Luciano Corsetti

Empresário, jornalista, bibliotecário e político brasileiro

Luciano Corsetti (Caxias do Sul, ? — Caxias do Sul, 1973) foi um empresário, jornalista e político brasileiro.

Diretoria da Festa da Uva de 1932. De pé, Artur Rossarolla, secretário; Ottoni Minghelli, vice-presidente, e Luciano Corsetti, tesoureiro. Sentado, Dante Marcucci, presidente.

Vinha de uma família tradicional de Caxias do Sul, fundada pelo imigrante italiano Angelo Corsetti, que enriquecera com um moinho, depois transformado em uma grande empresa, a Corsetti & Cia., atuante no comércio de grãos, frutas e hortaliças e na indústria de rações, farinhas, massas e implementos agrícolas. A esta família pertence o ex-ministro Hygino Caetano Corsetti.[1][2] Luciano era sócio da empresa familiar[3] mas também trabalhava independentemente como contabilista, representante comercial, agente imobiliário, consultor jurídico e organizador de novas empresas com o Escritório Corsetti, que manteve entre 1933 e 1942, qualificado pela imprensa como "modelar organização que honra Caxias".[4][5][6] Foi ainda tesoureiro da Festa da Uva de 1932,[7] festeiro de Santa Teresa,[8] bibliotecário e conselheiro jurídico da Associação dos Comerciantes,[9][10] jornalista correspondente do Correio do Povo a partir de 1934[11] e diretor da sua sucursal caxiense entre 1940 e 1942, delegado da Associação Riograndense de Imprensa no mesmo período,[12][13][14] e depois prefeito.[15]

Foi o primeiro prefeito eleito por sufrágio universal em Caxias do Sul, assumindo em 13 de dezembro de 1947 e permanecendo no cargo até 31 de dezembro de 1951, liderando a chapa do PTB. Na época o Brasil retornava ao regime democrático orientado por uma nova Constituição, depois da ditadura de Getúlio Vargas. O Legislativo também foi recomposto, depois de dez anos de inatividade.[16]

Chamado na imprensa de "idealista", "personalidade íntegra" que ressalta "pelo trabalho, virtudes, honra e justiça",[17] elogiado pelo acadêmico e poeta Cyro de Lavra Pinto — que militava em partido rival — como homem público de "largo descortino e grande atividade" e "um dos mais sãos e sólidos valores que mourejam em prol da coletividade",[18] segundo Buchebuan & Piccinini sua administração foi conciliadora, considerado um bom governante e interessado pelos problemas coletivos.[19] Reorganizou, praticamente refundando, a Biblioteca Pública,[20] criou e subvencionou várias escolas, com destaque para a Escola de Belas Artes, a primeira em seu gênero no município (depois viraria curso superior e seria incorporada pela UCS).[21] Criou o sistema das feiras livres, atendendo a repetidas demandas da classe rural que desejava distribuir sua produção na zona urbana sem intermediários,[22] abriu estradas na zona rural e promoveu a capacitação técnica do agricultor, melhorando também a telefonia rural e o Horto Florestal.[23][24] Na opinião de Loraine Giron, Corsetti "administrou com competência tanto na educação como na agricultura. Seus sucessores não tiveram igual competência".[25] Financiou a ampliação do Hospital Pompeia, o principal hospital regional,[26] implementou significativas melhorias na rede de abastecimento de água e nas estações de tratamento, bem como no cemitério público, no Corpo de Bombeiros, no calçamento das ruas,[27][24][23] e no aeroporto,[28][29] e isentou do pagamento de imposto predial os clubes e associações recreativas, esportivas, educativas e beneficentes.[30]

O Monumento Nacional ao Imigrante.

Promulgou uma nova Lei Orgânica para o município e dirigiu a elaboração de um novo Plano Diretor a fim de melhor manejar uma rápida e desordenada expansão urbana, mas este não chegou a ser aprovado pela Câmara.[19][31] Segundo declaração de Mansueto Serafini Filho, que foi prefeito anos depois, "o grande erro de Caxias foi o Plano Diretor de Luciano Corsetti não ter sido implantado, então surgiram muitos problemas urbanos".[19] No entanto, mesmo sem aprovação oficial, o Plano deu a base para algumas intervenções da Prefeitura na malha urbana, destacando-se a criação de um parque e um grande pavilhão permanente para as exposições da Festa da Uva, onde hoje está instalada a sede do Poder Executivo.[16]

Também marcou sua gestão o início da construção do Monumento Nacional ao Imigrante, inaugurando uma nova e positiva fase nas relações entre os descendentes de italianos e os luso-brasileiros, que haviam sofrido uma profunda ruptura durante a Era Vargas pela imposição de um rápido abrasileiramento da região colonial e pela repressão dos sinais da italianidade. Por sua participação ativa na obra deste importante memorial, de forte carga simbólica para a comunidade, que hoje é um dos seus principais cartões-postais e declarado um dos seus símbolos oficiais, recebeu homenagem da Câmara em 1951 e novamente em 2014.[32][33][34] Seu nome batiza uma escola municipal.

Ver também editar

Referências

  1. "A primeira transmissão a cores da TV brasileira". O Explorador, 25/10/2008
  2. Griffante, Ariel. "Reflexos de Progresso". Revista Live, 08/04/2016
  3. "Corsetti & Cia". O Momento, 10/03/1945
  4. "Escritório Técnico Comercial". A Época, 05/07/1942
  5. "Transporte Aereo de Correspondencia". O Momento, 13/06/1935
  6. "Modelar organização que honra Caxias". A Época, 13/10/1940
  7. Adami, João Spadari. Festas da Uva 1881-1965. São Miguel, 1966, p. 27
  8. "A festa de nossa padroeira". O Momento, 09/10/1933
  9. "Associação dos Comerciantes". O Momento, 09/10/1933
  10. "A Posse da Nova Diretoria da Ass. dos Comerciantes". O Momento, 22/11/1934
  11. "Correio do Povo". O Momento, 12/07/1934
  12. "Sucursal Correio do Povo". A Época, 28/04/1940
  13. "Novo Delegado da A.R.I. em Caxias". O Momento, 21/04/1941
  14. "A Ass. Rio Grandense de Imprensa tem novo delegado em Caxias". A Época, 06/09/1942
  15. "A posse do novo prefeito eleito de Caxias". O Momento, 24/12/1947
  16. a b Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul [Geni Salete Onzi (org.)]. Palavra e Poder: 120 anos do Poder Legislativo em Caxias do Sul. Ed. São Miguel, 2012, pp. 62-65; 133
  17. "Alvo de expressiva homenagem, por motivo de seu primeiro ano de governo, o senhor Luciano Corsetti, chefe da comuna". O Momento, 18/12/1948
  18. "Luciano Corserti, ilustre prefeito de Caxias do Sul". O Momento, 11/12/1948
  19. a b c Buchebuan, Terezinha de Oliveira & Piccinini, Livia Teresinha Salomão. "Complexo Jardelino Ramos: área pública X cidadão de costas quentes" Arquivado em 26 de outubro de 2016, no Wayback Machine.. In: I Seminário Urbfavelas. São Bernardo do Campo, 2014
  20. Bergozza, Roseli Maria. Escola Complementar de Caxias: histórias da primeira instituição pública para formação de professores na cidade de Caxias do Sul (1930-1961). Dissertação de Mestrado. UCS, 2010, p. 37
  21. Xerri, Eliana Gasparini. da Universidade da Serra à Universidade de Caxias do Sul (1950-2002): o pensar e o construir da universidade na serra gaúcha. Tese de Doutorado. PUCRS, 2012, pp. 124-130
  22. "Crônica do Município". O Momento, 01/01/1949
  23. a b "A marcha dos serviços públicos da comuna". O Momento, 04/06/1949
  24. a b "Mandato popular". O Momento, 25/12/1948
  25. "Caxias Centenária: de Campo dos Bugres a Município (1875-2010)". História Daqui, 05/10/2013
  26. Almeida, Edlaine Cristina Rodrigues de. História da Escola de Enfermagem Madre Justina Inês: uma instituição de ensino superior formando enfermeiras em Caxias do Sul/RS (1957-1967). Dissertação de Mestrado. Universidade de Caxias do Sul, 2012, p. 52
  27. "O senhor prefeito municipal aborda importantes assuntos administrativos de Caxias do Sul para a reportagem desta folha". A Época, edição especial do 11º aniversário, out/1949
  28. "Trabalhos no aeroporto municipal". O Momento, 07/04/1951
  29. "Aeroporto Municipal". O Momento, 26/08/1950
  30. Gomes, Fabrício Romani. Sob a proteção da Princesa e de São Benedito: identidade étnica, associativismo e projetos num clube negro de Caxias do Sul (1934-1988). Dissertação de Mestrado. UNISINOS, 2008, p. 95
  31. Schlindwein, Jaqueline Renata. O discurso e a prática do gerenciamento de resíduos sólidos urbanos (RSU) em Caxias do Sul. Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília, 2013, p. 108
  32. "Monumento ao Imigrante". O Momento, 17/03/1951
  33. "Cidadãos que construíram o Monumento Nacional ao Imigrante são homenageados" Arquivado em 26 de outubro de 2016, no Wayback Machine.. Assessoria de Imprensa – Prefeitura de Caxias, 28/02/2014
  34. Lopes, Rodrigo. "Monumento ao Imigrante, agora um símbolo oficial de Caxias". Pioneiro, 19/05/2015
Prefeitos de Caxias do Sul
Precedido por
Dante Marcucci
 
Luciano Corsetti
13 de dezembro de 1947 – 31 de dezembro de 1951
Sucedido por
Euclides Triches