Lauro Gomes
Lauro Gomes de Almeida (São João Nepomuceno, 27 de fevereiro de 1895 — São Paulo, 20 de maio de 1964[1]) foi um político brasileiro.
Lauro Gomes de Almeida | |
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Lauro Gomes de Almeida | |
Deputado federal pelo Estado de São Paulo | |
Período | 1951 de ? |
4° Prefeito de São Bernardo do Campo | |
Período | 1952 a 1954 |
Antecessor(a) | José Fornari |
Sucessor(a) | Sigismundo Sérgio Ballotim |
11° Prefeito de Santo André | |
Período | 1964 a 1964 |
Antecessor(a) | João Antonio Cara Valentim |
Sucessor(a) | Newton Brandão |
Dados pessoais | |
Nascimento | 27 de fevereiro de 1895 São João Nepomuceno |
Morte | 20 de maio de 1964 (69 anos) São Paulo |
Partido | PTB (1951-1964) |
Profissão | Político |
Biografia
editarFilho de Sebastião Gomes de Almeida e Olímpia Gomes de Almeida, Lauro nasceu em Rochedo de Minas, então distrito de São João Nepomuceno, Minas Gerais. Viveu em Três Corações e fez seus estudos primários em sua terra natal e, posteriormente no Seminário de Mariana. Transferindo-se para São Paulo, fez seus estudos nos Ginásio do Carmo e e no Ginásio Macedo Soares. [2]
Foi deputado federal e prefeito de São Bernardo do Campo (por duas vezes) e de Santo André. Conhecido como "prefeito das crianças" por ter cedido o terreno pertencente a família (na verdade uma herança vinda pelo lado da família de sua esposa, Lavínia Rudge Ramos Gomes (Nenê Rudge Ramos Gomes), filha do jurista Arthur Rudge da Silva Ramos), para a construção do parque temático batizado de Cidade das Crianças, até hoje existente. A área ao redor da sede dessa grande fazenda pertencente aos Rudge Ramos passou mais tarde a abrigar a ETI, Escola Técnica Industrial Lauro Gomes, um de seus mais ambiciosos projetos, e considerada em sua época, a melhor escola técnica do Brasil. A casa sede da mencionada fazenda, posteriormente denominada carinhosamente de "bloco zero", passou a ser o prédio administrativo da ETI, e existe até hoje, abrigando um museu da escola.
Os benefícios fiscais realizados durante seu primeiro mandato como prefeito atraíram diversas montadoras de automóveis para a cidade; criou instituições de cursos profissionais;[3] e a obteve, inclusive, relevância nacional no meio artístico, através da Companhia Cinematográfica Vera Cruz.[4]
Eleições em 1951
editarLauro Gomes já tinha conexão com pessoas influentes na cidade através de seu casamento com a filha de Arthur Rudge Ramos. Lauro Gomes herdou uma casa no então bairro dos Meninos que, após pedido da população, teve seu nome alterado para Rudge Ramos. Impressionado com o gesto, Lauro Gomes passou a ajudar no desenvolvimento do bairro.[5]
Em julho de 1951 Lauro Gomes foi convidado a participar das eleições por um amigo, membro do PSP. Seu nome foi aceito pelo grupo partidário, com a ressalva de “um deputado” que, de acordo com sua entrevista no Correio Paulistano, queria “perpetuar sua família na cidade”.[5] Lauro Gomes, que era desconhecido pela maioria a população,[6] teve o Partido Republicano[7] e o PSD, UDN, PRP, PDC, POT em sua coligação.[5]
As convenções foram interrompidas e, com isso, embarcou para a Europa, onde recebeu um telegrama do presidente do PTB de SBC, reagindo aos movimentos políticos locais e pedindo para que participasse do pleito. Em suas palavras, Lauro Gomes descreveu sua visão naquele momento como: “...tendo já obtido para mim tudo o que desejava obter, estava na obrigação de dar o que estivesse em mim para aquele povo que eu sabia generoso, desamparado, e por que não dizer, acorrentado a política de compressão e mandonismo e descaso por suas necessidades mais elementares”.[5]
Bethke 2008, ex-membro do PSP, filiado ao PTB e alçado ao cargo de secretário,[8] relatou que o nome de Lauro Gomes foi indicado por Antônio Emídio de Barros Filho, irmão do governador Ademar de Barros, e que se Bethke o apoiasse, Barros Filho traria o apoio do governador,[9] algo que se confirmou.[10] Após isso, Bethke foi se encontrar com o advogado Artur de Paula Maudonnet, responsável pela representação de Lauro Gomes no meio político enquanto ele estava fora do país e o encontro resultou em Maudonnet enviado à França um telegrama com a proposta de Bethke.[11] Gomes aceitou a proposta, disposto a financiar a campanha,[12] inicialmente disponibilizando uma verba de 500,000 dólares,[13] e Bethke teve que convencer os partidários do PTB,[14] como o pré-candidato não oficial Bortolo Basso, que foi convencido a aceitar o recém-criado posto de vice-prefeito, a apoiar o nome de Lauro Gomes.[15]
Antes da chegada do candidato, ocorreu uma reunião de pré-lançamento da candidatura no Cine Anchieta, que demonstrou interesse popular na candidatura.[16] Lauro Gomes interrompeu sua viagem no dia 23 de setembro, chegando na cidade no dia seguinte e se apresentando ao público no dia 26, sendo cobrido de aplausos e flores no Cine Anchieta. Lauro Gomes realizou comícios diários entre os dias 26 de setembro e 11 de outubro.[5][6] Com sua chegada, iniciou-se o “Laurismo”, corrente de opositores aos “Terezistas”.[17] O último comício, realizado na Praça da Matriz, contou com a presença, como cabos eleitorais, da deputada Conceição da Costa Neves e a deputada Ivete Vargas,[18] presidente do PTB nacional.[19] O risco de violência política estava presente, como Bethke 2008 descobriu mais tarde, com a presença de dois atiradores no comício.[20] No fim da campanha, Gomes recebeu o apoio do ex-prefeito Wallace Simonsen e do prefeito José Fornari.[21]Foi a primeira eleição com a figura de vice-prefeito.[22] O principal candidato, Lauro Gomes (PTB), teve sua inscrição como candidato feita quando ele estava em Paris e ele retornou duas semanas antes do pleito, conseguindo 2592 votos, contra 2476 votos do segundo colocado, Edmundo Delta (PSP),[22] irmão da ex-prefeita Tereza Delta e candidato governista.[23] Somente dois candidatos concorreram ao cargo.[24] Bortolo Basso (PTB) foi eleito como vice de Lauro Gomes. O resultado só foi proclamado no dia 17 de outubro.[24] A eleição em si viu poucos incidentes e as urnas foram enviadas ao Estádio do Pacaembu para apuração.[25]
Com a derrota de seu candidato, Tereza Delta (PSP), que comandava a política local,[24] acusou a oposição de ter ilegalmente transferido 900 eleitores para a cidade. Lauro Gomes (PTB), em resposta ao Correio Paulistano, notou que passou sua campanha eleitoral lembrando a população quanto ao risco de seus adversários realizarem transferências ilegais.[26] O Jornal de Noticias do dia 19 de outubro relatou que a derrota do candidato da Tereza Delta foi considerada uma surpresa,[27] mas apesar disso, a deputada Tereza Delta telefonou ao prefeito eleito para parabenizá-lo e declarar que o apoiaria na Assembleia Legislativa, desde que ele trabalhasse pelo bem da cidade.[28]
A diplomação dos candidatos eleitos ocorreu no dia 30 de outubro de 1951.[29] A posse ocorreu no dia 1 de janeiro de 1952.[24][30]Referências
- ↑ «Sítio oficial da Prefeitura de São Bernardo do Campo». Consultado em 15 de janeiro de 2008. Arquivado do original em 28 de março de 2014
- ↑ «Prefeitura de São Bernardo do Campo». Consultado em 15 de janeiro de 2008. Arquivado do original em 28 de março de 2014
- ↑ Bethke 2008, p. 67.
- ↑ Bethke 2008, p. 69.
- ↑ a b c d e «O homem que venceu espetacularmente em São Bernardo não é político e detesta a militancia partidaria». Correio Paulistano. XCVIII (29304). 20 de outubro de 1951. p. 12. Consultado em 16 de abril de 2024
- ↑ a b Pessotti 2007, p. 205.
- ↑ «S. Bernardo do Campo». Correio Paulistano. XCVIII (29296). 11 de outubro de 1951. p. 5. Consultado em 16 de abril de 2024
- ↑ Bethke 2008, p. 27.
- ↑ Bethke 2008, pp. 36-37.
- ↑ Bethke 2008, p. 54.
- ↑ Bethke 2008, pp. 37-39.
- ↑ Bethke 2008, p. 40.
- ↑ Souza 2002, p. 150.
- ↑ Bethke 2008, p. 41.
- ↑ Bethke 2008, pp. 43-44.
- ↑ Bethke 2008, p. 47.
- ↑ Sarti, Marcelo (29 de julho de 2016). «São Bernardo: terezistas e lauristas dominavam a política nos anos 40». CliqueABC. Consultado em 18 de abril de 2024
- ↑ «Intensifica-se o espírito de luta entre os interessados no pleito do pŕoximo dia 14». Jornal de Noticias (1672). 7 de outubro de 1951. p. 3. Consultado em 17 de abril de 2024
- ↑ Bethke 2008, p. 51.
- ↑ Bethke 2008, p. 52.
- ↑ Souza 2002, p. 152.
- ↑ a b Medici, Ademir (16 de dezembro de 2020). «Santo André e São Bernardo votam em 1951». Jornal Diário do Grande ABC. Consultado em 16 de abril de 2024
- ↑ Medici, Ademir (14 de outubro de 2011). «Tereza x Lauro: uma história de 60 anos». Jornal Diário do Grande ABC. Consultado em 16 de abril de 2024
- ↑ a b c d Medici, Ademir (13 de outubro de 2011). «Lauro Gomes, Linha Maginot, A Marselhesa...». Jornal Diário do Grande ABC. Consultado em 16 de abril de 2024
- ↑ Bethke 2008, p. 56.
- ↑ «Transferencia de eleitores». Correio Paulistano. XCVIII (29304). 20 de outubro de 1951. p. 5. Consultado em 16 de abril de 2024
- ↑ «As surprêsas do pleito municipal ameaçam a disciplina dos partidos». Jornal de Noticias (1682). 19 de outubro de 1951. p. 3. Consultado em 17 de abril de 2024
- ↑ «TEREZA DELTA». Jornal de Noticias (1683). 20 de outubro de 1951. p. 3. Consultado em 17 de abril de 2024
- ↑ «Proclamação e diplomação dos candidatos eleitos para São Bernardo do Campo e Santo André». Correio Paulistano. XCVIII (29313). 31 de outubro de 1951. p. 12. Consultado em 16 de abril de 2024
- ↑ Bethke 2008, p. 62.
Bibliografia
editar- Bethke, Otto João Gustavo (2008). Entre o chicote e o charuto. Uma contribuição para a história de São Bernardo do Campo. São Bernardo do Campo: Assahi Gráfica e Editora Ltda. 128 páginas
- Pessotti, Atíllio (2007). Vila de São Bernardo. São Bernardo do Campo: Secretaria de Educação e Cultura. 224 páginas