Escrita do sudoeste

A escrita do sudoeste é uma escrita paleohispânica com origem desconhecida,[1] muito similar à escrita ibérica suroriental, mas esta expressa língua ibérica e a escrita do sudoeste expressa língua tartéssica. Como a maior parte das outras escritas paleohispânicas, à excepção do alfabeto greco-ibérico, esta escrita apresenta signos que representam consoantes e vogais, como os alfabetos, e signos que representam sílabas, como os silabários. A sua utilização é conhecida entre os séculos VII e V a.C. no sudoeste da Península ibérica (Baixo Alentejo, Algarve, Andaluzia ocidental e o sul da Estremadura). Os seus textos apresentam-se quase sempre da direita para esquerda em monumentos líticos (de pedra) ou estelas. A região onde se encontram a maioria dos achados epigráficos desde o século dezoito é no Alentejo sendo escassos fora dessa área como indicado neste mapa.

Mapa das escritas paleo-hispânicas
Uma das propostas de signario tartéssico. Adaptado de Rodríguez Ramos 2000
Fonte Velha (Bensafrim, Lagos)
Herdade da Abobada (Almodôvar)
Cópia de estela no Museu da Escrita do Sudoeste

Denominação editar

A denominação da escrita cónia é muito controversa. A palavra mais neutra seria sudoeste, pois se refere tão somente a localização dos locais onde foram encontradas as inscrições, mas ainda há necessidade de estudos maiores para definir a melhor denominação. Alguns pesquisadores chamam essa escrita de “Tartessiana”, considerando que tenha sido a escrita de Tartessos. Outros preferem chamá-la de Sul-Lusitana , pois a maior desses inscrições do sudoeste foram encontradas no sul do que é hoje Portugal, na área da antiga província romana da Lusitânia, onde antigas fontes gregas e romanas localizavam os povos ibéricos pré-romanos, os Cónios e não em Tartessos (entre Huelva e o vale de Guadalquivir). Por outro lado, esse nome Sul-Lusitano tem o inconveniente de confundir essa escrita com as da língua lusitana. Outros nomes sugeridos foram Bastulo, Turtedano e Algarvano.

Características editar

Com excepção da escrita Greco-Ibérica e em menor escala desta escrita do sudoeste, as escritas paleohispânicas apresentam, uma tipologia distintiva: Essas funcionam como silabários para as consoantes oclusivas (sons de P, B, T, D, K, G) e como um alfabeto para as outras consoantes. Esse sistema de escrita tem sido chamado semi-silabário. Não há um acordo entre os especialistas sobre a real origem dos semi-silabários paleohispânicos. Alguns acham que a origem estaria no alfabeto fenício, outros vêem alguma relação com o alfabeto grego. Embora na escrita do sudoeste, e à semelhança de um autêntico silabário, as letras usada para escrever as consoantes plosivas automaticamente determinem o som vocálico associado, esse é, na sequência, nova e separadamente indicado pela correspondente letra que representa a vogal isolada, como se tratasse de uma escrita de alfabeto completo. Portanto, alguns estudiosos do Tartessiano advogam que este seria um “semi-silabário redundante”, enquanto outros o consideram como um “silabário-redundante”.

A escrita do sudoeste é muito similar à do sudeste se forem considerados a forma dos símbolos e seus valores fonéticos. A maior diferença entre as duas é que a Ibérica do Sudeste não mostra uma redundância vocálica dos símbolos silábicos. Essa característica foi descoberta pelo lingüista Ulrich Schmoll e permite a classificação de grande parte dos símbolos da escrita do Sudoeste em vogais, consoantes e sílabas. De forma diversa do ocorrido com a do Nordeste, as escritas do Sudeste e do Sudoeste ainda não estão totalmente decifradas, pois ainda há muitos símbolos gráficos para os quais não há um consenso para serem decifrados.

Origem editar

Quanto à orgem da escrita cónia existem os que defendem uma origem autóctone e outros uma origem exógena. Como defensores da hipotese autóctone temos:

  • Prof.º Adriano Vasco Rodrigues defende que a escrita cónia tem origem nos desenhos geométricos dos finais eneolitico;
  • António Lopes Navarro defende que “os navegadores fenícios, apenas reduziram e simplificaram o alfabeto que aqui vieram encontrar no Sudoeste Peninsular, dada a grande vantagem comercial que certamente lhes proporcionava. Simplificaram-no, reduzindo-o a um sistema alfabético para eles mas meramente consonântico, sem vogais, sem base mnemónica e, portanto, acrofónicamente desajustado";
  • Mendes Correia, em 1928, na sua “História de Portugal” escrevia que “a sua origem oriental é um arreigado preconceito erudito” e apontava os grafitos de Alvão (Trás-os-Montes) como os antepassados da Escrita Cónia.
  • Estácio da Veiga (1891) com a tese: "o alfabeto longe de ter tido origem, como é suposição corrente, na Fenícia, proveio da Península Ibérica”,
  • Para Carlos Castelo a escrita cónia não só tem origem autóctone como é a que deu origem a outras escritas tais como a egípcia e fenícia.

Para Mário Varela Gomes que coloca a escrita cónia como a mais antiga da Península Ibérica e da Europa Ocidental defende que todos os sistemas originais de escrita apresentam níveis de evolução e como essa característica está ausente na escrita cónia a única explicação é que a sua origem seja exógena.[2]

Ver também editar

Bibliografia editar

Referências

  1. «Cónios: Os Donos da Língua». Conistorgis - O Cantinho dos Deuses. 22 de julho de 2007. Consultado em 5 de abril de 2022 
  2. Blog Arquivado em 12 de outubro de 2013, no Wayback Machine., Quintus, As Origens da Escrita Cónia, pág. web visitada a 5 de outubro de 2013.

Ligações externas editar

 
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