Gabriel Pedro

escritor e ativista político português (1898-1972)

Gabriel Pedro (Lisboa, 22 de Abril de 1898 — França, 2 de Fevereiro de 1972[3]) foi um pescador e ativista político revolucionário comunista português, autor do livro de memórias Acontecimentos Vividos, agente operacional da Acção Revolucionária Armada e militante do Partido Comunista Português. Foi aprisionado no Campo de Concentração do Tarrafal pelo regime do Estado Novo com o seu próprio filho Edmundo Pedro.[4]

Gabriel Pedro
Dados pessoais
Nome completo Gabriel Pedro
Nascimento 22 de abril de 1898
Lisboa
Morte 2 de fevereiro de 1972 (73 anos)
França
Nacionalidade português
Cônjuge Margarida Ervedoso[1], Maria Adelaide Fonseca Pedro[2]
Filhos(as) Edmundo Pedro, João Pedro, Germano Tavares Pedro, Gabriela Pedro
Partido Partido Comunista Português
Ocupação Pescador, Político, Escritor

Biografia editar

Nascido em Santos-o-Velho numa família de pescadores, filho de Marta da Conceição e Sebastião Pedro, crescerá entre Lisboa e o Samouco. [5] Em 1918 nasce o seu primeiro filho, o político português Edmundo Pedro.

Procurado pela polícia por um assalto destinado a financiar atividade política anarquista em 1925, Gabriel Pedro foge para Angola em 1925, e em 1928 é capturado e deportado para a Guiné. Em 1931, evadido e procurado pela polícia em Portugal, exila-se em Sevilha com a esposa Margarida Ervedoso e com o filho João, onde aderem ao Partido Comunista de Espanha e participaram activamente no IV Congresso do PCE que ali teve lugar. Em consequência de uma intervenção de Margarida Ervedoso neste congresso são contactados pelo Partido Comunista Português.

Convidados pelo Partido Comunista Português à adesão e a se tornarem funcionários políticos em 1932, o casal Gabriel Pedro e Margarida Ervedoso aderem ao PCP e regressam a Portugal. No contexto da clandestinidade, a sua casa e da sua esposa Margarida Ervedoso, na Rua de São Sebastião da Pedreira em Lisboa, chega a ser a de facto sede do PCP[1], sendo frequentada por Alfredo Caldeira, Bento António Gonçalves, José de Sousa e Francisco de Paula Oliveira conhecido como Pavel, que nela se escondeu quando foge da detenção no Sanatório da Ajuda em 1933.[6]

Feito prisioneiro político pelo regime do Estado Novo, esteve encarcerado em Angra do Heroísmo e no Campo de Concentração do Tarrafal, por 9 anos[7], com o seu próprio filho de 17 anos, Edmundo Pedro, de onde foi dos poucos a ensaiar uma tentativa de fuga, que saiu gorada. Foi também o prisioneiro do Campo de Concentração do Tarrafal que mais tempo aguentou vivo dentro da câmara de tortura conhecida como frigideira.[8]

Em 1948 nasce a sua filha Gabriela Pedro, que se exilará com o pai em França em meados da década de 1960, onde será também ela uma jovem militante comunista até morrer precocemente de doença em 1969. Gabriel Pedro regressará do exílio em França para participar, com 72 anos de idade, na primeira acção da Acção Revolucionária Armada, coordenada por Jaime Serra, a 25 de Outubro de 1970, com Carlos Coutinho, colocando explosivos no navio Cunene na tentativa de sabotar a sua participação na Guerra Colonial Portuguesa.[9][10]

"O Secretário-Geral teve nessa reunião um grande aliado, o lendário Gabriel Pedro, muito querido da organização, que já sabia então que viria a Portugal participar num atentado da ARA e por isso pôde assegurar com toda a convicção que o Partido não rejeitava e até se preparava para a realização de ações armadas. Gabriel Pedro já estava então muito debilitado. Durante os três dias que durou a Assembleia tinha que sair de vez em quando para descansar. Quando estava ausente, Cunhal aproveitava os intervalos para o visitar. Num deles convidou-me para o acompanhar. Eu conhecia mal o Gabriel Pedro e ao vê-lo prostrado fiquei estarrecido. Sabia, em razão das minhas responsabilidades no interior, que era ele quem ia entrar no país para participarem determinada tarefa de grande risco. Por isso perguntei: 'Mas achas, Álvaro, que ele está em condições físicas para ir ao interior participar na tal tarefa?' Respondeu-me: 'E como negar-lhe essa última vontade a coroar toda uma vida de revolucionário? Trata-se de uma tarefa a realizar no Tejo e ele diz que ninguém conhece o Tejo como ele. É a perspetiva dessa tarefa que lhe dá vida'"
Carlos Brito sobre Gabriel Pedro, 2010.[11]

Livro de memórias editar

Poucos meses antes de falecer, Gabriel Pedro entrega ao Partido Comunista Português os seus escritos autobiográficos com o pedido de que fossem publicados com o título Acontecimentos Vividos, algo que ocorreria em sua homenagem em Abril de 2015, 40 anos depois da sua morte, numa edição organizada por Jaime Serra.[12][13][14]

Homenagens editar

O músico Luís Cília compõe a canção Gabriel em homenagem a Gabriel Pedro.[15]

Referências

  1. a b https://m.facebook.com/558291707613546/photos/a.559109110865139/888537487922298
  2. https://www.facebook.com/FascismoNuncaMais/posts/gabriela-pedro-1948-1969filha-do-segundo-casamento-de-gabriel-pedro-1898-1972-ap/923670487742331
  3. Acontecimentos Vividos, Gabriel Pedro, Editorial Avante!
  4. Fnac (25 de abril de 2015). «Acontecimentos Vividos». Fnac.pt. Consultado em 26 de maio de 2022 
  5. Edmundo Pedro (23 de junho de 2008). «Memórias, Um Combate pela Liberdade». Editora Âncora. Consultado em 4 de junho de 2023 
  6. João Esteves (23 de junho de 2014). «Margarida Tavares Fernandes». silenciosememorias.blogspot.com. Consultado em 26 de maio de 2022 
  7. Memorial 2019 (25 de abril de 2019). «Edmundo Pedro». memorial2019.org. Consultado em 26 de maio de 2022 
  8. «Crónica do tempo Escondido». Público. 24 de Janeiro de 2008. Consultado em 26 de Maio de 2022 
  9. «Rasto de Terrorismo na Vida de Portugal». Correio da Manhã. 4 de Dezembro de 2005. Consultado em 26 de Maio de 2022 
  10. «O primeiro alvo - o navio Cunene». Militante. 1 de maio de 1999. Consultado em 26 de Maio de 2022 
  11. Ferreira 2015, p. 227.
  12. Editorial Avante (25 de abril de 2015). «Acontecimentos Vividos». editorial-avante.pcp.pt. Consultado em 26 de maio de 2022 
  13. Wook (25 de abril de 2015). «Acontecimentos Vividos». Wook.pt. Consultado em 26 de maio de 2022 
  14. Biblioteca Nacional (25 de abril de 2015). «Acontecimentos Vividos». Biblioteca Nacional. Consultado em 26 de maio de 2022 
  15. Luís Cília (25 de abril de 2015). «Gabriel». Biblioteca Nacional. Consultado em 26 de maio de 2022 

Bibliografia editar

  • Acontecimentos Vividos, 2015, Editorial Avante