Burrhus Frederic Skinner

psicólogo e filósofo
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Burrhus Frederic Skinner, conhecido como B. F. Skinner (Susquehanna, 20 de março de 1904Cambridge, 18 de agosto de 1990), foi um psicólogo behaviorista, inventor e filósofo norte-americano. Foi professor na Universidade Harvard de 1958 até sua aposentadoria, em 1974.[1][2][3][4]

Burrhus Frederic Skinner
Burrhus Frederic Skinner
Condicionamento operante
Behaviorismo Radical
Análise do comportamento aplicada
Nascimento Burrhus Frederic Skinner
20 de março de 1904
Susquehanna, Pensilvânia, Estados Unidos
Morte 18 de agosto de 1990 (86 anos)
Cambridge, Massachusetts, Estados Unidos
Residência Estados Unidos
Sepultamento Cemitério de Mount Auburn
Nacionalidade Estadunidense
Cidadania Estados Unidos
Cônjuge Yvonne (Eve) Blue (1936–1990)
Filho(a)(s) Julie Vargas, Deborah Buzan
Alma mater Hamilton College
Universidade Harvard
Ocupação psicólogo, filósofo, inventor, etólogo, autobiógrafo, professor universitário, escritor
Prêmios
  • Bolsa Guggenheim (1942)
  • Howard Crosby Warren Medal (1942)
  • Humanista do Ano (1972)
  • Prêmio APA por Destacadas Contribuições Científicas para a Psicologia (1958)
  • Medalha Nacional de Ciências (1968)
  • Prêmio E. L. Thorndike (1966)
  • Career Contribution Award (1972)
  • Gold Medal Award (1971)
  • Prêmio William James (1989)
  • APA Award for Outstanding Lifetime Contributions to Psychology (1990)
  • doctor honoris causa of Keiō University
  • Fellow of the Committee for Skeptical Inquiry
Empregador(a) Universidade Harvard, Universidade de Minnesota, Universidade de Chicago
Instituições Universidade de Minnesota
Universidade de Indiana
Universidade Harvard
Campo(s) Psicologia, linguística, filosofia
Obras destacadas The Behavior of Organisms, Beyond Freedom and Dignity
Causa da morte leucemia
Assinatura

Skinner considerava o livre arbítrio uma ilusão e ação humana dependente das conseqüências de ações anteriores (Reforço). Se as conseqüências fossem ruins, havia uma grande chance de a ação não ser repetida; se as conseqüências fossem boas, a probabilidade de a ação ser repetida se torna mais forte. Skinner chamou isso de princípio de reforço.[5]

Para fortalecer o comportamento, Skinner usou o condicionamento operante e considerou a taxa de resposta como a medida mais eficaz de força de resposta. Para estudar o condicionamento operante, ele inventou a câmara de condicionamento operante, também conhecida como Skinner Box, e, para medir a taxa, inventou o registrador cumulativo. Usando essas ferramentas, ele e C. B. Ferster produziram seu trabalho experimental mais influente, que apareceu em seu livro Schedules of Reinforcement (1957).[6]

Skinner desenvolveu a análise do comportamento, a filosofia dessa ciência que ele chamou de behaviorismo radical,[7] e fundou uma escola de pesquisa experimental em psicologia - a análise experimental do comportamento. Ele imaginou a aplicação de suas ideias no projeto de uma comunidade humana em seu romance utópico, Walden II, e sua análise do comportamento aplicada culminou em seu trabalho, Verbal Behavior. Skinner foi um autor prolífico que publicou 21 livros e 180 artigos. A academia contemporânea considera Skinner um pioneiro do behaviorismo moderno, junto com John B. Watson e Ivan Pavlov. Uma pesquisa de junho de 2002 listou Skinner como o psicólogo mais influente do século XX.[8]

Vida editar

Frequentou o mesmo ginásio onde seus pais haviam estudado; havia apenas sete outros alunos em sua sala ao final do curso. Ele gostava da escola e era o primeiro a chegar todas as manhãs. Quando criança e adolescente, gostava de construir coisas: trenós, carrinhos, jangadas, carrosséis, atiradeiras, modelos de aviões e até um canhão a vapor com o qual atirava buchas de batata e cenoura nos telhados dos vizinhos. Passou anos tentando construir uma máquina de movimento perpétuo. Também tinha interesse pelo comportamento dos animais. Lia muito sobre eles e mantinha tartarugas, cobras, lagartos, sapos e esquilos listrados. Numa feira rural, ele observou certa feita, um bando de pombos numa apresentação; anos mais tarde, ele treinaria essas aves para realizar uma variedade de comportamentos.

O sistema de psicologia de Skinner é sob muitos aspectos um reflexo das suas primeiras experiências de vida. Ele considerava a vida um produto de reforços passados e afirmava que sua própria vida fora tão predeterminada, organizada e ordeira quanto seu sistema ditava que todas as vidas humanas fossem.

A conselho de um amigo de família, Skinner se matriculou no Hamilton College de Nova York. Ele escreveu:

"Nunca me adaptei à vida de estudante. Ingressei numa fraternidade acadêmica sem saber do que se tratava. Não era bom nos esportes e sofria muito quando as minhas canelas eram atingidas no hóquei sobre o gelo ou quando melhores jogadores de basquete faziam tabela na minha cabeça… Num artigo que escrevi no final do meu ano de calouro, reclamei de que o colégio me obrigava a cumprir exigências desnecessárias (uma delas era a presença diária na capela) e que quase nenhum interesse intelectual era demonstrado pela maioria dos alunos. No meu último ano, eu era um rebelde declarado."

Com parte dessa revolta, Skinner instigava trotes que muito perturbaram a comunidade acadêmica e se entregava a ataques verbais aos professores e à administração. Sua desobediência continuou até o dia da graduação, quando na abertura da cerimônia, o diretor o alertou, e aos seus amigos, que, se não se comportassem, não colariam grau.

Ele se formou em inglês, recebeu a chave simbólica da Phi Beta Kappa e manifestou o desejo de tornar-se escritor. Quando criança, tinha escrito poemas e histórias, e, em 1925, num curso de verão sobre redação, o poeta Robert Frost fizera comentários favoráveis sobre seu trabalho.

Durante dois anos depois da formatura, Skinner dedicou-se a escrever. Passou um ano no Greenwich Village, mas acabou se desiludindo com sua falta de habilidade literária. Concluiu que tinha poucas experiências e que lhe faltava uma perspectiva pessoal para escrever.

Essa falta de sucesso como escritor o deixou tão desesperado que pensou em consultar um psiquiatra. Considerou-se um fracasso e estava com sua auto-estima abalada. Também estava desapontado no amor; ao menos uma meia dúzia de jovens havia rejeitado suas investidas, deixando-o com o que ele descreveu como intensa dor física. Skinner ficou tão perturbado que gravou a inicial do nome de uma mulher no braço, onde permaneceu durante anos.

Depois de ler sobre John B. Watson e Ivan Pavlov, decidiu transferir seu interesse literário pelas pessoas para um interesse mais científico. Em 1928, inscreveu-se na pós-graduação de psicologia em Harvard, embora nunca tivesse estudado psicologia antes. Foi para a pós-graduação, disse ele, "não porque fosse um adepto totalmente comprometido da psicologia, mas para fugir de uma alternativa intolerável". Comprometido ou não, doutorou-se três anos mais tarde. Seu tema de dissertação dá um primeiro vislumbre da posição a que ele iria aderir por toda a sua carreira. Sua principal proposição era de que um reflexo não é senão a correlação entre um estímulo e uma resposta. Concluiu o mestrado em 1930 e o doutorado em 1931.

Depois de vários pós-doutorados, Skinner foi dar aulas na Universidade de Minnesota (1936–45), nessa época casou-se com Yvonne Blue, com quem teve dois filhos, e na Universidade de Indiana (1945–47). Em 1947, voltou a Harvard. Seu livro de 1938, "O Comportamento dos Organismos", descreve os pontos essenciais de seu sistema inicial. Seu livro de 1953, "Ciência e Comportamento Humano", é tido como um manual básico da sua psicologia comportamentalista.

Manteve-se produtivo até a morte, aos oitenta e seis anos, trabalhando até o fim com a mesma determinação com que começara uns sessenta anos antes. Em seus últimos anos de vida, ele construiu, no porão de sua casa, sua própria "caixa de Skinner" – um ambiente controlado que propiciava reforço positivo. Ele dormia ali num tanque plástico amarelo, de tamanho apenas suficiente para conter um colchão, algumas prateleiras de livros e um pequeno televisor. Ia dormir toda noite às dez, acordava três horas depois, trabalhava por uma hora, dormia mais três horas e despertava às cinco da manhã para trabalhar mais três horas. Então, ia para o gabinete da universidade para trabalhar mais, e toda tarde retemperava as forças ouvindo música.

Aos sessenta e oito anos, escreveu um artigo intitulado "Auto-Administração Intelectual na Velhice", citando suas próprias experiências como estudo de caso. Ele mostrava que é necessário que a pessoa trabalhe menos horas a cada dia, com períodos de descanso entre picos de esforço, para que lide com o seu comportamento, que começa a falhar e ter a sua eficiência prejudicada na velhice. Doente terminal com leucemia, apresentou uma comunicação na convenção de 1990 da APA, em Boston, apenas oito dias antes de morrer; nela, ele atacava a psicologia cognitiva.

Na noite anterior à sua morte, ocorrida em 18 de agosto de 1990, estava trabalhando em seu artigo final, "Pode a Psicologia ser uma Ciência da Mente?", outra critica ao movimento cognitivo que pretendia suplantar sua definição de psicologia.

Contribuição editar

A principal contribuição de Skinner para a Psicologia foi o conceito de Comportamento Operante que descreve um tipo de relação entre as respostas dos organismos e o ambiente. Diferente da relação descrita no comportamento respondente onde um estímulo elicia/gera uma resposta, o comportamento operante descreve uma relação onde uma resposta que gera uma consequência (ou apenas é acompanhada por essa como no caso do comportamento supersticioso) tem a sua probabilidade de ocorrer novamente em um contexto semelhante modificada pelo efeito desta consequência sobre a interação. Consequências que têm valor de sobrevivência para os organismos têm as respostas que as geraram reforçadas, aumentando a probabilidade de que a mesma volte a ocorrer em um contexto semelhante, ao passo que consequências que trazem prejuízos aos organismos têm as respostas que as geraram punidas, reduzindo a probabilidade de que a mesma volte a ocorrer em um contexto semelhante. Nesse sentido, o behaviorismo radical proposto por Skinner amplia a visão mecanicista de estímulo-resposta do behaviorismo metodológico de Watson, entendendo o comportamento de organismos como uma interação complexa que envolve, além da emergência de respostas como reações aos estímulos do ambiente, três tipos de seleção: filogenética, ontogenética e cultural[9]. O primeiro nível de seleção, a seleção filogenética se refere aos repertórios compartilhados por uma mesma espécie, o qual é determinado pela história evolutiva da mesma. O segundo nível de seleção, a seleção ontogenética se refere ao repertório particular de cada indivíduo ou organismo, o qual é determinado por sua história de vida ou histórico de reforçamento. E o terceiro nível de seleção, a seleção cultural se refere ao repertório compartilhado por indivíduos de uma mesma cultura, sendo este de maior importância para compreender o comportamento humano e de outros animais que apresentam algum tipo de comportamento social. Nenhum pensador ou cientista do século XX levou tão longe a crença na possibilidade de controlar e moldar o comportamento humano como o norte-americano Burrhus Frederic Skinner (1904-1990). Sua obra é a expressão mais célebre do behaviorismo, corrente que dominou o pensamento e a prática da psicologia, em escolas e consultórios, até os anos 1950.

Experiências editar

É possível um pombo ter superstição? A superstição humana é um fenômeno complexo e sua história de desenvolvimento na vida das pessoas ainda não é compreendida. A despeito da complexidade, os fenômenos, ou aspectos deles, tem sido investigados pelos cientistas por meio de modelos animais. Skinner chegou a estudar o efeito da liberação de alimento em intervalos de tempo fixo e variável a pombos. Independente do que os pombos fizessem em uma caixa, um alimento era liberado e o pombo podia então consumi-lo. Ele observou que os pombos, durante algum tempo passavam a se comportar como se a comida estivesse associada ao que eles estavam fazendo. Um dos pombos passou a mover a cabeça para um lado e para o outro, enquanto outro dava voltas na gaiola, e assim por diante. Skinner chamou esse padrão de comportamento supersticioso. Seus trabalhos foram pioneiros nesta área e impactantes para toda uma geração de pesquisas sobre superstição na psicologia experimental. Ele também participou de experiências militares usando pombos treinados para dirigir misseis na Segunda Guerra Mundial.[10]

Foi criada por ele o que chamamos hoje em dia de "caixa de Skinner", uma câmara de condicionamento operante que tinha como conceito as ações de um animal para a obtenção de alimentos ou água. Um dos exemplos do uso dessa caixa é o rato; Skinner colocou um distribuidor de comida, uma grade elétrica no chão e uma alavanca de resposta na caixa, o rato foi inserido nesse meio e conforme o passar do tempo, buscando meios de sair dali por conta da fome, o animal percebeu que sempre que a alavanca era pressionada, comida aparecia na caixa (pelo distribuidor), e assim, todas as vezes que o rato estava com fome o mesmo pressionava a alavanca.[11]

Críticas editar

Críticas às ideias de Skinner fortaleceram-se especialmente nas décadas de 1960 e 1970, após seu livro Walden II ter-se tornado sucesso de vendas, atraindo admiradores e contestadores. As ideias de Skinner foram em especial confrontadas com as ideias de Carl Rogers. Para Rogers, Skinner privilegia conceitos como controle e previsibilidade, e dá pouco valor a conceitos como liberdade e realização pessoal. Skinner defende um modelo de educação que parte do meio para o indivíduo enquanto Rogers defende que a educação deve ser feita do indivíduo para o meio.[12] A abordagem de Rogers considera o modelo de educação e controle de comportamento de Skinner excessivamente mecanicista e determinista.[13]

Referências

  1. Smith, L. D.; Woodward, W. R. (1996). B. F. Skinner and behaviorism in American culture. Bethlehem, PA: Lehigh University Press. ISBN 978-0-934223-40-9 
  2. Skinner, B. F. (1948). Walden Two. [S.l.: s.n.] The science of human behavior is used to eliminate poverty, sexual expression, government as we know it, create a lifestyle without that such as war. 
  3. Skinner, B. F. (1972). Beyond freedom and dignity. New York: Vintage Books. ISBN 978-0-553-14372-0. OCLC 34263003 
  4. «Skinner, Burrhus Frederic». behavioranalysishistory.pbworks.com 
  5. Schacter, Daniel (2011) [2009]. Psychology Second Edition. United States of America: Worth Publishers. p. 17. ISBN 978-1-4292-3719-2 
  6. Schacter D, L., Gilbert D, T., & Wegner D, M. (2011)
  7. B. F. Skinner, About Behaviorism
  8. Haggbloom, Steven J.; Warnick, Renee; Warnick, Jason E.; Jones, Vinessa K.; Yarbrough, Gary L.; Russell, Tenea M.; Borecky, Chris M.; McGahhey, Reagan; et al. (2002). «The 100 most eminent psychologists of the 20th century». Review of General Psychology. 6 (2): 139–152. CiteSeerX 10.1.1.586.1913 . doi:10.1037/1089-2680.6.2.139 
  9. Moore, Jay (6 de julho de 2018). «SELEÇÃO COMPORTAMENTAL POR CONSEQUÊNCIAS». Revista Brasileira de Análise do Comportamento (2). ISSN 2526-6551. doi:10.18542/rebac.v13i2.5905. Consultado em 13 de fevereiro de 2023 
  10. 1940 – Project Pigeon (1948 – Project Orcon) – B.F. Skinner (American)
  11. BOCK, Ana Maria (2018). Psicologias. São Paulo: Saraiva 
  12. Bill E. Forisha, Frank Milhollan (1978). Skinner X Rogers. Maneiras contrastantes de encarar a educação 8 ed. São Paulo: Summus. 196 páginas. 9788532300355 
  13. Schultz D.P., Schultz S.E. (1992). História da Psicologia Moderna. São Paulo: Cultrix. 9788522106813 

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Ligações externas editar