Via Náutica

projeto de sistema de transporte hidroviário em Salvador, Bahia, Brasil

Via Náutica (por vezes Via Náutica de Salvador) é um projeto de sistema de transporte hidroviário de passageiros em Salvador, município capital do estado brasileiro da Bahia. A proposta previu uma série de paradas ao longo do litoral do município voltado à Baía de Todos-os-Santos. A finalidade inicial foi formar um circuito hidroviário de pontos turísticos, se apresentando, portanto, mais como um sistema de transporte para recreação náutica. Algumas versões posteriores do projeto tentaram atender ao transporte público, direcionando-o para ser também um transporte de massa, para a circulação cotidiana das pessoas.[1][2] Desde sua concepção em 1999, tanto o Governo do Estado da Bahia, quanto a Prefeitura Municipal de Salvador já se propuseram a concretizar o projeto.[1][2][3]

Via Náutica

Vista do Píer de Humaitá em 2019, inaugurado em 2001, como primeira entrega do projeto Via Náutica.
Informações
Proprietário Prefeitura Municipal de Salvador
Local Salvador, Bahia, Brasil
Tipo de transporte transporte hidroviário

Estão em funcionamento apenas as travessias entre os terminais de Plataforma e Ribeira, regulada pela Prefeitura, e entre Sâo Tomé de Paripe e Itamoabo, na Ilha de Maré (bairro insular soteropolitano).[4][5][6] Entretanto, a ideia do projeto permanece em outras ações e proposições governamentais para essa parte de Salvador,[4] pendendo entre traçados voltados mais ao turismo e lazer (entre a Barra e a Ribeira, por exemplo)[7] e traçados com um papel dentro do transporte público (por exemplo, ligação das ilhas e Subúrbio Ferroviário às áreas centrais da cidade).[2][8] Nesse sentido, os ancoradouros concebidos como paradas variaram ao longo do tempo e incluíram: Ilha de Maré, São Tomé de Paripe, Plataforma, Ribeira, Bonfim/Baixa do Bonfim, Ponta de Humaitá/Monte Serrat, Calçada, Água de Meninos/São Joaquim, Comércio/Terminal da França/Porto de Salvador/Terminal Náutico da Bahia, Solar do Unhão, Gamboa/Forte de São Paulo da Gamboa, Bahia Marina, Porto da Barra/Santa Maria, além de um ponto de manutenção para as embarcações entre a Feira de São Joaquim e o Centro Múltiplo Oscar Cordeiro.[1][9][3][10]

História editar

 
Terminal Marítimo de Plataforma visto do trem em 2014
 
Terminal na Ribeira, banhado pela Enseada dos Tainheiros em 2018
 
Vista aérea do píer do Solar do Unhão em 2015
 
Área da Rampa do Mercado Modelo e o Terminal Náutico da Bahia ao fundo (fachada azul e branca) em 2010
 
Construção em pedra ao lado do Forte de Santa Maria, na praia do Porto da Barra, em 2023

Com as águas calmas da Baía de Todos-os-Santos, para além dos saveiros, desenvolveu-se historicamente uma série de linhas aquaviárias para transporte de pessoas e cargas que abrangiam não só Salvador, que se projetava como cidade portuária.[5] A Companhia de Navegação Baiana operou a partir de 1865 a linha de navegação de cabotagem desde a Península de Itapagipe até a Barra (passando por paradas em Jiquitaia, Água de Meninos, Roma e Bonfim).[5] A linha foi ampliada em 1873 em ambas as extremidades, alcançando São Tomé de Paripe e Boca do Rio (bairro banhado pelo Oceano Atlântico).[5] A travessia entre os bairros de Plataforma e da Ribeira, por exemplo, era feita por lanchas até 1986, quando o serviço foi interrompido, dificultando também o acesso ao sistema de trens urbanos com estação em Plataforma.[2]

Entre 1999 e 2000, os governos municipal e estadual lançaram o projeto Via Náutica pensando a promoção do turismo na cidade principalmente, no escopo do Programa de Desenvolvimento do Polo Náutico de Salvador.[3][11] Cada ancoradouro das nove paradas (Barra, Gamboa, Unhão, Bahia Marina, Porto, Águas de Meninos, Humaitá, Bonfim e Ribeira) ao longo dos 15 quilômetros da Via Náutica foi associado a um sítio ou monumento histórico de apelo "vocacional" turístico, a ser também recuperado dentro do projeto.[11][7] Ao governo estadual coube a execução da obra do píer da Ponta de Humaitá, incluindo a requalificação urbana da área próxima, cuja inauguração ocorreu em janeiro de 2001; enquanto coube à Prefeitura o restante do sistema, seja com recursos próprios ou captando com a iniciativa privada.[3][12][11] O transporte turístico por catamarãs então concebido foi orçado em 34 milhões de dólares estadunidenses à época e a conclusão prevista para 2002.[11][7] Ficou de fora dessa previsão o cais do Porto de Salvador, por depender de aprovação federal da Companhia das Docas do Estado da Bahia (CODEBA), enquanto o cais do Humaitá e da Bahia Marina (esta com recursos privados) já estavam concluídos.[11] Os cais de Água de Meninos e do Solar do Unhão seriam as entregas seguintes após a inauguração do Humaitá.[7] Contudo, o projeto em geral não teve recursos previstos no orçamento público ou captados de fora e enfrentou problemas no licenciamento ambiental e no patrimônio histórico,[3] sem falar nos casos específicos com a CODEBA[11] e com desapropriações na Gamboa.[13]

A Via Náutica constou no mapa de 2002 das proposições e diretrizes espaciais para o transporte público de passageiros e sistema integrado de transporte coletivo (STIC) como anexo ao Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do Município de Salvador (PDDU) daquele período.[14] Assim, entre 2005 e 2006, já sob outra gestão, a Prefeitura redesenhou o projeto: anunciou o trecho Ribeira-Plataforma como o primeiro da operação da Via Náutica (a despeito do píer de Humaitá inaugurado), a conclusão do projeto seria em três anos e foi caracterizado como menos turístico em comparação ao desenho anterior (atribuído ao Governo Estadual) ao excluir paradas ao sul do Comércio (nomeadamente os píeres de Santa Maria, na praia do Porto da Barra, e do Solar do Unhão).[2] Durante a campanha eleitoral municipal de 2008, o projeto voltou à tona, mas seguiu sem novos avanços na gestão seguinte.[3][9]

O Governo do Estado da Bahia lançou em 2010 o Plano Estratégico do Turismo Náutico na Baía de Todos-os-Santos, no qual previu a readequação, reativação e implantação da Via Náutica como uma ação de investimento para o médio e longo prazo.[15] Em 2012, ao lançar o Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável do Polo Baía de Todos-os-Santos, no âmbito do Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR), destacou a Via Náutica como uma oportunidade em termos de infraestrutura para incrementar o turismo náutico da Baía de Todos-os-Santos e listou-a como "prioridade A" (primeiro nível de prioridade do plano) orçada em orçada em um valor estimado de dois milhões de reais[16] Em 2013, o Plano Diretor do Sistema de Transporte Hidroviário Intermunicipal de Passageiros e Veículos da Bahia de Todos os Santos (SHI) desenhou a Via Náutica de Salvador como uma linha hidroviária de deslocamento alternativo ao Sistema de Transporte Coletivo por Ônibus de Salvador (STCO) e de alívio para o carregamento das vias terrestres urbanas.[17] Traçou o trajeto com paradas no Porto da Barra, Terminal Turístico Náutico da Bahia (TTNB), Terminal Marítimo da Ribeira, Terminal Marítimo de Plataforma e Terminal Marítimo de São Tomé de Paripe, realizado em médio de 70 minutos a uma velocidade de 15 quilômetros por hora.[17] A análise da demanda por transporte à época projetou a transferência de 2% dos passageiros do STCO, ou seja, a linha seria usada por cerca de 1400 passageiros por dia.[17] Além disso, estimou que a transferência poderia ser maior com a operação da linha por embarcações de velocidade média superior aos 18 nós.[17]

Ainda na década de 2010, o projeto voltou aos planos municipais com pontos de cabotagem semelhantes, mas sem o mesmo nome.[9] O PDDU de 2016 (ainda vigente) previu a "implementação dos atracadouros/píeres vinculados a via náutica da Baía de Todos os Santos" como diretriz para o transporte marítimo.[18] Na gestão 2021-2024, a Prefeitura retomou o projeto ao criar e dar posse ao Comitê Náutico de Salvador.[19] O projeto ficou a cargo da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), com apoio do PRODETUR e com investimentos previstos de cinco milhões de reais para a implantação do sistema, incluindo recuperação de píeres.[19][20] O projeto passou a almejar a conexão dos píeres de Santa Maria, da Praça Cairu e da Ponta de Humaitá e começou pelo primeiro, localizado na praia do Porto da Barra, ao lado do Forte de Santa Maria.[21][22] Nessa mais recente versão do projeto, o turismo permanece como prioridade,[21] dentro de um escopo de desenvolvimento da "economia náutica", mas mencionando também a finalidade do sistema para o transporte público.[22]

Ver também editar

Referências

  1. a b c Santana, Mario Rubem Costa (2006). O espaço urbano em construção : as redes técnicas na Cidade do Salvador do século XXI (Tese de Doutorado). Salvador: Universidade Federal da Bahia 
  2. a b c d e «Via Náutica começa a operar em abril». A TARDE. 3 de janeiro de 2006. Consultado em 20 de dezembro de 2023 
  3. a b c d e f Brito, George (25 de setembro de 2011). «Pier de R$ 800 mil da Via Naútica está abandonado». A TARDE. Consultado em 20 de dezembro de 2023 
  4. a b Fundação Mário Leal Ferreira (2021). «Plano de Bairros de Itapagipe» (PDF). Consultado em 20 de dezembro de 2023 
  5. a b c d Lisiak, Janaína (24 de agosto de 2022). «Desmonte da cidade portuária: um olhar sobre o potencial marítimo em Salvador». ObMob Salvador. Consultado em 20 de dezembro de 2023 
  6. Caribé, Daniel (6 de dezembro de 2021). «O descaso com a mobilidade marítima em Salvador». ObMob Salvador. Consultado em 20 de dezembro de 2023 
  7. a b c d Matos, Renata (2 de janeiro de 2001). «Novos caminhos da Baía» (PDF). Aqui Salvador. Correio da Bahia: 9. Consultado em 21 de dezembro de 2023 
  8. Lissonger, André Luiz Ferreira; Silva, Ariadne Moraes (setembro de 2000). «ANTEPROJETO DE ARQUITETURA E URBANIZAÇÃO. ÁREA ESTRUTURANTE I – PLATAFORMA. SUBÚRBIO FERROVIÁRIO DE SALVADOR. Produto final: parte V / VI. Caderno de apresentação de negócios urbanos» (PDF). Fundação Mário Leal Ferreira. Consultado em 21 de dezembro de 2023 
  9. a b c Lisiak, Janaína (2020). O limiar em disputa: produção do espaço litorâneo de Salvador (BA) (Dissertação de mestrado). Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais 
  10. VALDEJÃO, RENATA DE GÁSPARI (4 de junho de 2001). «Marina baiana recebe eventos internacionais». Folha de S.Paulo. Consultado em 21 de dezembro de 2023 
  11. a b c d e f VALDEJÃO, RENATA DE GÁSPARI (4 de junho de 2001). «Salvador deverá ter ligação entre pontos turísticos pelo mar». Folha de S.Paulo. Consultado em 21 de dezembro de 2023 
  12. Alfaya, Taiz (julho de 2005). «Turismo em Itapagipe: alavanca para o desenvolvimento» (PDF). Jornal Itapagipe (1): 2. Consultado em 20 de dezembro de 2023 
  13. Oliveira, Cláudia (1 de dezembro de 2001). «Gamboa mostra beleza e contraste social» (PDF). A Tarde. Consultado em 21 de dezembro de 2023 
  14. Fundação Mário Leal Ferreira (2002). «Pranchas A0: parte 1» (PDF). p. 4. Consultado em 21 de dezembro de 2023 
  15. Bahia. Secretaria de Turismo. Superintendência de Investimentos em Polos Turísticos (2010). Plano Estratégico do Turismo Náutico na Baía de Todos-os-Santos (PDF). Salvador: SETUR, FPC. 132 páginas. ISBN 9788561458263 
  16. Secretaria de Turismo do Estado da Bahia (maio de 2012). «Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável do Polo Baía de Todos-os-Santos – Prodetur Nacional/BA» (PDF). Salvador. Consultado em 21 de dezembro de 2023 
  17. a b c d «Plano Diretor do Sistema de Transporte Hidroviário Intermunicipal de Passageiros e Veículos da Baía de Todos os Santos» (PDF). Salvador: Secretaria de Infraestrutura do Estado da Bahia (Seinfra). 2013. Consultado em 21 de dezembro de 2023 
  18. SALVADOR, Lei nº 9069, de 2016. Dispõe sobre o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do Município de Salvador - PDDU 2016 e dá outras providências.
  19. a b «Prefeitura vai investir R$ 5 milhões na recuperação dos píer». Muita Informação. 26 de julho de 2021. Consultado em 21 de dezembro de 2023 
  20. Secretaria Municipal de Cultura e Turismo. «Comitê Náutico». Consultado em 20 de dezembro de 2023 
  21. a b Silva, Luciana (1 de novembro de 2022). «Comitê Náutico de Salvador investe no potencial econômico da Baía de Todos-os-Santos». Agência de Notícias. Consultado em 21 de dezembro de 2023 
  22. a b Novaes, Raylane Reinaldo Pontes (26 de julho de 2021). «Salvador iniciará desenvolvimento econômico náutico». Agência de Notícias. Consultado em 21 de dezembro de 2023 

Ligações externas editar