Calyptophractus retusus

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O pichiciego-maior (Calyptophractus retusus) é a única espécie de tatu do gênero Calyptophractus. Um pouco maiores do que os pichiciegos-menores (Chlamyphorus truncatus), são encontrados na região do chaco, desde o sudeste da Bolívia, passando pelo noroeste do Paraguai, até ao extremo-norte da Argentina.

Calyptophractus retusus
Classificação científica edit
Domínio: Eukaryota
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Cingulata
Família: Chlamyphoridae
Subfamília: Chlamyphorinae
Gênero: Calyptophractus
Fitzinger, 1871
Espécies:
C. retusus
Nome binomial
Calyptophractus retusus
(Burmeister, 1863)

De hábitos noturnos, os pichiciegos-maiores são animais raros, sendo que pouco se conhece a respeito de seu comportamento. Eles vivem dentro de tocas em regiões de solo quente e seco, evitando aventurar-se pela superfície. São bons cavadores e podem esconder-se muito rapidamente sob o solo. Sua dieta é composta principalmente de formigas e suas larvas, mas eles também alimentam-se de caracois, minhocas, raízes e outras partes de plantas.[1][2][3][4][5][6]

A espécie foi descoberta pela ciência em 1859 na Bolívia, após um morador mostrar a Hermann Burmeister os restos mumificados de um animal. Como Herrmann Burmeister não soube identificar de qual espécie se tratava, este levou os restos do espécime a diversas instituições para que pudessem ser devidamente estudados e identificados.[6]

Descrição

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Com comprimento do focinho ao ventre variando de 140 mm a 175 mm e uma cauda medindo aproximadamente 35 mm, a C. retusus é pouco maior que seus parentes mais próximos, os pichiciegos-menores. A carapaça dorsal desses animais, cujas cintas ou segmentos tem coloração variando do marrom-claro ao marrom-amarelado, é mole e está firmemente ligada à pele ao longo de todo o seu corpo, sendo que a cauda é arredondada e coberta de placas. Todas as 24 cintas da carapaça movimentam-se livremente. A pelagem, que é esparsa no dorso mas densa e lanuda na parte posterior do ventre do animal, tem cor branca.[4][6]

As extremidades dos membros torácicos tem garras curvadas e muito fortes, enquanto que as extremidades dos membros pélvicos tem garras afiadas, adaptadas para a escavação.[6]

Sistemática

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Sistemática interna dos tatus, segundo Delsuc et al. 2003[7]
 Clamiforídeos 
 Eufractíneos 

 Calyptophractus

 Chlamyphorus

 Chaetophractus

 Euphractus

 Zaedyus

 Tolipeutíneos 

 Tolypeutes

 Priodontes

 Cabassous

Os pichiciegos-maiores já estiveram subordinados ao gênero Chlamyphorus, junto aos pichiciegos-menores, e eram referenciados na literatura científica como Chlamyphorus retusus. Evidências mais recentes, contudo, levaram os pichiciegos-maiores a serem classificados em um gênero próprio, o Calyptophractus, constituindo assim a única espécie de tatu deste, a Calyptophractus retusus.

A característica que diferencia tanto o pichiciego-maior quanto o pichiciego-menor das outras espécies de tatu é a sua carapaça pélvica, que é firmemente ligada à espinha e aos ossos da pelve. Além disso, em ambas as espécies a carapaça dorsal é composta de 24 segmentos, ou cintas, as quais, por serem ligadas através de tecidos flexíveis, são móveis. A extremidade posterior da carapaça dorsal termina abruptamente, como se tivesse sido truncada. A parte da carapaça que protege a cabeça do animal é menos desenvolvida na C. retusus do que na C. truncatus.[6]

Ambas as espécies estão subordinadas à família dos tatus clamiforídeos. Dentro desta, os gêneros Calyptophractus e Chlamyphorus, junto aos gêneros Chaetophractus, Euphractus e Zaedyus, formam a sua própria subfamília, a Eufractíneos. Esta subfamília é o táxon-irmão da subfamília Tolipeutíneos, à qual pertencem, entre outras espécies, o tatu-bola-da-caatinga (Tolypeutes tricinctus), o tatuaçu (Priodontes) e o tatu-de-rabo-mole (Cabassous).[7] De acordo com investigações biológico-moleculares, ambas as subfamílias já haviam divergido uma da outra há mais de 33 milhões de anos, no oligoceno.[8][9]

Reprodução

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Como esta espécie é extremamente rara e nunca houve reprodução em cativeiro, o comportamento reprodutivo do Calyptophractus retusus ainda não foi estudado em detalhe. Depois da cópula, o óvulo permanece no útero da fêmea por vários meses. A exata duração do período de gestação é desconhecida, mas, por inferência, deve ser similar ao período de gestação médio das outras espécies de tatu, que é de 120 dias. Os pichiciegos-maiores dão à luz a varios filhores de cada vez, sendo que a ninhada é comumente composta de quatro filhotes. Um fato notável desta espécie é que todos os filhotes originam-se de um único óvulo, o que significa, em outras palavras, que as fêmeas dão à luz regularmente a quádruplos.[6]

A carapaça dos recém-nascidos é mole e precisa de várias semanas para endurecer. Os filhotes de pichiciego-maior começam a caminhar logo após seu nascimento, com apenas algumas horas de vida ainda. Na maioria das espécies de tatu, os filhotes deixam de ser amamentados várias semanas após o nascimento. O período necessário aos filhotes de pichiciego-maior é, contudo, desconhecido. A maturidade sexual é atingida em média aos 12 meses de idade.[6]

Distribuição geográfica, habitat e ecologia

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O Calyptophractus retusus habita as pradarias áridas na região do chaco, podendo ser encontrado desde o sudeste da Bolívia, passando pelo sudoeste do Paraguai, até ao extremo-norte da Argentina. Eles vivem em tocas escavadas em terreno seco e quente, frequentemente próximo a formigueiros, vindo a deixá-las ocasionalmente para aventurar-se na superfície. Os formigueiros são sua principal fonte de alimento, mas eles também alimentam-se de pequenos insetos, minhocas, caracois, raízes e outras partes de plantas.[1][4][6]

De hábitos noturnos, os pichiciegos-maiores são raros, sendo que os cientistas ainda não puderam estudar o comportamento destes animais em detalhe. São bons escavadores, podendo fugir muito rapidamente, mas não são tão ágeis quanto os pichiciegos-menores. Assim como estes, os pichiciegos-maiores podem usar a placa posterior de sua carapaça para bloquear a entrada da toca onde se encontram, de maneira semelhante a uma rolha. Segundo relatos de observações feitas em campo, os animais desta espécie emitem gritos similares aos de um bebê humano.[6]

Biologia e conservação

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Os pichiciegos-maiores não se dão bem em cativeiro. Entre 1996 e 2006 a Calyptophractus retusus era, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), uma espécie ameaçada de extinção, com estado de conservação vulnerável, devido à destruição de seu habitat e a predação conduzida por cães domésticos. Entre 2006 e 2010 o risco de extinção da espécie era pouco preocupante, com estado de conservação quase-vulnerável. Desde 2010, contudo, a IUCN classifica o estado de conservação da espécie como dados insuficientes, pois não se conhece virtualmente nada sobre o estado populacional desta espécie.[1][4]

As principais ameaças ao C. retusus são a destruição do seu habitat na região do chaco e a sua perseguição, que é ativa e baseia-se na crença de que esses animais trazem mau-agouro e são presságio de desastres. Por isso, uma redução variando de 20 a 25 % de sua população nos últimos anos é muito provável.[1]

A presença de espécimes de pichiciego-maior foi registrada em algumas áreas protegidas na Bolívia, na reserva natural General Pizarro em Salta, na Argentina, e no parque nacional Defensores del Chaco, no Paraguai.[1]

Literatura

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  • Nowak, R.M (1999). Walker’s Mammals of the World (em inglês) 6ª ed. Baltimore, MD: Johns Hopkins University Press. p. 158-168 

Referências

  1. a b c d e f Cuellar, E.; Meritt, D.A.; Delsuc, F.; Superina, M.; Abba, A.M. (2014). «Calyptophractus retusus». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2014: e.T4703A47439036. doi:10.2305/IUCN.UK.2014-1.RLTS.T4703A47439036.en . Consultado em 11 de novembro de 2021 
  2. Calyptophractus retusus (em Inglês) In: Wilson, D. E. & Reeder, D. M. (2005) Mammal Species of the World. A Taxonomic and Geographic Reference. 3ª edição. ISBN 0801882214
  3. «GLOSARIO ZOOLÓGICO» (em espanhol). El Sur del Sur WEB SITE. Consultado em 14 de dezembro de 2012 
  4. a b c d «Genus Calyptophractus» (em inglês). Armadillo online. Consultado em 14 de dezembro de 2012 
  5. Hathaway, H (1999). «Chlamyphorus truncatus (On-line)» (em inglês). Animal Diversity Web. Consultado em 6 de dezembro de 2012 
  6. a b c d e f g h i Gonsiorowski, E, (2002). «Calyptophractus retusus (On-line)» (em inglês). Animal Diversity Web. Consultado em 10 de dezembro de 2012 
  7. a b Delsuc, F.; Stanhope, M.J.; Douzery, E.J.P (agosto de 2003). «Molecular systematics of armadillos (Xenarthra, Dasypodidae): contribution of maximum likelihood and Bayesian analyses of mitochondrial and nuclear genes». Molecular Phylogenetics and Evolution (em inglês). 28 (2): 261–275. doi:10.1016/S1055-7903(03)00111-8 
  8. Delsuc, F.; Vizcaíno, S.F.; Douzery, E.J.P. (2004). «Influence of Tertiary paleoenvironmental changes on the diversification of South American mammals: a relaxed molecular clock study within xenarthrans». BMC Evolutionary Biology (em inglês). 4 (11): 1–13 
  9. Delsuc, F.; Superina, M.; Tilaka, M-K.; Douzerya, E.J.P.; Hassaninc, A (fevereiro de 2012). «Molecular phylogenetics unveils the ancient evolutionary origins of the enigmatic fairy armadillos». Molecular Phylogenetics and Evolution (em inglês). 62 (2): 673–680. doi:10.1016/j.ympev.2011.11.008