Maria Nascimento

assistente social, ativista e jornalista brasileira

Maria de Lourdes Vale Nascimento,[nota 1] também conhecida como Maria Nascimento (Franca, 2 de setembro de 1924Franco da Rocha, 23 de maio de 1995) foi uma intelectual, educadora, assistente social, ativista da causa negra e liderança feminista brasileira.[1][2][3]

Maria de Lourdes Vale Nascimento
Conhecido(a) por fundadora do Conselho Nacional de Mulheres Negras
Nascimento 2 de setembro de 1924
Franca, São Paulo, Brasil
Morte 23 de maio de 1995 (70 anos)
Franco da Rocha, SP, Brasil
Nacionalidade brasileira
Ocupação Professora, escritora, assistente social e ativista

Maria foi a fundadora do Conselho Nacional de Mulheres Negras, além de cofundadora e diretora do Teatro Experimental do Negro (TEN), onde atuou na promoção da alfabetização da comunidade negra.[1][2][4]

Foi colunista do jornal Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro e uma das primeiras colunistas negras do Brasil.[1][5]

Seu trabalho teve importância tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro e influência na história dos movimentos políticos do Brasil.[1]

Apresentou ideias consideradas inovadoras e sementes das pautas dos feminismos negros contemporâneos. Lutou pela integração da mulher negra à vida social, por sua ascensão educacional, cultural, econômica e pela construção de um novo modelo de sociedade.[1]

Foi autora de ações diversificadas envolvendo educação, saúde e assistência social.[1]

Biografia

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Maria de Lourdes nasceu em Franca, em 1924. Era filha de Dulcinéia Nascimento do Vale, quituteira e dona de casa, e de Laureano Antonio do Vale, militar[1] Ao longo de sua escolarização, dedicou-se aos estudos de música, aprendendo a tocar violino e desenvolvendo apreço por literatura. Formou-se no curso técnico de ciências contábeis no Ateneu de Franca.[1]

Anos 1940-1950

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Entre 1941 e 1943, Maria de Lourdes Vale se casou com Abdias do Nascimento, passando a assinar Maria de Lourdes Vale Nascimento.[6] Após se mudar para o Rio de Janeiro com o marido, em 1944, fundou o Teatro Experimental do Negro (TEN), onde atuou como educadora e liderança política. Teve importante papel no processo de alfabetização da comunidade negra carioca, numa época em que o Brasil portava índices baixos de alfabetização na população.[1][7][8][9]

Entre 1948 e 1950, Maria Nascimento assumiu a coluna “Fala a Mulher”, no jornal “Quilombo: vidas, problemas e aspirações do negro”. Pautou questões como: taxa de mortalidade entre crianças negras; ausência de serviços públicos de pré e pós-natal; espírito de amizade e fraternidade entre “favelados”; regulamentação do trabalho doméstico etc.[3][4][5][10]

Em 1950, fundou o Conselho Nacional de Mulheres Negras, departamento feminino do TEN.[1][7][11][12]

Concedeu entrevistas para o jornal Diário Trabalhista, de São Paulo, e para a Folha do Rio, do Distrito Federal.[1]

Últimos anos e morte

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Por volta de 1955, separou-se de Abdias Nascimento. Retornou para São Paulo e adquiriu um sítio na cidade de Franco da Rocha.[1][6]

Em 23 de maio de 1995, Maria de Lourdes faleceu em seu sítio, aos 70 anos.[1]

O Conselho Nacional de Mulheres Negras

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Fundado em 18 de maio de 1950, o departamento feminino do Teatro Experimental do Negro (TEN) possuía uma agenda feminista negra e tinha como foco promover a integração da mulher negra à vida social.[1][12]

Entre as iniciativas do Conselho Nacional de Mulheres Negras, destacaram-se: criação de uma associação profissional para as trabalhadoras domésticas, oferta de cursos de alfabetização, orientação materna, assessoria jurídica e aulas de ballet e teatro infantis.[1][13]

Obras selecionadas

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Artigos[1]

  • Crianças racistas. Coluna “Fala a Mulher”, Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro. Rio de Janeiro, n. 1, p. 8, dez. 1948.[5]
  • Infância agonizante. Coluna “Fala a Mulher”, Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro. Rio de Janeiro, n. 2, p. 8, mai. 1949.
  • O Congresso Nacional de Mulheres e a regulamentação do trabalho doméstico. Coluna “Fala a mulher”, Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro. Rio de Janeiro, n. 4, p. 3, jul. 1949.[1]
  • Precisam-se de escravas. Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro, Rio de Janeiro, n. 6, p. 9, fev. 1950.
  • Instalado o “Conselho Nacional das Mulheres Negras”. Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro, Rio de Janeiro, n. 9, p. 4 mai. de 1950.

Entrevista

  • Instala-se hoje o Conselho Nacional de Mulheres Negras: Entrevista de Maria Nascimento à Folha do Rio (maio de 1950).[1]

Ver também

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Notas

  1. Encontra-se a grafia "Lurdes", embora em consulta a familiares foi confirmado "Lourdes". Em documentos da época há também a grafia "Valle", embora o uso na família seja "Vale".[1]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s Xavier, Giovana (2020). Maria de Lourdes Vale Nascimento: uma intelectual negra no pós-abolição. Niterói: Eduff – Editora da Universidade Federal Fluminense. ISBN 978-65-5831-012-9 
  2. a b Criolo, Ceará. «Maria Nascimento e a força das mulheres na política - Ceará Criolo». Consultado em 17 de setembro de 2021 
  3. a b Xavier, Giovana (20 de janeiro de 2015). «"Fala a Mulher" ou a mulher também fala? Maria de Lurdes Vale Nascimento e as articulações entre gênero, raça e classe no jornal O Quilombo (Rio de Janeiro, 1948-1950)». Consultado em 17 de setembro de 2021 
  4. a b «Dia Internacional da Mulher e as Vozes do TEN | Ipeafro». ipeafro.org.br. Consultado em 24 de setembro de 2021 
  5. a b c «Jornal Quilombo (Volume 1)». p. 8. Consultado em 17 de setembro de 2021 
  6. a b «Abdias do Nascimento | CPDOC». cpdoc.fgv.br. Consultado em 24 de setembro de 2021 
  7. a b Almada, Sandra de Souza (2013). Abdias Nascimento. [S.l.]: Selo Negro. ISBN 978-8587478351 
  8. Nascimento, Beatriz (2021). Uma história feita por mãos negras. [S.l.]: Companhia das Letras. ISBN 978-6559790067 
  9. Carneiro, Edison (2019). Ladinos e crioulos: Estudos sobre o negro no Brasil. [S.l.]: WMF Martins Fontes. ISBN 978-8578274689 
  10. Nascimento, Elisa Larkin (2007). The Sorcery of Color: Identity, Race, and Gender in Brazil. [S.l.]: Temple University Press. ISBN 978-1592133512 
  11. Nascimento, Elisa Larkin (1980). Pan-Africanism and South America: Emergence of a Black Rebellion (em inglês). [S.l.]: Afrodiaspora 
  12. a b Gonzalez, Lélia (2020). Por um feminismo afro-latino-americano. [S.l.]: Companhia das Letras. ISBN 978-8537818893 
  13. Melo, Hildete Pereira De; Thomé, Débora (3 de maio de 2018). Mulheres e poder: histórias, ideias e indicadores. [S.l.]: Editora FGV 

Ligações externas

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