Beatriz Nunes

Cantora e compositora portuguesa

Beatriz Vieira Nunes[1] (Barreiro, 1988) é uma cantora, compositora e professora portuguesa, mais conhecida por ser a vocalista desde 2011 dos Madredeus, um dos grupos musicais portugueses de maior projeção internacional.[2][3][4][5] e por seu álbum de originais Canto Primeiro.[6] É formada em jazz, variante voz pela Escola Superior de Música de Lisboa[7][2] e sua voz é classificada como soprano.[8]

Beatriz Nunes
Conhecido(a) por
Nascimento 1988
Barreiro
Nacionalidade portuguesa
Alma mater
Outras ocupações
Página oficial
https://beatriznunesmusic.com/

Biografia

editar

Beatriz Nunes é filha da poetisa Helena Vieira Rita Carmo, editora da Mariposa Azual. Beatriz sempre ouviu Chico Buarque e a Música Popular Brasileira e recebeu formação em música clássica.[9] Canta desde os nove anos no Coro da Academia dos Amadores de Música de Lisboa, onde também estudou guitarra clássica.[3][7] Entre 2004 e 2011, cursou canto no Conservatório Nacional de Lisboa. Em 2014, concluiu a licenciatura em Música-Jazz variante Voz, na Escola Superior de Música de Lisboa.[3][7] Em 2011, ao concluir a licenciatura, foi agraciada com a bolsa do New York Voices Summer Camp em Toledo, Ohio, onde estudou técnica vocal e composição.[3]É também mestre em ensino da música pela Escola Superior de Música de Lisboa, onde defendeu a dissertação intitulada O impacto do género na confiança e ansiedade na aprendizagem de improvisação jazz.[10]

Participa dos programas anuais de Ópera do Sintra desde 2010.[3] Tornou-se vocalista do grupo Madredeus em 2011 depois da saída de Teresa Salgueiro em 2007,[11][3]com quem gravou dois álbuns, Essência e Capricho Sentimental. Gravou Canto Primeiro um álbum de originais, À Espera de um Futuro com Paula Sousa e André Rosinha. Também participou de diversas colaborações.[2][3]

Em 2018, foi agraciada com o prémio Rosto do Ano na área música, premiação dada aos que contribuíram para valorizar o concelho do Barreiro.[12]

Essência

editar

Em 2012, gravou o álbum Essência. O álbum marca o retorno do grupo e é constituído de regravações de canções do Madredeus com novos arranjos.[13][3] Lançado pela Sony Music, é composto por 13 canções.[13]Sobre a escolha de Beatriz, Pedro Ayres Magalhães declarou:[14]

Ela é uma jovem artista muito bem preparada. Há 30 anos não havia pessoas tão bem preparadas em Portugal. [...] Numa manhã de domingo, no Teatro S. Carlos, conhecemos esta jovem cantora que aos 22 anos já tinha o curso de Belas-Artes, o curso de canto do Conservatório Nacional e estava no 2º ano do curso superior de Jazz da Escola Superior de Música – com 22 anos! É uma pessoa fantástica, para ela o nosso repertório não tem espinhas nenhumas. Nós demos-lhe as partituras das músicas que tínhamos trabalhado com o quinteto e passados poucos dias ela já estava pronta para gravar.
— Pedro Ayres Magalhães[14]

Sobre a escolha, Beatriz declarou:[15]

Eu ainda era uma criança quando meus pais iam ver Madredeus aqui em Lisboa, em um bairro também chamado Madredeus. [...]Existe uma comparação [com Teresa Salgueiro] que é legítima, mas tento não levar o peso da herança e ver a música como algo universal. Não me sinto presa.
— Beatriz Nunes[15]

Nesta álbum, os Madredeus retornam em nova configuração, formada de guitarra clássica, sintetizadores, violinos, violoncelo e voz,[13] trazendo canções originalmente gravadas com a voz de Teresa Salgueiro.[16]

Tocámos tal e qual as pautas originais dos Madredeus, claro está com os arranjos para cordas, mas correu tudo bastante bem.
— Pedro Ayres Magalhães[13]

Ayres classificou o disco como ótimo e explicou que o grupo resnascera "qual Fénix".[13]

Tentámos criar uma nova tradição de expressão na nossa língua, feita para tocar para outras culturas, outros povos, mas feita para enaltecer a ligação dos portugueses à sua própria história e à geografia" [...] Fazemos música portuguesa que não a popular, de um Portugal que ainda não existe.
— Pedro Ayres Magalhães[13]

Os Madredeus também apresentaram Essência na Suíça no Festival AVO Session no Teatro Musical da Basileia. Na ocasião, tocaram Pedro Ayres Magalhães, Carlos Maria Trindade, Jorge Varrecoso, António Figueiredo, Luís Clote e Beatriz Nunes.[4]

Capricho Sentimental

editar

Após a digressão de Essência, grupo lançou em 30 de outubro de 2015 Capricho Sentimental, primeiro álbum composto para a voz de Beatriz[17] e que marcou uma nova fase para o grupo.[18] Composto de 14 canções inéditas gravadas por Pedro Ayres Magalhães (guitarra clássica), Carlos Maria Trindade (sintetizador) , Ana Isabel Dias (harpa) e Luis Clode (violoncelo).[17]Assim como em trabalhos anteriores, a inspiração vem de temas portugueses e da língua portuguesa.[19][18] Em carta aberta, Ayres Magalhães, que assinou a maioria das canções,[20] define:

As novas composições não são 'sobre Portugal', como já muitas das antigas foram, mas 'de Portugal': ou seja, passámos de uma fase em que nos inspirámos na paisagem, na poesia, e em sons da nossa música popular, para uma outra em que a nossa fonte de inspiração foi o próprio caminho traçado pelo grupo nos seus primeiros sete anos de existência traçado pelo grupo nos seus primeiros sete anos de existência.
— Pedro Ayres Magalhães[18]

Fernando Sobral, jornalista no Jornal de Negócios[21] descreve:

Beatriz Nunes canta aqui a felicidade e a dor, a eternidade e a solidão, o amor e o universo que vive independentemente de nós. "Capricho Sentimental" corre livre para a foz mais bela da música portuguesa.
— Fernando Sobral[18]

Canto Primeiro

editar

Em 2018, junto a Luís Barrigas (piano), Mário Franco (contrabaixo) e Jorge Moniz (bateria), gravou seu primeiro álbum de originais, Canto Primeiro, formado de canções contemplativas com influência da música portuguesa, o jazz e a música de cantautor,[6] incluindo também canções clássicas como a A canção da paciência de José Afonso e poemas portugueses contemporâneos.[22][3] Sobre o trabalho, explicou:[23]

Sou cantora e compositora, lancei este ano o meu primeiro disco de música original onde faço uma exploração desses vários percursos prévios entre a música erudita, o Jazz e a música portuguesa. Este primeiro disco é de alguma forma uma síntese desse caminho eclético bem como a descoberta e inscrição de uma identidade própria.
— Beatriz Nunes[23]

O trabalho teve boa avaliação da crítica tanto na imprensa portuguesa como internacional.[24][25] Foi eleito como o melhor lançamento de setembro de 2018 pelo crítico Henning Bolte, para figurar em publicação no Giornale Della Musica.[24][26] Com Canto Primeiro, foi também a cantora em destaque na On The Edge, conferência realizada em Lisboa pela European Jazz Network em 2018.[27][6]

À Espera do Futuro

editar

Em abril de 2021, lançou em conjunto com Paula Sousa (piano), André Rosinha (contrabaixo) À Espera do Futuro. O álbum foi escrito durante o período de restrições sociais devido à pandemia de COVID-19 e trata de temas sociais e políticos emergentes no período, trazendo canções inéditas dos músicos.[28][29]

Outras colaborações

editar

Beatriz mantém igualmente repertório de música portuguesa e jazz em carreira individual e diversas colaborações com outros músicos, como José Ferreira, Nuno Moura, Afonso Pais, Tiago Sousa e o grupo The Rite of Trio,[2][3]com o qual gravou a canção Symbols, única com letra do álbum. O grupo musical explicou:[30]

A Beatriz não foi sequer uma escolha, a música foi praticamente escrita para a voz dela, e desde a primeira nota que eu tinha a imagem dela a cantar isto. O resultado final para nós não poderia ter sido melhor.
— The Rite of Trio[30]

Discografia

editar
  • Essência (2012), com Madredeus[2]
  • Capricho Sentimental (2015), com Madredeus[2]
  • Canto Primeiro (2018)[6]
  • À Espera do Futuro (2021), com Trio Beatriz Nunes, Paula Sousa, André Rosinha[28]

Outras colaborações

editar
  • Mau Sangue (2011) com José Ferreira e Nuno Moura[2]
  • Terra Concreta (2013) com Afonso Pais[2][31]
  • Coro das Vontades (2014) com Tiago Sousa[2][32]
  • Getting All The Evil Of The Piston Collar (2015) com The Rite of Trio[2]

Referências

  1. «ORCID». orcid.org. Consultado em 16 de agosto de 2022. Cópia arquivada em 16 de agosto de 2022 
  2. a b c d e f g h i j «Beatriz Nunes». Fundação GDA. Consultado em 18 de maio de 2021. Cópia arquivada em 29 de janeiro de 2022 
  3. a b c d e f g h i j Nunes, Beatriz. «Beatriz Nunes - Canto Primeiro». Beatriz Nunes - Canto Primeiro. Consultado em 19 de maio de 2021. Cópia arquivada em 16 de março de 2021 
  4. a b Lisboa, Luís Guita (31 de outubro de 2012). «Madredeus na Suíça para celebrar 25 anos de carreira». SWI swissinfo.ch. Consultado em 28 de maio de 2021. Cópia arquivada em 24 de junho de 2021 
  5. Rocha Lima, Irlam (23 de setembro de 2013). «Madredeus fala sobre a retomada do grupo com a vocalista Beatriz Nunes». Acervo. Correio Braziliense. Consultado em 27 de maio de 2021. Cópia arquivada em 27 de maio de 2021 
  6. a b c d «Beatriz Nunes atua ao vivo na redação do JN». www.jn.pt. Consultado em 24 de maio de 2021. Cópia arquivada em 24 de maio de 2021 
  7. a b c Jacinto, João (18 de fevereiro de 2020). «Beatriz Nunes levou a portugalidade a terras alemãs». Comunidade Cultura e Arte. Consultado em 18 de maio de 2021. Cópia arquivada em 18 de maio de 2021 
  8. «Oratória de Cordeiro da Silva, entre as quatro estreias da temporada de S. Roque». www.dn.pt. Lusa. 24 de outubro de 2017. Consultado em 31 de maio de 2021. Cópia arquivada em 2 de junho de 2021 
  9. Frota, Gonçalo. «Beatriz Nunes, uma cantora entre a fragilidade e a força». PÚBLICO. Consultado em 19 de maio de 2021. Cópia arquivada em 19 de maio de 2021 
  10. Nunes 2021.
  11. Londres, Vítor Belanciano, em. «entre os Madredeus». PÚBLICO. Consultado em 19 de maio de 2021. Cópia arquivada em 19 de maio de 2021 
  12. «ROSTOS DO ANO 2018 Reconhecimento aos que contribuiram para valorizar o concelho do Barreiro». Rostos on-line. Consultado em 1 de junho de 2021. Cópia arquivada em 2 de junho de 2021 
  13. a b c d e f «Madredeus voltam com nova ″Essência″». www.dn.pt. Lusa. 1 de abril de 2012. Consultado em 27 de maio de 2021. Cópia arquivada em 27 de maio de 2021 
  14. a b Almeida, Inês Thomas. «Entrevista com Pedro Ayresde Magalhães». berlinda. Consultado em 1 de junho de 2021. Cópia arquivada em 2 de junho de 2021 
  15. a b Maria, Julio (25 de julho de 2013). «Uma nova voz à frente do Madredeus». Estadão. Consultado em 2 de junho de 2021. Cópia arquivada em 2 de junho de 2021 
  16. Dias, Mário (29 de outubro de 2015). «Madredeus regressam com ″Capricho Sentimental″». TSF Rádio Notícias. Consultado em 28 de maio de 2021. Cópia arquivada em 24 de junho de 2021 
  17. a b Judas, Miguel. «Madredeus. ″Não existe grupo mais popular do que o nosso″». www.dn.pt. Consultado em 19 de maio de 2021. Cópia arquivada em 19 de maio de 2021 
  18. a b c d Sobral, Fernando (30 de outubro de 2015). «As raízes dos Madredeus». www.jornaldenegocios.pt. Jornal de Negócios. Consultado em 24 de maio de 2021. Cópia arquivada em 24 de maio de 2021 
  19. «Capricho Sentimental", Madredeus». MoveNotícias. 5 de novembro de 2015. Consultado em 30 de maio de 2021. Cópia arquivada em 2 de junho de 2021 
  20. «Novos discos de Madredeus, Mísia, Débora Rodrigues e Rodrigo Leão editados esta sexta-feira». Luxemburger Wort - Edição em Português. 30 de outubro de 2015. Consultado em 30 de maio de 2021. Cópia arquivada em 2 de junho de 2021 
  21. «Fernando Sobral». www.jornaldenegocios.pt. Consultado em 30 de maio de 2021. Cópia arquivada em 2 de junho de 2021 
  22. Almeida Silva, Joana. «″Canto Primeiro″ de Beatriz Nunes junta música à poesia». www.jn.pt. Consultado em 19 de maio de 2021. Cópia arquivada em 19 de maio de 2021 
  23. a b Lavrador, Rui (2 de outubro de 2018). «Beatriz Nunes: "É ainda na minha formação base erudita que continuo a recorrer a um certo rigor e inspiração"». ARQUIVO DIGITAL. Consultado em 3 de junho de 2021. Cópia arquivada em 3 de junho de 2021 
  24. a b «"Canto Primeiro", de Beatriz Nunes, entre os melhores discos de Jazz na "Europe Jazz Media Chart"». Comunidade Cultura e Arte. Consultado em 27 de maio de 2021. Cópia arquivada em 27 de maio de 2021 
  25. Paes, Rui Eduardo (19 de junho de 2020). «Elxs andam aí». Rimas e Batidas. Consultado em 27 de maio de 2021. Cópia arquivada em 27 de maio de 2021 
  26. «Europe Jazz Media, il meglio di settembre». Il giornale della musica (em italiano). 3 de setembro de 2018. Consultado em 27 de maio de 2021. Cópia arquivada em 27 de maio de 2021 
  27. «Beatriz Nunes» (PDF). Casa da Música. 29 de janeiro de 2019. Consultado em 18 de maio de 2021. Cópia arquivada (PDF) em 19 de maio de 2021 
  28. a b «Trio Beatriz Nunes, Paula Sousa e André Rosinha - "À Espera do Futuro" - Discos». Antena1. RTP, Rádio e Televisão de Portugal. 8 de abril de 2021. Consultado em 25 de maio de 2021. Cópia arquivada em 25 de maio de 2021 
  29. Camões, Licei (15 de abril de 2021). «Trio Paula Sousa, André Rosinha, Beatriz Nunes | 21 Abril | 19h00 - Concertos - Antena2 - RTP». www.rtp.pt. Antena 2. Consultado em 27 de maio de 2021. Cópia arquivada em 27 de maio de 2021 
  30. a b «"Getting All The Evil Of The Piston Collar!" de The Rite of Trio». Arte-Factos. Consultado em 31 de maio de 2021. Cópia arquivada em 2 de junho de 2021 
  31. Carlos Fernandes, José (19 de março de 2020). «Seis guitarristas de jazz portugueses que precisa de ouvir». Time Out Lisboa. Consultado em 27 de maio de 2021. Cópia arquivada em 22 de junho de 2021 
  32. Sousa, Tiago (março de 2015). «Coro das Vontades» (em inglês). Consultado em 27 de maio de 2021. Cópia arquivada em 6 de maio de 2021 

Bibliografia

editar

Ligações externas

editar