Eloy Martins
Eloy Martins (Laguna, 1 de Dezembro de 1911 – Porto Alegre, 8 de Outubro de 2005) foi um metalúrgico, militante e dirigente comunista do Partido Comunista do Brasil. Foi vereador de Porto Alegre de 1947 a 1951, na ocasião, eleito pelo Partido Social Progressista, em vista da recente cassação do Partido Comunista. Perseguido pelos governos de Getúlio Vargas e Eurico Gaspar Dutra, foi também perseguido, sequestrado, preso e torturado pela Ditadura Militar, entre os anos 1971 e 1976. Entre as décadas de 1980 e 2000, lança livros de memória sobre o cárcere, a militância e a construção do movimento operário em Porto Alegre, Rio Grande do Sul e Brasil. Morre em 2005, aos 93 anos, na capital gaúcha.
Eloy Martins | |
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Vereador de Porto Alegre | |
Período | de 1947 até 1951 (uma legislatura) |
Dados pessoais | |
Nome completo | Eloy Martins |
Nascimento | 1 de dezembro de 1911 Laguna, Santa Catarina, Brasil |
Morte | 8 de outubro de 2005 (93 anos) Porto Alegre, Rio Grande do Sul |
Nacionalidade | brasileiro |
Progenitores | Mãe: Maura Brasil Martins Pai: Saturnino Martins |
Partido | Partido Comunista do Brasil (1930-1985) |
Religião | Ateu |
Ocupação | Metalúrgico |
Sua trajetória é de recorrente estudo por parte de historiadores do movimento operário e comunista, visto sua importância como dirigente e figura destacada nos bastidores do PCB, desde o estabelecimento do partido no período Vargas, durante o período democrático e durante a ditadura militar. Eloy Martins é, junto a nomes como Luiz Carlos Prestes, Jacob Gorender, Carlos Marighella, dentre outros, figura destacada da política regional e nacional.[1][2][3][4]
Biografia
editarPrimeiros anos
editarEloy Martins nasce em Laguna em 1911 e muito jovem migra com a família para Porto Alegre. O impacto que a Revolução Russa teve em Eloy Martins, durante a constituição do estado soviético são imprescindíveis, identificando-se nos comunistas brasileiros e suas organizações.[5] Em 1928, liga-se ao Bloco Operário e Camponês (o BOC). Em seguida, em 1933, filia-se ao Partido Comunista. É um dos responsáveis pela manutenção de diversas entidades de classe de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul à época, como a Federação Operária do Rio Grande do Sul (a FORGS). Sendo da primeira geração de comunistas a partir da implementação da CLT, o que implicou em mudanças no movimento, frente ao sindicalismo de estado.[2]
Período Democrático
editarEloy Martins possui trajetória de destaque no movimento operário porto-alegrense, gaúcho e nacional. Sua participação em campanhas como na redemocratização do Brasil em 1945 e pela legalidade do PCB é de suma importância para a cena gaúcha e nacional, ao lado de nomes como Dyonélio Machado.[6]
Elege-se vereador em 1947, pelo Partido Social Progressista, mantendo o cargo até o fim da legislatura, em 1951. Em 1950, em Rio Grande, sua prisão, após greves e protestos, causa forte campanha pela sua liberdade, lançando manifesto, intitulado Manifesto ao Povo Gaúcho, assinado por advogados, profissionais liberais e entidades de classe.[7]
Ditadura Militar
editarDirigente do PCB no final dos anos 1960, Eloy Martins estabelece-se como figura de contrabalanço entre as teses de luta armada e resistência pacífica perante o recrudescimento do regime militar.[3] Perde seus direitos políticos e ganha sentença de prisão já em 1966, junto com outros dirigentes do partido à época, como Luiz Carlos Prestes, Maurício Grabois, Zuleika Alambert, Jacob Gorender.[8] Entre os anos 1971 e 1976 é encarcerado pela Ditadura Militar a partir da Lei de Segurança Nacional, através da Operação Bandeirantes (OBAN), severamente torturado no DOPS de São Paulo e de Porto Alegre.[4] Seu caso ganhou lugar no Segundo Volume da Comissão Nacional da Verdade, publicado em Dezembro de 2014.[9] O Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul mantém sua documentação armazenada, aberta em fins dos anos 1990, referente ao processo de indenização. No arquivo, encontram-se documentos de sua prisão, datando de Junho de 1971 a Novembro de 1973, quando foi diversas vezes movido de local, indo de São Paulo a Porto Alegre, onde foi preso na Ilha do Presídio e no Presídio Central de Porto Alegre, além de também permanecer em prisão domiciliar até Dezembro de 1974.[10]
Últimos anos
editarNos últimos anos de vida, após o lançamento de seus livros, foi homenageado diversas vezes por nomes da política gaúcha[11]
Seus escritos pós-abertura integram uma onda de biografias e memórias editadas e publicadas no Brasil, abarcando desde a "Era Vargas" até a Ditadura Militar.[12][13] Foi também responsável por extensas entrevistas para historiadores, no estabelecimento de arquivos e pesquisas acadêmicas sobre os quase setenta anos de envolvimento político no Brasil.[14][15]
Reconhecimento e Legado
editarEm 28 de março de 1989, Eloy Martins recebe das mãos do então Prefeito Olívio Dutra a Medalha Cidade de Porto Alegre, durante as comemorações da 30ª Semana da Cidade. Em 1996, por iniciativa do Vereador Raul Carrion, Eloy Martins recebe o título honorífico de Cidadão de Porto Alegre. Finalmente, em 2006, após sua morte, Raul Carrion, Carlos Todeschini e Manuela d'Ávila protocolaram projeto de lei para nomear uma rua de Porto Alegre com seu nome. A placa deve, segundo a lei, contar com os dizeres "Metalúrgico, Vereador e Dirigente Comunista".[16][11]
No Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul (APERS), um projeto de extensão conta, desde 2013, com a oficina Resistência em Arquivo: Patrimônio, Ditadura e Direitos Humanos, em que utiliza-se documentos da repressão para contar as histórias de vida de militantes políticos durante os anos da Ditadura Militar. Além de nomes como Alcides Kitzmann, Cláudio Gutierrez, Emílio Neme, Ignez Serpa e Nilce Azevedo Cardoso, encontra-se, também, o de Eloy Martins.[17][18]
Livros
editar- Tempo de Cárcere (1981)
- Um depoimento político - 55 Anos de PCB - Memórias de um Metalúrgico (1989)
- Repensando a História - Do Século XX ao XXI (2001)
Referências
- ↑ Magalhães, Mário. Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. ISBN 9788580864717
- ↑ a b French, John D. Drowning in Laws: Labor Law and Brazilian Political Culture. North Carolina Press, 2004. ISBN 0807828572
- ↑ a b Quadros, Carlos. Jacob Gorender, um militante comunista: estudo de uma trajetória política e intelectual no marxismo brasileiro (1923-1970). Dissertação de Mestrado. São Paulo: USP, 2015. DOI 10.11606/D.8.2016.tde-11042016-120612
- ↑ a b Marçal, João Batista. Comunistas Gaúchos. Porto Alegre: Tchê Editora, 1986
- ↑ https://anpocs.com/index.php/ciencias-sociais/eventos-e-cursos/1737-a-influencia-da-revolucao-russa-na-trajetoria-de-um-metalurgico-negro
- ↑ https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/10916/000602864.pdf?sequence=1&isAllowed=y
- ↑ Segundo, Mário Augusto. Protesto operário, repressão policial e anticomunismo (Rio Grande 1949, 1950 e 1952). Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: UFRGS. Disponível em: http://hdl.handle.net/10183/18346
- ↑ http://almanaque.folha.uol.com.br/brasil_07jun1966.htm
- ↑ http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/images/pdf/relatorio/volume_2_digital.pdf
- ↑ http://www.apers.rs.gov.br/arquivos/1421925176.Livro_Resistencia_em_Arquivo_I.pdf
- ↑ a b http://www.camarapoa.rs.gov.br/draco/processos/81844/056502006PLL.pdf
- ↑ https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/31495/000253660.pdf?sequence=1
- ↑ Martins, Marisângela. À esquerda de seu tempo: Escritores e o Partido Comunista do Brasil (Porto Alegre – 1927-1957). São Paulo: Edições Verona, 2014. ISBN 9788567476063
- ↑ https://seer.ufrgs.br/anos90/article/view/6397/3839
- ↑ Fortes, Alexandre. Na luta por direitos: estudos recentes em história social do trabalho. São Paulo: Unicamp, 1999. ISBN 9788526804609
- ↑ http://www.camarapoa.rs.gov.br/processos/81844
- ↑ https://estado.rs.gov.br/ditadura-e-tema-de-oficina-lancada-pelo-arquivo-publico-do-rio-grande-do-sul
- ↑ Estacheski, Dulcelio; Crema, Everton; Neto, José Maria; Bueno, André. Jardim de Histórias: discussões e experiências em aprendizagem histórica. Rio de Janeiro: Sobre Ontens, 2017. ISBN 9788565996471