Soldados da Pátria – História do Exército Brasileiro (1889-1937)

Soldados da Pátria – História do Exército Brasileiro, 1889-1937 (em inglês, Soldiers of the Patria: A History of the Brazilian Army, 1889-1937) foi um livro escrito pelo brasilianista Frank McCann e lançado em 2004 pela Stanford University Press.[1] Foi publicado no Brasil em 2007 pela Companhia das Letras, com republicação em 2009.[2]

Soldados da Pátria – História do Exército Brasileiro, 1889-1937
Soldiers of the Patria: A History of the Brazilian Army, 1889-1937
Soldados da Pátria – História do Exército Brasileiro (1889-1937)
Fundação da revista A Defesa Nacional, 1913. Pintura original de Álvaro Alves Martins, 1994.
Autor(es) Frank McCann
Idioma Inglês
País  Estados Unidos
Assunto História do Exército Brasileiro
Gênero História

Relações Internacionais

Arte de capa João Baptista da Costa Aguiar
Editora Stanford University Press
Editor Cristina Yamazaki
Lançamento 2004
Páginas 712
ISBN 9788535910841
Edição brasileira
Tradução Laura Teixeira Motta
Revisão Otacílio Nunes

Valquíria Della Pozza

Editora Companhia das Letras
Lançamento 2007

O livro é uma referência oficial para os alunos da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército Brasileiro (ECEME).[3]

Conteúdo editar

No livro, McCann rejeita a análise de que as revoltas militares brasileiras sejam reflexo da política ou da luta de classes. O autor segue o pensamento de brasilianistas como Edmundo Campos Coelho, José Murilo de Carvalho, John Schulz e Alfred Stepan, e argumenta que o exército brasileiro possuia importantes relações paternalistas e de amizade que pautavam as decisões tomadas pela instituição. Porém, ele diverge da tese de Stepan, de que o Exército serviria como um poder moderador brasileiro. De acordo com o autor, até a década de 1890, o Exército era precário e cooptado, e até a década de 1930, passou por um processo de profissionalização. A falta de profissionalização era tamanha que o exército não conseguia cumprir seu papel. A Guerra dos Canudos e de Contestado teriam deixado claro que o Exército não estava preparado para suprimir as revoltas que eclodiam no Brasil. Porém, estas relações se encerraram na década de 30, quando os sargentos e praças passaram a ser reprimidos para manter a base hierárquica.[4][5]

McCann também usa as definições do etno-historiador Anthony F. C. Wallace, de política dos apetites e política da identidade, para explicar a conduta do Exército durante os primeiros anos da República. De acordo com McCann, o tenentismo foi influenciado tanto por uma vontade de controle do próprio Exército, pela insatisfação das patentes mais baixas com a falta de profissionalização da instituição, quanto a vontade de quebrar as oligarquias existentes no período, porém a tonalidade clientelista das forças armadas ajudaram na manutenção do status quo.[5]

De acordo com McCann, o Exército seria a única instituição realmente nacional dentro do período analisado, honrando sua missão de manter a unidade, já que as oligarquias não conseguiam manter o poder com eficácia devido ao surgimento dos centros urbanos e a industrialização. O Exército teria se tornado um poder moderador em 1937, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder. A partir de então, na avaliação do autor, ele deixou de ser uma milícia e se tornou de fato um braço do Estado, servindo para a cristalização dos interesses nacionais. No Golpe de 1964, o Exército mudou seu foco de defesa externa para o desenvolvimento interno, porém seu papel mudou novamente com a Constituição de 1988, onde o Exército se institucionalizou como defensor da Pátria.[5][6]

Crítica editar

A revista Foreign Affairs elogia McCann por analisar as dinâmicas internas do Exército brasileiro para explicar suas ações.[7]

A revista The Journal of Military History elogia McCann por usar uma sólida base histórica para explicar o papel do Exército no desenvolvimento do Brasil e de sua identidade nacional. Além das fontes primárias, o autor revisou um extenso número de fontes secundárias. A revista trás que o livro é de interesse para historiadores militares, brasilianistas e historiadores das relações civis-militares na América Latina.[6]

A revista Canadian Journal of History trás que o livro foi uma resposta parcial ao pedido do historiador John Johnson em 1985 da necessidade de estudos militares que trazem um senso de intimidade aos estabelecimentos. McCann foi bem-sucedido ao escrever a história do Exército no século XIX, mas a revista o critica por se perder em detalhes excessivos, como as mini-biografias presentes no livro, e na falta de detalhes dos mapas apresentados. A revista também critica que o autor falha em demonstrar que os soldados combatentes tinham poucas informações sobre as campanhas em que lutavam.[4]

A revista História: Questões & Debate elogiou o uso de registros burocráticos do exército, algo pouco explorado por pesquisadores brasileiros, e o estudo das motivações e os envolvidos nas diversas rebeliões que ocorreram no Brasil durante a época analisada. Também, traz que a historiografia americana sobre o Brasil possui estudos próprios que pouco dialogam com os estudos brasileiros. Assim, o livro trás informações que não estão disponíveis em solo nacional. Porém, criticou a inocência do autor em achar que Getúlio Vargas pretendia reconstitucionalizar o país em 1932.[5]

Ver também editar

Referências editar

  1. McCann, Frank D. (2004). Soldiers of the Pátria: A History of the Brazilian Army, 1889-1937 (em inglês). [S.l.]: Stanford University Press 
  2. «Soldados da Pátria: História do Exército Brasileiro, 1889-1937 PDF». Skoob. Consultado em 21 de julho de 2023 
  3. Durval Lourenço Pereira (3 de abril de 2021). «Frank D. McCann – Obituário». Memorial da FEB. Consultado em 2 de junho de 2021. Cópia arquivada em 19 de julho de 2023 
  4. a b Browne, George P. (1 de agosto de 2005). «Soldiers of the Patria: A History of the Brazilian Army, 1889-1937.». University of Toronto Press. Canadian Journal of History (em inglês). Consultado em 21 de julho de 2023 
  5. a b c d Ferreira, Bruno Torquato Silva (julho de 2012). «Open Journal Systems». Curitiba: Editora UFPR. História: Questões & Debates (57): 267-272. doi:10.5380/his.v57i2.30564. Consultado em 21 de julho de 2023 
  6. a b Downes, Richard (2005). «Soldiers of the Patria: A History of the Brazilian Army, 1889-1937 (review)». The Journal of Military History (em inglês) (1): 257–258. ISSN 1543-7795. doi:10.1353/jmh.2005.0016. Consultado em 21 de julho de 2023 
  7. Maxwell, Kenneth (2004). «Review of Soldiers of the Pátria: A History of the Brazilian Army, 1889-1937». Foreign Affairs (em inglês) (3): 150–151. ISSN 0015-7120. doi:10.2307/20034013. Consultado em 21 de julho de 2023