Centelha Nativista

A Centelha Nativista foi um grupo nacionalista brasileiro fundado por jovens oficiais das Forças Armadas do Brasil em 1967–1969. As fontes sobre seus fundadores e data de origem são incertas, e o movimento teve várias encarnações, confundindo os serviços de inteligência e a imprensa. Os integrantes da Centelha eram intransigentes com o comunismo e descontentes com os rumos da “Revolução de 1964”. Alguns eram militares cassados. Oficiais da Brigada Paraquedista tinham destaque, entre eles José Valporto de Sá e Kurt Pessek, integrantes do grupo fundador.[1] O movimento nasceu em Salvador, Bahia, e reapareceu na Vila Militar do Rio de Janeiro. Valporto de Sá organizou uma espécie de sociedade secreta, com simbologia e rituais em estilo fascista. Seu grupo estava ligado à invasão da estação transmissora da Rádio Nacional para protestar contra a libertação de presos políticos no sequestro do embaixador dos Estados Unidos em 1969. A Centelha era um de vários movimentos anticomunistas clandestinos fundados no período.[2] Apoiava a candidatura do general Afonso Augusto de Albuquerque Lima à presidência[3] e era abertamente contrário ao capital estrangeiro no Brasil.[4] O grupo chegou a almejar a presidência do Clube Militar.[1]

A Divisão de Segurança e Informações do Ministério da Justiça avaliou a Centelha em 1981 como um “grupo de extrema-direita, e evoluiu para posições liberais e democráticas”, mas levou em conta apenas suas aparições na imprensa.[1] No governo de Emílio Garrastazu Médici (1969–1974) a Centelha foi cortejada por parte da esquerda civil,[2] como o deputado federal pela Bahia Chico Pinto, representante dos “autênticos” do Movimento Democrático Brasileiro.[3] No governo de Ernesto Geisel (1974–1979), defendeu a abertura política. Essa reviravolta política também foi típica de sua geração da linha-dura.[2] A Centelha foi um dos grupos militares clandestinos de apoio à candidatura oposicionista de Euler Bentes Monteiro na eleição presidencial de 1978.[5] Ela juntou-se a sindicatos e partidos de esquerda para protestar contra a venda de estatais. Na década de 1990, sob o nome de “Movimento Nativista Brasileiro”, teve como maior representante o coronel da reserva Francimá de Luna Máximo, um dos invasores da Rádio Nacional em 1969. Ele discursou contra o governo de Fernando Henrique Cardoso na tribuna da Câmara de Vereadores de João Pessoa e na Universidade Federal da Paraíba.[1]

A Centelha compartilhava com a Brigada Paraquedista um gosto pelos rituais e o simbolismo, mas é difícil dizer até que ponto qual influenciou qual. Os militantes subiram na hierarquia paraquedista, mas ao final da ditadura a Brigada já estava distante da militância política. A Centelha Nativista deixou como legado seu lema “Brasil acima de tudo”, criado por Valporto de Sá e assimilado pela Brigada como lema oficial após o general Hugo de Abreu, seu comandante de 1970 a 1974, aproximar-se do grupo. O primeiro registro oficial do brado na Brigada é de 1971; no mesmo ano, ela foi usada por Chico Pinto em seu primeiro discurso como deputado federal.[1][6]

Referências

  1. a b c d e Viana, Claudius Gomes de Aragão (2020). A Brigada de Infantaria Paraquedista: história institucional e cultura organizacional da tropa aeroterrestre brasileira (PDF) (Doutorado em História, Política e Bens Sociais). Rio de Janeiro: FGV. Consultado em 22 de novembro de 2022 . p . 284-287.
  2. a b c Chirio, Maud (2012). A política nos quartéis: revoltas e protestos de oficiais na ditadura militar brasileira. Traduzido por André Telles. Rio de Janeiro: Zahar . p. 127-128, 155 e 228.
  3. a b Souza, Flávia Amorim (2013). Chico Pinto e os Autênticos do MDB: atuação no campo político brasileiro (1971-1982) (PDF) (Mestrado em História). Feira de Santana: UEFS. Consultado em 22 de novembro de 2022 . p. 48.
  4. Cruz, Eduardo Lucas de Vasconcelos (2009). A política externa brasileira no período 1964-1979: o papel do Itamaraty, das Forças Armadas e do Ministério da Fazenda (PDF) (Mestrado em História). Franca: UNESP. Consultado em 22 de novembro de 2022 . p. 26.
  5. Monteiro, Tiago Francisco (agosto–dezembro de 2013). «As propostas de defesa da democracia apresentadas pelas facções castrenses do Exército Brasileiro entre a Transição Política e a Nova República (1974-89)». Aedos. 5 (13). Consultado em 22 de novembro de 2022 
  6. Casali, Cláudio Tavares. «"Brasil, acima de tudo"» (PDF). Centro de Instrução Paraquedista General Penha Brasil. Consultado em 22 de novembro de 2022. Arquivado do original (PDF) em 3 de maio de 2021