecido nacionalmente pelos eventos promovidos no balneários e que atraem turistas, principalmente, de Minas Gerais. Dentre estes, pode-se destacar o Guriri Road Fest, um encontro nacional de motoqueiros realizado desde 2003 no mês de junho;[27] o Festival de Verão, que consiste em uma série de shows de bandas conhecidas nacionalmente;[28] o Reveillon, quando são realizados shows com artistas regionais ou conhecidos nacionalmente, havendo ainda queima de fogos de artifícios,[29] o carnaval, realizado em data móvel, onde também são realizado shows com artistas regionais e nacionais, havendo ainda desfile de blocos e apresentações de marcha, dentre outros eventos de menor importância.

Dentro os atrativos do bairro, pode-se destacar a base de pesquisa do projeto Tamar, implantada em 1988, abrigando um centro de visitantes que também funciona como Museu Aberto das Tartarugas Marinhas de Guriri. Entre os principais atrativos estão um aquário e dois tanques de observação de tartarugas além da exposição de réplicas e silhuetas em tamanho natural das cinco espécies de tartarugas marinhas. Na temporada reprodutiva, durante o verão, organiza-se a soltura de filhotes nos finais de tarde.[30] Além disso, quatro das sete espécies de tartarugas marinhas existentes no mundo desovam em Guriri.[23]

Com relação à culinária, a proximidade do município de São Mateus com outros estados, a origem dos colonizadores e o fato do bairro ser litorâneo contribuíram para a existência de uma culinária bem diversificada, onde se nota grande influência baiana, com predominância de pratos bastante condimentados, tendo destaque o vatapá, o acarajé, o mungunzá, o caruru, o quibebe, a moqueca, além de mariscos da região.[31] Quanto a moqueca, pode-se salientar que, nos bares e restaurantes do balneário, encontra-se tanto a moqueca baiana, preparada com azeite de dendê, leite de coco e pimenta, como a tradicional moqueca capixaba, que dispensa o emprego desses ingredientes, podendo ser acompanhada ou não com molho de camarão.[32]

Galeria editar

 
Vista panorâmica da orla de Guriri

Ver também editar

Referências

  1. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (16 de novembro de 2011). «Sinopse dos dados - Setor: 311940105000001 - Centro». Consultado em 21 de março de 2014. Cópia arquivada em 20 de março de 2014 
  2. Guriri
  3. Eduardo Almeida Navarro (2005). Método moderno de tupi antigo: a língua do Brasil dos primeiros séculos. único 3ª ed. São Paulo: Global 
  4. «Guriri». Lebaron da Praia. Consultado em 5 de janeiro de 2015 
  5. «Ilha de Guriri». Prefeitura de São Mateus. Consultado em 3 de março de 2015 
  6. «História da Ilha de Guriri». Clério Borges. Consultado em 3 de março de 2015 
  7. Eliezer Nardoto (1999). História de São Mateus. O Rio Barra Seca. único 1ª ed. São Mateus: EDAL. p. 160. 463 páginas 
  8. a b c Ana Paula Caetano et. al. (31 de janeiro de 2015). «Aspectos da história ambiental da ilha de guriri-es: contribuição para a educação ambiental biorregionalista» (PDF). Centro Científico Conhecer. Consultado em 3 de março de 2015 
  9. Eliezer Nardoto (1999). História de São Mateus. Othovarino Duarte Santos. único 1ª ed. São Mateus: EDAL. p. 127. 463 páginas 
  10. Eliezer Nardoto (1999). História de São Mateus. Otívio de Almeida Cunha. único 1ª ed. São Mateus: EDAL. p. 127. 463 páginas 
  11. a b Eliezer Nardoto (1999). História de São Mateus. Diretrizes do Povoamento. único 1ª ed. São Mateus: EDAL. p. 159. 463 páginas 
  12. a b Eliezer Nardoto (1999). História de São Mateus. Gualter Nunes Loreiro. único 1ª ed. São Mateus: EDAL. p. 132. 463 páginas 
  13. Eliezer Nardoto (1999). História de São Mateus. Pedro dos Santos Alves. único 1ª ed. São Mateus: EDAL. p. 135. 463 páginas 
  14. Eliezer Nardoto (1999). História de São Mateus. Solo. único 1ª ed. São Mateus: EDAL. p. 152. 463 páginas 
  15. a b Instituto Jones do Santos Neves. «Atlas Histórico e Geográfico do Espírito Santo» (PDF). Consultado em 14 de janeiro de 2015. Arquivado do original (PDF) em 21 de janeiro de 2015 
  16. Martin Suguio (1982). Atas do IV Simpósio do Quaternário no Brasil. Evolução da Planície Costeira do Rio Doce durante o quaternário: influência das flutuações do nível do mar. [S.l.: s.n.] p. 93-116 
  17. World Map of the Köppen-Geiger climate classification. «World Map of the Köppen-Geiger climate classification». Institute for Veterinary Public Health. Consultado em 4 de março de 2015. Cópia arquivada em 2 de novembro de 2011 
  18. Portal Brasil (6 de janeiro de 2010). «Clima». Consultado em 4 de março de 2015. Arquivado do original em 2 de novembro de 2011 
  19. Biblioteca IBGE. «Brasil - Climas». Consultado em 23 de janeiro de 2013. Arquivado do original em 2 de novembro de 2011 
  20. a b c «Climatologia de Guriri-ES». Climatempo. 1961–1990. Consultado em 4 de março de 2015 
  21. Cícero Moraes (174). Geografia do Espírito Santo. único. Vitória: Fundação Cultura do Espírito Santo. p. 125. 231 páginas 
  22. a b Eliezer Nardoto (1999). História de São Mateus. Cobertura Vegetal. único 1ª ed. São Mateus: EDAL. p. 152. 463 páginas 
  23. a b c Secretaria Estadual de Meio Ambiente. «Áreas naturais protegidas do Espírito Santo» (PDF). Consultado em 14 de janeiro de 2015. Arquivado do original (PDF) em 21 de janeiro de 2015 
  24. Gazeta Online. «Criação de áreas ambientais inviabiliza petróleo e pesca». Consultado em 14 de janeiro de 2015 
  25. Conservação Internacional. «Unidades de Conservação». Consultado em 14 de janeiro de 2015. Arquivado do original em 21 de janeiro de 2015 
  26. Ministério Público Federal. «MPF/ES quer que Petrobras, Transpetro e Prefeitura de São Mateus atuem de forma conjunta para criar unidade de conservação no Distrito de Barra Nova». Consultado em 14 de janeiro de 2015 
  27. Viagem de moto. «12° Guriri Road Fest». Consultado em 22 de janeiro de 2015. Arquivado do original em 23 de janeiro de 2015 
  28. Confira mais. «Festival de Verão Arena Ao Mar Guriri 2015». Consultado em 22 de janeiro de 2015 
  29. Prefeitura de São Mateus. «Preparação do Réveillon». Consultado em 22 de janeiro de 2015 
  30. «Desova de tartarugas começa no ES e bióloga alerta para riscos». G1. Consultado em 23 de janeiro de 2015 
  31. Edilene Cristina Rodrigues Sossai (2011). Gostinho Cultural do Norte do Espírito Santo. Culinária Africana. único 1ª ed. Vila Pavão: [s.n.] p. 53. 82 páginas 
  32. Eliezer Nardoto (1999). História de São Mateus. Gastronomia. único 1ª ed. São Mateus: EDAL. p. 393. 463 páginas 

Ligações externas editar

SEQUÊNCIA DE PRAIAS
Oceano Atlântico
precedida por:

Bosque (São Mateus)

GURIRI

(São Mateus)

sucedida por:

Abricó (Conceição da Barra)

 
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