Eliezer Kamenesky

escritora portuguesa
 Nota: Este artigo é sobre o poeta, músico e ator hebreu de origem russa. Para outros significados, veja Eliezer (desambiguação).

Eliezer Kamenezky ou Kaminetzky (Bakhmut, 1888 – Redondo, 1957), foi um judeu russo, poeta, ator, músico e divulgador do Vegetarianismo e do Naturismo, que se radicou em Lisboa na década de vinte do século XX.

Eliezer Kamenezky
Eliezer Kamenesky
Nascimento 7 de abril de 1888
Bakhmut
Morte 1957 (69 anos)
Lisboa
Nacionalidade Russa
Progenitores Mãe: Sofia Kamenezky
Pai: Izak Kamenezky
Ocupação escritor, músico e ator.
Profissão Conferencista, alfarrabista, antiquaário.
Principais trabalhos Alma Errante (1932)
Peregrinando (inédito)

Biografia editar

Filho de Izak e Sofia, Eliezer Kamenezky, judeus russos, nasceu em 7 de abril de 1888, em Bakhmut, no antigo Império Russo, atualmente uma cidade da província de Donetsk na Ucrânia. Apenas com 15 anos de idade, Eliezer trocou a casa dos pais por uma companhia de ópera ambulante.

Três anos depois regressou à Rússia, estudando música e canto em Odessa. Com 19 anos de idade teria lido um livro do médico polaco Moes Oskar Giella sobre “Alimentação Paradisíaca”, convertendo-se então ao Vegetarianismo e ao Naturismo. Fez-se depois "apóstolo" do Vegetarianismo e do Naturismo, percorrendo o mundo para divulgar a sua mensagem. Viajou assim pela Itália, Suíça, Grécia, Terra Santa, Egito, Arábia, Índia, Estados Unidos da América, Argentina e Brasil.[1]

No Brasil fez numerosas conferências sobre Naturismo e Vegetarianismo, com as quais enchia salas, tendo impulsionado a fundação de várias sociedades vegetarianas,[2] como a Sociedade Vegetariana Eliezer Kaminetzky, a Sociedade Vegetariana da Baía e o Núcleo Naturista de Pernambuco.[3] O poeta brasileiro Carlos Dias Fernandes, apresentou-o numa conferência realizada no Instituto Histórico de Paraíba, após a qual se deu a fundação da Sociedade Vegetariana da Paraíba.[4]

A imprensa da época acompanhava a sua actividade e por vezes entrevistava-o. Pela sua propagação do Vegetarianismo, foi muitas vezes tema de artigos do mensário O Vegetariano, do Porto, que era dirigido pelo Dr. Amílcar de Sousa. Nessas publicações encontram-se alguns dos seus escritos, assim como relatos das suas conferências, e cartas.

Em 1917, Eliezer Kamenezky viajou para Portugal, continuando as suas conferências sobre Naturismo e Vegetarianismo.[5] Na década de 1920 estabeleceu-se como alfarrabista na Rua do Alecrim, em Lisboa, onde abriu a Livraria Biblarte. Segundo consta, Fernando Pessoa, que por vezes vendia ou trocava por outros os livros que já não lhe interessavam, seria um dos seus clientes.[6] Eliezer tinha a mesma idade de Fernando Pessoa e foi um grande apreciador da literatura portuguesa, chegando a afirmar que Os Simples,[7] de Guerra Junqueiro, --- é dos livros que mais admiro entre todas as obras da literatura mundial.[8]

Fernando Pessoa prefaciou e traduziu para Inglês o livro de poesia Alma Errante (1932) de Eliezer Kamenesky, que inclui um retrato do autor pintado por José Malhoa.[9] Eliezer escreveu também a sua autobiografia romanceada Peregrinando, em parceria com Maria O'Neill, parcialmente traduzida por Fernando Pessoa com o título Eliezer: autobiography, embora este livro tenha permanecido inédito até à data, tanto o original como a tradução inglesa.[10]

Em 1933, na casa de Maria O'Neill, conheceu a professora alentejana Arnilde Roque Penim com quem veio a casar. Nessa época tornou-se antiquário, com estabelecimento na Rua de São Pedro de Alcântara em Lisboa. Eliezer foi também actor, tendo participado, na década de 1940, em alguns filmes clássicos do cinema português: A Revolução de Maio, O Pai Tirano e O Pátio das Cantigas.[11] Escreveu e interpretou uma das canções de O Pátio das Cantigas. Faleceu em 1957, com 69 anos de idade. Na vila alentejana de Redondo foi dado o nome a uma Rua Arnilde e Eliezer Kamenesky por via das benfeitorias do casal nessa terra.

Obras editar

  • Alma Errante: poemas, prefácio de Fernado Pessoa, Lisboa: Of. Graf. da Emprêsa do Anuário Comercial, 1932, 112 p.
  • Com Maria O'Neill, Peregrinando (autobiografia inédita).

Filmografia editar

  • A Revolução de Maio (1937), realizado por António Lopes Ribeiro
  • O Pai Tirano (1941), realizado por António Lopes Ribeiro
  • O Pátio das Cantigas (1942), realizado por Ribeirinho

Notas e referências

  1. Candido Craveiro, Um Apóstolo: Eliezer Kaminetzky, in O Vegetariano: mensário naturista ilustrado, Volume VII, N.º 11, 1916, pp. 339-340.
  2. O Vegetariano: mensário naturista ilustrado, Volume VIII,N.º 8, pp. 304-306.
  3. O Vegetariano: mensário naturista ilustrado, Volume XVIII, N.º 11, p. 401.
  4. O Vegetariano: mensário naturista ilustrado, Volume VIII, N.º 11, pp. 402-403.
  5. Inácio Steinhardt (20 de abril de 2016). «Eliezer Kamenesky». Associação de Amizade Portugal-Israel. Consultado em 2 de fevereiro de 2018. Arquivado do original em 3 de fevereiro de 2018 
  6. Manuela Parreira da Silva. «Eliezer Kamenesky». MODERN!SMO -- Arquivo Virtual da Geração de Orpheu. Consultado em 2 de fevereiro de 2018. Arquivado do original em 3 de fevereiro de 2018 
  7. Guerra Junqueiro (1892). «Os Simples». Typographia Occidental. Consultado em 2 de fevereiro de 2018 
  8. Revista da Biblioteca Nacional, Volumes 7-8, (1992), p. 94.
  9. «as mãos da escrita». Biblioteca Nacional de Portugal. Consultado em 2 de fevereiro de 2018 
  10. «Colecções - Kamenezky, Eliezer, 1888-1957». Biblioteca Nacional de Portugal 
  11. «Eliezer Kamenesky» (em inglês). Internet Movie Database 

Bibliografia editar

  • Fernando Cabral Martins (coordenação), Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português, Editorial Caminho, 2008, p. 378.

Ligações externas editar