Manequinho Lopes

Entomólogo e jornalista brasileiro

Manuel Lopes de Oliveira Filho, mais conhecido como Manequinho Lopes (Sorocaba, 14 de março de 1872São Paulo, 28 de fevereiro de 1938) foi um entomólogo e jornalista brasileiro.

Manequinho Lopes
Manequinho Lopes
Nascimento 14 de março de 1872
Sorocaba, SP, Brasil
Morte 28 de fevereiro de 1938 (65 anos)
São Paulo, SP, Brasil
Nacionalidade brasileiro
Cônjuge Cândida Teixeira
Alma mater Universidade de Heidelberg (graduação)
Instituições
Campo(s) Entomologia

Pioneiro jornalista científico do Brasil, Manuel foi chefe do Serviço Científico do Instituto Biológico de São Paulo, chefe da Divisão de Matas, Parques e Jardins de São Paulo e membro do Conselho Florestal do Estado. Realizou pesquisas sobre as pragas que assolavam os cafezais, inclusive a broca-do-café, a principal praga dos cafezais brasileiros.[1]

Idealizador do viveiro de plantas que hoje leva seu nome, o viveiro foi o precursor do Parque do Ibirapuera.[2]

Biografia editar

Manuel nasceu em 1872, em Sorocaba, no seio de uma família rica e influente. Era o filho mais novo líder republicano capitão Manoel Lopes de Oliveira Sobrinho e de Francisca de Assis Vieira Bueno Lopes de Oliveira. Era irmão da Condessa Maria Cândida Bueno Lopes de Oliveira Azevedo e de Rosa Bueno Lopes de Oliveira, Baronesa da Bocaína.[3]

Em Sorocaba não havia oportunidades de ensino que atingissem ao nível esperado pela família, então Manuel foi enviado pelo pai à Europa, onde pode estudar em Zurique, em Paris e em Berlim, dos 10 aos 21 anos de idade. Ingressou na Universidade de Heidelberg, onde se formou em Zoologia, com especialização em Entomologia.[4]

Carreira editar

Ao retornar ao Brasil, em 1893, casou-se com uma prima portuguesa de 16 anos, chamada Cândida Teixeira. Estabeleceu-se então em Botucatu, em uma fazenda própria, que posteriormente foi vendida devido a dificuldades financeiras de seu pai, quando, então, veio para São Paulo. Em 1927, foi criado no estado de São Paulo, o Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal. Manuel passou a integrar a Seção de Entomologia e Parasitologia Agrícola, tornando-se depois chefe científico da instituição.[4]

Ainda em 1927, Manuel escreveu uma matéria para o O Estado de São Paulo, onde reiterava a necessidade de valorização das ciências e das artes aplicadas. Tanto ele quanto seus colegas sentiam um descaso vindo das autoridades do governo paulista referente às ciências em geral. A campanha iniciada por entomólogos brasileiros para combater a broca-do-café e as matérias de Manuel serviram como base para a institucionalização da pesquisa agrícola e sua divulgação por meio da criação do Instituto Biológico.[4]

Em agosto de 1927, Manuel foi comissionado na Prefeitura do Distrito Federal para chefiar a Diretoria de Matas e Jardins e o Serviço de Extinção à Formiga Saúva, na Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro. Durante os anos 1930, no Boletim da Agricultura, publicou o resultado de suas observações e pesquisas no Rio de Janeiro e nos laboratórios do Instituto Biológico.[4]

Manuel também se dedicou ao combate de lagartas nos algodoais do Paraná e em breve se tornaria um dos maiores especialistas em pragas no Brasil.[4] Além da pesquisa com insetos, Manuel adorava mexer com plantas. Era comum encontrá-lo passeando aos finais de semana pela manhã, mexendo em canteiros e jardins, avaliando o solo, raízes, frutos e flores. Como jornalista e entomólogo, respondia dezenas de cartas por mês sobre ataques de pragas diversas culturas, do café ao algodão, das rosas aos tomates e quando era preciso, visitava os agricultores analfabetos pessoalmente.[4]

Por 20 anos, desde 1918, escrevia semanalmente a coluna chamada “Assumptos Agrícolas”, no O Estado de São Paulo onde era conhecido como Oliveira Lopes (O.F.), pois não gostava do apelido de Manequinho Lopes. A colune foi um sucesso e se tornou o caderno “Suplemento Agrícola”, onde Manuel orientava os agricultores em todas as questões referentes ao campo. Foi um incentivador do cultivo de palmito, cinamomo e outras espécies pouco exploradas no Brasil, chegando a oferecer sementes àqueles que escrevessem para o jornal.[4]

Amigo de pessoas importantes da época, como Monteiro Lobato, Manuel foi requisitado pelo então prefeito de capital paulista, Fábio da Silva Prado, que criasse parques e áreas verdes na cidade, então carente deste tipo de espaço. Um de seus sonhos era a implantação de um viveiro na capital, que crescia e carecia de arborização.[4]

Em 1916, a prefeitura comprara um terreno na Vila Clementino próximo ao atual Parque do Ibirapuera, área pantanosa, com aldeias indígenas que passou a ser área de pastagens para as boiadas do interior destinadas ao Matadouro Municipal (atual Cinemateca). O viveiro da Água Branca foi transferido para este terreno, em 1928, perto de onde seria erguido o futuro prédio-sede do Instituto Biológico.[4]

Manuel já conhecia a região do Ibirapuera e para remover o excesso de umidade do local, Manuel plantou diversos eucaliptos australianos, para que pudessem drenar o solo, viabilizando o plantio de diversas árvores no local, desde árvores nativas, a espécies exóticas, arbustos, trepadeiras e flores. A antiga estufa do viveiro do Jardim Público da Luz foi transferida para o novo viveiro. Este canteiro criado por Manuel em 1936 tornou-se o maior e mais variado viveiro de plantas da América Latina.[4][5]

Em 1936, o então prefeito incentivou a população ao plantio de árvores, com mudas fornecidas gratuitamente.[4][5][6]

Morte editar

Dois anos depois, Manuel ficou gravemente doente, devido à intoxicação por pesticidas. Ele morreu em 28 de fevereiro de 1938, na capital paulista, aos 65 anos. Para homenageá-lo, o prefeito da cidade deu o nome de Viveiro Manequinho Lopes para o Viveiro Municipal.[4]

Durante os 30 anos seguintes, o viveiro abasteceu os jardins da cidade, promoveu a manutenção e o plantio de novas árvores, além de fornecer hortaliças, plantas frutíferas e ornamentais para São Paulo. Com 4.8 hectares, o viveiro conta hoje com 10 estufas, 97 estufins, 3 telados e 39 quadras entre quadras de matrizes e de estoque de mudas envasadas, prontas para o fornecimento aos órgãos públicos municipais. O viveiro foi restaurado por Burle Marx e entregue à população em 24 de março de 1994.[7]

Uma nova intervenção foi realizada em 2018, com reforma das principais estufas.[8][9]

Polêmica editar

Quando a prefeitura de São Paulo passou a concessão do Ibirapuera e outros cinco parques da capital para a iniciativa privada, foi noticiado pelo site Rede Brasil Atual que o local seria demolido para virar um restaurante.[10] Uma petição online chegou a ser criada para impedir a demolição. Porém, ao contrário do que foi noticiado, a revitalização do espaço está incluída como obrigatória no edital para a concessão dos parques. O viveiro se trata de um bem tombado pelos órgãos de patrimônio público municipal e estadual e a preservação e restauro das estufas históricas está prevista no edital.[11]

Referências

  1. Oliveira Filho, Manuel Lopes de (1927). «Contribuição para o conhecimento da broca-do-café Stephanoderis hampei (Ferr., 1867): modo de comportar-se e de ser combatida em S.P.». Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio. 95 páginas 
  2. Mauricio Xavier (ed.). «Saiba quem foi Manequinho Lopes, o 'pai' do Parque do Ibirapuera». Revista Veja. Consultado em 14 de dezembro de 2023 
  3. «Condessa Maria Cândida Bueno Lopes de Oliveira Azevedo». Hospital Dom Alvarenga. Consultado em 14 de dezembro de 2023 
  4. a b c d e f g h i j k l Obeidi, B.M.; D'Agostini, S.; Vitiello, N. (2014). «Manuel Lopes de Oliveira Filho, jornalista científico do começo do século XX» (PDF). São Paulo. Páginas do Instituto Biológico. 10 (2): 6-13. doi:10.31368/1809-3353a00442020. Consultado em 14 de dezembro de 2023 
  5. a b «Viveiro Manequinho Lopes». Ibirapuera. Consultado em 14 de dezembro de 2023 
  6. «Aos 50, Ibirapuera reabre marco zero». Folha de S. Paulo. 21 de agosto de 2004. Consultado em 14 de dezembro de 2023 
  7. Patricia Decia, ed. (25 de março de 1994). «Termina reforma do viveiro que abastece a cidade». Folha de S. Paulo. Consultado em 14 de dezembro de 2023 
  8. Priscila Mengue, ed. (23 de setembro de 2018). «A nova fase do Viveiro Manequinho Lopes, do Ibirapuera». Terra. Consultado em 14 de dezembro de 2023 
  9. «Parque Ibirapuera reabre estufas de viveiro histórico após restauração». G1. 23 de setembro de 2018. Consultado em 14 de dezembro de 2023 
  10. «Viveiro do Parque Ibirapuera vai ser derrubado para virar restaurante». Rede Brasil Atual. 14 de março de 2018. Consultado em 14 de dezembro de 2023 
  11. Aléxia Saraiva, ed. (16 de março de 2018). «Viveiro do Ibirapuera será demolido para dar lugar a rede de fast-food?». Gazeta do Povo. Consultado em 14 de dezembro de 2023