Usuário(a):Maria de Lourdes Duque-Estrada Scarparo/Testes

Marie-Thérèse Sailley Danielsson editar

Marie-Thérèse Sailley (18 de outubro de 1923, Le Thillot, Vosges, França - 2003, Thaiti), mais conhecida como Marie-Thérèse Danielsson, pelo sobrenome de casamento com o antropólogo e escritor Bengt Emmerik Danielsson, com quem colaborou na publicação e divulgação das pesquisas. Foi secretária, datilógrafa, arquivista, tradutora, escritora, roteirista, editora e promotora de publicações, associada aos museus de cultura mundial [1]. Atuante nos movimentos sociais pela independência da Polinésia, foi importante colaboradora nos estudos e ações contra testes nucleares no mundo.

Biografia editar

Marie-Thérèse, nasceu em 18 de outubro de 1923, em Thillot, na região de Vosges na França, filha de Abel Sailley, fundador do que hoje é "Tissage Mouline Thillot"[2], indústria têxtil histórica da região[3], e de Joséphine Mayer. Frequentou a escola secundária e, em 1943, aos 20 anos, trabalha na Embaixada francesa em Lima, Peru.

Conheceu Bengt Emmerik Danielsson (1921-1997) em 1947, quando ele se preparava a expedição Kon-Tiki do Peru até a Polinésia. Ela o acompanha durante suas estadas em Raroia e o auxilia em seu trabalho como etnólogo e nas traduções para o francês. Casou-se, aos 24 anos, em 22 de abril de 1948, em Lima, Peru.

Apaixonados pelo "paraíso", como chamavam as Polinésias, o casal morou em Raroia, entre 1949 e 1952, e no Tahiti a partir de 1953. Integraram-se à cultura tribal dessas comunidades. Bengt, que perdera seu pai aos seis anos, foi adotado simbolicamente pelo chefe da tribo Tuamotu e também adotou um menino em condições semelhantes. Essa forma de vida colaborativa e festiva da cultura daquele povo, com cantos e danças, e compartilhamento de recursos básicos, alegre mesmo nas adversidades, conquistam o casal que lá se estabeleceram como moradia permanente.

Do Atol de Tuamotu, o casal navega de escuna para o Arquipélago das Marquesas. Eles vão a Tahuata e Fatu Hiva, mas seguem até Hiva 'Oa, onde se estabeleceram graças ao amigo norueguês Henri Lie, presente na ilha há quarenta e dois anos. Visitam os moradores da ilha, conhecem seus hábitos e costumes, convivem com a população. Encontram Taua Tikaomata, filha do famoso pintor Gauguin [4].

Em 1952, eles se estabeleceram definitivamente no Vallée Papehue, em Papeete, na costa oeste do Taiti, no distrito de Paea [5]. Foi nesta casa que a filha Maruia, nasceu e cresceu. Também adotaram a menina Marei de Raroia. Marei teve um filho, nascido por volta de 1960, a quem o casal também adotou, nomeado Robert Matuanui Danielsson [6]. Os nomes são da tradição das tribos dos atóis de Takume e Raroia, no arquipélago de Tuamotu, há vinte gerações. Maruia significa "gentil" em polinésio e é o nome de uma lendária chefe feminina pacificadora, representando benevolência e intervindo para que não surgissem dissensões entre seu povo, querendo que a paz estivesse com todos.

Maruia (1952-1972) faleceu de câncer linfático (leucemia) com apenas vinte anos.

Vida profissional conjunta editar

Marie-Thérèse trabalhou na Embaixada da França em Lima, até 1948, quando casou-se com Bengt. Deixou seu trabalho para colaborar com as pesquisas de seu parceiro em Raroia. Dedicou-se inteiramente à sistematização, organização e publicação do material. Conhecidos como casal Danielssons, elaboraram juntos um dos maiores acervos bibliográficos e de registros de pesquisa da Polinésia, que atualmente compõem os arquivos da Universidade de Uppsala.

Em Raroia, entre 1949 e 1952, Bengt realizou a maior parte da pesquisa etnográfica de seu doutorado, e no Tahiti, a partir de 1953, Marie-Thérèse e Bengt foram organizadores, incentivadores e colaboradores do acervo de antropologia e cultura de bibliotecas da Polinésia [7], em especial, do do qual Bengt foi curador entre 1952 e 1966. Bishop Museum [8] - Museu de História Natural e Cultural do Havaí Bernice Pauahi Bishop, em Honolulu, no Hawai, do qual Bengt foi curador entre 1952 e 1966.

A divulgação editar

Entre os anos 1950 e 1980, Bengt e Marie-Thérèse escreveram em parceria, várias obras publicadas em livros e roteirizadas em filmes, de conteúdo variado em torno do tema da Polinésia: de estudos, etnográficos ou históricos, a romances infantis, guias de turismo, relatos de viagens e outras obras. Registraram e escreveram o romance histórico sobre a produção artística de Gauguin na região. Ganharam destaque a organização do catálogo, com a curadoria de Bengt, para a exposição no Musée de l'Homme, em Paris, em 1972. Mais popularmente, o livro infantil Villervalle i Söderhavet (Villervalle, ilhas esquecidas nos Mares do Sul), deu origem a uma série na televisão sueca [9] e à seção "Polinésia" na Encyclopédie de la Pléiade (1973). Foram correspondentes da revista mensal Pacific Islands Monthly.


Vida e Trabalho em Moruroa editar

A partir de meados da década de 1960, o casal Danielsson ingressou na luta contra os testes nucleares no Oceano Pacífico, especialmente dos franceses nos atóis de Moruroa e Fangataufa. Os testes nucleares franceses no Pacífico começaram em 2 de julho de 1966 e duraram 30 anos. Foram 44 testes atmosféricos realizados na Polinésia Francesa, com consequências desastrosas para a população local.

Com a morte da filha Maruia (1972) vítima de câncer, doença recorrente na região, causada pelos efeitos radioativos decorrentes dos testes nucleares, e após um período de luto, a dedicação de Marie-Thérèse à causa social do movimento antinuclear foi intensificada. São notórias as publicações do casal de Moruroa, mon amour (1974) e de Moruroa, nossa bomba colonial (1993).

Eles também apoiaram os movimentos de independência das Polinésias e Bengt se indispôs junto às autoridades internacionais da Comunidade Europeia, em especial da França, resultando na suspensão de seu exequatur como cônsul honorário da Suécia, em 1978. De certa forma, este fato libertou Marie-Thérèse para a atuação política mais contundente.

Contribuições aos movimentos sociais antinucleares editar

A partir de 1966, foram realizadas 193 explosões, primeiro aéreas e depois subaquáticas, na Polinésia Francesa. Com a visibilidade dada à situação dos experimentos nucleares sendo realizados no Pacífico habitado, e a consequente pressão internacional, os testes aéreos foram suspensos. Mas, de forma ocultada, continuaram sendo realizados no subsolo. Mais de 130 testes foram realizados nos dois pequenos atóis de Moruroa e Fangataufa, sendo que o governo francês bloqueou todas as investigações e estudos independentes de seus efeitos negativos, de modo que sua extensão total dos prejuízos ainda segue sendo pesquisada e monitorada nos dias de hoje [10].

Bengt e Marie-Therese Danielsson foram colaboradores científicos e ativistas do Greenpeace. A organização Greenpeace nasceu em 1971, dentro um grupo pequeno de doze pessoas a bordo de um velho barco de pesca que partiu de Vancouver, Canadá, rumo ao Ártico, no exato contexto do movimento contra testes nucleares no Alasca. Seus descendentes atuam na organização até hoje.

Em 1986, Marie-Thérèse publicou Paraíso Envenenado [11]. Tornou-se presidente da Liga das Mulheres Polinésias para a Paz e a Liberdade (seção da WILPF, Liga Internacional de Mulheres pela Paz e Liberdade). No final da década de 1990, participou de ações em prol dos ex-trabalhadores de Moruroa e seus familiares, e esteve presente durante a criação, em julho de 2001, da associação dos ex-trabalhadores das instalações nucleares.

Em 1991, Marie-Thérèse e Bengt Danielsson receberam o prêmio Right Livelihood em Estocolmo. Marie-Thérèse foi a oradora do contundente Discurso de aceitação - Colonialismo Nuclear Francês no Pacífico [12] elaborado pelo casal.

Tendo trabalhado na Embaixada da França, Marie-Thérèse era conhecedora dos protocolos e trâmites, inclusive jurídicos, de relações internacionais. Descendente de um fundador do ramo têxtil de Vosges na França, aprendera a fazer conexões. Talvez, a referência histórica e cultural da conterrânea Joana d'Arc, tenha lhe inspirado a luta incansável.

Junto com colaboradores, foi atuante em petições de intervenções a favor da população das Polinésias, em especial do Tahiti.

PEDIDO de suspensão da execução da decisão da Comissão das Comunidades Europeias de 23 de Outubro de 1995 relativa aos ensaios nucleares franceses e de ordem à Comissão para que tome todas as medidas necessárias para preservar e proteger os direitos dos recorrentes ao abrigo do Tratado CEEA. [...] Tribunal de Primeira Instância de 22 de Dezembro de 1995. - Marie-Thérèse Danielsson, Pierre Largenteau e Edwin Haoa contra Comissão das Comunidades Europeias. - Ensaios nucleares realizados por um Estado-Membro - Pedido de medidas provisórias - Artigo 34.º do Tratado CEEA - Pedido de suspensão da execução de uma decisão da Comissão relativa a ensaios nucleares. - Processo T-219/95 R. Colectânea da Jurisprudência 1995 Página II-03051 [13]

A ação dos movimentos sociais, apoiados por pesquisadores consistentes, articulada a organismos internacionais, resultaram na assinatura do Tratado de Proibição Abrangente de Testes em 10 de setembro de 1996, mais conhecido como Comprehensive Nuclear-Test-Ban Treaty (CTBT) em inglês, que determinou a proibição completa de testes nucleares no mundo [14]. Não foram testadas mais armas nucleares na Polinésia. A base em Moruroa foi inicialmente desmantelada e, posteriormente, foram construídos memoriais em seus marcos históricos.

Existe, hoje, um reconhecimento científico e governamental das consequências nefastas do colonialismo exploratório e dos testes nucleares realizados na região [15] graças, em grande parte, às contribuições de pesquisa de Bengt e às publicações e ativismo de Marie-Thérèse Danielsson. Mas, as reinvindicações de ações reparatórias, seguem em curso [16] .

A despedida editar

No ano seguinte, Marie-Thérèse perde seu companheiro, da mesma forma que foi com sua filha, sofrendo de câncer. Bengt morreu a 4 de Julho de 1997 e foi sepultado no cemitério Östra Tollstad, na comuna de Mjölby, em Östergötland, na Suécia.

Ela não desiste e segue atuante. Mas, no começo de 2002, de volta ao Taiti após uma estada na França continental e uma visita à Nova Zelândia, Marie-Thérèse sofreu uma hemorragia cerebral (AVC) e morreu em 6 de fevereiro de 2003. Foi sepultada também em Mjölby, com Maruia e Bengt. Um memorial, em homenagem dos Danielssons, foi erguido, em 2003.

Obras de Bengt e Marie-Thérèse Danielsson editar

Publicações em francês editar

  • Marie-Thérèse e Bengt Danielsson, Moruroa, notre bombe colonial, L'Harmattan, Paris, 1993.
  • Bengt Danielsson, Papeete, 1818-1990, Papeete, 1990.
  • Marie-Thérèse e Bengt Danielsson, Tahiti Anteriormente, Éditions Hibiscus, Papeete, 1982.
  • Philippe Mazellier (dir.), Jean-Marie Dallet, Christian Gleizal e Jean-Louis Saquet, Le Mémorial polynesien, volume 6: 1940-1961, Éditions Hibiscus, Papeete, 1977.
  • Philippe Mazellier (dir.), Jean-Marie Dallet e Bengt Danielsson, Le Mémorial polynesien, volume 5: 1914-1939, Éditions Hibiscus, Papeete, 1978
  • Philippe Mazellier (dir.), Le Mémorial polynesien, volume 4: 1892-1913, Éditions Hibiscus, Papeete, 1978
  • Philippe Mazellier (dir.), Eric Monod, Bengt e Marie-Thérèse Danielsson, Le Mémorial polynesien, volume 3: 1864-1891, Éditions Hibiscus, Papeete, 1978
  • Philippe Mazellier (dir.), Eric Monod, Bengt e Marie-Thérèse Danielsson, Le Mémorial polynesien, volume 2: 1534-1863, Éditions Hibiscus, Papeete, 1978
  • Philippe Mazellier (dir.), Eric Monod, Bengt e Marie-Thérèse Danielsson, Le Mémorial polynesien, volume 1: 1521-1833, Éditions Hibiscus, Papeete, 1978
  • Bengt Danielsson, Taiti: guia para passear pela ilha, Pacific Publishing House, Papeete, 1976.
  • Marie-Thérèse e Bengt Danielsson, Moruroa, mon amour, Stock, Paris, 1974. Prefácio de Jean-Jacques Servan-Schreiber.
  • Marie-Thérèse e Bengt Danielsson, Gauguin à Tahiti, Société des Océanistes (coleção "Arquivos do Taiti"), Paris, 1973.
  • Bengt Danielsson, Polinésia, Gallimard (em “Regional Ethnology”, Encyclopédie de la Pléiade), Paris, 1972.
  • Marie-Thérèse e Bengt Danielsson, A descoberta da Polinésia, Sociedade dos Amigos do Musée de l'Homme, 1972 (Catálogo da exposição de20 de janeiro no 15 de junho de 1972)
  • Anne Lavondès e Bengt Danielsson, Jogos e esportes antigos no Pacífico / Jogos e esportes antigos no Pacífico, Maison de la Culture de Polynesésie française, Papeete, 1971. Bilingue.
  • Marie-Thérèse e Bengt Danielsson, Taiti na época de Gauguin, Papeari, 1968.
  • Patrick O'Reilly e Bengt Danielsson, Gauguin, jornalista no Taiti e seus artigos no “Guêpes”, Société des Océanistes, Paris, 1966.
  • Henry Adams, Memórias de Arii Taimai, Sociedade de Oceanistas, Museu do Homem, 1964. Traduzido do inglês (Memórias de Arii Taimai). Prefácio de Marie-Thérèse e Bengt Danielsson

Traduzido para o francês editar

  • Marie-Thérèse e Bengt Danielsson, Gauguin no Taiti e nas Ilhas Marquesas, Éditions du Pacifique, Papeete, 1975. (Presses-Pocket (coleção “Agora”), Paris, 1988). Traduzido do sueco (Gauguins Söderhavsår,1964).
  • Bengt Danielsson, Le Dernier Rendez-vous d' Eric de Bisschop, Julliard, Paris, 1962. Traduzido do inglês (From Raft to Raft, 1960, do sueco: Det stora vågspelet, 1959)
  • Bengt Danielsson, Villervalle dans les mers du sud, Éditions GP (coleção “Rouge et Or”), Paris, 1960. Traduzido do sueco (Villervalle i Söderhavet, 1957).
  • Marie-Thérèse e Bengt Danielsson, Expedition boumerang, Albin Michel, Paris, 1960. Romance traduzido do sueco (Bumerang, 1956).
  • Bengt Danielsson, L'Amour dans les mers du Sud, Stock, Paris, 1957. Traduzido do inglês (Love in the South Seas, 1956, do sueco: Söderhavskärlek, 1954).
  • Bengt Danielsson, Raroia, trabalho e vida em um atol de Tuamotu, estudo de aculturação na Oceania Francesa, edição eletrônica Arapo.org, Papeete, 2004. Traduzido do inglês:
  • Bengt Danielsson, Work and Life on Raroia. Um Estudo de Aculturação do Grupo Tuamotu, Polinésia Francesa, Almqvist & Wiksells, Uppsala, 1955; Saxon & Lindström, Estocolmo, 1955; Allen e Unwin, Londres, 1956; MacMillan, New-York, 1956. Tese de doutorado (Ph. D.).
  • Bengt Danielsson (tradução do sueco), [“Den Lyckliga Ön”], Paris, Albin Michel, 1953

Ligações externas editar

  • Site Arapo.org : dedicado a Marie-Thérèse Danielsson, mas também evoca Bengt e Maruia; oferece alguns dos livros da bibliografia (sob demanda por e-mail).

Referências editar

  1. «Grundläggande förutsättningar för additionella nordiska satsningar i anknytning till relevanta IFIs». dx.doi.org. 28 de agosto de 2007. Consultado em 20 de março de 2022 
  2. «Histoire de la société TMT - Tissage Mouline Thillot». Tissage Mouline Thillot - TMT (em francês). Consultado em 20 de março de 2022 
  3. «Les grandes périodes de l'industrie textile dans les Vosges». galeries.limedia.fr (em francês). Consultado em 20 de março de 2022 
  4. Webmaster. «Hiro'a n°162 – Le saviez-vous ? Bengt et Marie-Thérèse Danielsson: regard sur les Marquises» (em francês). Consultado em 20 de março de 2022 
  5. «DOCU. Marie-Thérèse et Bengt Danielsson, de l'expédition du Kon-tiki au militantisme anti-nucléaire en Polynésie». Outre-mer la 1ère (em francês). Consultado em 20 de março de 2022 
  6. «Kringla - Danielsson, Marie-Thérèse». Kringla (em sueco). Consultado em 20 de março de 2022 
  7. «Library and Archives – Bishop Museum» (em inglês). Consultado em 20 de março de 2022 
  8. «Bishop Museum – The Hawaiʻi State Museum of Natural and Cultural History» (em inglês). Consultado em 20 de março de 2022 
  9. Sweden, Sveriges Television AB, Stockholm, Villervalle i Söderhavet (em sueco), consultado em 20 de março de 2022 
  10. «Disclose.ngo». Disclose.ngo (em francês). Consultado em 20 de março de 2022 
  11. Förgiftat paradis - Deichman.no (em norueguês). [S.l.: s.n.] 
  12. «Acceptance speech - Marie-Thérèse and Bengt Danielsson». Right Livelihood (em inglês). Consultado em 20 de março de 2022 
  13. «EUR-Lex - 61995B0219 - EN». European Court reports 1995 Page II-03051; (em inglês). Consultado em 20 de março de 2022 
  14. «Tratado de Proibição Completa dos Testes Nucleares (CTBT) – 10 de setembro de 1996 » Relações Exteriores». 10 de setembro de 2021. Consultado em 20 de março de 2022 
  15. «French nuclear tests contaminated 110,000 in Pacific, says study». BBC News (em inglês). 9 de março de 2021. Consultado em 20 de março de 2022 
  16. «Disclose.ngo». Disclose.ngo (em francês). Consultado em 20 de março de 2022