Uranomitra franciae

Uranomitra franciae
U. franciae macho em Manizales, Colômbia
CITES Appendix II (CITES)[2]
Classificação científica
Reino:
Filo:
Classe:
Ordem:
Família:
Subfamília:
Tribo:
Gênero:
Uranomitra

Espécies:
U. franciae
Nome binomial
Uranomitra franciae
(Bourcier & Mulsant, 1846)
Distribuição geográfica
Sinónimos

Trochilus Franciæ Bourcier & Mulsant, 1846
Amazilia franciae (Bourcier & Mulsant, 1846)

O beija-flor-andino,[3][4] ainda conhecido pelo nome de colibri-de-peito-branco-andino[5] (nome científico: Uranomitra franciae), é uma espécie de ave apodiforme pertencente à família dos troquilídeos, que inclui os beija-flores. É o único representante do gênero Uranomitra, que é monotípico. Por sua vez, também é, consequentemente, a espécie-tipo deste gênero. Pode ser encontrada em altitudes entre 900 e 2100 metros, distribuindo-se desde a Colômbia até o Peru seguindo pelo Equador.[6]

Etimologia editar

O nome científico deste gênero deriva da aglutinação de dois termos derivados do grego antigo, sendo tais termos, respectivamente: ουρανος, ouranos, significa "céu, paraíso" dentro do contexto católico, adicionado de μιτρα, mitra, significando literalmente "diadema ou faixa de cabeça".[7] Seu descritor específico, franciae, que designa a espécie a ser descrita, deriva do nome Francia Bourcier, que acredita-se seja uma das filhas do ornitólogo francês Jules Bourcier. Os epítetos das respectivas subespécies, em ordem alfabética, deriva das palavras neolatinas: cyanocollis, literalmente algo como "pescoço lápis-lazúli"; seguido pela subespécie viridiceps, cujo nome significa literalmente algo como "coroa-verde" ou "cabeça-verde".[8][9]

As suas denominações comuns, dentro do português brasileiro e português europeu, referenciam às áreas de distribuição geográfica deste beija-flor, que possui distribuição exclusiva pela região andina da América do Sul.[3][10]

Descrição editar

Os espécimes dos beija-flores-andinos possuem uma média de tamanho variável, entre os nove até os onze centímetros de comprimento. Seu peso varia, por sua vez, de acordo com o sexo, onde as fêmeas, que são ligeiramente mais leves, possuem 5,3 gramas; ao que machos possuem 5,6 gramas. A espécie apresenta a característica marcante de sua subfamília: qualquer subespécie apresenta um bico ligeiramente curvado, preto com a mandíbula mais rosada com uma ponta enegrecida. Os machos adultos da raça nominal têm sua coroa azul-violeta brilhante e laterais da face e o pescoço em tom dourado ou esmeralda brilhante. As partes superiores e flancos são verde-claro ou verde-dourado e acobreadas nas coberteiras superiores da cauda. O centro das partes inferiores é branco. Sua cauda é verde-bronze a acobreada. A fêmea adulta é semelhante ao macho, porém com sua coroa azul-turquesa a esverdeada e menos brilhante. Os juvenis são semelhantes à fêmea adulta e também apresentam bordas acastanhadas nas penas das partes superiores e flancos marrom-acinzentados.[7]

Sua subespécie U. f. viridiceps difere da nominal pela cauda mais curta e sua coroa mais esverdeada. U. f. cyanocollis também difere ligeiramente da nominal: o azul de sua coroa se estende até a nuca.[7]

Sistemática editar

A espécie foi descrita primeiramente no ano de 1846, pelos naturalistas franceses Jules Bourcier e Étienne Mulsant, que realizaram sua descrição a partir de um espécime macho adulto que havia sido encontrado à Bogotá, no extinto Vice-Reino de Nova Granada. Este espécime se tornaria o holótipo da descrição do beija -flor Trochilus franciae.[11] A espécie foi anteriormente considerada dentro de Amazilia, entretanto, em 2014, após a publicação de um número de estudos sobre a filogenética molecular dos beija-flores, sugere-se que esta espécie e suas respectivas subespécies sejam movidas para o gênero ressurgido Uranomitra, que foi introduzido primeiramente em 1854, pelo ornitólogo alemão Heinrich Gottlieb Ludwig Reichenbach. Sendo o único representante de seu gênero, ele se classifica um monotipo, com sua única espécie sendo espécie-tipo.[12][13][14] O South American Classification Committee, junto ao International Ornithologists' Union e a taxonomia de Clements, reconhecem as três subespécies, sendo a nominal U. f. franciae e duas outras: U. f. cyanocollis e U. f. viridiceps.[15][16][17] Entretanto, o Handbook of the Birds of the World (HBW) da BirdLife International não segue a maioria dos identificadores internacionais e não considera os estudos filogenéticos moleculares publicados anteriormente, classificando a espécie, e mais de vinte outras que haviam sido reclassificadas, dentro de Amazilia.[18]

Distribuição e habitat editar

A subespécie principal do beija-flor-andino pode ser encontrada nos departamentos ao noroeste e centro da Colômbia, exceto no departamento de Nariño. As outras subespécies se distribuem mais ao sudoeste da Colômbia, no departamento de Nariño, seguindo à província de El Oro e a província de Loja, até a região peruana de Tumbes. A última subespécie ocorre na província de Zamora Chinchipe no Equador até norte do rio Marañon e ao leste em La Libertad.[6][7]

O beija-flor-andino habita as florestas secundárias e as bordas e clareiras das florestas primárias pluviais. No Peru, também ocorre nos matagais mais secos. Em elevação, varia entre 600 e 2100 metros acima do nível do mar, sendo mais frequentemente avistada a partir dos 1000 metros.[7]

Comportamento editar

O beija-flor-andino realiza movimentações sazonais de elevação que, no entanto, não são bem definidas.[7]

Alimentação editar

O beija-flor-andino procura por néctar em uma variedade de ervas, trepadeiras e árvores floridas, geralmente dos estratos médios e superiores da floresta. Alimenta-se por armadilhas, visitando um circuito de fontes de néctar. Às vezes se mistura com outros beija-flores em canteiros de flores, mas está submisso a espécies territoriais. Além do néctar, alimenta-se de insetos que voam de um poleiro.

Reprodução editar

A atividade reprodutiva dos beija-flores-andinos foi documentada em quase todas as épocas do ano. Ele constrói um ninho em xícara de escamas de fetos arbóreos e fibras vegetais amarradas com teia de aranha e com líquen do lado de fora. Normalmente, fica a cerca de 1,4 a 2,3 metros acima do solo. A fêmea incuba a ninhada de dois ovos por entre 19 a 24 dias e a emplumação ocorre cerca de 16 a 22 dias após a eclosão.[7]

Vocalização editar

O beija-flor-andino apresenta vocalizações bastante variáveis, normalmente descrita como "um frasear complexo repetida de assobios estridentes agudos, trinados e notas ásperas". Ele também faz "uma chamada 'tsip'" aguda e, durante interações sociais, "conversas estridentes e arranhadas".[7]

Estado de conservação editar

A União Internacional para a Conservação da Natureza avaliou o beija-flor-andino como sendo uma espécie "pouco preocupante", embora o tamanho e a tendência de sua população sejam desconhecidos. Nenhuma ameaça imediata ao seu habitat foi identificada. É considerado incomum a bastante comum e é encontrado em pelo menos uma área protegida.[1]

Referências

  1. a b BirdLife International (1 de outubro de 2016). «Andean Emerald (Amazilia franciae. The IUCN Red List of Threatened Species. 2016: e.T22687566A93158133. doi:10.2305/IUCN.UK.2016-3.RLTS.T22687566A93158133.en . e.T22687566A93158133. Consultado em 1 de outubro de 2022 
  2. «Appendices | CITES». cites.org. Consultado em 22 de dezembro de 2022 
  3. a b Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 113. ISSN 1830-7809. Consultado em 25 de agosto de 2022 
  4. «Uranomitra franciae (beija-flor-andino)». Avibase. Consultado em 22 de dezembro de 2022 
  5. Alves, Paulo; Elias, Gonçalo; Frade, José; Nicolau, Pedro; Pereira, João, eds. (2019). «Trochilidae». Nomes das Aves PT. Lista dos Nomes Portugueses. Consultado em 21 de dezembro de 2022 
  6. a b Gill, Frank; Donsker, David; Rasmussen, Pamela, eds. (11 de agosto de 2022). «Hummingbirds». IOC World Bird List (em inglês) 12.1 ed. Consultado em 21 de dezembro de 2022 
  7. a b c d e f g h Weller, André Alexander; Boesman, Peter F. D.; Kirwan, Guy M. (2021). «Andean Emerald (Uranomitra franciae), version 1.1». Birds of the World (em inglês). doi:10.2173/bow.andeme1.01.1. Consultado em 22 de dezembro de 2022 
  8. Gould, John (1860). «Cyanomyia franciae: Francia's Azure-Crown». Londres: Taylor and Francis. A monograph of the Trochilidæ, or family of humming-birds (em inglês). 5: 287. OCLC 9648140. doi:10.5962/bhl.title.51056 . Consultado em 21 de dezembro de 2022 
  9. Beekes, Robert S. P. (2010). van Beek, Lucien, ed. «Etymological Dictionary of Greek». Brill Academic Pub. Leiden Indo-European Etymological Dictionary Series. 10. ISBN 9789004174207. Consultado em 23 de dezembro de 2022 
  10. Pacheco, José Fernando; Silveira, Luís Fábio; Aleixo, Alexandre; Agne, Carlos Eduardo; Bencke, Glayson A.; Bravo, Gustavo A.; Brito, Guilherme R. R.; Cohn-Haft, Mario; Maurício, Giovanni Nachtigall (junho de 2021). «Annotated checklist of the birds of Brazil by the Brazilian Ornithological Records Committee—second edition». Ornithology Research (2): 94–105. ISSN 2662-673X. doi:10.1007/s43388-021-00058-x. Consultado em 29 de agosto de 2022 
  11. a b Bourcier, Jules; Mulsant, Étienne (1846). «Description de Vingt Espèces nouvellles d'Oiseaux-Mouches». Société impériale d'agriculture, etc. de Lyon. Annales des Sciences Physiques et Naturelles, d'Agriculture et d'Industrie. 9 (1846): 324. Consultado em 24 de dezembro de 2022 
  12. McGuire, Jimmy A.; Witt, Christopher C.; Remsen, J. V.; Dudley, R.; Altshuler, Douglas L. (1 de janeiro de 2009). «A higher-level taxonomy for hummingbirds». Journal of Ornithology (em inglês) (1): 155–165. ISSN 2193-7206. doi:10.1007/s10336-008-0330-x. Consultado em 24 de dezembro de 2022 
  13. McGuire, Jimmy A.; Witt, Christopher C.; Remsen, J. V.; Corl, Ammon; Rabosky, Daniel L.; Altshuler, Douglas L.; Dudley, Robert (14 de abril de 2014). «Molecular Phylogenetics and the Diversification of Hummingbirds». Current Biology (em English) (8): 910–916. ISSN 0960-9822. PMID 24704078. doi:10.1016/j.cub.2014.03.016. Consultado em 24 de dezembro de 2022 
  14. Stiles, F. Gary; Remsen, J. V. Jr.; McGuire, Jimmy A. (24 de novembro de 2017). «The generic classification of the Trochilini (Aves: Trochilidae): Reconciling taxonomy with phylogeny». Zootaxa (3). 401 páginas. ISSN 1175-5334. doi:10.11646/zootaxa.4353.3.1. Consultado em 24 de dezembro de 2022 
  15. Remsen, J. V., Jr., J. I. Areta, E. Bonaccorso, S. Claramunt, A. Jaramillo, D. F. Lane, J. F. Pacheco, M. B. Robbins, F. G. Stiles, e K. J. Zimmer. (31 de janeiro de 2022). «A classification of the bird species of South America». American Ornithological Society. Consultado em 2 de outubro de 2022 
  16. Gill, Frank; Donsker, David; Rasmussen, Pamela, eds. (11 de agosto de 2022). «Hummingbirds». IOC World Bird List (em inglês) 12.1 ed. Consultado em 2 de outubro de 2022 
  17. Clements, J. F., T. S. Schulenberg, M. J. Iliff, S. M. Billerman, T. A. Fredericks, J. A. Gerbracht, D. Lepage, B. L. Sullivan, and C. L. Wood. (2021). «The eBird/Clements checklist of Birds of the World: v2021». Cornell Lab of Ornithology. Consultado em 2 de outubro de 2022 
  18. BirdLife International (2020). «Handbook of the Birds of the World and BirdLife International digital checklist of the birds of the world». Datazone BirdLife International. Consultado em 2 de outubro de 2022 
  19. Hilty, Steven L. (1986). A guide to the birds of Colombia. William L. Brown. Princeton, Nova Jérsia: Princeton University Press. OCLC 11234472 
  20. a b Schulenberg, Thomas Scott; Stotz, Douglas Forrester; Lane, Daniel Franklin; O'Neill, John Patton; Parker III, Theodore Albert (2007). Field guide to the birds of Peru. Princeton: Princeton University Press. ISBN 978-0-7136-8673-9. OCLC 159634650 
  21. Ridgely, Robert S. (2001). Birds of Ecuador Field Guide: Status, Distribution, and Taxonomy. Ilustrado por Paul J. Greenfield. Ithaca: Comstock Pub. ISBN 0-8014-8720-X. OCLC 45313482 
  22. Gould, John (1853). «Description of five new species of Humming Birds». Londres: Zoological Society of London. Proceedings of the Zoological Society of London. 21 (251): 61–62. Consultado em 24 de dezembro de 2022 

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