Tristão da Cunha

Explorador e militar português (1460-1540)
 Nota: Para outros significados, veja Tristão da Cunha (desambiguação).

Tristão da Cunha (ca. 1460 – ca. 1540), 1.º Senhor de Gestaçô e de Panóias, foi cavaleiro do conselho d'El-Rei D. Manuel I, explorador português e comandante naval. Foi nomeado, em 1504, o primeiro vice-rei e governador da Índia Portuguesa, mas não chegou a ocupar o cargo por motivos de cegueira temporária, ocupando-o D. Francisco de Almeida.

Tristão da Cunha
Gravura de Tristão da Cunha, Stich, Basileia, 1575
Nascimento ca. 1460
Morte ca. 1540 (80 anos)
Nacionalidade Portugal Português

Biografia editar

Em 1506, foi nomeado comandante da frota de 10 navios de carga, sob a qual seguia também o 2.º Governador da Índia, Afonso de Albuquerque, seu primo segundo, que tinha a seu cargo uma esquadra com outros quatro navios[1], que operaram ao longo da costa este de África e nas Índias.

Nesta viagem Tristão da Cunha descobriu um grupo de ilhas remotas no sul do Oceano Atlântico, a 2816 km (1750 milhas) da África do Sul. Apesar do mar revolto ter impedido a aportagem, nomeou a ilha principal que permanece até hoje com o seu nome, no arquipélago de Tristão da Cunha.

Mais tarde desembarcou em Madagáscar. No estreito de Moçambique socorreu o seu amigo João da Nova e recuperou a nau Frol de la mar, juntando-os à sua armada, na Brava reduziu o poder árabe, Barawa e conquistou Socotorá com Afonso de Albuquerque, iniciando a construção de uma fortaleza. Chegado à Índia em Agosto de 1507, distinguiu-se em diversas ações como o apoio decisivo no cerco de Cananor, e prestou auxílio ao vice-rei D. Francisco de Almeida derrotando a frota do Samorim de Calecute em Novembro, após o que regressou ao reino com a frota carregada.

Embaixada ao Papa Leão X editar

 
Elefante Hanno e o seu mahout. Caneta e tinta, Museu das Belas-Artes de Angers.

Em 1514 foi mandado a Roma como embaixador ao papa Leão X, tendo como seu secretário Garcia de Resende.[2] A embaixada faustosíssima que comandava, acompanhado por Diogo Pacheco e João de Faria, percorreu as ruas da cidade numa extravagante procissão, a 12 de março de 1514, onde se viam animais selvagens das colónias e riquezas das Índias[3]. O cortejo trazia um elefante como presente para o papa, a que este deu o nome Hanno), e que durante quase 3 anos foi sua mascote. Vinham também dois leopardos, uma pantera, alguns papagaios, perus raros e cavalos indianos. Hanno carregava um palanque de prata no seu dorso, em forma de castelo, contendo um cofre com os presentes reais, entre os quais paramentos bordados com pérolas e pedras preciosas, e moedas de ouro cunhadas para a ocasião.

O papa recebeu o cortejo no Castelo de Santo Ângelo. O elefante ajoelhou-se três vezes em sinal de reverência e depois, obedecendo a um aceno do seu mahout (tratador) indiano, aspirou a água de um balde com a tromba e espirrou-a sobre a multidão e os cardeais.

Para a mesma ocasião viria um rinoceronte, que seria retratado por Albrecht Dürer em uma famosíssima xilografia. Apesar de nunca o ter visto, o artista baseara-se numa descrição extremamente precisa do animal. O barco com o rinoceronte terá naufragado ao mesmo tempo que Hanno chegava de Lisboa.

Dados genealógicos editar

O túmulo de Tristão da Cunha encontra-se no convento de Nossa Senhora da Encarnação do século XVII em Olhalvo (no município de Alenquer).

Ele era filho de Nuno da Cunha o «Velho» e da sua mulher, da qual foi o primeiro marido, Catarina de Albuquerque, filha de Luís Álvares Pais e da sua mulher Teresa de Albuquerque, e irmão de Joana de Albuquerque, mulher de Lopo Soares de Albergaria, 3.º Governador da Índia.

Casou com:

  • D. Antónia Pais ou D. Antónia Albuquerque, filha de Pêro Gonçalves, secretário de D. Afonso V (de 1449 a 1464) e de sua mulher Leonor Pais[4].

Tiveram, entre outros filhosː[5]

  • Nuno da Cunha, 2.º senhor de Gestaçô e Panóias, 9.º governador da Índia em 1529, casado a 1.ª vez com Maria da Cunha e a 2.ª vez com Isabel da Silveira ou de Vilhena. Com geração, de ambos os casamentos;
  • Simão da Cunha, trinchante-mor de D. João III e general do mar da Índia, casado com Isabel da Grã. Com geração;
  • Pedro Vaz da Cunha, estribeiro-mor de D. João III, casado com Beatriz da Silva. Com geração.

Ver também editar

Referências editar

  1. The Cambridge History of India: British India, 1497-1858, p.9, ed. by H. H. Dodwell, Edward James Rapson, Wolseley Haig, Richard Burn, Henry Dodwell
  2. Sanjay Subrahmanyam, "The Career and Legend of Vasco Da Gama", p. 269, Cambridge University Press, 1998 ISBN 0521646294
  3. Jorge Nascimento Rodrigues, Tessaleno C. Devezas, "PIONEERS OF GLOBALIZATION: Why the Portuguese surprised the World", p.113, Centro Atlantico, 2007, ISBN 9896150567
  4. Nuno da Cunha e os capitães da Índia (1529-1538) – Parte I: O governador, por Andreia Martins de Carvalho , Dissertação de Mestrado em História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa (séculos XV-XVIII), Universidade Nova de Lisboa,2006, pág. 27[ligação inativa]
  5. Freire, Anselmo Braamcamp (1921). Brasões da Sala de Sintra, Livro Primeiro. Robarts - University of Toronto. Coimbra: Imprensa da Universidade. pp. 174 – 179