Margarida de Saboia

 Nota: Para outros significados, veja Margarida de Saboia (desambiguação).

Margarida de Saboia (em italiano: Margherita Maria Teresa Giovanna; Turim, 20 de novembro de 1851Bordighera, 4 de janeiro de 1926) foi a esposa do rei Humberto I da Itália e a primeira rainha consorte da Itália Unificada de 1878 até ao assassinato do marido em 1900. Profundamente religiosa e uma fervorosa nacionalista, apoiou a ascensão de Benito Mussolini e do Partido Nacional Fascista.[1]

Margarida
Margarida de Saboia
Rainha Consorte da Itália
Reinado 9 de janeiro de 1878
a 29 de julho de 1900
Sucessora Helena de Montenegro
Princesa Herdeira Consorte da Itália
Reinado 21 de abril de 1868
a 9 de janeiro de 1878
Sucessor(a) Helena de Montenegro
 
Nascimento 20 de novembro de 1851
  Palácio Chiablese, Turim, Reino da Sardenha
Morte 4 de janeiro de 1926 (74 anos)
  Bordighera, Itália
Sepultado em Panteão, Roma
Nome completo Margarida Maria Teresa Joana
Nome de nascimento Margherita Maria Teresa Giovanna
Marido Humberto I da Itália
Descendência Vítor Emanuel III da Itália
Casa Saboia
Pai Fernando, Duque de Gênova
Mãe Maria Isabel da Saxônia
Religião Catolicismo
Assinatura Assinatura de Margarida
Brasão

A pizza Margherita foi batizada com o seu nome.[2][3]

Biografia editar

Início de vida editar

Margarida nasceu no dia 20 de novembro de 1851 no Palácio Chiablese [it] em Turim. Era filha de Fernando, Duque de Gênova, irmão do rei Vítor Emanuel II da Itália, e da princesa Maria Isabel da Saxônia, filha do rei João da Saxônia.[4] Orfã de pai aos quatro anos de idade, viveu longe da corte com sua mãe e seu irmão menor Tomás, Duque de Gênova.[5] A mãe de Margarida, Maria Isabel, na verdade, fora alvo de um "exílio velado" imposto por seu cunhado, o rei Vítor Emanuel II, em virtude de seu casamento morganático com Niccolò, Marquês de Rapallo.[5][6]

Descrita como loura e bela, a jovem princesa desenvolveu um caráter religioso e conservador, demonstrando notável capacidade de comunicação e grande interesse pelas artes, que lhe renderam considerável popularidade, especialmente entre os italianos mais humildes, pelo seu envolvimento em várias atividades beneficentes e filantrópicas e pelas inúmeras visitas e doações substanciais a hospitais, orfanatos, etc. Entretanto a plebe desconhecia suas reais tendências reacionárias, como seu veemente apoio à repressão ao motim de Milão de 1898 e, mais tarde, à política fascista.[5]

Casamento editar

 
Margarida com seu filho, o futuro rei Vítor Emanuel III, em 1876

Após recusar a proposta de casamento do futuro Carlos I da Romênia, Margarida casou-se com seu primo Humberto, então Príncipe do Piemonte e herdeiro do trono italiano. A princesa não estava destinada a tornar-se sua esposa, mas um incidente colocou-a no centro das negociações de matrimônio príncipe-herdeiro. O pai de Umberto, o rei Vítor Emanuel II, já acertara o casamento do filho com a arquiduquesa Matilde da Áustria, filha de Alberto, Duque de Teschen. Porém, Matilde morreu queimada em 1867 num acidente quando tentava esconder um cigarro, não queria que a vissem fumando, nas suas vestes.[7] Com o resultado deste acontecimento, foi decidido o casamento de Humberto com sua prima Margarida.[8] A cerimônia ocorreu em 22 de abril de 1868 no Palácio Real de Turim.

O único filho da casal nasceu em Nápoles em 11 de novembro de 1869, sendo batizado como Vítor Emanuel em homagem ao avô paterno. Vítor Emanuel reinaria de 1900 até 1946 e seria o penúltimo rei da Itália.

Rainha editar

 
Margarida de Saboia

Em 1878, com a morte de Vítor Emanuel II, Margarida tornou-se a primeira rainha da Itália.[9] Após o término do luto oficial de seis meses pela morte do sogro, acompanhou o marido numa viagem pelo país, onde o charme da jovem rainha conquistou multidões, mesmo daqueles que se opunham à monarquia. Humberto I, no entanto, sofreu a primeira tentativa de assassinato nesta viagem quando, em Nápoles, o anarquista Giovanni Passannante tentou esfaqueá-lo.[10]

Apenas um estreito círculo de cortesãos tinha conhecimento de que a união entre Humberto I e Margarida havia sido um fracasso. O rei mantinha um caso extra conjugal desde 1864 com a duquesa Eugenia Litta Bolognini - segundo cronistas, foi o grande amor da vida de Umberto.[11] Decepcionada, Margarida chegou mesmo a cogitar a separação, mas resistiu e alimentou durante toda a vida a ficção de um casamento feliz.[5]

A rainha promoveu as artes e a cultura. Foi fundadora do Quinteto de Cordas de Roma, em torno do qual reuniam-se uma vez por semana, no Palácio do Quirinal, grandes nomes da cultura italiana e européia, como Ruggiero Bonghi, Theodor Mommsen, Ferdinand Gregorovius e Giuseppe Martucci.

Praticante do montanhismo, foi a primeira mulher a escalar um dos picos mais altos dos Alpes, o monte Rosa. Em sua homenagem foi construído um abrigo próximo ao topo da montanha que ainda hoje leva o seu nome.[12] O mesmo se passou com o cume Ponta Margherita [it], nos Grandes Jorasses do maciço do Monte Branco, também nos Alpes.

Reinado do filho editar

Em 29 de julho de 1900, o casal real visitava Monza a convite da Società Ginnastica Monzese Forti e Liberi, para premiar atletas participantes de um evento esportivo. Humberto I e Margarida permaneceriam na cidade por alguns dias, antes de partirem em férias para Gressoney-Saint-Jean. Às 22h30min daquele dia, Humberto I sofreu um novo atentado, sendo morto com três tiros. O regicídio foi planejado e executado por Gaetano Bresci, um anarquista toscano que emigrara para os Estados Unidos em 1897 e retornou à Itália para, segundo ele, vingar as mortes causadas pela repressão ao motim de Milão de 1898, comandada pelo general Fiorenzo Bava Beccaris — que viria a ser condecorado por Humberto I após o incidente.[13]

Em 11 de agosto de 1900, seu filho foi proclamado rei, como Vítor Emanuel III.

Margarida morreu em Bordighera, em 4 de janeiro de 1926, aos 74 anos de idade. Seu corpo foi sepultado no Panteão, em Roma.[14]

Legado editar

Em 1889, o pizzaiolo Raffaele Esposito, da casa Brandi de Nápoles (pertencente à família da esposa de Raffaele, Maria Giovanna Brandi, desde 1780), foi chamado para preparar uma pizza especial em homenagem ao rei Humberto I e à rainha Margarida. Raffaele, conhecido como "Naso e'Cane" (nariz de cão), apresentou três opções de pizza e a rainha escolheu uma receita que usava as cores da bandeira italiana (verde, vermelho e branco). A rainha gostou muito da pizza e Naso e'Cane pediu a sua permissão para dar a essa pizza o nome Margherita, nome pelo qual é conhecida até hoje.[2][3]

A cidade Saline di Barletta, na região da Apúlia, foi renomeada Margherita di Savoia, em homenagem a rainha.

Títulos e honras editar

 
Monograma de Margarida

Títulos e estilos editar

  • 20 de novembro de 1851 – 21 de abril de 1868: Sua Alteza Real, a Princesa Margarida de Saboia
  • 21 de abril de 1868 – 9 de janeiro de 1878: Sua Alteza Real, a Princesa do Piemonte
  • 9 de janeiro de 1878 – 29 de julho de 1900: Sua Majestade, a Rainha da Itália
  • 29 de julho de 1900 – 4 de janeiro de 1926: Sua Majestade, a Rainha Margarida da Itália

Honras editar

Ancestrais editar

Referências

  1. Margaret of Savoy (1851-1926), in: Anne Commire (Hrsg.): Women in World History, Bd. 10 (2001), S. 277.
  2. a b Revista Revista Galileu
  3. a b "A rainha que virou pizza" - José Antônio Dias Lopes- Cia. Editora Nacional - 2007
  4. Margherita Maria di Savoia-Genova, Principessa de Savoia
  5. a b c d Lupinacci, Manlio. "La Regina Margherita", Le lettere editore, Firenze, 2008. ISBN 8860871743
  6. «Niccolo Guiseppe Rapallo, Marchese Rapallo» (em inglês). Thepeerage.com 
  7. «La Archiduquesa em llamas - Tragedia en la Familia Imperial Austro-Húngara». Retratosdelahistoria.lacoctelera.net. Arquivado do original em 13 de agosto de 2011 
  8. Doglio, Sandro. "La storia in un bicchieri", Alba: Daume Editrice, 1988
  9. Sua sogra, Adelaide da Áustria, morreu em 1855, antes da Unificação Italiana
  10. Porcaro, Giuseppe. "Processo a un anarchico a Napoli nel 1878", edizioni del Delfino, Napoles, 1975
  11. Grimaldi, Ugoberto Alfassio. "Il re buono", Feltrinelli, Milano, 1970
  12. «Capanna Osservatorio Regina Margherita: il rifugio più alto d'Europa» (em italiano). Caivarallo.it 
  13. Galzerano, Giuseppe. "Gaetano Bresci: vita, attentato, processo, carcere e morte dell'anarchico che giustiziò Umberto I". Casalvelino Scalo, Galzerano, 2001
  14. «Savoy-Genua». Royaltyguide.nl 
  15. Hof- und Staats-Handbuch der Österreichisch-Ungarischen Monarchie - 1912. [S.l.: s.n.] Consultado em 6 de março de 2017 
  16. a b The Titled Nobility of Europe. Burke's Peerage, 1914, s. 86

Bibliografia editar

  • Carlo Casalegno, La Regina Margherita, Editora Einaudi, Turim, 1956.
  • Manlio Lupinacci, La Regina Margherita, Editora Le lettere, Florença, 2008.
Margarida de Saboia
Casa de Saboia
20 de novembro de 1851 – 4 de janeiro de 1926
Título criado  
Rainha Consorte da Itália
9 de janeiro de 1878 - 29 de julho de 1900
Sucedida por
Helena de Montenegro
 
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