SMS Prinz Eugen (1862)

O SMS Prinz Eugen foi um navio ironclad operado pela Marinha Austríaca e depois pela Marinha Austro-Húngara, a terceira e última embarcação da Classe Kaiser Max, depois do SMS Kaiser Max e SMS Don Juan d'Austria. Sua construção começou em outubro de 1861 na Stabilimento Tecnico Triestino e foi lançado ao mar em junho de 1862, sendo comissionado em março do ano seguinte. Era armado com uma bateria de 31 canhões de diferentes tamanhos, tinha um deslocamento de mais de três mil toneladas e alcançava uma velocidade máxima de onze nós.

SMS Prinz Eugen
Operador Marinha Austríaca (1863–67)
Marinha Austro-Húngara (1867–73)
Fabricante Stabilimento Tecnico Triestino
Homônimo Eugênio de Saboia
Batimento de quilha outubro de 1861
Lançamento 14 de junho de 1862
Comissionamento março de 1863
Descomissionamento 1873
Destino Desmontado
Características gerais (como construído)
Tipo de navio Ironclad
Classe Kaiser Max
Deslocamento 3 646 t
Maquinário 1 motor a vapor
Comprimento 70,78 m
Boca 10 m
Calado 6,32 m
Propulsão 3 mastros a vela
1 hélice
- 1 900 cv (1 400 kW)
Velocidade 11 nós (20 km/h)
Autonomia 1 200 milhas náuticas a 10 nós
(2 200 km a 19 km/h)
Armamento 16 canhões de 48 libras
15 canhões de 24 libras
1 canhão de 12 libras
1 canhão de 6 libras
Blindagem Cinturão: 110 mm
Tripulação 386

O Prinz Eugen participou em 1866 da Guerra Austro-Prussiana, sendo um dos membros da frota austríaca que enfrentou a frota italiana em julho na Batalha de Lissa. Nesta, ele enfrentou outros ironclads, mas não conseguiu infligir muitos danos e também não foi seriamente danificado. Passou por reformas depois da guerra a fim de melhorar sua navegabilidade e também recebeu um novo armamento, mas pouco fez pelo restante de sua carreira. O navio já estava obsoleto, deteriorado e com seu casco apodrecido em 1873, assim foi tirado de serviço e desmontado.

Características editar

 Ver artigo principal: Classe Kaiser Max (1862)

O Prinz Eugen tinha 70,78 metros de comprimento entre perpendiculares, uma boca de dez metros e um calado médio de 6,32 metros. Seu deslocamento era de 3 646 toneladas. Seu sistema de propulsão consistia em um motor a vapor horizontal de expansão única com dois cilindros que girava uma hélice. O número e tipo das caldeiras a carvão é desconhecido. Tinha uma potência indicada de 1,9 mil cavalos-vapor (1,4 mil quilowatts) para uma velocidade máxima de onze nós (vinte quilômetros por hora). Sua autonomia era de 1,2 mil milhas náuticas (2,2 mil quilômetros) a uma velocidade de dez nós (dezenove quilômetros por hora). Sua tripulação consistia em 386 oficiais e marinheiros.[1]

O armamento principal do Prinz Eugen era composto por dezesseis canhões antecarga de 48 libras e quinze canhões antecarga de 24 libras arranjados em uma bateria lateral. Também levava um canhão de doze libras e um de seis libras. Era protegido por um cinturão de blindagem feito de ferro forjado com 110 milímetros de espessura.[1]

História editar

Início de serviço editar

O batimento de quilha do Prinz Eugen ocorreu em outubro de 1861 nos estaleiros da Stabilimento Tecnico Triestino em Trieste e foi lançado ao mar em 14 de junho de 1862. A equipagem foi finalizada em março do ano seguinte, quando foi comissionado na frota austríaca. Logo foi descoberto que muita água respingava à vante no convés devido sua proa aberta, consequentemente o navio tinha uma navegabilidade ruim.[1] O navio e os dois ironclads da Classe Drache permaneceram no Mar Adriático durante a Guerra dos Ducados do Elba em 1864 com o objetivo de proteger o litoral austríaco de um possível ataque da Dinamarca, algo que nunca ocorreu.[2] A Itália declarou guerra contra a Áustria em junho 1866, iniciando a Terceira Guerra de Independência Italiana, conflito que fez parte da Guerra Austro-Prussiana.[3] O contra-almirante Wilhelm von Tegetthoff, o comandante da frota austríaca, mobilizou seus navios. Eles começaram a receber tripulações completas e realizar exercícios em Fasana. Tegetthoff levou a frota para Ancona em 27 de junho em uma tentativa de atrair os italianos para uma batalha, mas o almirante Carlo Pellion di Persano, comandante italiano, se recusou.[4]

Batalha de Lissa editar

 
Disposição das frotas austríaca e italiana no começo da Batalha de Lissa

A frota italiana deixou Ancona em 16 de julho e seguiu para a ilha de Lissa, onde chegou dois dias depois. Junto estavam navios de transporte de tropas com três mil soldados.[3] Os italianos passaram os dois dias seguintes bombardeando as defesas austríacas na ilha e fracassaram em uma tentativa de desembarque. Tegetthoff recebeu vários telegramas entre 17 e 19 de julho notificando-o do ataque, que ele inicialmente achou que era uma distração a fim de afastar a frota austríaca de suas principais bases em Pola e Veneza. Entretanto, Tegetthoff se convenceu na manhã do dia 19 que Lissa era de fato o objetivo italiano, assim pediu permissão para atacar. Os austríacos aproximaram-se na manhã de 20 de julho, com a frota italiana estando arrumada para uma nova tentativa de desembarque. Estes estavam divididos em três grupos, com apenas os dois primeiros conseguindo se concentrar em tempo. Tegetthoff arrumou seus ironclads em cunha, com o Prinz Eugen no flanco direito.[5]

Persano, enquanto colocava seus navios em formação, transferiu sua capitânia do ironclad Re d'Italia para o Affondatore. Isto criou um buraco na linha italiana e Tegetthoff aproveitou a oportunidade para dividir a frota italiana e criar um melê. Ele passou pelo buraco, mas não conseguiu abalroar navio algum, assim foi forçado a dar a volta e tentar de novo. O Prinz Eugen abriu fogo com seus canhões de vante durante a primeira passagem, mas não acertou alvo algum. Ele concentrou seus disparos em diversas embarcações italianas assim que seus canhões pudessem serem mirados. O Affondatore passou próximo do Prinz Eugen, mas o primeiro não conseguiu abalroar o segundo ou acertar algum projétil.[6]

O Re d'Italia e o navio de defesa de costa Palestro foram afundados no decorrer da batalha, fazendo a frota italiana recuar. Persano encerrou o confronto e recusou montar um contra-ataque com suas forças desmoralizadas, mesmo ainda mantendo uma superioridade numérica. Além disso, seus navios estavam com um baixo suprimento de carvão e munições. O recuo dos italianos foi acompanhado pelos austríacos, mas Tegetthoff manteve uma certa distância para não colocar seu sucesso em risco. A batalha terminou por completo com o cair da noite, com os italianos seguindo para Ancona e os austríacos para Pola. Os italianos infligiram poucos danos aos navios austríacos.[7] O Prinz Eugen, o ironclad SMS Habsburg e duas canhoneiras patrulharam a entrada do porto naquela noite.[8]

Resto de carreira editar

Tegetthoff, depois de voltar para Pola, manteve a frota no norte do Mar Adriático em patrulhas contra um possível ataque italiano. Isto nunca ocorreu e os dois países assinaram em 12 de agosto o Armistício de Cormons, encerrando as hostilidades e levando ao Tratado de Viena. Apesar da Áustria ter derrotado a Itália em Lissa e na Batalha de Custoza em terra, o Exército Austríaco foi derrotado decisivamente pela Prússia na Batalha de Königgrätz. Isto levou ao Compromisso de 1867 e o estabelecimento da Áustria-Hungria, que foi forçada a ceder Lombardo-Vêneto para a Itália.[9] As duas metades da monarquia dual tinham poder de veto sobre a outra, com o desinteresse húngaro em uma expansão naval levando a orçamentos seriamente reduzidos para a frota.[10] A maior parte da frota austríaca foi descomissionada e desarmada imediatamente depois do fim da guerra.[11]

A Marinha Austro-Húngara iniciou um modesto programa de modernização depois da guerra, concentrando-se no rearmamento dos ironclads com novos canhões.[12] O Prinz Eugen passou por reformas em 1867 a fim de corrigir sua navegabilidade, com sua proa sendo coberta e o navio rearmado com doze canhões antecarga de 178 milímetros e dois canhões de 76 milímetros. Ele estava obsoleto e com o casco apodrecido em 1873, assim foi decidido substituí-lo. O governo se recusou a conceder dinheiro para a construção de novos ironclads, mas projetos de "reconstrução" eram menos polêmicos e assim orçamento foi aprovado para que os três navios da Classe Kaiser Max fossem modernizados. Na realidade, o Prinz Eugen foi desmontado a partir de dezembro de 1873, com apenas alguns elementos como seu motor e placas de blindagem reciclados para serem usados no novo SMS Prinz Eugen, construído com o dinheiro para a reconstrução do antigo e nomeado com o mesmo nome para que a verdade fosse escondida.[13]

Referências editar

  1. a b c Sieche & Bilzer 1979, p. 268
  2. Greene & Massignani 1998, p. 210
  3. a b Sondhaus 1994, p. 1
  4. Wilson 1896, pp. 216–218, 228
  5. Wilson 1896, pp. 221–225, 229–231
  6. Wilson 1896, pp. 232–235, 243
  7. Wilson 1896, pp. 238–241, 245, 250
  8. Clowes 1901, pp. 366–368
  9. Sondhaus 1994, pp. 1–3
  10. Sieche & Bilzer 1979, p. 267
  11. Sondhaus 1994, p. 8
  12. Sondhaus 1994, p. 10
  13. Sieche & Bilzer 1979, pp. 268, 270

Bibliografia editar

  • Clowes, W. Laird (1901). Eberle, E. W., ed. «The Naval Campaign of Lissa; Its History, Strategy and Tactics». Annapolis: United States Naval Institute. Proceedings of the United States Naval Institute. XXVII (97). OCLC 2496995 
  • Greene, Jack; Massignani, Alessandro (1998). Ironclads at War: The Origin and Development of the Armored Warship, 1854–1891. Pensilvânia: Da Capo Press. ISBN 978-0-938289-58-6 
  • Sieche, Erwin; Bilzer, Ferdinand (1979). «Austria-Hungary». In: Gardiner, Robert; Chesneau, Roger; Kolesnik, Eugene M. Conway's All the World's Fighting Ships: 1860–1905. Londres: Conway Maritime Press. ISBN 978-0-85177-133-5 
  • Sondhaus, Lawrence (1994). The Naval Policy of Austria-Hungary, 1867–1918: Navalism, Industrial Development, and the Politics of Dualism. West Lafayette: Purdue University Press. ISBN 978-1-55753-034-9 
  • Wilson, Herbert Wrigley (1896). Ironclads in Action: A Sketch of Naval Warfare from 1855 to 1895. Londres: S. Low, Marston and Company. OCLC 1111061 

Ligações externas editar