Plenitude auricular

sensação auditiva associada à sensação de orelha abafada, pressão no ouvido ou sensação de "ouvido entupido"

Plenitude auricular ou plenitude aural, é um termo da área de audiologia, usado para descrever uma percepção auditiva associada à sensação de orelha abafada, pressão no ouvido ou mesmo a impressão de "ouvido entupido" e autofonia. [1]

O sintoma, muitas vezes negligenciado, pode estar relacionado a diversas patologias. Assim, há possibilidade de acometimento de qualquer parte do sistema auditivo, desde a parte periférica, como o canal acústico externo até o ouvido interno. [1]

Considerando o exposto, abaixo serão descritas algumas das disfunções nas quais a plenitude auricular é comumente referida pelo paciente.

Perfuração de MT

Trauma Auditivo editar

O trauma auditivo pode ser decorrente da perfuração membrana timpânica, que ocorre, na maioria das vezes, pela exposição ao ruído de alta intensidade; acidente com impacto cefálico ou inserção de objetos pontiagudos dentro do meato acústico; ou, ainda, pode estar associada a uma agressão sofrida pelo paciente por um sujeito.[2]

Como consequência dessa perfuração, pode haver perda auditiva, geralmente do tipo condutiva, acompanhada por sintomas como: plenitude auricular, zumbido, autofonia e infecções da orelha média.[2]

 
OM

Disfunção da Tuba Auditiva editar

A tuba auditiva é responsável por equalizar a pressão entre o meio externo e a orelha, além de ter papel na drenagem. De forma geral, a função tubária é afetada nos pacientes com histórico de infecções de orelha média e indivíduos com rinite e/ou sinusite. [3]

A disfunção da tuba auditiva pode, ainda, necessitar de tratamento médico em vista a prevenir uma possível otite. Em caso de instalação dessa patologia é provável que a sensação de plenitude auricular esteja presente, a infecção do meato acústico externo propiciará uma região edemaciada, inchada e ocluída, gerando a percepção de ouvido tampado. As otites podem estar relacionadas ao contato com mar ou piscina, por limpeza excessiva do meato acústico externo ou pelo mau uso de EPIs.[4]

Disfunções Temporomandibulares editar

As disfunções temporomandibulares (DTM) estão sendo associadas a sintomas otológicos, dentre eles, há prevalência do zumbido, otalgia (dor de ouvido) e plenitude auricular. Essa ligação pode ser relacionada a proximidade anatômica entre a a articulação temporomandibular (ATM) e os músculos da face, os quais compartilham a inervação do nervo trigêmio. [5]

De maneira geral, a DTM pode causar vários efeitos, auditivos e não auditivos. Quanto aos efeitos não auditivos, há dores orofaciais e cefaléia (dor persistente e violenta de cabeça), já os efeitos auditivos podem ser zumbido, plenitude auricular, otalgia e perda auditiva.[6]

A dor é definida, segundo a International Association for the Study of Pain - IASP, como uma experiência sensorial e emocional desagradável. Na disfunção temporomandibular (DTM) as condições musculoesqueléticas, quer da região cervical, quer da musculatura da mastigação, são a maior causa de dor não dental na região orofacial, e essa dor normalmente se localiza na área pré-auricular irradiando-se para a região temporal, frontal ou occipital.[6]

 
Articulação Temporo-Mandibular

É comum pacientes com dor na ATM também se queixarem de dor otológica, isso por quê na orelha encontra-se contido no osso temporal e relaciona-se com o côndilo mandibular, separado deste apenas pela parede timpânica.[7] A proximidade da orelha com a ATM e os músculos da mastigação como também suas inervações comuns no trigêmeo, criam uma condição frequente de dor reflexa.

Otalgia sem causas orgânicas é um sintoma comum em pacientes com DTM, ainda que a etiologia seja controversa, e as investigações da influência do tratamento da DTM por conta da otalgia são escassos. Dentre os estudos sobre a ATM, temos a necessidade de um tratamento multidisciplinar no qual envolve profissionais das seguintes áreas: Fisioterapia, Psicologia, Odontologia, Otorrinolaringologia e Fonoaudiologia.

A multidisciplinariedade se deve ao fato de o indivíduo ser avaliado globalmente, procurando adequar a mobilidade das articulações, reabilitar a oclusão dentária, reposicionar a língua, reeducar posturas, equilibrar grupamentos musculares e orientar trabalho respiratório, melhorando a qualidade de vida do paciente e promovendo seu retorno mais breve possível às atividades diárias.[6]

Perdas Auditivas editar

A sensação de plenitude auricular está normalmente associada a perda auditiva neurossensorial, sendo uma das queixas de maior recorrência juntamente com o zumbido.[8]

Existe uma relação importante entre as perdas auditivas obtidas nas audiometrias ocupacionais e os sintomas auditivos mais frequentes como: dificuldade de compreensão da fala, hipoacusia, zumbido, sensação de plenitude auricular, otorreia e tonturas.[9]

Doença de Menière editar

A doença de Menière (DM) está entre as causas mais frequentes de vestibulopatias. A etiologia ainda não é totalmente compreendida, porém, a patologia se dá em decorrência do aumento do volume endolinfa.[10]

Os marcadores da doença são episódios de vertigens, frequentemente acompanhados de zumbido e plenitude auricular. No estágio inicial, no qual as crises são mais agressivas e o paciente apresenta uma perda auditiva flutuante; que, com a "estabilização" passa a atingir todas as frequências; baixas (graves) e altas (agudas).[10]

Em resumo, os sintomas da DM estendem-se a acometimentos auditivos e vestibulares que são inconsistentes, apresentando momentos de crise e de controle. [11]

Referências

  1. a b Park, Moon Suh; Lee, Ho Yun; Kang, Ho Min; Ryu, Eun Woong; Lee, Sun Kyu; Yeo, Seung Geun (1 de setembro de 2012). «Clinical Manifestations of Aural Fullness». Yonsei Medical Journal (em English) (5): 985–991. ISSN 0513-5796. PMC PMC3423854  Verifique |pmc= (ajuda). PMID 22869482. doi:10.3349/ymj.2012.53.5.985. Consultado em 5 de abril de 2024 
  2. a b Pinho, Ana Mariana de Moraes Rebello; Kencis, Carolina Christofani Sian; Miranda, Dino Rafael Pérez; Sousa Neto, Osmar Mesquita de (novembro de 2020). «Traumatic perforations of the tympanic membrane: immediate clinical recovery with the use of bacterial cellulose film». Brazilian Journal of Otorhinolaryngology (em inglês) (6): 727–733. PMC PMC9422489  Verifique |pmc= (ajuda). PMID 31526712. doi:10.1016/j.bjorl.2019.05.001. Consultado em 15 de abril de 2023 
  3. Makibara, Renata Rumy; Fukunaga, Jackeline Yumi; Gil, Daniela (junho de 2010). «Eustachian tube function in adults with intact tympanic membrane». Brazilian Journal of Otorhinolaryngology (em inglês): 340–346. ISSN 1808-8694. PMC PMC9442163  Verifique |pmc= (ajuda). PMID 20658014. doi:10.1590/S1808-86942010000300012. Consultado em 5 de abril de 2024 
  4. Figueiredo, Ricardo R.; Fabri, Magdala L.; Machado, Walter S. (abril de 2004). «Otite externa difusa aguda: um estudo prospectivo no verão do Rio de Janeiro». Revista Brasileira de Otorrinolaringologia (2): 226–231. ISSN 0034-7299. doi:10.1590/S0034-72992004000200013. Consultado em 15 de abril de 2023 
  5. Maciel, L.F.O.; Landim, F.S.; Vasconcelos, B.C. (outubro de 2018). «Otological findings and other symptoms related to temporomandibular disorders in young people». British Journal of Oral and Maxillofacial Surgery (8): 739–743. ISSN 0266-4356. doi:10.1016/j.bjoms.2018.08.005. Consultado em 5 de abril de 2024 
  6. a b c Cassol, Karlla; Lopes, Andrea Cintra; Bozza, Amanda (24 de julho de 2019). «Achados audiológicos em portadores de zumbido subjetivo associado a DTM». Distúrbios da Comunicação (2): 276–284. ISSN 2176-2724. doi:10.23925/2176-2724.2019v31i2p276-284. Consultado em 15 de abril de 2023 
  7. Mathias, Thiago; Alcarás, Patrícia Arruda de Souza; Cristoff, Killian Evandro; Marques, Jair Mendes; Zeigelboim, Bianca Simone; Lacerda, Adriana Bender Moreira de (2019). «Achados audiológicos em pacientes portadores de disfunção temporomandibular». Audiology - Communication Research: e1973. ISSN 2317-6431. doi:10.1590/2317-6431-2017-1973. Consultado em 24 de abril de 2023 
  8. Lacerda, Adriana; Figueiredo, Gisele; Massarolo Neto, Jeane; Marques, Jair Mendes (2010). «Achados audiológicos e queixas relacionadas à audição dos motoristas de ônibus urbano». Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (2): 161–166. ISSN 1516-8034. doi:10.1590/S1516-80342010000200003. Consultado em 24 de abril de 2023 
  9. Araújo, Simone Adad (13 de maio de 2002). «Perda auditiva induzida pelo ruído em trabalhadores de metalúrgica». Revista Brasileira de Otorrinolaringologia (1): 47–52. ISSN 0034-7299. doi:10.1590/S0034-72992002000100008. Consultado em 24 de abril de 2023 
  10. a b Silva, Adriana Marques da; Ferreira, Maristela Mian; Cesaroni, Suelen; Grigol, Thais Alvares de Abreu e Silva; Ganança, Maurício Malavasi; Caovilla, Heloisa Helena (9 de janeiro de 2023). «Controle postural na doença de Menière». Audiology - Communication Research: e2575. ISSN 2317-6431. doi:10.1590/2317-6431-2021-2575pt. Consultado em 30 de junho de 2023 
  11. Andrade, Caroline Sampaio Portugal; De Resende, Heloá Cardoso; Ladeira, Júlia Araújo; Machado, Lara Isolda Alves; Lopes, Lucas Campos; Drumond, Marcela Silveira Freitas; Magalhães, Shamara Wayne Ferreira; Machado, Amanda Alves (17 de outubro de 2022). «Doença de Ménière e complicações: revisão bibliográfica e relato de um caso: Ménière disease and complications: literature review and case report». Brazilian Journal of Health Review (5): 20907–20924. ISSN 2595-6825. doi:10.34119/bjhrv5n5-248. Consultado em 5 de abril de 2024