Pinhão

Pinhão é a designação genérica da semente de várias espécies de pinaceaes e araucariaceaes, plantas gimnospérmicas, isto é, cuja semente não se encerra num fruto. O pinhão se forma dentro de uma pinha, fechada, que com o tempo vai-se abrindo até liberar o pinhão. Nas pináceas (a exemplo do Pinus elliottii), as sementes são dotadas de uma película, como uma espécie de asa, que se descola da pinha madura e possibilita que as sementes sejam espalhadas pelo vento, iniciando-se assim o processo de crescimento de um novo pinheiro.
No Brasil, o termo “pinhão” geralmente designa as sementes da Araucaria angustifolia, árvore de destacada importância cultural, econômica e ambiental no sul e em algumas partes do sudeste do Brasil. Já em Portugal, o termo “pinhão” (ou penisco)[1] designa o que no Brasil se chama de “pinhão miúdo” (ou pinolo, em italiano), que vem do pinheiro-manso e é bem menor que o pinhão brasileiro.[2]
Pinhão do pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia)Editar
No caso das araucárias, e notadamente da Araucaria angustifolia - também conhecida como pinheiro-do-paraná ou pinheiro brasileiro - a pinha atinge proporções razoáveis, constituindo-se de uma esfera compacta com diâmetro entre 15 e 20 centímetros.
Nos meses de maio e junho, no tardar do outono do hemisfério sul, as pinhas estouram' ao sol do meio-dia, possivelmente como reflexo da dilatação após a manhã fria. Com o estouro estes pinhões espalham-se num raio de aproximadamente cinqüenta metros a partir da planta mãe. Mas, apesar de engenhosa, esta não é a principal forma de disseminação desta notável planta. O homem e os animais que se alimentam desse pinhão também atuam no transporte e disseminação das sementes. Os serelepes costumam armazenar os pinhões, enterrando grande quantidade de sementes no solo. Essas sementes acabam sendo esquecidas e assim geram novas árvores. Apesar da crença de que a gralha-azul dissemina o pinhão, na verdade são os pequenos roedores terrestres os principais vetores.
O pinhão mede entre cinco e oito centímetros, e tem a forma de uma cunha cuja casca recobre a massa compacta e altamente energética da semente propriamente dita.
Por seu gosto característico e pela presença regionalizada, o pinhão é muito apreciado no sul do Brasil (no Paraná, que possuí reconhecidamente a maior área de araucárias do país, o pinhão é símbolo estadual, sendo o estado sulista conhecido com a "Terra do Pinhão") e também em alguns estados da região sudeste, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde ocorrem alguns focos de araucária.
Em Santa Catarina o pinhão é talvez a comida mais típica do estado, sendo consumido assado ou cozido, destacando-se alguns pratos, como a paçoca de pinhão e o entrevero. O mesmo acontece no Rio Grande do Sul, estado em que o pinhão é tradicionalmente consumido nos meses de outono e inverno. No Paraná, estado cujo símbolo é o pinhão, são feitos os doces de pinhão, frango ensopado com pinhão, sopa de pinhão, cordeiro ao molho de pinhão e outras iguarias paranaenses. O pinhão é também apreciado como aperitivo e em várias sobremesas. Existem até mesmo diversas "festas do pinhão", que são festivais culinários que se realizam em uma boa parcela das cidades do interior do estado, onde há grande ocorrência de araucárias. A maior destas festas, chamada Festa Nacional do Pinhão ocorre em Lages/SC.
Além de ser utilizado como ingrediente em alguns pratos, o pinhão pode ser consumido de forma isolada, normalmente assado ou cozido. Tradicionalmente, o pinhão era sapecado no chão do campo em meio às próprias grimpas da araucária.
Embora no passado o pinhão tenha feito parte da dieta dos índios Kaingang, a coleta para o consumo humano não é recomendada e é até coibida em algumas épocas e locais. Isto ocorre porque os animais silvestres necessitam do pinhão como suplemento alimentar, para enfrentar o inverno. O grande consumo humano poderia portanto prejudicar a perpetuação dessas espécies animais - assim como a da própria araucária.
Propriedades nutricionaisEditar
Propriedades nutricionais do pinhão de Araucária angustifolia cozido (nutrientes por 100g e %)[3]:
- Energia: 174 kcal - 730 kJ
- Proteína: 3 g - 3%
- Lipídeos: 0,7 g - 0,7%
- Carboidratos: 43,9 g - 43,9%
- Fibras: 15,6 g - 15,6%
- Cinzas: 1,8 g - 1,8%
- Cálcio: 16 mg - 0,016%
- Magnésio: 53 mg - 0,053%
- Manganês: 0,41 mg - 0,00041%
- Fósforo: 166 mg - 0,166%
- Ferro: 0,8 mg - 0,0008%
- Sódio: 1 mg - 0,001%
- Potássio: 727 mg - 0,727%
- Cobre: 0,18 mg - 0,00018%
- Zinco: 0,8 mg - 0,0008%
- Vitamina C: 27,7 mg - 0,0277%
Pinhão do pinheiro europeuEditar
Os pinoli (do italiano pinolo, plural pinoli) ou, em Portugal, simplesmente pinhões, são pinhões de Pinus pinea, árvore nativa da franja mediterrânea. Esses pequenos pinhões de formato ovalado, textura macia e coloração amanteigada são usados na culinária, especialmente do Oriente Médio—por exemplo para o recheio de quibes—e na Itália—notadamente no preparo do pesto genovês. Seu sabor assemelha-se ao da amêndoa. São comidos como snack em Portugal e em Espanha, onde também são utilizados na culinária, particularmente na doçaria. No Brasil, seu uso é difundido em áreas de colonização libanesa ou italiana. Entre os libaneses, são chamados snoubar.
Produção em PortugalEditar
O pinhão foi o segundo fruto seco mais exportado, em 2013, em Portugal, a seguir à castanha.[4]
O pinheiro manso ocupa, em Portugal, uma área total de cerca de 176 mil hectares e corresponde à espécie florestal com maior incremento na área arborizada (54%) relativamente ao inventário florestal nacional de 2005. A produção de pinhão ocupa um lugar importante na economia das regiões onde se desenvolve, pelo rendimento que traz aos proprietários florestais e à indústria de descasque do pinhão.
O Alentejo produz 67% das pinhas nacionais e 15% das pinhas mundiais, segundo dados de 2013 da União da Floresta Mediterrânica (UNAC). A capacidade produtiva da pinha é estimada num valor económico que se situa entre os 50 e 70 milhões de euros por ano.
Alcácer do Sal é o concelho líder na produção de pinhão.[5]
Referências
- ↑ Editores do Priberam (2012). «Pinhão ou penisco». Dicionário Priberam. Consultado em 5 de fevereiro de 2020
- ↑ Editores do Michaelis (2010). «Penisco». Dicionário Michaelis. Consultado em 5 de fevereiro de 2020
- ↑ Tabela Brasileira de Composição de Alimentos - 4ª Edição- 2011 - http://www.unicamp.br/nepa/taco/contar/taco_4_edicao_ampliada_e_revisada.pdf?arquivo=taco_4_versao_ampliada_e_revisada.pdf Arquivado em 3 de março de 2016, no Wayback Machine.
- ↑ Gazeta Rural n.º 222, 16 de abril de 2014.
- ↑ Gazeta Rural n.º 257, 15 de Outubro de 2015, pág. 26.