Macrocystis
Macrocystis é um género monospecífico de algas castanhas do tipo kelp,[2] que contém a maior de todas as espécies de Phaeophyceae (Macrocystis pyrifera), cujos talos são capazes de atingir 45–60 m de comprimento. Estas macroalgas são em muitas regiões o principal componente das florestas submarinas de kelp, com distribuição alargada nas águas costeiras das regiões subtropical, temperada e sub-antárcticas do Hemisfério Sul (p. ex. as costas do Chile, Nova Zelândia, Austrália, ilhas Falkland e ilhas Auckland) e do Pacífico Nordeste (desde as costas da Baja California até Sitka, no Alaska). O epíteto específico resulta da presença de grandes flutuadores piriformes nos seus talos.
Macrocystis pyrifera Macrocystis | |||||||||||||||||||||
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Classificação científica | |||||||||||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||||||||||
Macrocystis pyrifera (Linnaeus) C.Agardh, 1820 | |||||||||||||||||||||
Sinónimos | |||||||||||||||||||||
Descrição
editarMorfologia
editarOs membros do género Macrocystis são algas marinhas gigantes, com grandes talos laminares, geralmente designados por lâminas, com comprimentos que em condições favoráveis podem ir até aos 45 a 60 m. As lâminas destas algas apresentam pneumatocistos na sua base, o que permite a formação de bosques submarinos de grandes esporófitos perenes, podem viver até 3 anos,[3] erectos por flutuação e formados por grandes frondes cujas lâminas sofrem um processo cíclico de senescência, podendo cada uma persistir por até 100 dias.[4]
Alguns indivíduos são tão grandes que os talos podem crescer até aos 60 m de comprimento,[5] com a maioria dos estipes a ultrapassar os 45 m de comprimento.[6][7]
Os estipes ligam-se ao substrato por um rizóide e ramificam-se três ou quatro vezes próximo da base, permanecendo sem ramificação até ao seu topo. As lâminas formam-se a intervalos irregulares ao longo do estipe,[6][8] cada lâmina com pelo menos um grande penumatocisto piriforme junto à base, permitindo manter o estipe erecto por flutuação.[9]
O género tem uma ampla distribuição natural nas regiões subtropical, temperada e sub-antártica do Hemisfério Sul, ocorrendo, por exemplo, nas costas da África do Sul, da Argentina, do Chile, do Peru, da Nova Zelândia, da Austrália, das ilhas Malvinas e das ilhas Auckland e ilhas do Oceano Austral até aos 60º de latitude sul, e no nordeste do Pacífico, desde a Península de Baja California (México) até Sitka, no Alaska, regiões onde Macrocystis é frequentemente um componente importante das florestas submarinas de kelp.[10]
Ciclo de vida
editarO esporófito macroscópico é composto por múltiplas lâminas especializadas que crescem a partir da região que circunda o ponto de fixação ao substrato. Essas lâminas desenvolvem soros contendo esporângios que liberam esporos haplóides, que se transformam em gametófitos microscópicos femininos e masculinos. Os gametófitos, após encontrarem um substrato apropriado, crescem mitoticamente para eventualmente produzir gâmetas.[10]
Os gametófitos femininos libertam os seus ovos (oogónios) ao mesmo tempo que produzem e libertam uma feromona, o lamoxireno,[11][12] composto que desencadeia a libertação de esperma pelos gametófitos masculinos. O esperma de Macrocystis consiste em anterozóides biflagelados não-fotossintéticos, que se dirigem para os oogónios seguindo o gradiente de concentração de lamoxireno. O ovo é então fertilizado para formar um zigoto, que por mitoses sucessivas inicia o crescimento de um novo indivíduo.
As algas gigantes juvenis crescem directamente sobre o gametófito feminino, estendendo uma ou duas lâminas primárias e iniciando um rizóide rudimentar, que eventualmente cobrirá completamente o gametófito. O crescimento ocorre com o alongamento do estipe e a divisão das lâminas, processo que se desenvolve por meio de pequenas sulcos que se vão abrindo na zona onde a lâmina se insere no estipe, que se alargam até o dividir em dois. Os pneumatocistos desenvolvem-se após o surgimento dos primeiros rudimentos de lâmina.
Ecologia
editarAs algas gigantes do género Macrocystis geralmente formam leitos extensos, com grandes e densa canópias flutuantes, ligadas por extensos rizoides, ou crampons, a substratos rochosos situados abaixo da linha da maré baixa.[6][10] A presença desses bosques submarinos cria condições ambientais específicas, albergando um um ecossistema com elevada biodiversidade, incluindo desde mamíferos a briozoários.
Usos
editarPara além de serem utilizadas em alimentação humana e animal, estas algas eram tradicionalmente recolhidas para fertilização dos campos e para produção de explosivos. Apenas na costa californiana dos Estados Unidos, eram recolhidas para esse fim cerca de 300 toneladas de lâminas por dia.[13]
No presente, a recolha continua intensa, especialmente para produção de algina (ou ácido algínico), produto com vasta utilização na indústria farmacêutica, na preparação de aditivos alimentares e nas indústrias têxtil e de refinação da celulose. Também é usado como fertilizante foliar em agricultura biológica. O ácido algínico corresponde a cerca de 40% do peso seco das frondes de Macrocystis, contra menos de 30% nas restantes Laminariaceae e 20% nas Fucaceae.
Entre os usos industriais modernos, para além das indústrias alimentar e farmacêutica, contam-se a produção de cosméticos, a produção têxtil e o fabrico de colas, vernizes e tintas e ainda a indústria metalúrgica.
Recentemente, os centros de talassoterapia também adoptaram o uso de grandes lâminas de Macrocystis para envoltórios corporais e ligaduras dos membros inferiores, na esperança que a forte presença de ácido algínico, de iodo, potássio e elementos vestigiais, sejam benéficos nos tratamentos para a desintoxicação e revitalização do metabolismo celular.
Taxonomia e sistemática
editarNo presente entendimento do géneros, Macrocystis é um género monoespecífico tendo M. pyrifera como única espécie. Contudo, ao longo do tempo foram descritas pelo menos 17 espécies do género Macrocystis.[14] Solução semelhante já havia sido proposta em 1874 por Joseph Dalton Hooker, que com base na morfologia das lâminas tinha colocado todas as espécies então descritas no mesmo táxon sob o nome de Macrocystis pyrifera.[15]
Em tempos mais recentes, um grande número de espécies foram reclassificadas com base na morfologia do rizóide (ou crampon) e das lâminas, o que levou ao reconhecimento de três espécies distintas (M. angustifolia, M. integrifolia e M. pyrifera), conjunto a que foi adicionada uma quarta espécie (M. laevis) em 1986.[16]
Apesar disso, em 2009 e 2010, dois estudos de filogenia, recorrendo a características morfológicas[17] e moleculares,[18] demonstraram que Macrocystis é monospecífico (como M. pyrifera), o que é correntemente aceite pela comunidade ficológica.[19]
Apesar de considerado um género monospecífico, Macrocystis tem uma distribuição natural tão ampla[10] que alguns taxonomistas dividem M. pyrifera em quatro morfos, ou sub-espécies, da seguinte forma:
- Macrocystis pyrifera f. pyrifera, conhecida como kelp gigante, é a forma mais expandida de Macrocystis,[20] ocorrendo nas regiões profundas a intermédias da zona eufótica[10] das costas da América do Norte (do Alaska à Baja California), América do Sul, África do Sul, Nova Zelândia e sul da Austrália.[21]
- Macrocystis pyrifera f. integrifolia, encontrada principalmente em rochas da zona entremaré ou poças subtidais pouco profundas da British Columbia, México, Peru e norte do Chile.[6][10][22]
- Macrocystis pyrifera f. laevis, uma forma de menores dimensões, com ocorrência na zona intertidal das costas do Pacífico Nordeste da América do Norte (British Columbia à Califórnia) e da América do Sul.[6]
- Macrocystis pyrifera f. angustifolia Bory, presente nas águas pouco profundas da África do Sul e da Austrália do Sul.[10][23]
Referências
editar- ↑ F. R. Kjellman, "Phaeophyceae (Fucoideae)", in A. Engler e K. Prantl (coord.), Die natürlichen Pflanzenfamilien, vol. 1, nº 2, Leipzig, Wilhelm Engelmann, 1891, pp. 176–192.
- ↑ E.C. Macaya and G.C. Zuccarello (2010) DNA barcoding and genetic divergence in the Giant Kelp Macrocystis (Laminariales). Journal of Phycology 46(4): 736–742.
- ↑ W.J. North (1971) The biology of giant kelp beds.
- ↑ G.E. Rodriguez, A. Rassweiler, D.C. Reed, & S.J. Holbrook (2013) The importance of progressive senescence in the biomass dynamics of giant kelp (Macrocystis pyrifera). Ecology, 94(8), 1848-1858.
- ↑ C. van den Hoek, D.G. Mann and H.M. Jahns (1995) Algae An Introduction to Phycology. Cambridge University Press, Cambridge. ISBN 0-521-30419-9
- ↑ a b c d e I.A. Abbott and G.J. Hollenberg (1976) Marine Algae of California. Stanford University Press, California. ISBN 0-8047-0867-3
- ↑ A.B. Cribb (1953) Macrocystis pyrifera (L.) Ag. in Tasmanian waters Australian Journal of Marine and Freshwater Research, Vol 5, issue 1.
- ↑ Mondragon, Jennifer and Mondragon, Jeff (2003) Seaweeds of the Pacific Coast. Sea Challengers, Monterey, California. ISBN 0-930118-29-4
- ↑ Kain, J M (1991) Cultivation of attached seaweeds in Guiry, M D and Blunden, G (1991) Seaweed Resources in Europe: Uses and Potential. John Wiley and Sons.
- ↑ a b c d e f g M.H. Graham, J.A. Vásquez and A.H. Buschmann (2007) Global ecology of the giant kelp Macrocystis: From ecotypes to ecosystems. Oceanography and Marine Biology: An Annual Review 45: 39-88.
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- ↑ AlgaeBase: Genus: Macrocystis
- ↑ M. Neushul (1971) The biology of giant kelp beds (Macrocystis) in California: the species of Macrocystis. Nova Hedwigia 32: 211–22.
- ↑ AlgaeBase: Species: Macrocystis pyrifera
- ↑ AlgaeBase: Species: Macrocystis integrifolia
- ↑ J.M. Huisman (2000) Marine Plants of Australia. University of Western Australia Press. ISBN 1-876268-33-6
Bibliografia
editar- Lopez, James. "Macrocystis pyrifera." Monterey Bay Aquarium Research Institute. 2001. Monterey Bay Aquarium Research Institute. 10 Jan 2007
- M.H. Graham, J.A. Vásquez and A.H. Buschmann (2007) Global ecology of the giant kelp Macrocystis: From ecotypes to ecosystems. Oceanography and Marine Biology: An Annual Review 45: 39-88.
Ligações externas
editar- Macrocystis pyrifa
- Macrocystis integrifolia
- Bushing, William W (2000) Giant Bladder Kelp . Retrieved 21 September 2008.