Tia Virgínia é um filme de drama brasileiro de 2023 dirigido e escrito por Fabio Meira. O filme é estrelado pelas atrizes Vera Holtz, Louise Cardoso e Arlete Salles como três irmãs que se unem para celebrar a véspera de Natal na casa da família após a morte do patriarca da família, no entanto, ao longo do preparo da ceia, as desavenças entre as irmãs se tornam maior que o clima de fraternidade. O elenco conta ainda com as atuações de Vera Valdez, Daniela Fontan, Iuri Saraiva, Amanda Lyra e Antonio Pitanga.

Tia Virgínia
Tia Virgínia
Pôster promocional do filme.
 Brasil
2023 •  cor •  98 min 
Gênero drama
Direção Fabio Meira
Produção Janaina Diniz Guerra
Fabio Meira
Roteiro Fabio Meira
Elenco Vera Holtz
Arlete Salles
Cláudia Missura
Louise Cardoso
Vera Valdez
Cinematografia Leonardo Feliciano
Edição Karen Akerman
Companhia(s) produtora(s) Roseira Filmes
Kinossaurus
Distribuição Elo Studios
Lançamento
  • 13 de agosto de 2023 (2023-08-13) (Brasil)[1]
(Festival de Cinema de Gramado)
  • 9 de novembro de 2023 (2023-11-09) (Brasil)[1]
(comercialmente)
Idioma português

Tia Virgínia teve sua estreia no 51° Festival de Cinema de Gramado em 13 de agosto de 2023 e foi lançado nos cinemas do Brasil em 9 de novembro do mesmo ano pela Elo Studios. Um modesto sucesso comercial, o filme recebeu avaliações positivas dos críticos. Com muitos elogios ao desempenho do elenco, especialmente pela performance de Holtz, o roteiro do filme também foi elogiado por transitar entre o drama e a comédia na relação das três irmãs com sutilidade e sacadas de humor inteligentes.[1]

No Festival de Gramado, o filme saiu-se como o grande vencedor da noite de premiação levando seis estatuetas do Kikito, incluindo as categorias de melhor filme pela crítica e Melhor Atriz para Vera Holtz, além de receber os prêmios de melhor roteiro, direção de arte, desenho de som e uma menção especial de melhor atriz para Vera Valdez.[2]

Sinopse editar

Virgínia (Vera Holtz) é uma mulher de 70 anos que nunca se casou e não teve filhos. Ela é convencida por suas irmãs Vanda (Arlete Salles) e Valquíria (Louise Cardoso) a se mudar de cidade de volta à casa em que foram criadas para cuidar de sua mãe (Vera Valdez) após a morte do pai delas.[3] Às vésperas do Natal, Virgínia cuida da mãe em estado terminal e recebe suas irmãs em casa para celebrar a ocasião. Sobrecarregada, ela conta apenas com a ajuda de Soraia (Amanda Lyra), um jovem grávida, para cuidar da casa. Ao longo desse dia, ocorrem diversos conflitos entre as três irmãs, físicos e verbais. A morte iminente da mãe também é pauta de discussão das irmãs, que lidam de diferentes formas com a ideia da partida da matriarca, desde o futuro da residência até o estado de saúde mental de Virgínia.[4]

Elenco editar

Produção editar

Concepção editar

 
Fábio Meira inspirou-se em sua família para conceber o roteiro do filme.

O roteiro do filme foi concebido por Fabio Meira, que também assina a direção e a produção do filme. Esse é o segundo longa-metragem dirigido por Meira, após sua estreia na liderança de direção em 2017 com As Duas Irenes. A obra é uma fusão de homenagem, ficção e elementos biográficos de sua própria família.[5] O diretor compartilha que em sua família, cada membro reside em um local distinto, reunindo-se apenas nas férias de julho e dezembro. Ao longo de duas décadas, as reuniões eram limitadas ao mês de dezembro, com a frequência diminuindo. Com o desejo de realizar esse filme há mais de 20 anos, Fabio Meira começou a escrevê-lo em 2013, após ganhar um edital de desenvolvimento em São Paulo.[5]

Na época, o argumento do filme ainda não estava claro, levando-o a empreender uma viagem de ônibus de São Paulo a Minas Gerais. Durante o percurso, fez paradas para visitar suas quatro tias e sua mãe, registrando suas histórias e sonhos não realizados diante de uma câmera. Ele decidiu contar a história através da perspectiva da filha solteira, em um dia que antecede o Natal, acreditando que esse período, especialmente para pessoas que não se veem regularmente, intensifica as situações.[5] Os relatos das mulheres revelaram as dificuldades enfrentadas ao longo de suas vidas, destacando o cerco mais restrito imposto às mulheres em suas respectivas épocas. Fabio destaca que, embora o filme seja uma homenagem, também é biográfico, destacando mulheres que desafiaram as convenções sociais de suas épocas. Mesmo apresentadas de maneira não tão favorável, as personagens enfrentam pressões externas que as obrigam a obedecer aos papéis predeterminados pela sociedade patriarcal.[5]

O diretor compartilha a emoção de ouvir essas mulheres, notando como, ao ligar a câmera, sua tia mais velha já se emociona e chora ao se apresentar. Essas mulheres, muitas vezes não ouvidas, compartilham experiências marcantes, destacando a submissão ao patriarcado que as afeta, mesmo para aquelas casadas, cujas preocupações muitas vezes se limitam à comida e às despesas, em detrimento de suas próprias emoções.[5]

Desenvolvimento editar

O filme é produzido pela Roseira Filmes (produtora do cineasta Fabio Meira) e da Kinossaurus empresa dos cineastas Ruy Guerra e Janaina Diniz.[6] As gravações do filme ocorreram na cidade de Nova Friburgo e terminaram no final de fevereiro de 2020.[6]

Lançamento editar

Tia Virgínia teve sua primeira exibição oficial durante o 51° Festival de Cinema de Gramado, no Rio Grande do Sul, em 13 de agosto de 2023.[7] Em 30 de setembro, participou do 17° CineBH International Film Festival, em Belo Horizonte.[8] Em outubro, o filme foi exibido nos Estados Unidos na mostra competitiva do 16° Los Angeles Brazilian Film Festival.[9] O filme foi lançado comercialmente no Brasil a partir de 9 de novembro de 2023 com distribuição da Elo Company.

Recepção editar

Bilheteria editar

Tia Virgínia teve uma modesta distribuição nos cinemas do Brasil. O filme foi distribuído em 59 salas de cinema e foi assistido por 7.663 espectadores. Ao todo, o filme gerou uma receita de R$ 131.698,23.[10]

Resposta da crítica editar

As performances das atrizes protagonistas foram destaque do filme para a crítica.

Tia Virgínia recebeu críticas mistas e positivas por parte dos críticos de cinema. O filme recebeu elogios em especial pela performance do elenco, com menções especialmente para as atuações das protagonistas Vera Holtz, Arlete Salles e Louise Cardoso. Em sua estreia no 51° Festival de Gramado, o filme foi uma das obras mais aplaudidas e o público reagiu com palmas diversas vezes no decorrer do enredo.[11] O júri crítico de Gramado o elegeu como o melhor filme da edição.[11] O crítico Frederico Franco, para o website Plano Crítico, escreveu que o filme "pode se perder um pouco em algumas sequências que vão para o lado contrário do humor absurdo, mas definitivamente é um filme que, quando acerta, acerta forte. Arlete Salles e Louise Cardoso entregam sólidas atuações, mas Vera Holtz eleva (e muito) o nível do filme. Assim como Virgínia, Holtz é a dona absoluta do filme".[4]

Do AdoroCinema, Aline Pereira também ressaltou o trabalho das atrizes que estrelam o filme: "Vera Holtz, no papel principal, domina as cenas, mas, sem dúvidas, o suporte de Arlete Salles e Louise Cardoso erguem o trabalho da protagonista. Temos três grandes atrizes da televisão e do cinema brasileiro cujos talentos individuais são inquestionáveis, mas como conjunto, ganham ainda mais força – tanto nos momentos mais dramáticos, como em uma comédia extravagante e certeira".[11] Matheus Mans, do Esquina da Cultura, elegeu a obra como "melhor filme do ano" e pontuou que a atuação de Holtz é "histórica". Mans escreveu: "Tia Virgínia é Vera Holtz. Ao sair da sessão do filme, disse algo no calor da emoção e que reafirmo agora: se o Brasil tivesse um cinema mais reconhecido internacionalmente, Holtz poderia repetir o feito de Fernanda Montenegro com uma indicação ao Oscar. Não é exagero, não é empolgação momentânea. A atriz tem uma atuação histórica. Sem dúvidas, a melhor do ano".[12]

"Se for pra procurar pelo em ovo, dá pra dizer que o filme não sabe o momento certo de acabar. Há uma cena fantástica que, depois, é seguida por outras duas pequenas cenas que fazem sentido, mas que não precisava. Me lembrou o filme Como Nossos Pais, que também comete um erro parecido, não terminando na magnífica cena em que Clarice Abujamra toca ao piano", escreveu ainda Mans em sua resenha.[12] Já Inácio Araújo, da Folha de S.Paulo, avaliou o filme negativamente: "De certa forma, parece que estamos numa peça teatral de muitas décadas atrás, cuja única vantagem é se passar num meio abastado, o que torna todas as desavenças bastantes neutras —ou seja, os problemas não envolvem dinheiro, em princípio, o que não aconteceria num meio pobre, remediado ou muito rico. Ao contrário, ainda abre espaço para, aqui e ali, verificar-se a maneira opressiva que se reserva ao tratamento dos subalternos, empregadas domésticas à frente".[13]

Prêmios e indicações editar

Ano Premiação Categoria Recipiente Resultado Ref.
2023 Festival de Cinema de Gramado Melhor Filme - Júri da Crítica Fabio Meira Venceu [14]
Melhor Atriz Vera Holtz Venceu [15]
Melhor Direção de Arte Ana Mara Abreu Venceu [14]
Melhor Roteiro Fabio Meira Venceu
Melhor Desenho de Som Rubén Valdes Venceu
Menção Especial Vera Valdez Venceu
Los Angeles Brazilian Film Festival Melhor Filme Fabio Meira Indicado [16]
Melhor Atriz Vera Holtz Venceu
Melhor Atriz Coadjuvante Louise Cardoso Venceu
Melhor Direção de Arte Ana Mara Abreu Venceu

Referências

  1. a b c «'Tia Virgínia', premiado em Gramado, é um conjunto de acertos; leia a crítica». O Globo. 9 de novembro de 2023. Consultado em 14 de janeiro de 2024 
  2. «Flavia Guerra: Todo mundo tem uma Vera Holtz como a 'Tia Virgínia' na família». UOL. 16 de agosto de 2023. Consultado em 11 de março de 2023 
  3. AdoroCinema, Tia Virginia, consultado em 14 de janeiro de 2024 
  4. a b Franco, Frederico (15 de novembro de 2023). «Crítica | Tia Virgínia (2023)». Plano Crítico. Consultado em 14 de janeiro de 2024 
  5. a b c d e «"Tia Virgínia": uma família em combustão». Bravo!. Consultado em 14 de janeiro de 2024 
  6. a b «Terminam filmagens de "Tia Virgínia" – Revista de Cinema». 24 de fevereiro de 2020. Consultado em 3 de novembro de 2023 
  7. Disner, Elton. «Tia Virgínia | São Paulo». 52° Festival de Cinema de Gramado. Consultado em 25 de janeiro de 2024 
  8. «CINE SANTA TEREZA RECEBE "TIA VIRGÍNIA" EM SESSÃO COMENTADA COM A ATRIZ LOUISE CARDOSO». 17 CineBH International Film Festival. Consultado em 25 de janeiro de 2024 
  9. «"Nosso Sonho" é o grande vencedor do 16º Los Angeles Brazilian Film Festival – Revista de Cinema». 27 de outubro de 2023. Consultado em 25 de janeiro de 2024 
  10. «Painel Indicadores do Mercado de Exibição». Agência Nacional do Cinema - ANCINE. Consultado em 14 de janeiro de 2024 
  11. a b c AdoroCinema, Tia Virginia: Críticas AdoroCinema, consultado em 14 de janeiro de 2024 
  12. a b Mans, Matheus (20 de outubro de 2023). «Crítica: 'Tia Virgínia' é o melhor filme do ano com atuação histórica de Vera Holtz». Esquina da Cultura. Consultado em 14 de janeiro de 2024 
  13. «Crítica: Vera Holtz protagoniza melodrama psicológico fraco em 'Tia Virgínia'». Folha de S.Paulo. 8 de novembro de 2023. Consultado em 14 de janeiro de 2024 
  14. a b «Júri da Crítica escolhe 'Tia Virgínia' como o melhor longa do 51º Festival de Cinema de Gramado». accirs.com.br. Consultado em 3 de novembro de 2023 
  15. «Ailton Graça e Vera Holtz vencem prêmio de Melhor Atriz e Melhor Ator no Festival de Cinema de Gramado». Coletiva.net - Comunicação que marca. Consultado em 3 de novembro de 2023 
  16. «"Nosso Sonho" é o grande vencedor do 16º Los Angeles Brazilian Film Festival». revistadecinema.com.br. Consultado em 3 de novembro de 2023 

Ligações externas editar