Usuário(a):Lilian Viana/Testes

Lilian Viana/Testes

As Meninas é um romance de Lygia Fagundes Telles publicado no Brasil em 1973. [1]

A obra aborda a amizade e vivências de três jovens mulheres universitárias durante os anos 1970, período do regime militar no Brasil.[1] Destaca-se a técnica literária empregada, com diversos focos narrativos para contar a história das personagens principais, por meio do acionamento de suas memórias https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/115783/000805858.pdf?sequence=1 p. 46

Premiada com o Prêmio Jabuti em 1974, é o terceiro romance publicado pela autora e um dos seus títulos mais aclamados.[1][2]


apresenta um desarranjo da narrativa tradicional, cujo perfilhamento segue teorias acerca do olhar das narradoras, da maneira como a

memória é acionada por meio do tempo psicológico e do flashback, observados no interior da

obra Há no romance diversas vozes narrativas, a maior parte dos diálogos é inserida nos

parágrafos sem indicação das personagens, como se tratasse de relances de memória.

Enredo editar

O enredo é construído a partir do fluxo de consciência das personagens,

O enredo de As meninas vai se diluindo no fluxo de consciência das personagens. Lygia

traz em sua construção narrativa a história de três jovens, com origens, personalidades e objetivos

distintos, as quais vão ao longo do texto se desvelando por meio de seus discursos, para que nós,

leitores, possamos mergulhar em suas vivências. A narrativa tem como pano de fundo o

conturbado Regime Militar, então vigente no Brasil, apresenta um narrador em terceira pessoa,

onisciente na maior parte do texto, e três narradoras em primeira pessoa, Lorena Vaz Leme, Lia

de Mello Schultz e Ana Clara Conceição, que vão se alternando ao longo da obra. Esse intercalar

das vozes leva-nos a conhecer a vivência de cada uma delas por meio dos quatro olhares

distintos. É por meio de suas visões, memórias, divagações, reminiscências, monólogos

interiores, fluxos de consciência que tudo se organiza; é através desses olhares que os espaços, as

impressões que cada uma tem das outras e suas rememorações são vistos

https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/115783/000805858.pdf?sequence=1

https://www.educabras.com/vestibular/materia/resumo_de_obras_literarias/aulas/as_meninas_lygia_fagundes_telles


https://abralic.org.br/anais/arquivos/2017_1522177222.pdf

Lorena, Ana Clara e Lia são de mundos distantes, vivendo impasses muito parecidos e ao mesmo tempo diferentes, cada qual com seu próprio drama durante o período turbulento da ditadura. Elas têm seus destinos cruzados quando dividem o mesmo teto em um pensionato de freiras na cidade de São Paulo e acabam por se aproximar, tornando-se amigas e confidentes.https://institutoling.org.br/explore/as-meninas-de-lygia-fagundes-telles-uma-historia-de-amizade-e-cumplicidade-nos-anos-de-chumbo-no-brasil


A narração do romance se alterna de forma fluida entre as vozes de cada uma das protagonistas, que vão descrevendo de forma intimista os percalços nada rotineiros de suas jovens existências. Os sujeitos são bastante particulares, dando assim uma sensação de realidade quando se comunicam. A polifonia fica evidente quando atravessamos as páginas e sentimos cada personagem de modo sincero, seguindo a mesma dinâmica ao longo dos 12 capítulos. Utilizando uma linguagem coloquial e diálogos intensos, não há espaço para monotonia, um dos motivos para o sucesso absoluto entre a crítica especializada e os leitores. https://institutoling.org.br/explore/as-meninas-de-lygia-fagundes-telles-uma-historia-de-amizade-e-cumplicidade-nos-anos-de-chumbo-no-brasil

Além das típicas transformações da vida adulta, as três meninas encaram as conturbações de um período histórico, enquanto a trama busca desvencilhar as três protagonistas dos papéis normalmente dados às mulheres heroínas dos romances da época. Tudo acontece de maneira rápida e caótica, porém com marcas que permanecerão profundamente em seus respectivos futuros. De maneiras distintas, nossas três meninas convivem com a solidão e a instabilidade da chegada da vida adulta. Lorena é uma estudante de direito, romântica e sonhadora, que não dá grande atenção para questões como política ou drogas. É filha de uma família abastada e ajuda as outras duas amigas com dinheiro. Embora virgem, relaciona-se com um homem casado, pai de cinco filhos, esperando ansiosamente por sua atenção. Lia é estudante de ciências sociais e militante em um grupo de esquerda armada. Seu namorado, Miguel, é preso durante o regime e é trocado por um diplomata. Ana Clara é uma linda estudante de psicologia, marcada por abusos sofridos na infância e dominada pelo excesso de uso de drogas, o que a torna emocionalmente muito frágil. Divide-se entre duas relações amorosas: o noivo rico e um traficante de drogas. As três compartilham a vida até o momento que irão separar-se definitivamente.https://institutoling.org.br/explore/as-meninas-de-lygia-fagundes-telles-uma-historia-de-amizade-e-cumplicidade-nos-anos-de-chumbo-no-brasil


A opção de Lygia não é casual: detalhando os universos das três amigas, o leitor pode vislumbrar os conflitos da juventude brasileira durante a Ditadura Militar.[3] Lia, sendo a mais engajada politicamente de todas, participa de greves na faculdade durante esse período ditatorial juntamente com o namorado Miguel e a sua turma de amigos tentando convencer, inclusive, a freira do Internato a mudar seus pensamentos sobre acontecimentos tenebrosos, como tortura e mortes. Tendo a menina essa consciência de que viviam em perigo, utilizava o codinome Rosa - algo muito comum nessa época:

Lia, Ana e Lorena são as personagens principais do romance. Embora muito diferentes, elas compartilham experiências e se apoiam mutuamente. Moram juntas em um pensionato de freiras. Suas conversas e pensamentos reproduzem os costumes e assuntos da década de 1970: radicalização política; liberação sexual da mulher; experiências com alucinógenos; e preferências musicais.[4]

"No “aparelho”, Lia é chamada de Rosa e evidencia isso, pois era fundamental para sua segurança que ninguém soubesse seu verdadeiro nome e vida. Dessa forma, enquanto instrui um rapaz na sala, ela diz: “não estamos brincando, eu queria que você entendesse bem isto. Aqui eu sou Rosa e você é Pedro. Fim.”. (TELLES, p.110)"[5]

É importante dizer que a história tem como protagonismo as mulheres, personagens marcantes que encantam o leitor porque apresentam um lado fictício e humano ao mesmo tempo:

Lia de Melo Schultz é estudante de ciências sociais, porém, tranca a faculdade devido às faltas. Sua mãe é baiana e seu pai, alemão. Prefere ler Karl Marx e assuntos revolucionários. As amigas a chamam de Lião. Ela e Miguel, seu namorado - líder estudantil preso pelo regime ditatorial, se encontram no final do romance, quando ele é liberado, e partem para Argélia.

Ana Clara Conceição estudou psicologia, mas não concluiu o curso. Usuária de drogas, ela tem um namorado que é traficante. Ela sofreu maus tratos no passado, quando vivia com a mãe em canteiros de obras. O seu apelido é Ana Turva. Sonha com um noivo rico e conservador que lhe proporcionará uma vida "normal".

Lorena Vaz Leme, estudante de Direito, pertence a uma família rica de fazendeiros. Romântica, adora poesia. Permanece virgem, guardando-se para um médico mais velho e casado, de quem espera em vão um telefonema. Gosta de ordem e de limpeza.[4]

Características editar

Além das típicas transformações da vida adulta, as três meninas encaram as conturbações de um período histórico, enquanto a trama busca desvencilhar as três protagonistas dos papéis normalmente dados às mulheres heroínas dos romances da época.https://institutoling.org.br/explore/as-meninas-de-lygia-fagundes-telles-uma-historia-de-amizade-e-cumplicidade-nos-anos-de-chumbo-no-brasil

Assim, As meninas (1973) constitui-se como uma obra dedicada ao presente histórico,

baseada nas rememorações de suas três protagonistas . O recurso à memória se faz presente na medida em que Lygia confere às personagens

liberdade de contar e refazer cada uma sua própria história, em um diálogo incisivo com o

passado, o presente e o futuro https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/115783/000805858.pdf?sequence=1 p. 47


"Contudo, no restante do livro, é de maneira sutil que Lygia coloca dentro da obra outras questões importantes do período da ditadura, mostrando através dos problemas pessoais das personagens as relações conturbadas acerca da liberdade de expressão, emancipação da mulher, a realização pessoal e social das pessoas em meio a um cenário político repressor."[6]

"Tudo isso faz com que essa obra seja considerada uma das mais queridas dessa autora, justamente pela coragem de se falar de um tema polêmico em meio à repressão, como também, por ser uma exímia representação do olhar feminino acerca do mundo."[6]


"O que nos atrai no livro é isso: as meninas são reais, são humanas, estão vivíssimas e são ora como nós, ora diferentes de nós. É como se conseguíssemos dialogar com elas, entrar eu sua cabeça e também sermos repelidas por seus discursos. Aqui, cada personagem tem seu próprio léxico, lida com certos objetos, expõe os pensamentos, performa vícios de linguagem, possui um vocabulário próprio de gestos."[7]

Também há uma importância do livro com relação às questões humanas dentro do período ditatorial:

O romance não foi censurado na época porque passou despercebido aos olhos da censura as questões metafóricas e o próprio título juntamente com a capa que trazem delicadeza, intertextualidade e suavidade das palavras utilizadas por Lygia.[5]


A obra As meninas é, sobretudo, uma escrita de ousadia frente a censura imposta durante o período da ditadura militar no Brasil. Um dos grandes exemplos nesse contexto é a ampla descrição do episódio de uma sessão de tortura e das repressões sofridas por quem se opunha ao regime. A escrita de Lygia se afasta de clichês e não se deixa cair na banalidade, ao explorar intimamente histórias, sentimentos, sexualidade e a confusão da vida cotidiana em um contexto ocupado pela repressão. https://institutoling.org.br/explore/as-meninas-de-lygia-fagundes-telles-uma-historia-de-amizade-e-cumplicidade-nos-anos-de-chumbo-no-brasil

Publicações em outros países editar

As Meninas teve duas publicações em Portugal, no idioma original, pelas editoras Livros do Brasil (década de 1970) e Editorial Presença (2005), e foi traduzido e publicado nos países abaixo (na Eslováquia, sua publicação está prevista para 2024).

Ano País Língua Título Tradutor(es) Editora
1978
Argentina
Língua espanhola
Las meninas
Estela dos Santos Buenos Aires: Editorial Sudamericana
1982
Estados Unidos
Língua inglesa
The girl in the photograph
Margaret A. Neves
Nova Iorque: Avon Books
1984
Alemanha
Língua alemã
Madchen Am Blauen Fenster
Gudrun Hohl Berlim: Verlag Volk und Welt
1998
Holanda
Língua holandesa
De meisjes
Kitty Pouwels Amsterdã: Singel Uitgeverijen
2005
França
Língua francesa
Les pensionnaires
Maryvonne Lapouge-Petorelli Paris: Stock
2006
Itália Língua italiana Ragazze Federico Bertolazzi Roma: Cavallo di Ferro
2012 Estados Unidos Língua inglesa The girl in the photograph Margaret A. Neves Funks Grove/Illinois: Dalkey Archive Press
2017 Sérvia Língua sérvia Devojke iz Sao Paula Ana Kuzmanović Belgrado: Štrik

Adaptações editar

As Meninas foi adaptado para o cinema, em 1995, sob a direção de Emiliano Ribeiro e com interpretação de Adriana Esteves, Drica Moraes e Cláudia Liz. https://revistazingu.net/2011/08/21/as-meninas-de-emiliano-ribeiro/

Prêmios editar

Referências

  1. a b c Infoescola – "As Meninas"
  2. «As meninas, de Lygia Fagundes Telles: amizade e cumplicidade nos anos de chumbo no Brasil | Instituto Ling». institutoling.org.br. Consultado em 20 de abril de 2023 
  3. Revista Educar para crescer. Editora Abril
  4. a b "Dossiê: O Tempo de Lygia" – Revista Entre Livros. edição 20. Pgs. 21-32. Editora Duetto. São Paulo (2007)
  5. a b «Vista do POR QUE A DITADURA MILITAR NÃO CENSUROU AS MENINAS?». periodicos.unisantos.br. Consultado em 5 de maio de 2021 
  6. a b «As Meninas, de Lygia Fagundes Telles». Canal do Ensino. 31 de julho de 2018. Consultado em 5 de maio de 2021 
  7. Rabelo, Laura Cohen (27 de janeiro de 2019). «Uma aula infinita: As meninas, de Lygia Fagundes Telles». Medium (em inglês). Consultado em 5 de maio de 2021 
  8. «Premiados 1974 - romance». Prêmio Jabuti. Consultado em 4 de abril de 2023 

Ligações externas editar