Muçununga é uma vegetação que ocorre em florestas ombrófilas densas de terras baixas do norte do Espírito Santo e sul da Bahia, em locais de solo arenoso, úmido e fofo. É um ecossistema associado ao bioma Mata Atlântica. Desenvolve-se sobre solos arenosos extremamente pobres (oligotróficos), na maioria dos casos hidromórficos, e ricos em ácido húmico. O termo engloba também um complexo mosaico de formações que variam de florestais a campestres, com ocorrências descontínuas[1].

A palavra "mussununga" ou "muçununga" tem origem tupi-guarani e faz referência à terra arenosa, úmida e fofa[2].

Características da vegetação

As muçunungas apresentam diferenças nas formas, tamanhos, fitofisionomias e flora pois ocupam áreas distintas. A variação fitofisionômica das muçunungas é tão grande quanto a de Cerrado. Possui predominância de espécies arbustivo-herbáceo e arbórea pouco densa[3]. As fisionomias campestres estão mais relacionadas floristicamente às Restingas[4] e as fisionomias florestais às florestas ombrófilas circundantes[5]

A diversidade é baixa nas áreas de muçunungas quando comparada com a floresta ombrófila densa de terras baixas, porém similares à vegetação de Restinga. Esses habitats, quando florestais, apresentam uma vegetação com sub-bosque de porte baixo e irregularmente aberto, densidade alta de árvores pequenas e finas, escassez de árvores emergentes e epífitas e lianas abundantes[6]. Nas formações abertas, verifica-se a abundância de elementos com folhas esclerófilas perenes e pequenas, com aparência xeromórfica.

Classificação da vegetação da muçununga

As muçunungas podem apresentar três formas de paisagem, cada uma com dois subtipos[1]:

Muçununga gramíneo-lenhosa:

  • Muçununga graminóide: é uma variante campestre. Ocorre nos locais onde o encharcamento é mais superficial, com menor drenagem do solo. É coberta principalmente por caméfitos, terófitos e hemicriptófitos das famílias Poaceae, Cyperaceae e nanofanerófitos isolados, representados por Humiria balsamifera e Baccharis platypoda.
  • Muçununga gramíneo-lenhosa de Bonnetia: composta pela dominância da população de nanofanerófitos da espécie Bonnetia stricta sobre termiteiros inativos, os quais formam microsítios de colonização. Não possui encharcamento pronunciado como a muçununga graminóide, sendo, portanto, um ambiente mais bem drenado que o primeiro.

Muçununga arborizada:

  • Muçununga arborizada aberta: engloba variantes savânicos, caracterizados por nanofanerófitos esparsos, possivelmente providos de xilopódios e tufos do líquen Cladonia sp., refugiados sob a sombra de arvoretas, como as de Hancornia speciosa.
  • Muçununga arborizada típica: dominada por caméfitos e fanerófitos.

Muçununga florestada:

  • Formação de ilhas com bromélias: predominância da espécie de bromeliaceae Vriesea neglutinos. Alterna trechos arborizados e campestres.
  • Muçununga florestada: composta principalmente por microfanerófitos, com árvores de 7 a 20 metros, cujas copas se tocam e comumente com mais de uma camada de copas de árvores adultas.

Áreas de ocorrência: Geologia e Geomorfologia

A área de ocorrência das muçunungas caracteriza-se por feições geomorfológicas de interflúvios, denominada tabuleiro costeiro, o que corresponde aos baixos platôs costeiros do Terciário assentados sobre rochas do Pré-Cambriano[7]. A ocorrência das vegetações de muçununga é atribuída às características edáficas dos terrenos por elas ocupados, embora não haja informações na literatura. Tais condições edáficas são observadas em trechos descontínuos, com formas variadas, comumente circulares, e em baixas altitudes. Um fator edáfico que diferencia as muçunungas das Restingas é a ocorrência de uma camada impermeável de laterita (couraça laterítica), que provoca alagamentos estacionais nas muçunungas e confere-lhes grande umidade no período chuvoso. Ocorrem manchas de vegetação florestal na muçununga associadas a locais onde a profundidade do solo é maior e na beira de cursos d’água. No sul do Estado da Bahia essas formações são denominadas “muçunungas” e no norte do Estado do Espírito Santo são chamadas de "campos nativos" ou “nativos”. São associadas a solos arenoquartzozos hidromórficos, e solos arenosos transicionais para argissolos ou latossolos amarelos[8].

A muçununga é uma vegetação pouco conhecida e vulnerável. De acordo com a lei n° 11.428, de 22 de dezembro de 2006, capítulo 1, artigo 2°, que dispõe sobre a proteção legal das formações florestais e ecossistemas relacionados ao bioma Mata Atlântica, a muçununga não está protegida por lei.

Referências

  1. a b Saporetti Junior, Amilcar Walter (2009). Vegetação e solos de Muçununga em Caravelas, Bahia. Viçosa, MG:  Universidade Federal de Viçosa 
  2. FERREIRA, A.B.H. Novo dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1986
  3. Meira Neto, João Augusto Alves; Souza, Agostinho Lopes de; Lana, Jacinto Moreira de; Valente, Gilmar Edilberto (1 de janeiro de 2005). «Composição florística, espectro biológico e fitofisionomia da vegetação de muçununga nos municípios de Caravelas e Mucuri, Bahia». Revista Árvore. 29 (1): 139–150. ISSN 0100-6762. doi:10.1590/S0100-67622005000100015 
  4. Meira Neto, João Augusto Alves; Souza, Agostinho Lopes de. Composição florística, espectro biológico e fitofisionomia da vegetação de muçununga nas áreas de preservação da Bahia Sul Celulose S. A. Viçosa, MG: Sociedade de Investigações Florestais, 1998. 29p.
  5. Simonelli, Marcelo. Composição florística e estrutura do estrato arbóreo de uma muçununga na Reserva Florestal de Linhares, Espírito Santo. 1998. 101f. Dissertação (Mestrado em Botânica). Universidade Federal de Viçosa, Viçosa MG, 1998
  6. Simonelli, Marcelo; Souza, Agostinho Lopes; Peixoto, Ariane Luna; Silva, Alexandre Francisco. Floristic Composition and Structure of the Tree Component of a Muçununga Forest in the Linhares Foret Reserve, Espírito Santo, Brazil. In: The Atlantic coastal forest of Northeastern Brazil. Wm. Wayt Thomas (Ed.). Bronx, N.Y. The New York Botanical Garden Press. 100:345-364. 2008.
  7. Moreau, Ana Maria Souza dos Santos; Costa, Liovando Marciano da; Ker, João Carlos; Gomes, Felipe Haenel (1 de dezembro de 2006). «Gênese de horizonte coeso, fragipã e duripã em solos do tabuleiro costeiro do sul da Bahia». Rev. Bras. Ciênc. Solo. 30 (6): 1021–1030. doi:10.1590/S0100-06832006000600011 
  8. Schaefer, Carlos Ernesto; Magnago, Luiz Fernando Silva; Saporetti Junior, Amilcar Walter; Sarcinelli, Tathiane Santi; Simonelli, Marcelo; Meira Neto, João Augusto Alves; Fernandes Filho, Elpídio Inácio. Mussunungas, Campos Nativos e Restingas: Diversidade de Ecossistemas Arenosos do Espírito Santo. Revista Ação Ambiental (não publicado)
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