Posto Santo

freguesia do município de Angra do Heroísmo, Açores, Portugal

Posto Santo é uma freguesia suburbana do município de Angra do Heroísmo, Açores, com 22,21 km² de área[1] e 1 048 habitantes (2011), o que corresponde a uma densidade populacional de 47,2 hab/km².

Portugal Portugal Posto Santo 
  Freguesia  
A Caldeira de Guilherme Moniz, Posto Santo
A Caldeira de Guilherme Moniz, Posto Santo
A Caldeira de Guilherme Moniz, Posto Santo
Gentílico posto-santense
Localização
Posto Santo está localizado em: Açores
Posto Santo
Localização de Posto Santo nos Açores
Coordenadas 38° 40' 44" N 27° 13' 51" O
Região Açores
Município Angra do Heroísmo
História
Fundação 15 de Setembro de 1980
Administração
Tipo Junta de freguesia
Presidente Ana Margarida Fortuna (PS)
Características geográficas
Área total 22,21 km²
População total (2011) 1 048 hab.
Densidade 47,2 hab./km²
Código postal 9700-238 POSTO SANTO
Outras informações
Orago Nossa Senhora da Penha de França
Sítio http://www.jfpostosanto.pt/index.php

Situa-se a cerca de 4 km a norte do centro da cidade de Angra do Heroísmo, na parte sul da ilha Terceira, sendo uma das poucas freguesias açorianas consideradas interiores, isto é cujo território não confina com a costa da ilha. Localiza-se na encosta das montanhas sobranceiras à cidade de Angra, a uma altitude apreciável, pelo que é sujeita a muitos nevoeiros.

A freguesia foi criada a 15 de Setembro de 1980 a partir de território suburbano e rural que integrava a freguesia citadina de Santa Luzia de Angra.

Geografia editar

Território editar

Confinando com a cidade de Angra do Heroísmo e sem limites naturais definidos, o território da freguesia do Posto Santo tem uma forma irregular, com cerca de 20,4 km² de área, o que corresponde a cerca 8,5 % da superfície concelhia,[2] sendo limitada a sul pela freguesia de Santa Luzia de Angra (de cujo território foi desanexado), a oeste pelas freguesias da Terra Chã e de São Bartolomeu dos Regatos, a norte, ao longo da zona central da ilha, pela freguesia dos Biscoitos (concelho da Praia da Vitória), a nordeste e leste pela freguesia do Porto Judeu e a leste e sueste pelas freguesias citadinas de São Bento de Angra e Conceição. Com a Terra Chã, é uma das duas únicas freguesias do concelho de Angra do Heroísmo que não confrontam com o mar.[1] A altitude máxima (537 m) é registada no vértice geodésico do Pico da Bagacina, no noroeste da freguesia.

 
As sulfataras das Furnas do Enxofre.

A forma do território, um grosseiro Y, é parcialmente influenciada pelos limites do extinto concelho de São Sebastião, presentes actualmente no prolongamento para noroeste da freguesia do Porto Judeu. A sua delimitação, fixada pelo artigo 3.º do Decreto Regional n.° 24/80/A, de 15 de Setembro,[3] é a seguinte: (1) norte — linha limite do concelho de Angra, desde a estrada nacional n.º 3-1.ª para os Altares, englobando Maunto, Furnas do Enxofre, até à ribeira do Algar do Carvão, descendo esta ao encontro da estrada nacional n.º 5-2.ª e acompanhando o eixo desta estrada e o ramal da estrada n.º 5-2.ª até depois de passar a estrada para as Furnas do Cabrito; (2) nascente — a partir do ponto atrás descrito do ramal da estrada nacional n.º 5-2.ª, subindo a Serra do Morião à cota 500 m, seguindo sobre esta curva de nível ao centro da nascente da Ribeira dos Moinhos, descendo esta e passando pela Vinha Brava, atravessa a estrada nacional n.º 3-1.ª e caminha paralela pela estrada nacional n.º 2-1.ª, até ao moinho da Casa de Saúde do Espírito Santo; (3) sul — a partir do ponto atrás referido, passando pelos castanheiros do Caminho do Espigão, flecte em linha recta para poente até encontrar o limite da freguesia da Terra Chã na canada das Figueiras Pretas; e (4) poente — a partir do ponto atrás referido, segue a linha limite da freguesia da Terra Chá, passando pela entrada da Canada do Pedregal, aos Covões, englobando a Canada das Roças, Mata do Estado, atravessa o Caminho das Veredas e segue até ao ponto de encontro do limite do concelho de Angra.

O território da freguesia tem uma topografia claramente diferenciada em três zonas distintas:

  1. A região sul e sueste da freguesia, entre o limite sul da freguesia e o bordo da Caldeira de Guilherme Moniz, que inclui o Espigão, Posto Santo, Grota do Medo e Breado/Ladeira da Pateira, insere-se no flanco sudoeste do Maciço de Guilherme Moniz, sendo uma área muito acidentada, com forte declive orientado aproximadamente no sentido sul-norte. Esta parte da freguesia está assente sobre os traquibasaltos da formação de Guilherme Moniz, numa paisagem dominada pela doma do Espigão, muito modificada pelo tectonismo e pela erosão, com solos antigos e evoluídos, localmente profundos e de boa valia agrícola, embora actualmente dominados por pastagens semi-permanentes. As cumeeiras e as zonas de maior declive, com solos esqueléticos e largas áreas de afloramento rochoso, são ocupadas por matas de Eucalyptus globulus com sub-bosque de incenso (Pittosporum undulatum) nas altitudes mais baixas e de Cryptomeria japonica nas áreas de maior altitude. A encosta da Serra do Morião ainda apresenta algumas manchas de vegetação natural, dominadas por Erica azorica, embora muito alteradas por sucessivas queimadas e cortes para lenha.
  2. O interior da Caldeira de Guilherme Moniz, no extremo nordeste da freguesia, uma vasta área aplainada, ponteada por pequenos cones vulcânicos, correspondente ao fundo da Caldeira de Guilherme Moniz. A parte imediatamente e norte e nordeste da Furna de Água, quase absolutamente plana, corresponde a um vasto lago de lava basáltica extremamente fluida, que se formou aquando da última erupção do Algar do Carvão (há cerca de 2000 anos) a partir do qual se originaram escoadas que atingiram as costas sul (na Serretinha) e norte da ilha (na Canada das Vinhas, Lajes). Sobre as escoadas os solos são praticamente inexistentes, mas sobre os cones vulcânicos e na sua periferia existem solo relativamente profundos, embora sujeitos a encharcamento devido à formação de um horizonte plácico impermeável. A zona, onde já existiu uma grande plantação de espadana, suporta uma mistura de matos naturais de Erica azorica e pastagens semi-naturais utilizadas para pastoreio de gado bravo. O bordo interno da caldeira é uma falésia vertical com largos troços onde estão expostos grandes prismas resultantes da disjunção prismática de uma poderosa massa traquibasáltica;
  3. O planalto do Pico da Bagacina, no noroeste da freguesia, nas imediações do Pico da Bagacina, aplainado, e já inserido na zona basáltica proveniente das erupções fissurais da região central da ilha, é caracterizado por formações de biscoito muito irregular, com múltiplas estruturas de abatimento que formam pequenos vales irregulares. O solo é pobre, muito poroso, e por isso desprovido de quaisquer linhas de água funcionais, com valia agronómica baixa, ocupado por pastagens pobres, semi-naturais, tradicionalmente utilizadas para a criação de gado bravo para toiros de lide.

O território da freguesia é drenado por uma rede hidrográfica incipiente, devido à prevalência de solos e formações geológicas muito permeáveis, embora localmente existam algumas ribeiras bem estruturadas, como a Ribeira do Cabrito, a Grota do Medo e a Ribeira dos Moinhos. No entanto, sob a Caldeira Guilherme Moniz existe o maior e mais produtivo aquífero da ilha Terceira, que alimenta numerosas nascentes captadas para abastecimento de Angra do Heroísmo e de parte importante das freguesias do concelho da Praia da Vitória (toda a costa sueste do concelho). O lago de lava que preencheu o funda da Caldeira Guilherme Moniz, provavelmente enchendo uma grande lagoa ali existente há cerca de dois milénios, constitui agora um grande e produtivo aquífero que alimenta as nascentes da Furna de Água e do Cabrito, captadas para abastecimento público e para produção hidroeléctrica. A água que se infiltra mais profundamente origina as grandes nascentes da Nasce Água, na base da Serra do Morião. Outras grandes nascentes surgem no flanco sudoeste do maciço, no lugar da Fonte da Telha e do vale da Canada de Santo António, as quais estão na génese da povoação do Posto Santo, e provavelmente na raiz do topónimo.

O Posto Santo oferece uma grande variedade de paisagens e inclui no seu território algumas das mais importantes áreas para conservação da natureza na Terceira. Destaca-se a vista panorâmica sobre a cidade de Angra do Heroísmo e arredores, sobretudo do Miradouro do Terreiro dos Paços (Serra de Morião), e o enquadramento da Serra do Morião, verdadeiro pano de fundo da cidade de Angra. O campo fumarólico das Furnas do Enxofre, uma sulfatara situada na parte noroeste da freguesia, tem o estatuto de Monumento Natural Regional e uma parte importante do território da freguesia integra a Rede Natura 2000, constituindo parte da zona especial de conservação da Serra de Santa Bárbara e Pico Alto, parte do Parque Natural da Terceira.

Estrutura urbana editar

Posto Santo constitui a freguesia mais recente do concelho de Angra do Heroísmo, criada em 1980 por desanexação da freguesia de Santa Luzia.[4] Apesar disso, o seu povoamento é antigo, provavelmente das primeiras décadas do século XVI, pelo que a estrutura urbana se mostra bem consolidado, seguindo o padrão típico das zonas rurais terceirenses, com uma estrutura linear, antiga e estabilizada, em torno do antigo caminho que subindo de Angra pelo Espigão, se prolongava pela Canada de Santo António até às nascentes da Fonte da Telha. A partir desse eixo surgem algumas canadas, vias secundárias de povoamento, mas de pouca expressão. Um segundo eixo de povoamento, inicialmente independente do Posto Santo e polarizado sobre a Vinha Brava e a freguesia da Conceição de Angra, surgiu na Ladeira da Pateira e Grota do Medo, ao longo da estrada que liga Angra do Heroísmo aos Altares e Biscoitos, no norte da ilha. A interligação entre os dois agregados apenas surgiu com a abertura, recente, da Canada Nova (daí o topónimo) ligando a Grota do Medo à igreja. Dessa estrutura resultam os seguintes núcleos:

  • Espigão – um núcleo antigo da freguesia, desenvolvendo-se linearmente ao longo do antigo caminho que subindo pela Miragaia ligava o centro de Angra ao Posto Santo. Este núcleo, comm marcado carácter suburbano e parcialmente polarizado sobre Santa Luzia, tem vida comunitária própria, com o respectivo Império do Espírito Santo do Espigão.
  • Posto Santo – o núcleo mais antigo e central da freguesia, desenvolvendo-se linearmente ao longo do antigo caminho que liga o Espigão à Fonte da Telha, prolongando-se para oeste ao longo do Caminho do Posto Santo, via que liga o Posto Santo à Terra Chã e daí para o sudoeste da ilha. No centro deste núcleo está a Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Penha de França, a sede da junta de freguesia e a escola, funcionando assim como centro cívico de toda a freguesia. Alguns edifícios antigos, incluindo a Ermida de Nossa Senhora da Penha, antiga sede do curato, atestam a antiguidade e centralidade do lugar. O prolongamento para norte, em direcção à Fonte da Telha, é testemunho da importância que aquelas nascentes tiveram no povoamento do sudoeste terceirense.
  • Grota do Medo – núcleo que se desenvolveu como estrutura de povoamento periférica da freguesia, ao longo do antigo caminho que vindo de São João de Deus, pelo Cano Real, ligava Angra ao norte da ilha. Com a transformação desse caminho na actual Estrada Regional n.º 3 (Angra - Altares e Biscoitos), o povoado desenvolveu-se linearmente, incluindo actualmente a Ladeira da Pateira, a Canada do Breado e a Grota do Medo, sendo na sua zona mais baixa, mercê da construção do novo Hospital da Terceira, uma zona de potencial expansão urbana. A comunidade, particularmente a da Grota do Medo, tem vida comunitária própria, com império do Divino Espírito Santo e, até 1999, escola própria, na Vinha Brava.

Demografia editar

Apesar de ser uma freguesia com um quantitativo populacional modesto, apresenta um crescimento demográfico positivo nos últimos anos. O valor apurado no XIV Recenseamento Geral da População de 2001 situava-se nos 967 habitantes, o que corresponde a uma densidade populacional de 47,5 hab/km². A partir de 1864, ano em que se realizou o primeiro recenseamento pelos modernos critérios demográficos, a evolução da população da freguesia foi a seguinte:

Evolução da população do Porto Santo
1864 1878 1890 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2011 2021
-- a) -- a) -- a) -- a) -- a) -- a) -- a) -- a) -- a) -- a)  800 b)   841   884   967   1 048   1 031
Fonte: DREPA (Aspectos demográficos - Açores 1978[5]) e Serviço Regional de Estatística dos Açores (SREA).
a) Era um lugar da freguesia de Santa Luzia de Angra. b) Estimativa.

Grupos etários em 2001, 2011 e 2021

0-14 anos 15-24 anos 25-64 anos 65 e + anos
Hab 252 | 195 130 | 162 492 | 578 93 | 113
Var -23% | -19% +25% | -21% +17% | +6% +22% | +16%

A evolução demográfica da freguesia do Posto Santo, como aliás foi a norma na generalidade dos povoados da ilha Terceira, foi marcada pela emigração, primeiro para o Brasil, depois para os Estados Unidos e finalmente para o Canadá, e pelas consequências do terramoto de 1 de Janeiro de 1980, que causou grandes danos na localidade. A posição suburbana da freguesia, inserida na periferia da cidade de Angra do Heroísmo, levou à estabilização da população e mesmo a um modesto crescimento, que parece sustentado na construção de novas habitações.

Economia editar

Próxima da cidade e situada numa zona de terreno montanhoso e comparativamente pobre, em boa parte de biscoito, num território dominado por grandes propriedades pertencentes à aristocracia angrense, a economia do Posto Santo, sempre assentou em três vectores, os quais se foram alternando em predominância ao longo dos tempos:

  • O cultivo das terras, em particular de pomares, e a actividade florestal, com o fornecimento de lenhas e madeiras à cidade;
  • O pastoreio do gado bravo e de ovinos e caprinos nos terrenos de maior altitude do interior de ilha;
  • Os serviços, primeiro como quinteiros e criadagem das famílias da aristocracia e burguesia angrenses, nas suas residências citadinas e nos grandes latifúndios que ocupam a quase totalidade do leste e nordeste da freguesia , actividades que nas últimas décadas, de forma crescente, foram substituídas pelo emprego no sector terciário da economia, fazendo da freguesia um dos dormitórios da cidade de Angra do Heroísmo.

O fornecimento de lenhas e madeiras, a partir das matas da freguesia e dos matos do interior da ilha, foi uma importante actividade económica na freguesia até ao último quartel do século XX, complementada com a serração de madeiras, e com os pomares que existiram na zona mais central, e abrigada, da freguesia. A produção de castanha teve importância na freguesia, a qual rivalizava com a vizinha Terra Chã na qualidade e quantidade de frutos produzidos.

A outra importante área de actividade do Posto Santo, foi a criação de gado-bravo. Nas zonas mais altas da freguesia, na Caldeira de Guilherme Moniz e nas imediações do Pico da Bagacina, desenvolveu-se um lucrativo negócio de ganadaria, pertencente a algumas famílias terratenentes angrenses, que teve como pastores, isto é como trabalhadores e como manobradores da corrida nas toiradas-à-corda, homens contratados no Posto Santo.

Na actualidade, a agricultura, o pequeno comércio, a panificação, a serração de madeira, a fruticultura e ainda a construção civil são as principais actividades económicas locais.[2] A economia do Posto Santo é dominada de forma esmagadora pelo trabalho assalariado na zona urbana de Angra do Heroísmo, estando esbatido o carácter rural que caracterizava a freguesia, embora as grandes explorações agro-pecuárias existentes na freguesia continuem a empregar alguns trabalhadores locais.

História editar

Embora a tradição popular[6] aponte como origem do topónimo Posto Santo um surto de peste que alastrou por toda a ilha Terceira nos anos de 1599 e 1600, que apesar de ter matado milhares de pessoas na ilha poupou os residentes na parte alta da paróquia de Santa Luzia,[7] os testemunhos documentais existentes provam que o nome é bem mais antigo, já que escrevendo muito antes daquela data, Gaspar Frutuoso afirma:

Onde se chama o Posto[8] Santo, no cimo deste biscoitos, está, entre outras, uma fonte de tanta água que faz uma ribeira grande, que corre pelos vales abaixo, com cuja água se provêem todas as quintas, que por ali há muitas, recreação de Verão e pomares de todas as frutas e muitas e ricas colmeias, e é tão aprazível ponto que junto desta fonte fez um genovês, chamado Lopalma, uma formosa quinta, plantada de pomares e vinhas, e junto das casas passa o mesmo ribeiro da mesma fonte..[9]

Por seu lado, o padre António Cordeiro descreve assim o Posto Santo, a que também chama Porto Santo:

Além destes três caminhos que saem da porta de Santa Catarina,[10] e da cidade, vai mais pelo norte, de cima, subindo brandamente, outra estrada até ao tracto que chamam o Posto Santo, ou Porto Santo, aonde está uma povoação de tão sadios ares, tão nobres casarias, ermidas e quintas tão recreativas e frutíferas, e mais para cima delas a quinta das férias do Colégio da Companhia,[11] que com razão se chama Posto, ou Porto Santo, porque dali tanta e tão excelente água sai, e de beber, que aproveitando-se todos dela, corre ainda copiosa a uma valente légua para sul, e do meio da légua que vai do Monte Brasil a São Mateus, e da saída da cidade para o tal Posto Santo, afirma Frutuoso que não havia dia que por ela não passassem mais de mil pessoas para quintas, e parecia uma das ruas principais de Lisboa. E alguém dirá que em o tal Posto Santo, e em alguma ermida dele deve instituir-se igreja paroquial, e seu vigário ou cura, pois tem muitos moradores e lavradores contínuos e muito distantes os sacramentos da cidade..[12]

Assim, a origem do topónimo data pelo menos do início do século XVI, sendo com toda a probabilidade contemporânea do povoamento do sudoeste da ilha e estará ligada à abundância de águas no vale da Fonte da Telha, um recurso precioso para todo o território que vai da Silveira até às Cinco Ribeiras, onde as águas nativas eram quase inexistentes e cujo povoamento dependeu do abastecimento a partir dali e das cisternas que foram sendo depois construídas.

Povoamento editar

A construção das primeiras habitações no Posto Santo é muito antiga, em particular ao longo da actual Canada de Santo António e nas margens do ribeiro a jusante da Fonte da Telha. Sendo a falta de água uma das principais limitações ao povoamento, a existência de fartas nascentes naquele vale certamente foi um grande incentivo à sua habitação. Contudo, o isolamento e a altitude, com os seus nevoeiros e excessiva humidade, limitaram o crescimento populacional, a que se juntou a comparativa pobreza dos solos e a questão da propriedade, já que a proximidade da cidade exigia vasto suprimento de lenhas e toda a apropriação de terras tendia a beneficiar exclusivamente a aristocracia angrense.

A frescura dos ares durante o Estio e a fama de lugar sadio, fez do Porto Santo lugar de veraneio de alguma aristocracia e burguesia angrense, com destaque para os padres da Companhia de Jesus que ali adquiriram[13] uma quinta, que manteriam na sua posse até à sua expulsão da Terceira em 1760, sendo depois a casa vendida em hasta pública.

Aquela quinta, denominada de Santo António das Almas, orago da ermida ali existente, foi inicialmente erigida pelo licenciado António Gomes Paz, que fundou a ermida nos primeiros anos do segundo quartel do século XVII. Depois de adquirida pela Companhia de Jesus foi substancialmente alargada, adquirindo o ar senhorial que actualmente ostenta. O tanque é datado de 1685,[14] provavelmente o ano em que os jesuítas ali fizeram obras.

Nesse contexto, o crescimento populacional tendeu a estagnar, ficando a zona, muito à semelhança do que ocorreu na vizinha Terra Chã, limitada a hinterland rural da cidade, fornecedor de lenhas, frutas e vegetais, caindo na dependência da paróquia de Santa Luzia logo que esta foi criada em 23 de Maio de 1595.[14] Assim se manteve até meados do século XIX, quando foi elevada a curato, só se autonomizando em 1980.

Elevação a curato editar

 
Ermida de N. Sra. da Penha (séc. XVII), freguesia de Posto Santo.

O lugar do Posto Santo foi elevado a curato em meados do século XIX, já que ainda em 1842 a Junta Geral do Distrito de Angra do Heroísmo inclui o Posto Santo nos lugares para os quais solicita ao governo a criação de um curato,[14][15] e Jerónimo Emiliano de Andrade, escrevendo em 1843, referindo-se ao cura de Santa Luzia, informa que na Ermida de Nossa Senhora da Penha é "onde o cura paroquial é obrigado a celebrar Missa nos dias de preceito".[14][16] Contudo, o ano de 1716 é frequentemente apontada como sendo o da elevação a curato, informação que se baseia numa afirmação de Alfredo da Silva Sampaio, incluída na sua Memória sobre a ilha Terceira,[17] mas que nenhuma fonte conhecida confirma, antes é negada pelo requerimento da Junta Geral atrás referido.

Infraestruturas editar

 
Antiga escola pública integrante do "Plano dos Centenários", Posto Santo.

A construção de infra-estruturas públicas foi lenta no Posto Santo e concentrou-se essencialmente no século XX. Para além dos caminhos, que apenas foram pavimentados na década de 1960, a primeira infra-estrutura construída foi a Ermida de Nossa Senhora da Penha, mandada edificar a partir da última década do século XVII pela família Merens de Távora.[14] Aquela ermida já existia em 1714 quando o padre António Cordeiro escreveu a sua História Insulana e foi em torno dela que se desenvolveu a vida religiosa do lugar, passando em meados do século XIX a sede do curato.

O culto desenvolveu-se naquela ermida até à construção da actual igreja paroquial da mesma invocação. Embora no frontespício da igreja esteja inscrita a data de 1910, ano em que se iniciou o processo que levaria à construção, a primeira pedra foi lançada a 18 de Junho de 1911, tendo a falta de fundos e as dificuldades políticas resultantes da implantação da República Portuguesa feito arrastar os trabalhos por longos anos. A bênção do templo apenas ocorreu a 8 de Maio de 1924, estando contudo o templo ainda incompleto.[18] A talha do retábulo, em estilo barroco do século XVI, veio da Igreja Matriz da Vila de São Sebastião.

inaugurada a igreja, o passo seguinte foi o cemitério, inaugurado a 12 de Maio de 1927 e nesse dia benzido pelo bispo D. António de Castro Meireles, que recebeu então a designação de Cemitério de Santo António, já que Santo António de Lisboa é o principal santo de devoção da paróquia, sendo as festas de Santo António as verdadeiras festas da freguesia, apesar de não ser o seu orago oficial. Esta ligação a Santo António provavelmente vem da antiga Ermida de Santo António das Almas, na quinta dos jesuítas, seguramente o primeiro centro de culto do lugar, erigida por volta de 1627, mais de meio século antes da Ermida de Nossa Senhora da Penha, antecessora da actual paroquial. A capela do cemitério foi inaugurada a 22 de Janeiro de 1958.[14]

A rede eléctrica do Posto Santo foi inaugurada a 4 de Abril de 1931, sendo uma das primeiras zonas rurais da ilha a receber tal infra-estrutura, mas não cobria todo o povoado, ficando de fora até à década de 1970 algumas das canadas.

Durante a Segunda Guerra Mundial instalou-se no Posto Santo o comando do 1.º batalhão do Regimento de Infantaria n.º 17, tendo a Ermida de Nossa Senhora da Penha, então ainda propriedade particular da família Borges Teixeira, servido de armazém de material militar.[14]

Apesar de nos finais do século XIX ter existido no Posto Santo um posto escolar com regente, só a 21 de Outubro de 1940 foram cridos lugares do ensino primário no Posto Santo, que funcionaram em casas particulares. O edifício escolar, construído pela Junta Geral do Distrito Autónomo de Angra do Heroísmo no âmbito do Plano dos Centenários, foi inaugurado a 22 de Maio de 1960. Mais tarde, na década de 1960, foi construído edifício escolar de uma só sala no extremo da freguesia, junto à Vinha Brava, entretanto já desactivado. Com a criação de um jardim-de-infância na freguesia, este passou a funcionar numa sala cedida, só se juntando à escola em 2004, ano que o edifício de 1960 foi totalmente remodelado e ampliado.

Elevação a freguesia editar

O lugar do Posto Santo foi elevada à categoria de freguesia em 15 de Setembro de 1980, pelo Decreto Regional n.° 24/80/A, de 15 de Setembro,[3] no mesmo ano do grande terramoto que afectou a ilha Terceira. Os limites da freguesia são fixados pelo artigo 3.º daquele diploma.

A 1 de Março de 1981 foi constituída a comissão instaladora da nova freguesia, composta pelos seguintes elementos: Jacinto Machado Neto, Adalberto Guilherme, João Coelho Lourenço António Fernando Câmara e Alberto Leonardo, sendo Rui Mesquita então Presidente da Câmara. No dia 12 de Julho de 1981 realizaram-se as primeiras eleições autárquicas, sendo eleito como Presidente da Junta de Freguesia Jacinto Machado Neto que exerceu o cargo até falecer durante três mandatos e meio. Foi substituído, aquando do seu falecimento, por João Coelho Lourenço que terminou o mandato. A sede da junta de freguesia foi inaugurada em Março de 1989.

Cronologia editar

Instituições da freguesia editar

  • Junta de Freguesia, onde funciona um posto da RIAC;
  • Paróquia católica de Nossa Senhora da Penha;
  • Irmandade do Divino Espírito Santo do Espigão;
  • Irmandade do Divino Espírito Santo do Posto Santo;
  • Irmandade do Divino Espírito Santo da Grota do Medo;
  • Clube Desportivo do Posto Santo, uma agremiação desportiva de futsal;
  • Grupo de Baile à Antiga do Posto Santo, um grupo folclórico;
  • Postosantense Futebol Clube;
  • Centro de Convívio de Idosos;
  • Agrupamento n.º 466 do Corpo Nacional de Escutas (escuteiros).

Personalidades ligadas à freguesia editar

Bens classificados como património cultural editar

Nos termos do Decreto Legislativo Regional n.º 29/2004/A, de 24 de Agosto, que estabelece o regime jurídico relativo à inventariação, classificação, protecção e valorização dos bens culturais móveis e imóveis, incluindo os jardins históricos, os exemplares arbóreos notáveis e as instalações tecnológicas e industriais, estão incluídos na lista do património classificado dos Açores os seguintes bens:

  • Exemplar de eucalipto da espécie Eucalyptus robusta Sm., na Mata das Veredas, árvore classificada como de interesse municipal por despacho publicado no Diário do Governo n.º 130, II Série, de 3 de Junho de 1967, conjugado com a alínea a) do artigo 59.º do Decreto Legislativo Regional n.º 29/2004/A, de 24 de Agosto;
 
Império do Espírito Santo do Posto Santo

Património construído editar

Património natural editar

Notas e referências

  1. a b Victor Hugo Forjaz (coordenador), Atlas Básico dos Açores, p. 101. Ponta Delgada, OVGA (Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores), 2004 (ISBN 972-97466-4-8).
  2. a b Posto Santo na Enciclopédia Açoriana[ligação inativa].
  3. a b Decreto Legislativo Regional n.º 24/80/A, de 15 de Setembro.
  4. Instituto Nacional de Estatística (2002), XIV Recenseamento Geral da População. Lisboa, Instituto Nacional de Estatística.
  5. Departamento Regional de Estudos e Planeamento (DREPA), Apectos Demograficos - Açores, 1978. Angra do Heroísmo, DREPA, 1979.
  6. Reproduzida, ou alimentada, entre outras fontes pelas obras de Jerónimo Emiliano de Andrade e José Augusto Sampaio.
  7. O território do actual Posto Santo teria escapado ao contágio, pelo que lá se refugiaram muitas famílias de Angra. Desde então a zona ficou conhecida por Posto Santo, nome que depois se alargaria à actual freguesia.
  8. No original Porto.
  9. Gaspar Frutuosos, Saudades da Terra, Livro VI.
  10. Refere-se aos Portões de São Pedro, onde se situa a Ermida de Santa Catarina de Alexandria.
  11. O colégio de Angra da Companhia de Jesus. O Colégio de Angra tinha duas "quintas" para férias dos seus membros: uma nas Cinco Ribeiras (a Quinta de Nossa Senhora do Pilar) e outra no Posto Santo (a Quinta de Santo António).
  12. António Cordeiro, História Insulana, cap. VI.
  13. Em 23 de Novembro de 1627 foi feita uma escritura de doação à fábrica da Ermida de Santo António das Almas, outorgada pelo licenciado António Gomes Paz e sua mulher, deste modo se concluindo não ser ainda propriedade dos jesuítas, nem terem sido eles que a erigiram.
  14. a b c d e f g Pedro de Merelim, As 18 Paróquias de Angra : Sumário Histórico, pp. 257-266. Angra do Heroísmo, 1974.
  15. O Angrense, edição de 24 de Fevereiro de 1842.
  16. Jerónimo Emiliano de Andrade, Topographia ou Descripção Physica, Politica, Civil, Ecclesiastica, e Historica da Ilha Terceira dos Açores, Parte Primeira, offerecida à Mocidade Terceirense. Angra do Heroísmo, Imp. de Joaquim Joze Soares, 1843.
  17. Alfredo da Silva Sampaio, Memória sobre a Ilha Terceira. Angra do Heroísmo, Imprensa Municipal, 1904.
  18. A "carta de sentença" que autoriza o inicio das celebrações religiosa na nova igreja, assinada por José dos Reis Fisher, então vigário capitular sede vacante, data de 15 de Maio de 1924 e indica que estão por concluir os dois altares laterais e faltando o revestimento de cal nas paredes laterais exteriores e numa das paredes da sacristia e seu tecto. Para os actos de lançamento da primeira pedra e texto completo da sentença veja-se Pedro de Merelim, As 18 Paróquias de Angra', pp. 264-267.
  19. Ficha na base de dados SIPA
 
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Ligações externas editar