O Ducado de Bulhão (em francês: duché de Bouillon) era uma entidade política centrada na cidade de Bulhão, hoje localizada na Bélgica. Primeiro constituída como um senhorio dependente do Principado-Bispado de Liège, Bulhão foi elevado a ducado em 1456 e, posteriormente adquiriu uma autonomia crescente, com o apoio da França.

Duché de Bouillon
Ducado de Bulhão

1456 – 1794
Flag Brasão
Bandeira Brasão
Localização de Bulhão
Localização de Bulhão
Continente Europa
Capital Bulhão
Língua oficial francês
Governo Monarquia
História
 • 1456 Elevação do senhorio a ducado
 • 1794 Proclamação da República Bulhonesa
Membro de: Sacro Império Romano-Germânico

O ducado acaba por se tornar independente em 1676 pelos tratados de Nimega.

A República é proclamada em 1794. A anexação à França revolucionária ocorre em 1795.

História editar

 Ver artigo principal: Lista de soberanos de Bulhão

Idade Média : o Senhorio editar

Bulhão ocupa uma região de fronteira estratégica, junto ao rio Semois, que foi objeto de trocas, disputas e reivindicações, em particular entre a Casa de Marck, o Principado-Bispado de Liège e a França. O senhorio de Bulhão, formalmente incluído no estado de Liège, compunha-se, como de costume no contexto feudal, dum conjunto complexo e evolutivo de direitos e territórios.

Idade Moderna : o Ducado editar

Em 1415, o senhorio de Bulhão ficou na posse da Casa de Mark e o Príncipado de Liège eleva-o à categoria de ducado em 1456 outorgando-o a Roberto I de Mark. No entanto, esse ducado mantem-se dependente do principado de Liège.

No início do século XVI, apesar do ducado de Bulhão ser formalmente dependente do principado de Liège (e consequentemente do Sacro-Império) estava ligado por interesses vários à França: Roberto III de Mark combatera na Itália nos exércitos franceses; Roberto IV de Mark é nomeado marechal de França em 1547; Henrique Roberto de Mark era, pelo lado materno, neto de Diana de Poitiers.

Pouco depois de 1506, Roberto III de Mark, que oferecera o castelo de Bulhão ao principado de Liège[1], retoma a fortaleza com a ajuda das tropas de Francisco I de França. Bulhão é tomada em 1552 por Henrique II de França, que a outorga a Roberto IV de Mark. Por fim, com o apoio do rei Henrique IV de França, é Henrique de La Tour de Auvérnia, descendente dos duques da Aquitânia, Marechal de França, príncipe de Sedan e visconde de Turenne que, em 1591, casa com Carlota de Mark única herdeira do ducado de Bulhão.

Assim, Bulhão passa a ser governado por uma família francesa, os de La Tour de Auvérnia, que controlavam também o Principado de Sedan e que se encontravam sob proteção do rei de França. Daí em diante os conflitos não cessaram dada a interferência constante da França na vida daquela região de crescente valor estratégico.

Em 1676, durante a Guerra Franco-Holandesa, a França ocupa militarmente Bulhão, mas restitui o ducado a Godofredo Maurício de La Tour de Auvérnia, Duque de Bulhão. Apesar de estado soberano no âmbito do Sacro-Império, Bulhão era na prática um protetorado francês, situação ratificada em 1678 pelos Tratados de Nimega.

A revolução Francesa e a República de Bulhão editar

 
1787: em grená o ducado de Bulhão, em cinzento escuro o principado de Liège, e em cinzento claro os Países Baixos Austríacos.
 Ver artigos principais: República bulhonesa e República Irmã

Por um édito de 24 de fevereiro de 1790, o duque (Godofredo III) demonstra o seu interesse pelos ideais da Revolução francesa dando o seu apoio à Assembleia Geral (o parlamento local) quando ela decide abolir os Direitos senhoriais e feudais em maio de 1790.

Por uma constituição de 23 de março de 1792, o ducado de Bulhão torna-se uma monarquia constitucional, mas o território é ocupado por tropas francesas da guarnição de Sedan no dia 16 de novembro seguinte.

Jaime Leopoldo de La Tour de Auvérnia, apesar de duque de Bulhão e de chefe de um Estado Soberano, era cidadão da jovem República francesa, tendo sido preso durante o período do Terror em 7 de fevereiro de 1794. Constatando a impossibilidade do seu soberano em reinar, a Assembleia Geral (parlamento) do ducado decretou a república em 24 de abril de 1794. Certos historiadores permanecem indecisos sobre o alcance exato desse texto e da existência jurídica duma república bulhonesa e o território permanece como protetorado francês. O duque morre em 1802 como cidadão Leopoldo La Tour d'Auvergne.

Anexação à França (1795) editar

O território é anexado em 26 de outubro de 1795 (4 de brumário do ano IV)[2], apesar dos protestos públicos da Assembleia Geral bulhonesa. A lei francesa de 3 de vendemiário do ano V (24 de setembro de 1796) refere a distribuição definitiva das comunas que formavam o até agora ducado de Bulhão, entre os departamentos das Ardenas, Forêts e Sambre-et-Meuse dá uma perspetiva dos territórios que compunham o ducado no momento da sua anexação[3].

Do Século XIX aos nossos dias editar

Após a queda de Napoleão, o território é alvo de negociações entre a França, o Grão-Ducado do Luxemburgo, os Países Baixos e a Bélgica[4]. Os territórios do ducado de Bulhão foram incorporados na Bélgica pelo Tratado dos XVIII artigos, celebrado em Londres a 15 de novembro de 1831.

O título de duque de Bulhão é restabelecido pelo Congresso de Viena (1815) [5], que o outorga hereditariamente à Casa de Rohan, descendentes de Maria Luísa de La Tour de Auvérnia.

Atualmente (2016) os territórios fazem parte do Luxemburgo belga, umas das províncias da Região da Valónia.

Ligações externas editar

Referências

  1. como agradecimento pela nomeação do seu irmão como Príncipe-Bispo de Liège
  2. Decreto de 4 de brumário do ano IV que reune à França o até agora ducado de Bulhão e as suas dependências. Ver : Jean Baptiste Duvergier, 1835. Collection complète des lois, décrets, ordonnances, règlemens, avis du Conseil d'État. Tomo 8. Guyot & Scribe, Paris, p. 443.
  3. Em particular os artigos 2 a 5. Ler aqui.
  4. Vários tratados debruçam-se sobre os territórios: Tratado de Paris de 30 de maio de 1814, Congresso de Viena de 30 de junho de 1815, o segundo tratado de Paris de 20 de novembro de 1815 e, por fim, a declaração do rei Guilherme I dos Países Baixos de 9 de maio de 1818 : « Art. 2. — Os cantões de Walcourt, Florennes, Beauraing e Gedinne com o país de Couvin, Marienbourg e Philippeville, tal como haviam sido definidos sob o governo francês, continuaram a pertencer à província de Namur ». Em 20 de julho de 1819 o território é definitivamente atribuído a Guilherme I dos Países Baixos, enquanto Grão-Duque do Luxemburgo
  5. como ducado honorário e não como ducado soberano
  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em francês cujo título é «Duché de Bouillon».

Bibliografia editar

  • Pierre Bodard, La formation territoriale du duché de Bouillon, Bulhão, 1993.
  • Édouard Poncelet, Les droits souverains de la principauté de Liège sur le duché de Bouillon, Bulletin de la Commission royale d'histoire, 1943, 58:127-267.
  • Documents relatifs au duché de Bouillon, Heraldica (ler aqui).
  • Adelin Vermer, La révolution Bouillonnaise et ses lendemains : contribution à l'histoire des révolutions de la fin du XVIIIe siécle, edições Uga, 1975
  • Michel-Jean-François Ozeray, Histoire des pays, château et ville de Bouillon depuis l'origine du duché jusqu'à la Révolution de 1789, Luxemburgo, Imprimerie J. Lamort, 1827, in-8°, 348 p. ([1]).
  • Pierre Bodard, Histoire de la Cour souveraine du duché de Bouillon sous les La Tour d'Auvergne, Bruxelas, 1967.
  • André Uyttlebroeck, « Une confédération et trois principautés » em La Wallonie, le Pays et les Hommes, Bruxelas, La Renaissance du livre, 1975, p. 215-244.
  • Jacques Marsollier, Histoire du maréchal duc de Bouillon ; où l'on trouve ce qui s'est passé de plus remarquable sous les regnes de François II, Charles IX, Henry III, Henry IV, la minorité & les premières années du regne de Louis XIII, 1726, 3 vol.: vol. 1, vol. 2, vol. 3).
  • Karl Salomo Zachariä von Lingenthal, De iure succedendi in ducatum Bullonii mortuo Jacobo Leopoldo Carolo duce stirpis suae ultimo, Heidelberga, 1818.