Teníase
Teníase é uma infeção dos intestinos por vermes parasitas adultos do género Taenia.[3][4] Geralmente não se manifestam sintomas ou os sintomas são apenas ligeiros.[3] Os sintomas mais comuns são perda de peso e dor abdominal.[2] É possível observar segmentos das ténias nas fezes.[2] Entre as possíveis complicações da Taenia solium está a cisticercose.[2]
Teníase | |
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Taenia saginata | |
Sinónimos | Solitária, bicha-solitária[1] |
Especialidade | Infectologia |
Sintomas | Nenhuns, perda de peso, dor abdominal[2] |
Complicações | Taenia solium: cisticercose[2] |
Tipos | Taenia solium, Taenia saginata, Taenia asiatica[3] |
Causas | Infeção por ténias adultas[3][4] |
Fatores de risco | Ingestão de carne de vaca ou de porco contaminada[2] |
Método de diagnóstico | Exames de fezes[5] |
Prevenção | Cozinhar a carne de forma adequada[2] |
Tratamento | Praziquantel, niclosamida[2] |
Frequência | 50 milhões (com cisticercose)[6] |
Classificação e recursos externos | |
CID-10 | B68.1 |
CID-9 | 123.2 |
CID-11 | 733748279 |
DiseasesDB | 12875 |
MedlinePlus | 001391 |
eMedicine | 999727 |
MeSH | D013622 |
Leia o aviso médico |
Entre as espécies de ténia que causam infeções em seres humanos estão a Taenia solium, Taenia saginata e Taenia asiatica.[3] A Taenia saginata é transmitida pela ingestão de carne de vaca contaminada que não tenha sido devidamente cozinhada, enquanto a Taenia solium e a Taenia asiatica são transmitidas pela ingestão de carne de porco contaminada e mal cozinhada.[3] O diagnóstico é confirmado com um exame a uma amostra de fezes.[5]
A prevenção consiste em cozinhar adequadamente a carne.[2] O tratamento geralmente consiste na administração de praziquantel, embora possa também ser administrada niclosamida.[2] Em conjunto com a cisticercose, a infeção afeta cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo.[6] A doença é mais comum em países em vias de desenvolvimento.[2] Nos Estados Unidos o número de casos anual é inferior a 1000.[2]
Causa
editarTeníase e cisticercose são causadas pelo mesmo parasita, porém com uma fase de vida diferente. A teníase ocorre devido a presença de Taenia solium adulta ou Taenia saginata dentro do intestino delgado dos humanos, que são os hospedeiros definitivos; a cisticercose ocorre devido presença da larva (chamada popularmente de canjiquinha) que pode estar presente em hospedeiros intermediários, onde os mais comuns são os suínos e os bovinos, onde os humanos acidentalmente podem abrigar esta forma. São, portanto, duas fases distintas de um mesmo verme, causando duas parasitoses no homem, o que não significa que uma mesma pessoa tenha que ter as duas formas ao mesmo tempo. A teníase provocada por Taenia solium é considerada não letal, todavia, sua etapa larvária pode provocar cisticercose mortal.[7]
As espécies mais comuns de tênia adulta é o intestino delgado dos humanos infectados.[8] O cisticerco é encontrado geralmente no tecido muscular de porcos, mas pode ser encontrado no tecido subcutâneo, nos olhos e cérebro do animal e ocasionalmente nos humanos.[9] O cisticerco da Taenia saginata localiza-se nos mesmos tecidos, porém ocorre nos bovinos.[10]
Teníase
editarO homem portador da teníase apresenta a tênia no estado adulto em seu intestino delgado, também sendo, o hospedeiro definitivo. As tênias são hermafroditas, sendo que os proglotes maduros, isto é, aptos à reprodução, possuem em seu interior, um aparelho reprodutor masculino e um feminino. Geralmente, os espermatozoides de um proglote fecundam os óvulos de outro, no mesmo animal. A quantidade de ovos produzidos é muito grande (30 a 80 mil em cada proglote), sendo uma garantia para a perpetuação e propagação da espécie. Os proglotes grávidos se desprendem periodicamente e são eliminados junto com as fezes. Os hospedeiros intermediários são os suínos e os bovinos, que se infectam ingerindo água ou alimentos contaminados com ovos ou proglotes eliminados nas fezes humanas. Os suínos, por possuírem hábitos coprófagos, ingerem os proglotes grávidos ou ovos presentes nas fezes humanas. Dentro do intestino do animal, os embriões deixam a proteção dos ovos (oncosferas) e, por meio de seis ganchos, perfuram a mucosa intestinal. Pela circulação sanguínea, alcançam os músculos e o fígado do porco, transformando-se em larvas denominadas cisticercos, que apresentam o escólex invaginado numa vesícula. Os cisticercos apresentam-se semelhantes a pérolas esbranquiçadas, com diâmetros variáveis, normalmente do tamanho de uma ervilha. Na linguagem popular, são chamados de pipoquinhas ou canjiquinhas. Quando o homem se alimenta de carne suína ou bovina crua ou malcozida contendo estes cisticercos, as vesículas são digeridas, liberando o escólex que se verte e fixa-se nas paredes intestinais, evoluindo então para a forma adulta.
Cisticercose
editarO homem entra no lugar do porco, ingerindo os ovos do parasita.
Transmissão
editar- Teníase
A teníase ocorre devido à ingestão de carne suína ou bovina, que não teve os devidos cuidados de preparo, como congelamento e cozimento, contaminada com o cisticerco (canjiquinha), dependendo da espécie.[10]
- Cisticercose
Os portadores de teníase eliminam ovos através das fezes no ambiente, assim, por acidente, os humanos podem ingerir estes ovos e adquirir a parasitose. Além desta forma, os humanos podem adquirir a cisticercose através dos mecanismos abaixo:
- Auto-infecção externa
A contaminação é dada pela ingestão dos ovos do próprio portador de Taenia solium, em condições de falta de higiene e nos casos de coprofagia em crianças e indivíduos com doenças mentais.[10]
- Auto-infecção interna
Pode ocorrer quando o portador de tênia vomita, nos movimentos retroperistálticos do intestino. Assim os ovos podem atingir o estômago e iniciar o ciclo de cisticercose.[10]
- Heteroinfecção
Outro indivíduo pode contaminar a água e os alimentos com ovos de tênia. Desta forma o homem ao ingerir estes itens poderá contaminar-se.[10]
Imunologia
editarO estudo da imunologia sobre Taenia spp ainda é restrito. No hemograma, nota-se aumento importante de linfócitos B e T e eosinófilos sanguíneos e também no líquido cefalorraquidiano (LCR), onde sua retirada deve ser realizada por pessoa especializada.[12] Ainda, com relação a imunologia, metade dos pacientes reagem a proteína purificada do Mycobacterium turbeculosis.
Sinais e sintomas
editarOs possíveis sintomas aparecem 6 a 8 semanas depois da infecção e incluem[13]:
- Vômitos;
- Dor de cabeça;
- Dores abdominais;
- Perda de peso;
- Falta de apetite;
- Náusea;
- Irritação;
- Fadiga (Cansaço);
- Insônia;
- Diarreia.
Ovos ingeridos que entrem na corrente sanguínea podem chegar ao cérebro causando neurocisticercose e provocando danos no sistema nervoso central e podem causar convulsão ou epilepsia(convulsões recorrentes), cegueira, meningite ou hidrocefalia.
Prevalência
editarÉ um dos parasitas mais comuns no Brasil, sendo encontrada em média em 5% dos animais inspecionados, variando dependendo da região e época investigada entre variou de 0,0001 a 27,27%.[15] Em estudo mais recente (2009 a 2012) no Espírito Santo, cisticercose bovina foi identificada em 10,99% de um total de 103.024 bovinos abatidos.[16]
Tenia solium é a causa de 30% dos casos de epilepsia em zonas endêmicas, sem tratamento adequado de água e esgoto.[17]
Etimologia
editarAs tênias também são chamadas de solitárias, porque, na maioria dos casos, o portador traz apenas um verme adulto. São altamente competitivas pelo seu habitat e, sendo seres monóicos com estruturas fisiológicas para autofecundação, não necessitam de parceiros para a cópula e postura de ovos.[18]
Prevenção
editarA profilaxia consiste na educação sanitária do homem para que não contamine o meio ambiente com fezes, faça uso de instalações sanitárias adequadas, lave as mãos após usar o sanitário e antes de manipular alimentos lava-los, e cozinhar bem as carnes e não consumir carnes mal cozidas. Na prevenção individual deve haver cuidados alimentares como congelar. (-15 °C por 3 dias) e cozinhar/fritar bem a carne (cortar em fatias finas e esquentar a mais de 70oC por 2 minutos).
Entre as medidas profiláticas, além do que já foi referido, deve também existir um bom saneamento básico, vermifugamento dos rebanhos bovino e suíno (hospedeiros intermediários), deve-se congelar/irradiar as carnes e haver desparasitação massiva do hospedeiro definitivo.
Tratamento
editarA teníase pode ser tratada com vermífugos como praziquantel (dose única de 5–10 mg/kg) ou niclosamida (maiores de 6 anos: dose única de 2g com comida, seguido de um laxante 2 horas depois; crianças de 2 a 6 anos: 1g; menores de 2 anos: 500 mg).[17]
Já a neurocisticercose exige tratamento prolongado com praziquantel e/ou albendazol, além de terapia de manutenção com corticosteroides e / ou albendazol ou possivelmente neurocirurgia. O tratamento pode causar encefalite(edema inflamatório no cérebro).[17]
Outras opções incluem a aplicação de dose única (2g) de niclosamida, diclorofeno e mebendazol.
O chá de sementes de abóbora é um remédio popular para a cura da teníase, pois contêm tenífugos, que facilitam a eliminação dos vermes nas fezes.[19]
História
editarEstas parasitoses são conhecidas há muito tempo. Os antigos pesquisadores pensavam entretanto que tratava-se de patologias diferentes, o que acabou por dar nomes diferentes para a forma larvária e adulta. O ano de 1697 é marcado por Malpighi que identificou como verme o agente da canjiquinha. Em 1786 e em 1789, Werner e Goeze, respectivamente, descobriram que as formas apresentadas por humanos e porcos eram iguais. Em 1758 as duas espécies Taenia solium e T.saginata foram descrita por Linnaeus. Zeder, em 1800, cria o gênero Cysticercus para o agente da canjiquinha. Em 1885, Küchenmeister consegue provar através de experimentações que o cisticerco presente em suínos da origem ao verme nos humanos.[10]
Responsáveis pelo complexo teníase-cisticercose que se constitui de uma série de alterações patológicas, trazem no seu conjunto um sério problema de saúde pública, principalmente nos países pobres, onde pode não existir higiene básica além de problemas socioculturais.[20]
Morfologia dos parasitos causadores de teníase
editarEscoléx
editarA cabeça ou escoléx das tênias é caracterizado por uma pequena expansão de tamanho aproximado de 1 mm na T. solium e 1 a 2 mm de diâmetro na T. saginata. A função desta região anatômica é a fixação do parasito na mucosa intestinal.[21] Em número total de 4 ventosas em cada escoléx em ambas as espécies, seu formato é diferente em cada uma: a T. solium possui um rostelo situado entre as ventosas e este possui diversos acúleos; a T. saginata não possui rostelo e sua escoléx é quadrada.[10]
Colo
editarEsta região é a parte mais fina do cestódeo. É caracterizada pela intensa formação celular, onde crescem as novas proglotes.
Estróbilo
editarDepois do colo, é o restante do corpo do parasito, unindo os anéis jovens, maduros e gravídicos.[22] Cada estróbilo formado é denominado de proglote ou anel. A Taenia solium pode ter de 800 a 1000 anéis com tamanho máximo de 3 m e a T.saginata pode ter mais de 1000 atingido o tamanho de 8 m.[10]
Através de técnicas de coloração, é possível visualizar as proglotes e seus órgãos genitores: o masculino e o feminino, onde o orifício é paralelo. Assim, fica comprovado que as tênias são hermafroditas, seres monóicos e independentes em relação a reprodução. Além desta função, os estróbilos possuem a função de absorção de nutrientes para a tênia. Cada estróbilo funciona como uma unidade independente e são divididas em jovens, maduras e grávidas.[23] As proglotes jovens, são de tamanho curto maior que largo, e possuem o início do desenvolvimento do órgão sexual masculino; as maduras têm os órgão sexuais já desenvolvidos, prontos para reproduzir; as grávidas, estão mais distantes da cabeça do parasito, possuem uma série de ramificações e estão cheias de ovos.[10]
Ovos
editarOs ovos de Taenia solium e T. saginata são praticamente iguais e não podem ser diferenciados. Medem 30 micrômetros de diâmetro, e possuem uma casca feita de quitina que protege o embrião, chamado de hexacanto ou oncosfera. O embrião possui três pares de acúleos e é formado por membrana dupla. Estes ovos, são os responsáveis pela origem da cisticercose nos humanos. A casca protetora é sensível à pepsina do estômago.[10]
Cisticerco
editarO cisticerco da Taenia solium é constituído de uma pequena bexiga, que deixa a luz passar, com líquido translúcido. Dentro dela, existe uma cabeça de tênia com as quatro ventosas com rostelo e colo já formados. Taenia saginata é semelhante, porém, não contém rostelo.
Dentro do cérebro humano, os cisticercos podem permanecer durante vários anos. Neste período ele vai se transformando, de acordo com os estágios abaixo:
- Estágio vesicular
A membrana do cisticerco é bem clara e fina. Pode ficar inativo por um tempo impreciso ou entrar em degeneração devido a resposta imune do seu hospedeiro.[10]
- Estágio coloidal
É a fase onde ocorre a passagem de um estado do líquido da vesícula translúcida para turvo.[10]
- Estágio granular
Ocorre espessamento de membrana, ocorrendo deposição de cálcio dentro da pequena bexiga.[10]
- Estágio granular calcificado
O tamanho do cisticerco é reduzido e este encontra-se totalmente calcificado.[10]
Comparativo
editarEstrutura | T. solium | T. saginata |
---|---|---|
Escólex | *Presença de rostro *Presença de dupla fita de acúleos *Formato globular |
*Sem rostro *Sem acúleos* *Formato quadrangular |
Proglotes | *São mais passivas *Ramificações uterinas em menor número |
*São ativas (movimento) *Ramificações uterinas numerosas |
Cysticercus | C. cellulosae | C. bovis |
Leva a cisticercose em humanos | Apresenta possibilidades | Sem comprovação científica |
Ovos | Iguais | Iguais |
Ver também
editarNotas e referências
- ↑ «Bicha-solitária». Infopédia, Porto Editora. Consultado em 15 de janeiro de 2020
- ↑ a b c d e f g h i j k l «CDC - Taeniasis - General Information - Frequently Asked Questions (FAQs)». www.cdc.gov (em inglês). 24 de abril de 2019. Consultado em 16 de dezembro de 2019
- ↑ a b c d e f «CDC - Taeniasis». www.cdc.gov (em inglês). 24 de abril de 2019. Consultado em 16 de dezembro de 2019
- ↑ a b «CDC - Taeniasis - Biology». www.cdc.gov (em inglês). 24 de abril de 2019. Consultado em 16 de dezembro de 2019
- ↑ a b «CDC - Taeniasis - Diagnosis». www.cdc.gov (em inglês). 24 de abril de 2019. Consultado em 17 de dezembro de 2019
- ↑ a b Griffiths, Jeffrey; Maguire, James H.; Heggenhougen, Kristian; Quah, Stella R. (2010). Public Health and Infectious Diseases (em inglês). [S.l.]: Elsevier. p. 216. ISBN 978-0-12-381507-1
- ↑ CHIN, James. et al. El control de las enfermedades transmisibles. Organização Panamericana de Saúde. Publicação Científica e Técnica n°581
- ↑ Enfermagem Virtual. «Taenia sp.». Consultado em 22 de agosto de 2009
- ↑ MedLine Plus. «Cisticercosis» (em espanhol). Consultado em 22 de agosto de 2009
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n NEVES. David Pereira. Parasitologia Humana. 10. ed. São Paulo: Atheneu, 2000.
- ↑ Cistimex. «Biología del parásito». Consultado em 21 de agosto de 2009
- ↑ Paraná Online. «Aplicação pioneira de teste melhora o diagnóstico da cisticercose». Consultado em 25 de agosto de 2009
- ↑ http://www.brasilescola.com/doencas/teniase.htm
- ↑ Adriana Felix Iasbik, Paulo Sérgio de Arruda Pinto e col. Prevalência do complexo teníase-cisticercose na zona rural do município de Viçosa, Minas Gerais. http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=33117728012
- ↑ Valmir Kowaleski Souza, Maria do Carmo Pessôa-Silva, João Carlos Minozzo, Vanete Thomaz-Soccol. Prevalência da cisticercose bovina no estado do Paraná, sul do Brasil: avaliação de 26.465 bovinos inspecionados no SIF 1710.http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/semagrarias/article/view/2914
- ↑ http://www.secomv.com.br/trabalhos/2013/TRABALHOS-PARA-ANAIS/07.pdf
- ↑ a b c http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs376/es/
- ↑ GUIMARÃES. Nana. Guia de alimentação infantil. São Paulo: Ground, 2006.
- ↑ http://www.ehow.com.br/usando-sementes-abobora-vermifugo-como_100034/
- ↑ COELHO, Carlos. CARVALHO, Aldo Rosa. Manual de Parasitologia Humana. 2. ed. Canoas: Ulbra, 2005.
- ↑ RAW, Isaias. et al. A Biologia e o Homem. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001
- ↑ SOARES. Irene. Teníase, Cisticercose, Himenolepíase e Hidatidose. São Paulo: FCF/USP, 2005.
- ↑ UNESP - Botucatu. «Teníase e cisticercose». Consultado em 20 de agosto de 2009