Os Doze de Inglaterra
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Os Doze de Inglaterra é o nome atribuído a uma história semi-lendária/semi-factual que valoriza a conduta da Honra e o comportamento de acordo com o Ideal cavaleiresco praticado pelos portugueses da Idade Média, que é referida nos Lusíadas por Luís Vaz de Camões, logo no canto I e mais à frente depois aí contada no canto VI[1] pela voz de um marinheiro chamado "Fernão Veloso"[2], e que terá acontecido no reinado de D. João I de Portugal junto das cortes de Ricardo II de Inglaterra.
É passada na Europa medieval e que começa por contar que doze damas inglesas foram ofendidas por doze nobres, também ingleses que alegavam que elas não eram dignas do nome "damas" visto as vidas que levavam e desafiavam quem quer que fosse para as defender com a força da espada.
As damas em questão viram-se na necessidade de pedir ajuda a amigos e parentes, tendo todos eles recusado a ajuda. Já não sabendo mais o que fazer decidiram pedir ajuda e conselho ao Duque de Lencastre, João de Gante, que tinha combatido contra os castelhanos e os leoneses, para obter o Reino de Castela e Leão para si, com a ajuda de D. João I de Portugal, e por isso conhecia bem os portugueses. Assim, como não encontrasse nenhum campeão que lutasse pelas damas na Inglaterra, este indicou-lhes doze cavaleiros lusitanos capazes de lhes defender a honra feminina.
Os nomes desses cavaleiros — na verdade treze, em número — são conhecidos, e são, todos, personagens historicamente atestados, a saber:
- Álvaro Gonçalves Coutinho, dito o Grão Magriço (o Grande Magriço) ou simplesmente o Magriço;[3]
- D. Álvaro Vaz de Almada (depois Cavaleiro da Ordem da Jarreteira e 1.º Conde de Avranches);
- João Fernandes Pacheco, irmão legítimo do seguinte (filho de Diogo Lopes Pacheco, 9.º Senhor de Ferreira de Aves, um dos assassinos de D. Inês de Castro);
- Lopo Fernandes Pacheco, irmão natural legitimado do anterior (filho de Diogo Lopes Pacheco, 9.º Senhor de Ferreira de Aves, um dos assassinos de D. Inês de Castro) e cunhado (marido da irmã) do Magriço;
- Álvaro Mendes Cerveira, irmão do seguinte, proveniente do Prazo da Pena;
- Rui Mendes Cerveira, irmão do anterior, proveniente do Prazo da Pena;
- João Pereira da Cunha Agostim, primo-sobrinho-neto dos Pacheco (meio-sobrinho materno de D. Nuno Álvares Pereira), avô de Tristão da Cunha;
- Soeiro da Costa;
- Luís Gonçalves Malafaia, depois embaixador a Castela;
- Martim Lopes de Azevedo;
- Pedro Homem da Costa;
- D. Rui Gomes da Silva, depois 1.º Alcaide Mor de Campo Maior e Ouguela, irmão de Santa Beatriz da Silva;
- Vasco Anes da Costa, dito Corte Real.
Logo que tiveram conhecimento do possível apoio, cada uma das damas escreveu a cada um dos doze cavaleiros portugueses e até ao rei D. João I de Portugal. Junto com as cartas chegou também o pedido do Duque de Lencastre.
Mediante o escrito nas cartas toda a corte se sentiu ofendida, e visto que o povo português era um povo cavalheiro e defensor da honra, logo se deu a partida dos Doze para Inglaterra.
Onze dos Cavaleiros terão seguido por mar, entre eles D. Álvaro Vaz de Almada. Mas um deles, querendo demonstrar mais valentia que de todos, Álvaro Gonçalves Coutinho, conhecido como "O Magriço", decidiu seguir no seu cavalo por terra para "conhecer terras e águas estranhas, várias gentes e leis e várias manhas", garantindo no entanto que estaria presente no local e na data certa.
Acontece que, quando chegou o dia do torneio "o Magriço" não estava presente para desespero dos seus companheiros que se viam reduzidos a onze cavaleiros contra os doze cavaleiros de Inglaterra.
As damas estavam já vestidas de preto, visto que toda uma hora se estava a perder. Mas no último momento e para alegria dos seus companheiros "o Magriço" apareceu e o combate foi travado com glória para os portugueses que ganharam o confronto.
Primeiro combateram a cavalo e depois a pé, terminando a contenda com a vitória dos Portugueses que, perante a sociedade inglesa, recuperaram a honra e a nobreza das damas. Os valorosos Portugueses ficaram, a partir daquele momento, conhecidos como os "Doze de Inglaterra"[2].
Depois de terminadas as contendas foram recebidos pelo duque de Lencastre no seu palácio que lhes ofereceu muitas festas e honras como prova de apreço e gratidão.
A base histórica para tal narrativa está, possivelmente, no fato de diversos dentre esses cavaleiros terem, na juventude, peregrinado como cavaleiros andantes pela Europa, lutando em diversos conflitos nomeadamente, alguns ao lado de D. Pedro, Duque de Coimbra, o das "sete partidas", e depois com seu filho mais velho e homónimo.
Mais tarde esta história foi evocada na poesia, no teatro, no romance e na banda desenhada, assim como há um grande fresco na Câmara Municipal de Seia da autoria de Jaime Martins Barata (1966)[4].
Bibliografia
editar- Inácio Rodrigues Vedouro, «Desafio dos Doze de Inglaterra que na Corte de Londres se Combateram em Desagravo das Damas Inglesas», Oficina Ferreiriana, Lisboa Ocidental, 1732.
- Jacinto Heliodoro Faria de Aguiar de Loureiro, «Álvaro Gonçalves, o Magriço, e os Doze de Inglaterra», drama histórico original, aprovado pelo Conservatório R. de Lisboa para a inauguração do teatro de D. Maria II, Lisboa, 1846
- Teófilo Braga, «Os Doze de Inglaterra: Poema», Livraria Chardron, Porto, 1902
- A. de Magalhães Basto, «Relação ou Crónica breve das cavalarias dos Doze de Inglaterra». Porto. 1935
- A. de Magalhães Basto, «O Essencial Sobre os Doze de Inglaterra», INCM – Imprensa Nacional Casa da Moeda, abril de 1986 ‧ isbn: 0053000098420
- João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, «Magriço, ou, Os doze de Inglaterra», Edições 70, 1978
- António Torrado, «Doze de Inglaterra: seguido de, O guarda-vento». Leya, 2000. ISBN 10: 9722113097
- Raul Correia, Eduardo Teixeira Coelho e José Ruy, «Os Doze de Inglaterra», Gradiva, 2016. ISBN: 978-989-616-676-2[5].
Referências
- ↑ Camões, Luiz de (1846). Os Lusíadas: poema épico : restituído a' sua primitiva linguagem ... [S.l.]: Baudry
- ↑ a b Os Doze de Inglaterra, in Artigos de apoio Infopédia (em linha). Porto: Porto Editora, 2003-2020. (consult. 2020-01-18 15:38:25)
- ↑ FONSECA, João Ferreira da, Álvaro Gonçalves Coutinho, o Magriço. o cavaleiro e o seu tempo. Quartzo Editora/Câmara Municipal de Penedono, Viseu, 2013. ISBN - 978-989-97003-7-6
- ↑ Torneio dos Doze de Inglaterra (1966), Vida e obra do Pintor Jaime Martins Barata (1899 -1970)
- ↑ "Os doze de Inglaterra" foi publicado entre 1950 e 1951 na revista O Mosquito e era uma adaptação, com texto de Raul Correia e desenho de Eduardo Teixeira Coelho, de uma novela de António de Campos Júnior, intitulada "Ala dos Namorados". - BD "Os doze de Inglaterra", de Eduardo Teixeira Coelho, editada em livro, por Lusa, Correio da Manhã, 6 de Janeiro de 2016
Ligações externas
editar- Os Doze de Inglaterra, in Artigos de apoio Infopédia (em linha). Porto: Porto Editora, 2003-2020. (consult. 2020-01-18 15:38:25)
- O Medievalismo em Camões. Os Doze de Inglaterra, por José Joaquim Moreira do Santos, Revista da Universidade de Coimbra, 1985
- Imagologia e Mitos Nacionais: O Episódio dos Doze de Inglaterra na Literatura Portuguesa (c.1550-1902) e o Nacionalismo (Colonial) de Teófilo Braga, por Rogério Miguel Puga, 2014
- Álvaro Gonçalves, o Magriço e os Doze de Inglaterra: um drama histórico., por Ana Isabel Vasconcelos, "Discursos (Em linha) : estudos de língua e cultura portuguesa". ISSN 0872-0738. Nº 7 (Maio 1994), p. 95-120
- Imagologia e Mitos Nacionais - O Episódio dos Doze de Inglaterra na Literatura Portuguesa (c. 1550-1902) e o Nacionalismo (Colonial) de Teófilo Braga, por Rogério Miguel Puga, Caleidoscópio – Edição e Artes Gráficas, SA, Lisboa e Goa