Hebraico bíblico

forma antiga do hebraico
(Redirecionado de Hebraico clássico)
Hebraico Bíblico, Hebraico Clássico

שְֹפַת כְּנַעַן, יְהוּדִית, (לְשוֹן) עִבְרִית, לְשוֹן הַקֹּדֶש

Falado(a) em: Reino de Israel (monarquia unida)
Reino de Judá
Reino de Israel
Global (como língua litúrgica do judaísmo)
Extinção: desenvolveu-se no hebraico mishnaico após a destruição do Segundo Templo no ano 70 d.C.
Família: Afro-asiática
 Semítica
  Semítica central
   Semítica do noroeste
    Cananita
     Hebraico Bíblico, Hebraico Clássico
Escrita: Proto-Canaanita / Alfabeto fenício
Escrita paleo-hebraica
Alfabeto hebraico
Alfabeto samaritano
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: ---
ISO 639-3: hbo

O hebraico bíblico (também chamado de hebraico clássico) é a forma antiga do hebraico, na qual a Bíblia hebraica e diversas inscrições israelitas foram escritas.

Não é falado em sua forma "pura" nos dias de hoje, embora seja estudado com bastante frequência por judeus, teólogos cristãos, linguistas e arqueólogos israelenses como forma de adquirir uma maior compreensão da Bíblia hebraica e da filologia dos idiomas semitas. Atualmente o hebraico clássico costuma ser ensinado nas escolas públicas de Israel.

O hebraico bíblico e o hebraico moderno são diferentes em sua gramática, vocabulário e fonologia. Embora as regras gramaticais das duas variantes tenha muitas divergências, o hebraico bíblico costuma ser empregado na literatura hebraica atual, de maneira paralela ao uso de construções clássicas e bíblicas que costuma ser feito na literatura moderna de língua inglesa.

Fonologia editar

A fonologia é uma convenção, não existe um único mode de pronúncia. Porém, eis o que se aceita como reconstituída do hebraico bíblico:

Consonantes editar

Nome Letra Fonema e Alofonia (AFI)
ālef ('boi') א ʔ
bēt ('casa') ב b ~ v alofonia1
gimel ('camelo') ג ɡ ~ ɣ alofonia1
dālet ('porta') ד d ~ ð alofonia1
('janela) ה h, nulo no final das palavras.2
wāw ('prego') ו w, nulo após /o/ ou /u/ 2
zayin ('arma') ז z
hēt ('cerca') ח ħ, (χ3)
tēt ('cobra') ט ˤ
yōd ('mão') י j, nulo após /ɛ/, /e/, ou /i/2
kaf' ('palma da mão') כ, ך k ~ x alofonia1
lāmed ('cattle goad') ל l
mēm ('água') מ, ם m
nun ('peixe') נ, ן n
sāmek ('prop') ס s
ʿayin ('olho') ע ʕ, (ɣ3)
('boca') פ, ף p ~ f alofonia1
sādē ('anzol') צ, ץ ˤ
qōf ('atrás da cabeça') ק ˤ (ou q)
rēsh ('cabeça') ר r (vibrante como no árabe)
shin ('dente') ש ɬ, ʃ
tāw ('cruz') ת t ~ θ alofonia1

Variação Dialetal editar

Os dialetos do hebraico bíblico são atestados pelo conhecido episódio do xibolete (שִׁבֹּלֶת) de Juízes 12:6, em que as forças de Jefté de Gileade pegaram os efraimitas a tentar cruzar o rio Jordão, os fazendo dizer שִׁבֹּ֤לֶת šibboleṯ ('espiga de milho')[1] A identidade dos efraimitas foi revelada por sua pronúncia: סִבֹּ֤לֶת /sibboleṯ/.[nota 1] [1]A conclusão aparente é que o dialeto efraimita havia o / s / para o padrão / ʃ /. [1]Como uma explicação alternativa, sugeriu-se que o fonema proto-semita * / θ /, que mudou para / ʃ / na maioria dos dialetos do hebraico, pode ter sido retido no hebraico da Transjordânia[2][nb 4] (no entanto, há evidências de que o ancestral proto-semita de שִׁבֹּ֤לֶת havia a consoante inicial š (daí o hebraico / ʃ /), contradizendo essa teoria; [1] por exemplo, o ancestral proto-semita de שִׁבֹּ֤לֶת foi reconstruído como *šu (n) bul-at-. [3]); ou que a sibilante proto-semítica *s1, transcrita com šin e tradicionalmente reconstruída como */ʃ/, tinha sido originalmente */s/ enquanto outra sibilante *s3, transcrita com sameque e tradicionalmente reconstruída como /s/, tinha sido originalmente /ts/;[4] mais tarde, uma mudança de cadeia do tipo cadeia-empurrar mudou *s3 /ts/ para /s/ e impeliu s1 /s/ para /ʃ/ em muitos dialetos (e. g. Gileadita), mas não em outros (por exemplo, Efraimita), onde * s1 e * s3 se fundiram em / s /.

O hebraico falado no norte Reino de israel, também conhecido como hebraico israelense, mostra diferenças fonológicas, lexicais e gramaticais dos dialetos do sul.[5] O dialeto do norte falado em torno de Samaria mostra simplificação mais frequente de / aj / para / eː / como atestado pelo óstraco de Samaria (Século oitao a.E.C), e. g. ין (= / jeːn / < * / jajn / 'vinho'), enquanto o dialeto do sul (judaíta), em vez disso, adiciona uma vogal epentética /Eu/, adida na metade do primeiro milênio AEC (יין = / ˈjajin /). [6],[nb 5][7] O jogo de palavras em Amós 8:1-2 כְּלוּב קַ֫יִץ... בָּא הַקֵּץ pode refletir isso: dado que Amós se estava dirigindo à população do Reino do Norte, a vocalização *קֵיץ seria mais forte. Erro de citação: Elemento de fecho </ref> em falta para o elemento <ref> A ostraca de Samaria também mostra שת para o padrão שנה 'ano', como em aramaico.</ref>

Os fonemas guturais / ħ ʕ h ʔ / fundiram-se ao longo do tempo nalguns dialetos.[8] Isso foi encontrado no hebraico dum Pergaminho do Mar Morto, mas Jerônimo atestou a existência de falantes de hebraico contemporâneos que ainda distinguiam faríngeos.Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; o nome não pode ser um número inteiro. Use um título descritivo O hebraico samaritano também mostra um atrito geral desses fonemas, embora / ʕ/ e / ħ / sejam ocasionalmente preservados como [ʕ].[9]

Amostra textual editar

O que segue-se é uma amostra do Salmo 18 como aparece no texto massorético com niqqud e cantilação medieval tiberiense, e a transcrição grega da coluna Secunda da Hexapla com a sua pronúncia reconstituída.

Hebraico Tiberiense[10]

29 כִּֽי־אַ֭תָּה תָּאִ֣יר נֵרִ֑י יְהוָ֥ה אֱ֝לֹהַ֗י יַגִּ֥יהַּ חָשְׁכִּֽי׃

30 כִּֽי־בְ֭ךָ אָרֻ֣ץ גְּד֑וּד וּ֝בֵֽאלֹהַ֗י אֲדַלֶּג־שֽׁוּר׃

31 הָאֵל֮ תָּמִ֪ים דַּ֫רְכֹּ֥ו אִמְרַֽת־יְהוָ֥ה צְרוּפָ֑ה מָגֵ֥ן ה֝֗וּא לְכֹ֤ל ׀ הַחֹסִ֬ים בֹּֽו׃

32 כִּ֤י מִ֣י אֱ֭לֹוהַּ מִבַּלְעֲדֵ֣י יְהוָ֑ה וּמִ֥י צ֝֗וּר זוּלָתִ֥י אֱלֹהֵֽינוּ׃

Secunda[11]

29. χι αθθα θαειρ νηρι YHWH ελωαι αγι οσχι

30. χι βαχ αρους γεδουδ ουβελωαι εδαλλεγ σουρ

31. αηλ θαμμιν (*-μ) δερχω εμαραθ YHWH σερουφα μαγεν ου λαχολ αωσιμ βω

32. χι μι ελω μεββελαδη YHWH ουμι σουρ ζουλαθι ελωννου (*-ηνου)

Pronúncia[11] (AFI)

29. [kiː ʔatːaː taːʔiːr neːriː **** ʔaloːhaj agiːh ħoʃkiː]

30. [kiː baːk ʔaːruːsʼ gəduːd wəbaloːhaj ʔadːalːeg ʃuːr]

31. [haːʔeːl tamːiːm darkoː ʔemərat **** sʼəruːfaː maːgen huː ləkol haħoːsiːm boː]

32. [kiː miː ʔaloːh mebːalʕadeː **** wəmiː sʼuːr zuːlaːtiː ʔaloːheːnuː]

[notas 1]

Referências

  1. a b c d Blau, Joshua (2010). Phonology and Morphology of Biblical Hebrew. Winona Lake, Indiana: Eisenbrauns. páginas 40-41. ISBN 978-1-57506-129-0.
  2. Rendsburg, Gary A. (1997), "Ancient Hebrew Phonology", in Kaye, Alan (ed.), Phonologies of Asia and Africa, Eisenbrauns, pp. 65–83, ISBN 978-1-57506-019-4, archived from the original on 20 July 2011
  3. šu(n)bul-at- - ear of corn" in Semitic Etymological Database Online
  4. Kogan, Leonid (2011). "Proto-Semitic Phonology and Phonetics". In Weninger, Stefan (ed.). The Semitic Languages: An International Handbook. Walter de Gruyter. pp. 54–151. ISBN 978-3-11-025158-6.
  5. Rendsburg, Gary A. (1999), "Notes on Israelian Hebrew (I)", in Avishur, Yitzhak Avishur; Deutsch, Robert (eds.), Michael: Historical, Epigraphical and Biblical Studies in Honor of Prof. Michael Heltzer, Tel Aviv: Archaeological Center Publications, pp. 255–258, archived from the original on 20 July 2011
  6. Sáenz-Badillos, Angel (1993). A History of the Hebrew Language. Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-55634-7.página 36-38, 43-44, 47-50
  7. Blau, Joshua (2010). Phonology and Morphology of Biblical Hebrew. Winona Lake, Indiana: Eisenbrauns. ISBN 978-1-57506-129-0.
  8. Sáenz-Badillos, Angel (1993). A History of the Hebrew Language. Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-55634-7.
  9. Ben-Ḥayyim, Ze'ev (2000). A Grammar of Samaritan Hebrew. Jerusalem: The Hebrew University Magnes Press. ISBN 978-1-57506-047-7.
  10. The Westminster Leningrad Codex (WLC)
  11. a b Janssens (1982):173

Bibliografia editar

  • Kittel, Bonnie Pedrotti; Hoffer, Vicki e Wright, Rebecca Abts. Biblical Hebrew: A Text and Workbook Yale Language Series; New Haven e Londres: Yale University Press, 1989.
  • Dolgopolsky, Aron (1999). From Proto-Semitic to Hebrew. Milão: Centro Studi Camito-Semitici di Milano 
  • Gramática Hebraica, de Gesênio - Kautzsch, E. (ed.), ed. em inglês de A. E. Cowley. Oxford: Clarendon Press, 1910.
  • Lambdin, Thomas O. Introduction to Biblical Hebrew. Londres: Charles Scribner's Sons, 1971.
  • Würthwein, Ernst. The Text of the Old Testament (trad. em inglês de Erroll F. Rhodes) Grand Rapids: Wm.B.Eardmans Publishing. 1995. ISBN 0-8028-0788-7.


Ligações externas editar


  Este artigo sobre linguística ou um linguista é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.
  1. Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome n1


Erro de citação: Existem etiquetas <ref> para um grupo chamado "notas", mas não foi encontrada nenhuma etiqueta <references group="notas"/> correspondente