Luís Filipe Gonzaga Pinto Rodrigues
Luís Filipe Gonzaga Pinto Rodrigues (Vila, Melgaço, 21 de março de 1887 - Viana do Castelo, 10 de agosto de 1949), conhecido por assinar as suas obras como Luiz Filipe, foi um advogado, notário, pintor modernista e caricaturista português, tendo ainda exercido como diretor artístico do periódico português de sátira e humor A Farça.[1]
Luís Filipe Gonzaga Pinto Rodrigues | |
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Luiz Filipe | |
Nascimento | 21 de março de 1887 Vila, Melgaço |
Morte | 10 de agosto de 1949 Viana do Castelo |
Nacionalidade | Português |
Cidadania | Português |
Ocupação | caricaturista, pintor |
Biografia
editarNascido na extinta freguesia de Santa Maria da Porta (atual freguesia de Vila e Roussas), em Melgaço, a 21 de março de 1887, Luís Filipe Gonzaga Pinto Rodrigues era filho de Manuel Ventura Rodrigues, também natural da mesma localidade, tendo partido ainda jovem para Viana do Castelo e posteriormente para Braga a fim de completar o ensino liceal.[2]
Em 1906 ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde começou a desenvolver o seu talento e interesse pelas artes, acabando por integrar o Grupo de Coimbra, um grupo de estudantes universitários, que se reunia habitualmente na residência de António Macedo Papança, conde de Monsaraz, para debater temas literários, políticos e artísticos, tornando-se no centro germinador e propagador do Modernismo em Portugal. Durante esse período, conviveu e travou amizade com Luis Cabral de Moncada, Agnelo Casimiro, Aarão de Lacerda, António Sardinha, Manuel Eugénio Massa, José Hipólito Raposo, Afonso Rodrigues Pereira, Manuel Paulo Merêa, João de Lebre e Lima, Luís de Almeida Braga, Alberto Monsaraz ou ainda Almada Negreiros, entre muitos outros nomes.[3][4]
Três anos depois fundou com Thomaz d’Alvim e Alberto da Veiga Simões a revista quinzenária A Farça, tendo ainda criado a capa emblemática do periódico e exercido como diretor artístico desta entre 20 de dezembro de 1909 e 27 de abril de 1910. Sendo emitidos apenas 6 números, apesar da sua curta existência, a revista teve um papel pioneiro na imprensa portuguesa, tornando-se num dos primeiros periódicos a publicar desenhos modernistas no país, após O Gorro. Durante esse período colaborou com Cristiano Cruz, Correia Dias, conhecido como Tira-Linhas, Cristiano de Carvalho, Cerveira Pinto, Emílio Martins, João Valério e M. Pacheco, realizando várias ilustrações que criticavam as desigualdades sociais e injustiças políticas através do humor.[5][6]
Durante os anos 10 do século XX, após o encerramento da revista, Luís Filipe Gonzaga Pinto Rodrigues trabalhou essencialmente como ilustrador, colaborando com vários jornais e revistas, como A Águia,[7] O Povo, Límia,[8] Gente Nova,[9] Folha de Viana, A Montanha, A Rajada ou ainda A Bomba, e participou com várias obras no II Salão de Modernistas realizado no Porto.
De ideais republicanos e democratas, em 1919, foi preso por ser anti-sidonista, tendo ainda preso conseguido publicar no jornal A Velha uma crítica ao regime em vigor, acusado-o de censura.[10]
Na década de 1920, regressou a Melgaço, sua terra natal, onde exerceu como advogado, e posteriormente como notário no concelho vizinho de Monção.[11][12]
Um ano depois, a 17 de janeiro de 1921, casou-se com Maria José Malheiro de Faria e Távora Abreu e Lima (1893-?),[13][14] natural de Viana do Castelo e filha de Bento Malheiro Pita de Vasconcelos, 4.º e último visconde da Carreira, e de Maria Luísa de Faria e Távora de Abreu e Lima, senhora da Casa da Carreira, descendente de D. António de Faria da Costa Pereira Barreto de Vilas Boas, senhor da Casa de Agrela e comendador da Ordem Militar de Nª Srª da Conceição de Vila Viçosa, e de D. Maria José de Távora de Abreu e Lima, da Casa de Abreu e da Casa dos Távoras.[15]
Anos mais tarde, fixou-se com a sua esposa em Viana do Castelo, onde continuou a exercer como notário e advogado, realizando pontualmente alguns cartazes para alguns eventos culturais, as romarias da Senhora da Agonia ou ainda uma exposição a título individual de caricaturas baseadas em personalidades vianenses e nos seus trajes tradicionais.[16][17]
Faleceu em Viana do Castelo, a 10 de agosto de 1949, com 62 anos de idade.[18]
Homenagens e Legado
editarA 20 de setembro de 2015 foi realizada a exposição "Luiz Filipe e A Farsa da Vida" no Museu Rafael Bordalo Pinheiro, em Lisboa, onde se homenageou a vida e obra do caricaturista e ilustrador melgacense, durante três meses.[19] Entre as várias obras expostas da sua autoria, encontravam-se várias ilustrações de crítica às desigualdades sociais, à monarquia ou à igreja e outros de teor cómico, nomeadamente caricaturas, onde representava amigos e figuras conhecidas da sociedade portuguesa, com especial ênfase à vida social de Viana de Castelo, terra onde viveu os últimos anos da sua vida. A exposição contou ainda com algumas obras realizadas por outros artistas do Grupo de Coimbra, como Cristiano Cruz e Almada Negreiros, que o retrataram ainda em vida através de caricaturas.[20]
Referências
editar- ↑ Grande enciclopédia portuguesa e brasileira: ilustrada com cêrca de 15.000 gravuras e 400 estampas a côres. [S.l.]: Editorial Enciclopédia. 1959
- ↑ «Luís Filipe Gonzaga Pinto Rodrigues». Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC). 1909
- ↑ Marchi, Riccardo (4 de dezembro de 2015). As Raízes Profundas não Gelam? Ideias e Percursos das Direitas Portuguesas. [S.l.]: Leya
- ↑ Maior, Dionísio Vila (1996). Introdução ao modernismo. [S.l.]: Livraria Almedina
- ↑ «O Centenário do Modernismo Gráfico em Coimbra (1909 - 2009)». Humorgrafe, Blog de Informação sobre Humor e Caricatura. 2009
- ↑ Revista da Biblioteca Nacional. [S.l.]: A Biblioteca. 1981
- ↑ «A Águia (1910)». Revistas de Ideias e Cultura
- ↑ «Límia, Revista Mensal Ilustrada de Letras, Ciência e Artes». Modernismo, Arquivo Virtual da Geração de Orpheu. 1910
- ↑ Ecco artistico. [S.l.]: A. Parreiras. 1911
- ↑ Lima, João Evangelista Campos (1920). O Reino da traulitânia: 25 dias da recção monárquica no Pórto. [S.l.]: Renascença Portuguesa
- ↑ «Escrituras de partilhas, declarações de sucessão e divisões». Arquivo Distrital de Viana do Castelo | Arquivo Digital. 1938
- ↑ «Cartório Notarial de Monção - 5º Ofício». Arquivo Distrital de Viana do Castelo | Arquivo Digital
- ↑ «Registo de batismo de Maria José Malheiro de Faria e Távora Abreu e Lima». Arquivo Distrital de Viana do Castelo | Arquivo Digital. 1893
- ↑ Affonso, Domingos de Araújo (1988). Livro de oiro da nobreza: apostilas à Resenha das famílias titulares do reino de Portugal de João Carlos Feo Cardoso Castelo Branco e Torres e Manoel de Castro Pereira da Mesquita. [S.l.]: J.A. Telles da Sylva
- ↑ Sousa, Gonçalo de Vasconcelos e (1992). Costados nobres de Portugal. [S.l.]: Livraria Esquina
- ↑ Martins, Moisés; Gonçalves, Albertino José Ribeiro; Pires, Helena; Rodrigues, Luís Filipe Gonzaga Pinto; Ramos, Carolina (2000). A romaria da Srª da Agonia: vida e memória da cidade de Viana. Viana do Castelo: Grupo Desportivo e Cultural dos Trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo
- ↑ «Memórias da Romaria d'Agonia — 1940». Memórias da Romaria d'Agonia. 1940
- ↑ Botelho, João Alpuim (1996). «Luiz Filipe, um pioneiro do Modernismo em Portugal». Viana do Castelo. Romaria da Sra d’Agonia
- ↑ Gil, Alexandra (15 de outubro de 2015). «Museu Bordalo Pinheiro Expõe Luís Filipe e A Farsa da Vida». C&H, Revista Online de Cultura, Lazer e Viagens
- ↑ «Exposição Luís Filipe e A Farsa da Vida no Museu Bordalo Pinheiro». E-Cultura | Centro Nacional de Cultura. 2015