Soulslike (ou Souls-like) é um subgênero de jogos eletrônicos de RPG de ação conhecidos por possuírem altos níveis de dificuldade e ênfase na narrativa ambiental. Ele teve sua origem na série de jogos Souls da FromSoftware, cujos temas e mecânicas inspiraram diretamente vários outros jogos semelhantes. O rótulo Soulslike recebeu algumas críticas, com vários críticos e desenvolvedores questionando se é um gênero verdadeiro ou uma coleção de mecânicas compartilhadas, e se é muito usado para descrever jogos com apenas vagas semelhanças.

Conceitos editar

Cenário e enredo editar

Jogos Soulslike são comumente definidos por seu cenário de fantasia sombria e falta de narrativa aberta, bem como sua profunda construção de mundo, com um cenário cativante sendo citado como chave para despertar o desejo dos jogadores de explorá-lo.[1] Os jogadores devem descobrir pedaços da trama do jogo ao longo do tempo por meio de narrativas ambientais, descrições de itens e diálogos enigmáticos, reunindo-os para aumentar a sensação de mistério do jogo. Apesar de seus temas sombrios, os cenários Soulslike também às vezes apresentam elementos de alívio cômico, como interações inesperadas (ou seja, acariciar um gato), reações humorísticas de personagens não jogáveis (NPCs), roupas e armas peculiares e meios de morte incomuns, muitas vezes pastelão, como ser devorado por um mímico.[2]

Jogabilidade editar

Jogos Soulslike normalmente possuem um alto nível de dificuldade, onde a morte repetitiva do personagem do jogador é algo normal e esperado, e incorporado como parte da jogabilidade, perdendo todo o progresso se certos checkpoints não forem alcançados. Os jogos Soulslike também costumam ter meios para melhorar permanentemente as habilidades do jogador a fim de poder progredir ainda mais, muitas vezes por um tipo de moeda que pode ser ganha e gasta, mas pode ser perdida ou abandonada entre as mortes se não for gerenciada adequadamente, similarmente às almas da série Souls.[3][4][5] Essa mecânica fornece um meio de evitar um estado de falha total, onde o jogador deve reiniciar o jogo completamente e perder todo o progresso, enquanto ainda fornece um sistema de risco e recompensa para tornar o jogo desafiador para o jogador.[6] A necessidade de repetidas jogadas pode ser vista como um tipo de auto-aperfeiçoamento para o jogador, seja através do aprimoramento gradual de seu personagem, seja melhorando suas próprias habilidades e estratégias dentro do jogo.[7] O combate em jogos Soulslike também pode ser metódico, exigindo que o jogador monitore a resistência para evitar o esforço excessivo de seu personagem,[4] e muitas vezes é baseado em ações de "prioridade de animação" que impedem o jogador de cancelar o movimento até que a animação tenha terminado, deixando-os vulneráveis ​​a ataques inimigos.[7]

História editar

O gênero Soulslike teve sua gênese no jogo eletrônico de 2009 Demon's Souls, desenvolvido pela FromSoftware e projetado por Hidetaka Miyazaki. Ele introduziu os princípios básicos que seriam seguidos pelos títulos posteriores da série Souls e, por extensão, também pelos Soulslikes. O subgênero foi mais tarde popularizado pelo segundo jogo da franquia Souls, Dark Souls, em 2011.[2]

Jogos considerados Soulslike incluem os títulos da FromSoftware e Miyazaki Bloodborne (2015), Sekiro: Shadows Die Twice (2019),[8][9] e Elden Ring (2022),[10] além de Lords of the Fallen (2014),[11] Salt and Sanctuary (2016),[12] a série Nioh,[13] a série The Surge,[14] Ashen (2018), Darksiders III (2018),[15] Remnant: From the Ashes (2019),[16] Code Vein (2019),[17] Star Wars Jedi: Fallen Order (2019)[15][18] e Mortal Shell (2020).[19] Dead Cells (2018) foi oficialmente descrito como um jogo "Souls-lite".[20]

Outros jogos fora do gênero citados como tendo sido influenciados pela série Souls incluem The Witcher 2: Assassins of Kings (2011),[21] Destiny (2014),[22] Shovel Knight (2014),[23][24] Titan Souls (2015),[23] The Witcher 3: Wild Hunt (2015),[25] Assassin's Creed Odyssey (2018)[26] e God of War (2018).[27] Mecânicas de morte semelhantes são usadas em Nier: Automata (2017)[28] e Hollow Knight (2017).[15]

Recepção editar

Entrevistas com desenvolvedores de jogos Soulslike revelaram que todos pensavam em ser classificados como parte do gênero como algo positivo que funcionava como uma descrição útil para os jogadores. No entanto, alguns acreditavam que poderia ser enganoso, fazendo com que os jogadores esperassem certas coisas e ficassem desapontados quando um jogo não as tivesse. Um exemplo disso foi o desapontamento dos jogadores que Remnant: From the Ashes era principalmente um jogo de tiro, apesar de ser caracterizado como um Soulslike.[2]

Austin Wood, da PC Gamer, criticou o rótulo Soulslike, dizendo que tratar os jogos da série Souls como um modelo "engana" os jogadores a acreditar que vários jogos classificados como tal são semelhantes a Souls quando são realmente diferentes. Ele chamou o rótulo Soulslike, juntamente com os rótulos Metroidvania e roguelike, como um "jargão" que "ignora o que torna [os jogos] únicos".[1] Mark Brown, da Game Maker's Toolkit, também criticou o rótulo Soulslike como excessivamente restritivo, forçando os jogos a se enquadrarem em um determinado modelo e impedindo que seu design evolua. Ao responder a este argumento, Bruno Dias, da Vice, discordou, dizendo que a comparação de Brown sobre os Soulslikes com roguelikes não era adequada porque roguelikes eram uma busca de um passatempo por muito tempo. Ele também disse que os Soulslikes não precisavam evoluir ainda, pois não tinham um problema de comercialização.[29]

Ver também editar

Referências

  1. a b Wood, Austin (19 de agosto de 2017). «The 'Souls-like' label needs to die». PC Gamer (em inglês). Consultado em 13 de fevereiro de 2022 
  2. a b c O'Donoghue, Niall (16 de novembro de 2020). «Finding the Soul of Soulslikes - the devs riffing on the genre». VG247 (em inglês). Consultado em 13 de fevereiro de 2022 
  3. Prescott, Shaun (11 de abril de 2019). «The best Souls-like games on PC». PC Gamer. Consultado em 14 de julho de 2019. Cópia arquivada em 14 de julho de 2019 
  4. a b IGN Staff, February 11, 2021. «The Best Soulslike Games». IGN. Consultado em 11 de fevereiro de 2021 
  5. Stuart, Keith (11 de outubro de 2021). «Dungeon crawler or looter shooter? Nine video game genres explained». The Guardian. Consultado em 12 de outubro de 2021 
  6. Cameron, Phill (9 de abril de 2015). «Cheating Death: Accommodating player failure and recovery». Gamasutra. Consultado em 27 de setembro de 2019. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2019 
  7. a b Kunzelman, Cameron (2020). «Chapter 10: How we deal with dark souls». In: de Souza e Silva, Adriana; Glover-Rijkse, Ragan. Hybrid Play: Crossing Boundaries in Game Design, Players Identities and Play Spaces. [S.l.]: Taylor & Francis. 58 páginas. ISBN 9781000042351 
  8. Yu, Jeffrey (18 de junho de 2021). «5 Soulslike Games That Are More Like Bloodborne Than Dark Souls». Game Rant. Consultado em 25 de fevereiro de 2022 
  9. McKeand, Kirk (10 de junho de 2018). «Sekiro: Shadows Die Twice is a new Soulslike developed by FromSoftware». VG247. Consultado em 25 de fevereiro de 2022 
  10. «Elden Ring is out now: Everything to know about Miyazaki's new souls-like». The Indian Express. 25 de fevereiro de 2022. Consultado em 25 de fevereiro de 2022 
  11. Purchase, Robert (23 de setembro de 2014). «ideo: Playing a new boss battle in Lords of the Fallen». Eurogamer. Consultado em 17 de maio de 2017. Cópia arquivada em 13 de setembro de 2017 
  12. Klepek, Patrick. «Salt And Sanctuary Is An Excellent 2D Dark Souls». Kotaku. Consultado em 17 de maio de 2017. Cópia arquivada em 1 de junho de 2017 
  13. Espileni, Matt (21 de janeiro de 2017). «Nioh Is A Brutal Return To Form For Ninja Gaiden Developer». IGN. Consultado em 17 de maio de 2017. Cópia arquivada em 20 de março de 2017 
  14. Donnelley, Joe (16 de maio de 2017). «The Surge has 'Souls-like' combat but is best approached 'from a Bloodborne state of mind'». PC Gamer. Consultado em 17 de maio de 2017. Cópia arquivada em 19 de maio de 2017 
  15. a b c «The Best Soulslike Games: The soulslikes that we like». IGN India (em inglês). IGN. 12 de fevereiro de 2021. Consultado em 2 de março de 2022 
  16. Grayson, Nathan. «Remnant: From The Ashes, As Told By Steam Reviews». Kotaku (em inglês). Consultado em 13 de setembro de 2019. Cópia arquivada em 13 de setembro de 2019 
  17. Saed, Sharif (2 de maio de 2017). «The first trailer for Code Vein proves this is the Vampire Souls we thought we're getting». VG247. Consultado em 17 de maio de 2017. Cópia arquivada em 5 de maio de 2017 
  18. «'Star Wars Jedi: Fallen Order' Director Explains 'Zelda' Influences, Game's Difficulty». The Hollywood Reporter. 8 de junho de 2019. Consultado em 22 de junho de 2019. Cópia arquivada em 29 de junho de 2019 
  19. Nunneley, Stephany (4 de março de 2021). «Souls-like Mortal Shell has sold over 500,000 units since release last summer». VG247. Consultado em 4 de março de 2021 
  20. Wood, Austin (22 de fevereiro de 2022). «What the hell is a Souls-like? Game devs break down FromSoftware's accidental genre». GamesRadar. Consultado em 25 de fevereiro de 2022 
  21. «CD Projekt wants The Witcher 2 to be polished and mature». 3 de abril de 2011 
  22. Slabaugh, Brett (18 de dezembro de 2013). «Destiny Inspired by Dark Souls, Monster Hunter, Bungie Says». The Escapist. Consultado em 18 de março de 2016. Cópia arquivada em 4 de março de 2016 
  23. a b Breault, Chris (24 de fevereiro de 2014). «How Do You Make An RPG After Dark Souls?». Kill Screen. Consultado em 20 de março de 2017. Arquivado do original em 21 de março de 2017 
  24. Williams, Mike (24 de maio de 2014), Game Dev Recipes: Shovel Knight, USgamer, consultado em 26 de maio de 2014, cópia arquivada em 25 de maio de 2014 
  25. Jones, Gary (30 de março de 2015). «Witcher 3: Why Dark Souls has proved a big influence, new details on 200+ hours gameplay». Daily Express. Consultado em 10 de setembro de 2016. Cópia arquivada em 11 de junho de 2017 
  26. «How Assassin's Creed Odyssey Is Switching Up Combat». CINEMABLEND. 6 de agosto de 2018. Consultado em 14 de setembro de 2020 
  27. «"It Has to Be Personal" Says 'God of War' Creative Director Cory Barlog». Rolling Stone. Consultado em 20 de junho de 2017. Cópia arquivada em 1 de maio de 2018 
  28. «Nier: Automata's Androids are like Dark Souls bloodstains, next livestream on Feb 23». PCGamesN. Consultado em 21 de fevereiro de 2018. Cópia arquivada em 22 de fevereiro de 2018 
  29. Dias, Bruno (12 de julho de 2017). «Making Souls-Like A Genre Might Actually End Up Hurting it». www.vice.com (em inglês). Consultado em 13 de fevereiro de 2022