Jaysh al-Islam
Jaysh al-Islam (árabe: جيش الإسلام; português: Exército do Islão), inicialmente fundado com o nome de Liwa al-Islam ("Brigadas do Islão"), é uma coligação de rebeldes salafistas, islamistas e wahhabistas envolvida na Guerra Civil Síria.[1]
O grupo tinha como principal área de influência era Damasco, com especial destaque para a cidade de Douma e a restante área leste de Ghouta,[2] onde Jaysh al-Islam era o maior grupo rebelde,[3] como antes era Liwa al-Islam.
Jaysh al-Islam integrou o Conselho Supremo Militar do Exército Livre Sírio (ELS) até Dezembro de 2013,[4] mas em Novembro de 2013 o grupo formou a Frente Islâmica e no mês seguinte viria a romper relações com o ELS.[5][6][7] Tal como Ahrar al-Sham, era dos principais grupos apoiados e financiados pela Arábia Saudita,[8] com Jaysh al-Islam a defender a criação de um Estado Islâmico na Síria baseado na Sharia para substituir o governo de Bashar al-Assad.[9]
História
editarLiwa al-Islam
editarLiwa al-Islam foi fundado por Zahran Alloush, filho de um clérigo islâmico residente na Arábia Saudita Abdullah Mohammed Alloush, após ter sido solto pelas autoridades governamentais sírias em 2011,[10] após ter cumprido penas pelas suas ligações a movimentos salafistas. O grupo declarou que era responsável pelo Atentado de 18 de julho de 2012 em Damasco que causou a morte de Dawoud Rajiha (Ministro da Defesa), Assef Shawkat (Secretário do Ministro da Defesa) e Hassan Turkmani (Vice-Presidente Assistente). Liwa al-Islam foi responsável por diversas operações rebeldes na zona de Damasco, efectuando operações conjuntas com Jabhat al-Nusra, braço armado da Al-Qaeda na Síria.[11]
Fusão para formar Jaysh al-Islam
editarEm 29 de Setembro de 2013, 50 facções rebeldes operando na zona de Damasco anunciaram a sua fusão para dar origem a um novo grupo: Jaysh al-Islam. Liwa al-Islam era a principal facção no novo grupo, e o seu líder Zahran Alloush tornou-se o líder da nova milícia.[12][13] 38 dos 50 grupos que fundaram Jaysh al-Islam já estavam aliados a Liwa al-Islam.[14][15] Em Setembro, o porta-voz do grupo Islam Alloush (irmão de Zahran) tinha criticado o Conselho Nacional Sírio (CNS), ao afirmar que o CNS deveria ser liderado por pessoas que estejam a combater na Síria em vez de exilados, mas não decidiu (neste momento) romper totalmente o CNS.
Por Novembro de 2013, 60 grupos tinham-se fundido no Jaysh al-Islam,[16] e mais 175 diversos grupos rebeldes expressaram o seu interesse em se juntarem ao grupo.[16]
A criação do novo grupo foi alegadamente negociada e pensada pela Arábia Saudita, que acreditava que a Frente al-Nusra estava a ganhar demasiada influência.[17] Após a fusão, o The Guardian relatou que o governo saudita estava preparado para dar milhões de dólares em financiamento e armamento ao grupo,[18] e usando o instrutores do Paquistão para treinar os seus combatentes.[19]
Cisão do ELS e fundação da Frente Islâmica
editarEmbora anteriormente tenha estado afiliado ao Exército Livre Sírio (dentro do Conselho Militar Supremo), em Dezembro de 2013 Zahran Alloush anunciou que abandonava o ELS, dizendo: "A nossa afiliação ao Conselho veio quando estava a conduzir operações contra Assad sem estar dependente de terceiros, e quando assinou que nada tinha delineado sobre o futuro do Estado." Quando o ELS se juntou à Coalizão Nacional Síria da Oposição e das Forças Revolucionárias e se comprometeu com um estado democrático e pluralista, Alloush - que tinha fundado a Frente Islâmica em Novembro de 2013 - decidiu que não iria fazer mais parte do Conselho Militar do ELS.
Em Março de 2015, Jaysh al-Islam e o Comando Militar Unificado do leste de Ghouta formaram o "Conselho Militar de Damasco e Arredores", sob o comando directo de Zahran Alloush.[20]
Até finais de 2015, o grupo continuou a cooperar com Frente Al-Nusra.[21]
Morte de Zahran Alloush
editarA 25 de Dezembro de 2015, o fundador e líder do grupo Zahran Alloush foi morto, bem como outros diversos líderes do grupo, num ataque aéreo da Força Aérea Árabe Síria nos subúrbios de Damasco.[22][23] Abu Hammam Bouwidani foi o sucessor de Alloush para liderar o grupo.[24]
2016-2018
editarA partir da morte de Alloush no final de 2015, conflitos emergiram entre Jaysh al-Islam e os outros grupos jihadistas que ocupavam o leste de Ghouta, bem como a Frente al-Nusra e sua aliança Jaish Al-Fustat, enquanto Ahrar al-Sham manteve-se neutral no conflito.[25][26][27][28][29] O conflito entre rebeldes em Ghouta ocorreu em Maio de 2016, provocando cerca de 300 mortos, até que a 24 de Maio, os líderes de Jaysh al-Islam e da Legião al-Rahman assinaram um acordo de cessar-fogo.[30]
A 25 de Janeiro de 2017, a secção de Idlib do grupo fundiu-se no Ahrar al-Sham.[31]
Em Abril de 2017, uma coligação entre Legião al-Rahman e Tahrir al-Sham infiltraram-se na zona de Ghouta Oriental controlada por Jaysh, que lançou uma campanha para expulsar do seu território, o que resultou em 95 mortos entre 26 de Abril a 1 de Maio.[32] Os confrontos entre rebeldes levou que as forças governamentais ganhassem território na zona rebelde, que originou manifestações a pedirem às facções rebeldes se unirem e pararem o conflito. Filmagens destas manifestações em Abril mostraram militantes do grupo a abrirem fogo contra os manifestantes.[32]
A 12 de Abril, após a vitória decisiva do Governo Sírio na ofensiva sobre Ghouta, os militantes de Jaysh com as suas famílias concordaram em abandonar a zona, em direcção à zona ocupada pela Turquia no norte da Síria.[33]
Filiação às forças pró-turcas
editarApós ter se fixado na zona ocupada turca, Jaysh al-Islam estabeleceu uma nova sede em Jarablus.[34] Segundo relatos, a Arábia Saudita cortou relações com o grupo, levando Jaysh a se tornar mais próximo da Turquia.[34] Alegadamente, o governo turco pretende usar os combatentes do grupo para expulsar as Forças Democráticas Sírias de Manbij.[34]
Em Setembro de 2018, o líder do grupo confirmou que Jaysh al-Islam tinha aceitado integrar no Exército Nacional Sírio, o grupo de forças rebeldes controladas e financiadas pela Turquia para combater as forças curdas.[35]
Referências
- ↑ Tue Oct 01 14:51:13 UTC 2013. «Insight: Saudi Arabia boosts Salafist rivals to al Qaeda in Syria». Reuters
- ↑ «Rise of Jaish al-Islam marks a turn in Syria conflict». Middle East Eye (em inglês). Consultado em 8 de janeiro de 2019
- ↑ «Yahoo». Yahoo (em inglês). Consultado em 8 de janeiro de 2019
- ↑ «Leading Syrian rebels defect, dealing blow to fight against al-Qaeda» (em inglês). 5 de dezembro de 2013. ISSN 0307-1235
- ↑ «The Dawn of Freedom Brigades: Analysis and Interview - Syria Comment». www.joshualandis.com. Consultado em 8 de janeiro de 2019
- ↑ «Islamist Mergers in Syria: Ahrar al-Sham Swallows Suqour al-Sham». Carnegie Middle East Center (em inglês). Consultado em 8 de janeiro de 2019
- ↑ «Syrian rebels form new Islamic Front». BBC News (em inglês). 22 de novembro de 2013
- ↑ Lynch, John Hudson, Colum. «The Road to a Syria Peace Deal Runs Through Russia». Foreign Policy (em inglês). Consultado em 8 de janeiro de 2019
- ↑ «Iron Rule: Jaish al-Islam in Eastern Ghouta». Syria (em inglês). Consultado em 8 de janeiro de 2019
- ↑ «Freedom fighters? Cannibals? The truth about Syria's rebels». The Independent (em inglês). 17 de junho de 2013. Consultado em 8 de janeiro de 2019
- ↑ «Jaysh al-Islam (formerly Liwa al-Islam) | Terrorist Groups | TRAC». www.trackingterrorism.org. Consultado em 8 de janeiro de 2019
- ↑ Hassan, Hassan. «The Army of Islam Is Winning in Syria». Foreign Policy (em inglês). Consultado em 8 de janeiro de 2019
- ↑ «YouTube». www.youtube.com. Consultado em 8 de janeiro de 2019
- ↑ roadmin. «Assessing Syria's Islamic Alliance | Revolution Observer» (em inglês). Consultado em 8 de janeiro de 2019. Cópia arquivada em 11 de novembro de 2013
- ↑ «GUEST POST: On Liwa al-Islam and the new 'Jaysh al-Islam' merger :: Aymenn Jawad Al-Tamimi». web.archive.org. 30 de setembro de 2013. Consultado em 8 de janeiro de 2019
- ↑ a b «Syria: Jaysh Al-Islam rejects Geneva II conference | ASHARQ AL-AWSAT». web.archive.org. 15 de novembro de 2013. Consultado em 8 de janeiro de 2019
- ↑ «Insight: Saudi Arabia boosts Salafist rivals to al Qaeda in Syria». Reuters (em inglês). 1 de outubro de 2013
- ↑ Black, Ian; editor, Middle East (7 de novembro de 2013). «Syria crisis: Saudi Arabia to spend millions to train new rebel force». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077
- ↑ Kenner, David. «Saudi Arabia's Shadow War». Foreign Policy (em inglês). Consultado em 8 de janeiro de 2019
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- ↑ «Why Jaish Al Islam and Ahrar Al Sham are at the heart of Geneva squabbles». The National (em inglês). Consultado em 8 de janeiro de 2019
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- ↑ «After Zahran: Rising Tension in the East Ghouta». Carnegie Middle East Center (em inglês). Consultado em 8 de janeiro de 2019
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- ↑ Szakola, Albin. «Rebel heavyweights clash outside Damascus». now.mmedia.me. Consultado em 8 de janeiro de 2019
- ↑ Magnier, Elijah J. (30 de abril de 2016). «Jaish al-islam "appreciates the non-participation of Ahrar al-Sham in the attack against its positions in Al-Ghouta"pic.twitter.com/bYBDxHjpks». @EjmAlrai (em inglês). Consultado em 8 de janeiro de 2019
- ↑ Lister, Charles (24 de maio de 2016). «Jaish al-Islam & Faylaq al-Rahman sign major agreement - ceasing hostilities, exchanging prisoners, opening routes :pic.twitter.com/1lv5Pec6Gs». @Charles_Lister (em inglês). Consultado em 8 de janeiro de 2019
- ↑ Hadi, هادي العبدالله (25 de janeiro de 2017). «عاجل| بيان مشترك من كبرى الفصائل الثورية في الشمال السوري تعلن فيه انضمامها الكامل إلى صفوف حركة #أحرار_الشامpic.twitter.com/uvW6YvfsOc». @hadialabdallah (em árabe). Consultado em 8 de janeiro de 2019
- ↑ a b «Syrian rebels 'fire on protesters' calling for end to infighting». Middle East Eye (em inglês). Consultado em 8 de janeiro de 2019
- ↑ «Jaysh al-Islam reportedly agrees to leave Dumayr for Jarablus in northern Syria». The Defense Post (em inglês). 17 de abril de 2018. Consultado em 8 de janeiro de 2019
- ↑ a b c «How Has Turkey Exploited the Saudi-funded Jaish al-Islam?». The Syrian Observer. 7 de novembro de 2018. Consultado em 8 de janeiro de 2019
- ↑ SouthFront (28 de setembro de 2018). «Jaysh Al-Islam Joins Turkish-backed Forces In Northern Syria» (em inglês). Consultado em 8 de janeiro de 2019