Arapaçu-de-bico-de-cunha

Arapaçu-de-bico-de-cunha[4] (nome científico: Glyphorynchus spirurus) é uma ave passeriforme da família dos furnariídeos (Furnariidae). Provavelmente se divide em mais de uma espécie.[5]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaArapaçu-de-bico-de-cunha
Espécime avistado no Santuário de Aves do Silanche, no noroeste do Equador
Espécime avistado no Santuário de Aves do Silanche, no noroeste do Equador
Espécime avistado em 2008
Espécime avistado em 2008
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Passeriformes
Família: Furnariidae
Género: Glyphorynchus
(Wied, 1831)[2]
Espécie: G. spirurus
Nome binomial
Glyphorynchus spirurus
(Vieilott, 1819)[3]
Distribuição geográfica
Distribuição do arapaçu-de-bico-de-cunha na América Central e América do Sul
Distribuição do arapaçu-de-bico-de-cunha na América Central e América do Sul
Sinónimos
  • Neops spirurus

Etimologia editar

Arapaçu é um termo de origem tupi, derivado de arapa'su e utilizado em sentido pela primeira vez em 1949 para designar várias aves brasileiras.[6]

Distribuição editar

As numerosas subespécies do arapaçu-de-bico-de-cunha estão distribuídas, às vezes de forma desarticulada, do sul do México, passando por Belize, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Colômbia, ao leste pela Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa, ao sul pelo Equador, Peru, quase toda a Amazônia brasileira, até o centro da Bolívia, e uma população isolada no leste do Brasil, no bioma da Mata Atlântica.[7] É principalmente uma espécie residente, mas pode se dispersar localmente. Por exemplo, um indivíduo migratório foi observado em 12 de maio de 1998 em Cerro Campana, El Salvador, o primeiro registro da espécie naquele país.[8] Esta espécie é considerada comum e amplamente disseminada em seu habitat natural: na vegetação rasteira de florestas úmidas, principalmente nas planícies até mil metros de altitude, algumas podem chegar a dois mil metros.[5]

Descrição editar

O arapaçu-de-bico-de-cunha distingue-se facilmente de seus parentes por seu pequeno tamanho, já que é o menor dentre os membros do gênero Glyphorynchus, e seu bico distinto. Geralmente tem cerca de 14 a 15 centímetros de comprimento e pesa cerca de 14 a 16 gramas. A parte superior do corpo é marrom, com listras finas em ambos os lados da cabeça, um supercílio amarelo e uma garupa castanha. A garganta também é amarela e o resto do lado de baixo é castanho mosqueado, especialmente no peito. Quando voa, mostra uma faixa castanha sob as asas. Os jovens apresentam um tom mais apagado e uniforme e com menos marcas. O bico curto é muito diferente em forma deus parentes, em forma de cunha e arrebitado, quase como Xenops.[7] As penas da cauda terminam em espigas salientes muito longas, proporcionalmente as mais longas entre os Glyphorynchus.[5]

Sistemática editar

A espécie G. spirurus foi descrita pela primeira vez pelo naturalista francês Louis Jean Pierre Vieillot em 1819 sob o nome científico Neops spirurus; sua localidade tipo é: "América do Sul = "Caiena"".[7] O gênero monotípico Glyphorynchus foi proposto pelo naturalista alemão Maximilian zu Wied-Neuwied em 1831.[2] O nome masculino do gênero Glyphorynchus é composto pelas palavras gregas γλυφις (gluphis) e γλυφιδος (gluphidos), "cinzel", e ῥυγχος (rhunkhos), "bico", que significa "com um bico como um cinzel";[9] O nome da espécie spirurus é composto pelas palavras gregas σπειρα (speira), espiral, e ουρος (ouros), "cauda", que significa "com a cauda em espiral".[10]

Conservação editar

Sua população é estimada dentro da faixa de 500 mil a cinco milhões de indivíduos e está, pelas projeções, em declínio devido à perda de habitat. Apesar disso, dada sua ampla distribuição, é considerado como pouco preocupante na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN / IUCN).[1] Em 2005, foi classificado como vulnerável na Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo;[11] E em 2018, como pouco preocupante na Lista Vermelha do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).[12][13]

Taxonomia editar

As diferenças marcantes nos vários tipos de cantos e as plumagens bem diferenciadas sugerem a existência de mais de uma espécie no presente; entretanto, dados moleculares mostram fluxo gênico entre subespécies vizinhas morfologicamente distintas. Uma análise recente de espécimes de 63 localidades em oito áreas de endemismo na Amazônia separadas por grandes rios indica a existência de linhagens alopátricas com alto grau de diferenciação genética nas margens opostas desses grandes rios, com alto nível de diferenciação genética e de parafilia evidente dentro das subespécies atualmente reconhecidas. As análises de vocalização indicam quatro grupos distintos de subespécies: o "grupo pectoralis" (Mesoamérica/Chocó); o “grupo spirurus” (oeste e norte da Amazônia/Guianas); o monotípico «grupo albigularis» (sudoeste da Amazônia); e o "grupo cuneatus" (sudeste da Amazônia a leste do rio Madeira). A subespécie proposta G. s. sublesto (J. L. Peters, 1929) (do sul da América Central) está incluído em pectoralis.[7]

Subespécies editar

Segundo as classificações do Congresso Ornitológico Internacional (IOC)[14] e a lista de Clements / eBird v.2019,[15] são reconhecidas treze subespécies, divididas em quatro grupos, com sua distribuição geográfica correspondente:[7]

  • Grupo politípico pectoralis, arapaçu-de-bico-de-cunha-do-norte:
    • Glyphorynchus spirurus pectoralis (P. L. Sclater & Salvin, 1860) – do sul do México (sul de Veracruz, norte de Oaxaca, Chiapas, principalmente na encosta do Caribe), centro da Guatemala (encosta do Caribe, raramente em Petén) e Belize ao sul da Costa Rica (ambas as encostas) e centro e oeste do Panamá (na encosta caribenha de leste a leste de Colón, na encosta do Pacífico a oeste de Chiriquí).
    • Glyphorynchus spirurus pallidulus (Wetmore, 1970) – leste do Panamá (encosta caribenha do sudeste de Colón a leste através de São Blas, encosta do Pacífico do leste da província do Panamá ao norte de Darién) e adjacente ao noroeste da Colômbia (norte de Chocó).
    • Glyphorynchus spirurus subrufescens (Todd, 1948) – Litoral pacífico do sudeste do Panamá (vale do rio Jaqué no sudoeste de Darién), oeste da Colômbia (norte de Chocó e Antioquia ao sul de Narinho, também nos vales superiores do Atrato e São João) e oeste do Equador (ao noroeste de Guaias e sudeste de El Oro).
    • Glyphorynchus spirurus integratus (J. T. Zimmer, 1946) – norte da Colômbia (alto rio Sinú a leste até o médio vale do Madalena e sul a oeste de Boiacá, também a leste dos Andes de Norte de Santander ao sul de Arauca) e oeste da Venezuela (Zúlia, ao sul de Táchira, a oeste de Mérida, a noroeste de Barinas, a sudeste de Lara).
 
Glyphorynchus spirurus paraensis avistado na Serra dos Carajás, no Pará, Brasil
  • Grupo politípico spirurus, arapaçu-de-bico-cunha-central:
    • Glyphorynchus spirurus rufigularis (J. T. Zimmer, 1934) – noroeste da Amazônia ao norte do rio Amazonas, do centro da Colômbia (sul de Meta e Vichada) e sul da Venezuela (sul de Bolívar, Amazonas) do sul ao nordeste do Equador (alto rio Napo) e noroeste do Brasil (leste até a margem leste do alto rio Negro e à margem oeste do baixo rio Negro).
    • Glyphorynchus spirurus amacurensis (Phelps, Sr & Phelps, Jr, 1952) – nordeste da Venezuela (Sucre, Delta Amacuro).
    • Glyphorynchus spirurus spirurus (Vieillot, 1819) – nordeste da Amazônia ao norte do rio Amazonas, no leste da Venezuela (nordeste de Bolívar), nas Guianas e no norte do Brasil (do baixo rio Negro a leste até o Amapá).
    • Glyphorynchus spirurus coronobscurus (Phelps, Sr & Phelps, Jr, 1955) – Pico da Neblina (acima de 1 400 metros), no sul da Venezuela (sudoeste do Amazonas).
    • Glyphorynchus spirurus castelnaudii (Des Murs, 1856) – Amazônia ocidental ao sul do rio Amazonas e rio Napo, no leste e nordeste do Peru (sul de Junim) e oeste do Brasil (leste do rio Madeira).
  • Grupo monotípico albigularis, arapaçu-de-bico-de-cunha-do-sul:
    • Glyphorynchus spirurus albigularis (Chapman, 1923) – sudoeste da Amazônia no sudeste do Peru (Puno) e norte da Bolívia (sul de La Paz, Cochabamba).
  • Grupo politípico Cuneatus, Arapaçu-de-bico-de-cunha-oriental:
    • Glyphorynchus spirurus inornatus (J. T. Zimmer, 1934) – sul da Amazônia brasileira (sul do Amazonas, do Madeira a leste até o Tapajós e sul ao sudoeste de Mato Grosso) e nordeste da Bolívia (nordeste de Santa Cruz).
    • Glyphorynchus spirurus paraensis (Pinto, 1974) – sudeste da Amazônia brasileira ao sul do Amazonas, Tapajós leste ao norte do Maranhão (incluindo a ilha de Marajó).
    • Glyphorynchus spirurus cuneatus (M. H. C. Lichtenstein, 1820) – costa leste do Brasil (norte da Bahia até o norte do Espírito Santo).

Referências

  1. a b BirdLife International (2020). «Glyphorynchus spirurus». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2020: e.T22703043A140070412. doi:10.2305/IUCN.UK.2020-3.RLTS.T22703043A140070412.en . Consultado em 22 de abril de 2022 
  2. a b Wied-Neuwied, M. zu (1830–1831). «Glyphorynchus, descripción original, p.1149». Beiträge zur Naturgeschichte von Brasilien. Band III erste Abtheilung. Aves Vögel, 1278 pp. Pt.1, 1830: pp. i-xii, 1-636; Pt.2, 1831: pp. 637-1278. Veimar: Gr. H.S. priv. Landes-Industrie-Comptoirs. doi:10.5962/bhl.title.3088 
  3. Vieillot, L. J. P. (1819). «Neops spirurus, descripción original p. 338». Nouveau Dictionnaire d’Histoire naturelle, appliquée aux arts, à l'agriculture, à l'économie rurale et domestique, à la médecine, etc. 31. Paris: Deterville 
  4. Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 191. ISSN 1830-7809. Consultado em 13 de janeiro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 23 de abril de 2022 
  5. a b c Ridgely, Robert; Tudor, Guy (2009). «Glyphorynchus spirurus, p. 316, lámina 15(6)». Field guide to the songbirds of South America: the passerines. Col: Mildred Wyatt-World series in ornithology 1.ª ed. Austin: Imprensa da Universidade do Texas. ISBN 978-0-292-71748-0 
  6. Grande Dicionário Houaiss, verbete arapaçu
  7. a b c d e Marantz, C. A.; Aleixo, A.; Bevier, L. R.; Patten, M. A.; Christie, D. A. (2020). «Wedge-billed Woodcreeper (Glyphorynchus spirurus), version 1.0». In: del Hoyo, J.; Elliott, A.; Sargatal, J.; Christie, D. A.; Juana, E. de Juana. Birds of the World. Ítaca, Nova Iorque: Laboratório Cornell de Ornitoloia. doi:10.2173/bow.webwoo1.01 
  8. Herrera, N.; Rivera, R.; Portillo, R. Ibarra; Rodríguez, W. (2006). «Nuevos registros para la avifauna de El Salvador [New records for the avifauna of El Salvador» (PDF). Boletín de la Sociedad Antioqueña de Ornitología. 16 (2): 1-19 
  9. Jobling, J. A. (2019). «Glyphorynchus». In: del Hoyo, J.; Elliott, A.; Sargatal, J.; Christie, D. A.; de Juana, E. Handbook of the Birds of the World Alive. Barcelona: Lynx Edicions 
  10. Jobling, J. A. (2019). «spirurus». In: del Hoyo, J.; Elliott, A.; Sargatal, J.; Christie, D. A.; de Juana, E. Handbook of the Birds of the World Alive. Barcelona: Lynx Edicions 
  11. «Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo». Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), Governo do Estado do Espírito Santo. Consultado em 7 de julho de 2022. Cópia arquivada em 24 de junho de 2022 
  12. «Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção» (PDF). Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente. 2018. Consultado em 3 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 3 de maio de 2018 
  13. «Glyphorynchus spirurus (Vieillot, 1904)». Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Consultado em 19 de abril de 2022. Cópia arquivada em 9 de julho de 2022 
  14. Gill, F.; Donsker, D. «Ovenbirds & woodcreepers». IOC – World Bird List. Consultado em 16 de abril de 2022 
  15. Clements, J. F.; Schulenberg, T. S.; Iliff, M. J.; Roberson, D.; Fredericks, T. A.; Sullivan, B. L.; Wood, C. L. (2018). The eBird/Clements checklist of birds of the world. Ítaca, Nova Iorque: Laboratório Cornell de Ornitologia