Mercedes Dantas

política brasileira
 Nota: Para a poeta argentina, veja Mercedes Dantas Lacombe.

Mercedes Dantas, como era mais conhecida Mercedes Dantas Itapicurú Coelho (20 de julho de 1896 - Nasceu na Fazenda São Domingos, Itapicurú, Bahia – faleceu no Rio de Janeiro em 28 de junho de 1982) foi uma poetisa, professora, conferencista, jornalista, política e feminista brasileira, uma das principais defensoras da ditadura de Vargas.

Mercedes Dantas
Mercedes Dantas
Cidadania Brasil
Ocupação política

Foi criadora de várias instituições culturais e literárias e participou de muitas outras, tais como membro correspondente da Academia de Letras da Bahia (sucedendo a Oliveira Lima), do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e do PEN Clube do Brasil, foi ainda fundadora do Instituto Mercedes Dantas de ensino, no Rio de Janeiro.[1] Foi ainda a primeira mulher a ocupar cargo na direção da Associação Brasileira de Imprensa, tendo sido articulista em várias publicações, notadamente o Jornal do Brasil.[1]

Dentro de uma visão ainda conservadora, ela contudo pregava a participação feminina na sociedade, como se vê de sua declaração feita em 1944: "A verdadeira civilização, no seu sentido material e espiritual, nas suas formas conservadoras ou originais, não pode dispensar a colaboração, cada vez maior, da mulher."[1]

Biografia editar

Seu bisavó era o José Dantas dos Imperiais Itapicurú, o Barão do Rio Real. Era filha de José Dantas Coelho (morto em 19 de julho de 1943) e Maria Dantas Itapicurú Coelho (morta em 12 de dezembro de 1955).[2] Nasceu na Vila Rica de Bom Jesus, hoje a cidade baiana de Crisópolis e na época pertencente a Itapicuru, e dentre seus irmãos estavam:

  • Elysio Dantas Itapicurú Coelho - Jornalista e professor do Colégio Pedro II (Rio de Janeiro);
  • Nelson Dantas Itapicurú Coelho - advogado, colecionador de artes e empreendedor;
  • Maria Dantas Itapicurú Coelho;
  • Moacyr Dantas Itapicurú Coelho - Capitão -Tenente Médico, morto em 1945 durante o afundamento do cruzador Bahia durante a II Guerra Mundial.[3]
  • José Dantas Itapicurú Coelho - médico que atuava principalmente com pacientes tuberculosos e professor de História do Liceu de Artes e Ofícios;
  • Olavo Dantas Itapicurú Coelho - vice-almirante e escritor;
  • Milton Dantas Itapicurú.

Em 1926 Dantas, diante da impossibilidade então vigente de a Academia Brasileira de Letras admitir mulheres entre seus pares, idealizou e chegou a realizar reunião em 6 janeiro daquele ano para fundar uma Academia Feminina; apesar de reunir várias interessadas, a ideia não prosperou.[4] Desta reunião participaram mulheres como Bertha Lutz, sua irmã Heloísa e Albertina Bertha.[5] Mais tarde, junto a Francisca Bastos Cordeiro, Alba Canizares, Adalzira Bittencourt e outras, tentaram lograr sua fundação, chegando a elaborar seus estatutos — novamente sem êxito.[4]

Em 1930 realizou uma grande excursão através do país, realizando conferências e defendendo a ideia de uma educação pública homogênea, na qual efetuou a fundação de dezenas de associações de professores.[1]

Em 1933 fundou aquele que veio a ser o primeiro partido político de professoras do Brasil, chamado Diretório Político das Professoras Primárias que, naquele ano, participou ativamente do pleito, logrando melhorias para a categoria.[1]

 
Mulheres reunidas em 1926 para a criação da Academia Feminina; Dantas é a terceira sentada, a partir da esquerda

Na década de 1930 colaborou com matérias sobre ensino, num contexto em que no Brasil ocorrera uma "feminização" do magistério e a profissão de professora era uma das únicas aceitas para o trabalho da mulher; na revista Brasil Feminino de fevereiro de 1932 escreveu: "Os problemas econômicos e os problemas políticos condensam os problemas humanos, não há dúvida; são, no fundo, problemas de educação. Educar, pois, é aperfeiçoar, dirigir, adaptar, corrigir, emancipar. E o aparelho prodigioso de aperfeiçoamento, de direção, de correção, de adaptação e emancipação, é a escola."[6]

Em 1941 integrou a diretoria, como primeira-secretária, da Academia Juvenal Galeno, que tinha por presidente o integralista Gustavo Barroso.[7] Ainda neste ano integrou a comissão organizadora do Primeiro Congresso de Brasilidade, evento criado pelo Estado Novo para atender aos fins governamentais de proporcionar uma unidade nacional; a Dantas coube, assim, coordenar o plano de Unidade Cultural, no qual escreveu: "...como fundamento de uma civilização própria, em defesa da nossa língua, dos nossos patrimônios intelectuais e artísticos, dos nossos valores morais e com a nacionalização do ensino, da imprensa, do cinema, do rádio, da literatura, do teatro, da música, da dança, das artes plásticas e dos desportos." — e a autora manifesta sua preocupação com as ameaças que enfraquecem o "espírito nacional" e mais uma vez defende o nacionalismo, dentro das ideias de Getúlio Vargas.[8]

Em 1942, aproveitando-se da amizade com a irmã do poeta Castro Alves, Adelaide de Castro Alves Guimarães, ela teve acesso a vários textos e desenhos originais do autor e publicou a obra sob seu viés ideológico "O Nacionalismo de Castro Alves"; servindo-se de passagens biográficas e dos textos do poeta ela analisou-o sob a ótica nacionalista, procurando demonstrar como na sua obra está descrita a paisagem, os erros políticos, demonstrando novos "horizontes sociais" sempre a denotar o nacionalismo;[9] o livro foi distribuído nas escolas baianas.[1]

Em 2 de abril de 1943, após a publicação no Diário Oficial do registro, viu concretizar-se, após uma polêmica com a suposta negativa de Cecília Meireles (a mesma não estava a morar no Rio de Janeiro, na ocasião) em participar, e a efetiva recusa de Dinah Silveira de Queiróz (que entretanto havia chegado a escolher sua patrona) — além da oposição de homens como Osório Borba e redatores de O Globo — foi fundada a Academia Feminina de Letras, tendo Dantas por sua primeira Secretária Geral e Adalzira Bittencourt como primeira presidenta.[4]

Foi lente do Instituto de Educação do Rio, aprovada em primeiro lugar em concurso para a cátedra de "Prática do Ensino" na primeira metade da década de 1940.[1] Dirigiu, ainda, a Escola Santa Clara.[10]

Em 1947, com o retorno do país à democracia, lançou-se candidata a vereadora da cidade do Rio de Janeiro pelo Partido Republicano, de Artur Bernardes.[11] Eleita, em 1950 Dantas ocupava a vereança e fazia parte do Instituto Brasileiro de Geopolítica.[12] Era a única representante do PR na câmara e, em maio daquele ano, deixou o partido para se filiar ao Partido Social Democrático.[13] Como parlamentar teve sua proposta da criação de um retiro para os professores aprovado e sancionado pelo prefeito, Mendes de Morais.[14]

Finda a carreira política exerceu o magistério e representação da classe docente. Em 1973 presidia a União dos Educadores do Estado da Guanabara.[15]

Bibliografia editar

Principais trabalhos da autora:[1]

  • Nus, 1925 (contos, livro premiado pela ABL[11])
  • Adão e Eva, 1928 (contos)
  • O Nacionalismo de Castro Alves, 1941 (ensaio)
  • A Força Nacionalizadora do Estado Novo, 1942 (monografia, patrocinada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda)
  • As Grandes Diretrizes Nacionais da Escola Primária, 1942.
  • Unidade Cultural, 1942 (tese)
  • Épocas do Brasil (estudos econômicos, políticos e sociais)
  • O Bragantismo nos Destinos do Brasil (estudos políticos)
  • O Homem que Achou a Felicidade (contos)

Homenagens editar

Em 1959 o prefeito carioca Sá Freire Alvim concedeu a Dantas medalha de ouro pelos bons serviços prestados como funcionária pública.[16] No mesmo ano, também pela prefeitura do Rio, foi agraciada com a Medalha Padre Anchieta.[17]

Mercedes Dantas é nome de rua em Belford Roxo, no Rio. Na capital a rua Mercedes Coelho foi nomeada em sua homenagem, em 1983.[18]

Existe também a Escola Municipal Mercedes Coelho em homenagem a educadora, situada no Município de Benedito Leite, Maranhão.

A União dos Educadores da Cidade do Rio de Janeiro possui, a 93 km da capital no sul fluminense, a "Colônia de Férias Mercedes Dantas", destinada aos seus associados.[19] A entidade é fruto da fusão de três outras (Ordem dos Professores, Liga de Professores e Associação dos Professores Primários) e sua colônia de férias foi criada pela doação do terreno por Mercedes Dantas em 15 de outubro de 1951; até então ela costumava levar os colegas para ali passarem fins de semana.[20]

Referências

  1. a b c d e f g h Juanita Borel Machado (17 de junho de 1944). acervo digital da Biblioteca Nacional. «A mulher na guerra e no após-guerra». Rio de Janeiro. Revista da Semana. XLV (25): 74-75 
  2. «Convite enterro». Rio de Janeiro. Correio da Manhã (19239): 6 (2º caderno). 13 de dezembro de 1955. Consultado em 6 de novembro de 2017 
  3. «Capitão de Corveta Moacyr Dantas Itapicuru Coelho Moacyr». Correio da Manhã (15570): 7. 5 de agosto de 1945. Consultado em 7 de novembro de 2017 
  4. a b c Sonia Regina (1 de maio de 1943). acervo digital da Biblioteca Nacional. «Academia Feminina, Molière e a sofística...». Rio de Janeiro. Revista da Semana. XLIV (18). 10 páginas 
  5. s/a (16 de janeiro de 1926). acervo digital da Biblioteca Nacional. «Noticias e Commentarios (foto)». Rio de Janeiro. Revista da Semana. XXVII (4). 28 páginas 
  6. Alessandra da Silva Ramos (2016). «Por um feminismo bem comportado: educação, maternidade e trabalho nas páginas da revista Brasil Feminino (1932-1934)» (PDF). Anpuh. Consultado em 1 de fevereiro de 2017. Cópia arquivada em 2 de fevereiro de 2017 
  7. s/a (18 de outubro de 1941). acervo digital da Biblioteca Nacional. «Figuras e Fatos: Academia Juvenal Galeno». Rio de Janeiro. Revista da Semana. XLII (15). 13 páginas 
  8. Luiz Felipe de Carvalho (2010). «Educação e unidade nacional no Estado Novo: o Primeiro Congresso de Brasilidade (1941)» (PDF). UFRJ. Consultado em 1 de fevereiro de 2017. Cópia arquivada em 2 de fevereiro de 2017 
  9. s/a (11 de abril de 1942). acervo digital da Biblioteca Nacional. «Livros Novos: O nacionalismo de Castro Alves por Mercedes Dantas». Rio de Janeiro. Revista da Semana. XLIII (42). 4 páginas 
  10. Institucional (24 de junho de 1944). acervo digital da Biblioteca Nacional. «O aniversário da "Revista da Semana"». Rio de Janeiro. Revista da Semana. XLV (26). 58 páginas 
  11. a b Marcelo Torres (11 de janeiro de 1947). acervo digital da Biblioteca Nacional. «As mulheres também querem ser vereadoras». Rio de Janeiro. Revista da Semana. XLVIII (2): 4 e seg. 
  12. Institucional (31 de janeiro de 1950). acervo digital da Biblioteca Nacional. «Instituto Brasileiro de Geopolítica». Rio de Janeiro. Correio da Manhã (nº 17448) 
  13. Institucional (4 de maio de 1950). acervo digital da Biblioteca Nacional. «O Partido Republicano não está mais representado na Câmara dos Vereadores». Rio de Janeiro. Correio da Manhã (nº 17524). 10 páginas 
  14. Institucional (24 de junho de 1950). acervo digital da Biblioteca Nacional. «Em benefício do magistério municipal». Rio de Janeiro. Correio da Manhã (nº 17658). 17 páginas 
  15. Mercedes Dantas (4 de agosto de 1973). acervo digital da Biblioteca Nacional. «Anúncio». Rio de Janeiro. Jornal do Brasil. LXXXIII (nº 118). 16 páginas 
  16. Institucional (12 de abril de 1959). acervo digital da Biblioteca Nacional. «Premiando antigos servidores com medalhas de bons serviços». Rio de Janeiro. Correio da Manhã (nº 20258). 3 páginas 
  17. Institucional (10 de junho de 1959). acervo digital da Biblioteca Nacional. «Ex-alunos dos jesuítas e Prefeitura reverenciam Anchieta e dão medalhas». Rio de Janeiro. Correio da Manhã (nº 20307). 3 páginas 
  18. Institucional (10 de março de 1983). «DECRETO Nº 4063 DE 10 DE MARÇO DE 1983». Prefeitura do Rio de Janeiro. Consultado em 2 de fevereiro de 2017. Cópia arquivada em 2 de fevereiro de 2017 
  19. Institucional. «A Colônia». União dos Educadores da Cidade do Rio de Janeiro. Consultado em 2 de fevereiro de 2017. Cópia arquivada em 2 de fevereiro de 2017 
  20. Institucional. «História». União dos Educadores da Cidade do Rio de Janeiro. Consultado em 2 de fevereiro de 2017. Cópia arquivada em 2 de fevereiro de 2017 
 
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