Perseguição nazista à Igreja Católica

A Igreja Católica Romana sofreu perseguição na Alemanha Nazista. Como uma ideologia totalitária, os nazis reivindicaram jurisdição sobre toda actividade colectiva e social, interferindo em colégios católicos, grupos de jovens, sindicatos e sociedades³ culturais.[1] A ideologia nazi não poderia aceitar um estabelecimento autonómo, cuja legitimidade não viesse do governo. Houve então, a total subordinação da Igreja ao Estado em 20 de Julho de 1933 os católicos abriram mão da política dando direito ao nazismo de totalitarismo político.[2] A liderança nazista esperava descristianizar a Alemanha a longo prazo.[3][4][5][6][7][8][9][10][11][12][13][14][15][16][17] Radicais agressivos contra a Igreja como o Ministro de Propaganda Goebbels, o comandante militar da SS, Himmler e o secretário de Hitler, Martin Bormann viu a campanha kirchenkampf contra as Igrejas como uma preocupação prioritária. Sentimento anti-igreja e anticlericais foram fortes entre os activistas da base do partido.[18][19] O próprio Hitler também teve uma tendência radical na questão da igreja, mas estava preparado para frear seu anticlericalismo na política, observando o perigo no fortalecimento da igreja através da perseguição.[18][20] O catolicismo apesar da aliança tática na Guerra Civil Espanhola[21] e das concordatas a favor do regime[22] antipatizava com o regime.

Execução pública de clérigos polacos e cidadãos na Praça do Mercado Velho de Bydgoszcz, 9 de setembro de 1939. A Igreja Polaca sofreu uma perseguição brutal sob a ocupação nazista.

Hitler eliminou rapidamente o catolicismo político, e milhares de pessoas foram presas. Apesar dos abusos do clero católico, e organizações que seguiam Hitler como Chanceler, o Vaticano estava inquieto para conseguir um novo acordo legal com o governo, para proteger os direitos da Igreja na Alemanha.[23] O resultado da concordata do Reich foi violada quase que imediatamente. Os nazis dissolveram lideranças católicas jovens e o clero. Freiras e líderes leigos começaram a ser alvo de prisões, a maioria devido a "imoralidade" ou então pelo contrabando ilegal de moedas. Católicos filiados a partidos políticos na Alemanha, assim como todos os outros partidos, foram proibidos em 1933, e líderes católicos leigos assassinados a mando de Hitler na Noite das Facas Longas. Em 1937, a encíclica Mit brennender Sorge do Papa Pio XI acusava o regime de ser "fundamentalmente hostil a Cristo e à sua Igreja."

Em 1940, um quartel de clérigos foram enviados pelos nazis ao Campo de Concentração de Dachau. De um total de 2720 clérigos enviados ao campo de Dachau, a grande maioria, por volta de 2579 (ou 94,88%) eram católicos – cerca de quase 400 padres alemães. Os colégios católicos na Alemanha foram eliminados em 1939 e a imprensa católica em 1941. Com a expansão da guerra no Leste em 1941, também veio o aumento dos ataques à Igreja na Alemanha. Mosteiros e conventos foram fechados e começou a expropriação dos bens da igreja. Os mais afectados foram especialmente os jesuítas.[24] Bispos alemães acusaram o Reich de uma "opressão injusta e odiosa contra Cristo e a sua Igreja".

Nas áreas polacas anexadas pela Alemanha, uma perseguição severa foi lançada em 1939. Nelas, os nazis desmantelaram sistematicamente a Igreja – prendendo lideranças, exilando clérigos, fechando igrejas, mosteiros e conventos. Muitos clérigos foram assassinados. Pelo menos 1811 sacerdotes polacos morreram em campos de concentração nazis. O plano de alemanização do Leste de Hitler não via espaço para Igrejas Cristãs. A Igreja também foi tratada duramente em outras regiões anexadas, como a Áustria sob o Gauleiter de Viena, Odilo Globocnik, que confiscou propriedades, fechou organizações católicas e enviou muitos padres para Dachau. Nas terras checas, ordens religiosas eram suprimidas, escolas fechadas, instrução religiosa proibida e padres enviados para campos de concentração.

Plano de fundo

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Os nazis não gostavam das universidades católicas, dos seus intelectuais, nem das igrejas Protestantes. A longo prazo esperavam descristianizar a Alemanha depois da vitória final na guerra.[3][4][5][6][7][8][9][10][11][12][12][13][14][15][17][24] A ideologia nazi não poderia aceitar um estabelecimento autonómo, cuja legitimidade não viesse do governo. Houve então, a total subordinação da Igreja ao Estado.[2] Para muitos nazis, os católicos tinham uma tendência para a falta de patriotismo ou então de desleadade com a "Patría amada", e de servir aos interesses das "forças alienígenas [estrangeiras] ameaçadoras". Radicais agressivos contra a Igreja, como o Ministro de Propaganda Goebbels, o comandante militar da SS, Himmler e o secretário de Hitler, Bormann viu a campanha kirchenkampf contra as Igrejas como uma preocupação prioritária.[18] A curto prazo, por intenções políticas, Hitler estava preparado para frear seu anticlericalismo na política, observando o perigo no fortalecimento da igreja através da perseguição, mas pretendia um confronto com ela depois da guerra:[25]

Entre as décadas de 1920 e 1930, líderes católicos fizeram uma série de ataques directos à ideologia nazi e a principal oposição cristã ao nazismo veio da Igreja Católica.[26] Bispos alemães foram hostis ao movimento emergente e denunciaram energeticamente suas "falsas doutrinas".[27] Eles exortaram os católicos a serem contra o racismo dos nazis e algumas dioceses baniam membros do partido nazi, enquanto a imprensa católica criticava o movimento nazi.[28] Na sua história de resistência alemã, Hamerow escreveu:

[29] A Igreja Católica [...] via em geral o partido nazista com medo e suspeita. Ela se sentia ameaçada por uma ideologia radical e utranacionalista que considerava o papado ameaçador, uma instituição estrangeira, que se opunha fortemente a um separatismo na educação e cultura, e que de tempos em tempos promovia o paganismo nórdico. O establishment do Third Reich via o anúncio de um amargo conflito entre o Estado e a Igreja

— Fragmento de Theodore's Hamerow em On the Road to the Wolf's Lair: German Resistance to Hitler

Ver também

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Referências

  1. HAMEROW, Theodore S. (1997). On the Road to the Wolf's Lair - German Resistance to Hitler. [S.l.]: Belknap Press of Harvard University Press. p. 136 
  2. a b HAMEROW, Theodore S. (1997). On the Road to the Wolf's Lair - German Resistance to Hitler. [S.l.]: Belknap Press of Harvard University Press. p. 196 
  3. a b BULLOCK, Alan (1991). Hitler: A Study in Tyranny. [S.l.]: HarperPerennial Edition. p. 219. Once the war was over, [Hitler] promised himself, he would root out and destroy the influence of the Christian Churches, but until then he would be circumspect 
  4. a b PHAYER, Michael (28 de fevereiro de 2000). The Response of the German Catholic Church to National Socialism, published by Yad Vashem: (PDF). [S.l.: s.n.] By the latter part of the decade of the Thirties church officials were well aware that the ultimate aim of Hitler and other Nazis was the total elimination of Catholicism and of the Christian religion. Since the overwhelming majority of Germans were either Catholic or Protestant this goal had to be a long-term rather than a short-term Nazi objective. 
  5. a b SHIRER, William L. (1990). Rise and Fall of the Third Reich: A History of Nazi Germany. [S.l.: s.n.] p. 240. under the leadership of Rosenberg, Bormann and Himmler—backed by Hitler—the Nazi regime intended to destroy Christianity in Germany, if it could, and substitute the old paganism of the early tribal Germanic gods and the new paganism of the Nazi extremists 
  6. a b GILL, Anton (1994). An Honourable Defeat; A History of the German Resistance to Hitler. [S.l.: s.n.] p. 14-15. [the Nazis planned to] de-Christianise Germany after the final victory 
  7. a b EVANS, Richard J. (2009). The Third Reich at War. New York: Penguin Press. p. 547 
  8. a b KERSHAW, Ian (2008). Hitler a Biography. London: WW Norton & Company. p. 661 
  9. a b KERSHAW, Ian (2000). The Nazi Dictatorship: Problems and Perspectives of Interpretation. New York: Oxford University Press. p. 173–74 
  10. a b Sharkey, Joe (2002). «Word for Word/The Case Against the Nazis; How Hitler's Forces Planned To Destroy German Christianity». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331 
  11. a b GRIFFIN, Roger (2006). Griffin, Roger Fascism's relation to religion. [S.l.: s.n.] p. 10. Resumo divulgativo. There is no doubt that in the long run Nazi leaders such as Hitler and Himmler intended to eradicate Christianity just as ruthlessly as any other rival ideology, even if in the short term they had to be content to make compromises with it 
  12. a b c GILL, Anton (1994). An Honourable Defeat; A History of the German Resistance to Hitler. [S.l.: s.n.] p. 14–15. [the Nazis planned to] de-Christianise Germany after the final victory. 
  13. a b MOSSE, George Lachmann (2003). Nazi culture: intellectual, cultural and social life in the Third Reich. [S.l.]: Univ of Wisconsin Press. p. 240. Had the Nazis won the war their ecclesiastical policies would have gone beyond those of the German Christians, to the utter destruction of both the Protestant and the Catholic Church. 
  14. a b FISCHEL, Jack R. (2010). Historical Dictionary of the Holocaust. [S.l.]: Scarecrow Press. p. 123. The objective was to either destroy Christianity and restore the German gods of antiquity or to turn Jesus into an Aryan 
  15. a b DILL, Marshall (1970). Germany: a modern history. [S.l.]: University of Michigan Press. p. 365. It seems no exaggeration to insist that the greatest challenge the Nazis had to face was their effort to eradicate Christianity in Germany or at least to subjugate it to their general world outlook. 
  16. WHEATON, Eliot Barculo (1968). The Nazi revolution, 1933–1935: prelude to calamity:with a background survey of the Weimar era. [S.l.: s.n.] p. 290, 363. The Nazis sought "to eradicate Christianity in Germany root and branch. 
  17. a b BENDERSKY, Joseph W. (2007). A concise history of Nazi Germany. [S.l.]: Rowman & Littlefield. p. 147. Consequently, it was Hitler's long range goal to eliminate the churches once he had consolidated control over his European empire. 
  18. a b c KERSHAW, Ian (2008). Hitler a Biography. [S.l.]: W.W. Norton & Co; London. p. 381–82 
  19. LONGERICH, Peter (2012). Heinrich Himmler. Traduzido por Jeremy Noakes e Lesley Sharpe. [S.l.]: Oxford University Press. p. 265 
  20. BULLOCK, Alan (1991). Hitler: a Study in Tyranny. [S.l.]: HarperPerennial Edition. p. 219 
  21. «Spanish Civil War (Spanish history) - Encyclopædia Britannica». Britannica.com. Consultado em 18 de agosto de 2013 
  22. CORNWELL, John. O papa de Hitler: a história secreta de Pio XII. [2. ed.]. Rio de Janeiro: Imago, 2000. 471p. ISBN 8531206960 (broch.)
  23. KERSHAW, Ian (2008). Hitler a Biography. London: W.W. Norton & Co. p. 295 
  24. a b CONWAY, John S. The Nazi Persecution of the Churches, 1933-1945. [S.l.]: Regent College Publishing. p. 255 
  25. BULLOCK, Alan (1991). Hitler: a Study in Tyranny. [S.l.]: HarperPerennial Edition. p. 219 
  26. LITTELL, Franklin. «The German Churches in the Third Reich» (PDF) 
  27. FEST, Joachim. Plotting Hitler's Death: The German Resistance to Hitler. London: Weidenfield & Nicolson. p. 31 
  28. PHAYER, Michael. «The Response of the German Catholic Church to National Socialism» (PDF) 
  29. HAMEROW, Theodore S. (1997). On the Road to the Wolf's Lair - German Resistance to Hitler. [S.l.]: Belknap Press of Harvard University Press. p. 132