Morada Nova (ovelha)

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Morada Nova é uma raça de ovelha desenvolvida na região nordeste do Brasil, principalmente no município de Morada Nova no Ceará, com as características de não possuir , predominantemente mochos e possuírem couro de excelente qualidade. No início a denominação era "carneiro deslanado do nordeste" mas este nome não foi mais usado. Internacionalmente é chamada de "Brazilian Woolless".

Ovinos Morada Nova

História

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O Morada Nova descende do tronco de ovelhas denominado Jaguaribe, onde esta raça é a mais numerosa e conhecida[1]. Este tronco é possivelmente formado de ovinos de origem portuguesa e espanhola, junto com raças indianas e africanas. Das raças de origem ibérica a que mais se assemelha, atualmente, é a raça Canária de Pelo[2][3][4][5], das raças de origem africana a que mais se assemelha é a Sahel[6], porém na sua formação pode ter contribuído também a Somalis, Dâmara e raças adaptadas ao território brasileiro como a Somalis Brasileira[7] e a Rabo Largo[8], dentre outras raças crioulas. Desde o descobrimento do Brasil, tais raças foram deixadas principalmente no nordeste pelos portugueses e tiveram que se adaptar e sobreviver, desenvolvendo-se por séculos, resultando nos animais atuais. A raça recebeu este nome devido ao relato do zootecnista Octávio Domingues que viu e descreveu estas ovelhas na região de Morada Nova, em 1938. Percebendo a dificuldade de um camponês no manejo de algumas destas ovelhas, perguntou a este homem se existiam outras do tipo recebendo como resposta que "havia milhares na região".[9] O Morada Nova esteve em vias de extinção, devido ao fato de que diversos criadores no nordeste estavam trocando seus plantéis por animais de outra raças de maior tamanho e de origem europeia, mas um grupo de criadores fizeram um trabalho de recuperação da raça que se iniciou a partir da década de 80 do século XX[10] e o processo de recuperação ainda é feito. O Morada Nova foi usado na formação da raça Santa Inês.[11]

Características

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A raça é de dupla aptidão para carne e couro, destacando-se por ser muito rústica, reduzindo bastante os custos de criação. Por ter se desenvolvido no semiárido nordestino, se adapta bem a regiões de muito calor e adaptado para digestão de vegetação de baixo valor nutritivo. É um ovino que consegue sobreviver bem digerindo gramíneas, folhas e ramos secos[12] em épocas de estiagem (comum na caatinga) quando criado em regime extensivo explorando a vegetação nativa, pois compensa a baixa quantidade de proteína fornecida pela vegetação seca por outras plantas com maiores teores de proteínas como leguminosas típicas do bioma resistentes a seca que mantém índices altos de proteína, o que é um fator que reduz bastante os custos com criação. O animal sobrevive e se desenvolve nestas condições, o que é ideal para criações de subsistência ou criação comercial de baixo custo, mas para criações comerciais produtivas de maior lucratividade se recomenda o fornecimento nas épocas de estiagem (continuarão a se alimentar em campo) de alimentação complementar (ração, feno, silagem, capineira, etc.) para aqueles animais destinados à engorda e ao abate para otimizar o ganho de peso deles.[13][14] Para animais em regime extensivo criados a pasto, em época de estiagem, caso o pasto não seja consorciado com outras espécies vegetais resistentes à seca e com maiores teores de proteína como leguminosas, é essencial o fornecimento de alimentação complementar para que se atinja o mínimo de proteína diária necessária apenas para manter o peso dos animais, pois os animais não conseguirão atingir este valor mínimo de proteínas diárias caso se alimente somente de pasto composto de gramíneas secas de baixo valor nutricional.

É um animal deslanado e seu couro é considerado de excelente qualidade[15], um dos melhores entre as raças de ovinos. Sua carne é apontada por apreciadores de carne de ovinos como macia, de alta qualidade, muito suculenta e benéfica a saúde.[16][17][18] Restaurantes com gastronomia requintada têm procurado no Morada Nova suprir uma demanda por carne de ovino diferenciada para atender clientes de paladar exigente, oferecendo opções de cortes e/ou preparos especiais.[19]

São animais de pouca altura, porém parrudos. Num primeiro momento, a raça pode não surpreender em termos de aparência, contudo o porte menor da raça permite uma maior quantidade de animais por hectare comparada a raças maiores, ganhando vantagens em termos de peso total e número de nascimentos[20]. O Morada Nova é uma das raças com maior prolificidade, com média de nascimentos por volta de 1.7 por parto e intervalo entre os partos curto por volta de de 9 meses[21][22][23][24][25], sendo comum o nascimento de gêmeos e relativamente comum o parto de trigêmeos com mães de excelente habilidade maternal[26]. O peso dos machos fica entre 40 e 60 quilos e as fêmeas entre 30 e 50 quilos[27]. Sua cor varia desde um vermelho mais escuro até um mocho mais claro. O tamanho das orelhas chamam bastante a atenção, é uma das menores entre os ovinos.

Distribuição do plantel

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A grande maioria dos animais estão concentrados no nordeste brasileiro, porém há criadores que estão comprando e desenvolvendo a raça em outras regiões do Brasil de olho em seu potencial. Já existem criadores no sudeste e centro-oeste.[28]

Melhoramentos genéticos

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Reprodutor Morada Nova

Com o crescente interesse pela raça, os criadores tem se esforçado para melhorar a qualidade do plantel, com a assessoria da Embrapa, para produzir animais com melhor conformação física e qualidade de carcaça. O trabalho de seleção já tem rendido frutos: há criadores produzindo excelentes reprodutores neste sentido, sendo comercializados a um preço bem alto no mercado. A tendência no decorrer do tempo é a qualidade geral do rebanho melhorar, mantendo suas já conhecidas características como carne e couro de excelente qualidade, rusticidade, tamanho pequeno, tolerância ao calor, capacidade de digerir pastagens de baixa qualidade, prolificidade, etc.[29]

Valor genético

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A raça também tem despertado bastante interesse pelo fato de ser adaptada a regiões quentes e capacidade de digerir vegetação de baixa qualidade, característica também presente no cerrado, onde a estiagem pode durar vários meses, dependendo das condições climáticas de cada ano. Em um cenário de aquecimento global, raças rústicas e resistentes ao calor têm se valorizado.[30] A raça possui séculos de adaptabilidade à caatinga, mas ainda são necessários vários estudos para indicar o que torna a raça tão apta a sobreviver à estiagem comendo vegetação nativa em época de seca. Alguns estudos indicam que a raça tem uma menor frequência respiratória[31][32], maior tolerância ao calor[33][34][35], maior resistência à vermes[36][37][38] e boa conversão alimentar, o que podem ajudar a responder a questão, mas provavelmente não são as únicas. A busca por tais genes podem levar a melhor aprimoramento e produtividade da raça e a um importante recurso genético para o melhoramento ou criação de novas raças[39], o que torna tais animais numa ótima alternativa para as populações de regiões tropicais, assim como tem acontecido com o crescente interesse pela raça bovina Curraleiro Pé-Duro.[40]

Ver também

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Referências

  1. Façanha, Débora Andrea Evangelista (9 de maio de 2012). «Morada-Nova e Canárias,com raça além do esperado» (PDF). O Berro nº 155. Consultado em 4 de setembro de 2017 
  2. OvinoCanario (26 de dezembro de 2011), Ovino Canario de Pelo - Orígenes y características, consultado em 4 de setembro de 2017 
  3. «Raza ovina Canaria de Pelo». www.infocarne.com. Consultado em 4 de setembro de 2017 
  4. «Raza ovina CANARIA DE PELO - Catálogo oficial de razas - Razas - Razas Ganaderas (ARCA) - Zootecnia - Ganadería - mapama.es». www.mapama.gob.es (em espanhol). Consultado em 4 de setembro de 2017 
  5. «'Razas Autóctonas Canarias' (IV): Ovino Canario de Pelo.». BienMeSabe.org (em espanhol) 
  6. «Breeds of Livestock - Sahel-type Sheep — Breeds of Livestock, Department of Animal Science». www.ansi.okstate.edu (em inglês). Consultado em 4 de setembro de 2017 
  7. «Somalis Brasileira, símbolo de resistência às condições climáticas adversas - Radar Técnico - Ovinos e Caprinos - MilkPoint». www.milkpoint.com.br. Consultado em 2 de agosto de 2017 
  8. bib.ge. «Rabo Largo ovelha». bib.ge. Consultado em 2 de agosto de 2017 
  9. «Voltar». www.dzo.ufla.br. Consultado em 4 de setembro de 2017. Arquivado do original em 3 de maio de 2017 
  10. «MORADA NOVA». www.dzo.ufla.br. Consultado em 30 de março de 2017. Arquivado do original em 3 de maio de 2017 
  11. «Ovinos Santa Inês». Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos do Estado de Minas Ger 
  12. «Sítio Rio Negro - Ovinos Morada Nova». www.sitiorionegro.com.br. Consultado em 30 de março de 2017. Arquivado do original em 1 de março de 2017 
  13. Maria Brancacci Lopes Zeola, Nivea (1 de fevereiro de 2002). «INFLUÊNCIA DA ALIMENTAÇÃO NAS CARACTERÍSTICAS QUANTITATIVAS DA CARCAÇA E QUALITATIVAS DA CARNE DE CORDEIROS MORADA NOVA» (PDF). UNESP. Consultado em 5 de abril de 2017 
  14. «Ovinos Morada Nova - histórico, características e aptidões da raça». CPT 
  15. Antonio Chagas Jacinto, Manuel (18 de dezembro de 2002). «Características Anátomo-Estruturais da Pele de Ovinos (Ovis áries L.) Lanados e Deslanados, Relacionadas com o Aspecto Físico-Mecânico do Couro» (PDF). Scielo. Consultado em 5 de abril de 2017 
  16. «Principais raças ovinas para corte». www.infobibos.com. Consultado em 4 de maio de 2017 
  17. de Nazaré Carneiro da Silva, Luiza (1 de novembro de 2017). «Carne de cordeiros de diferentes genótipos criados no semiárido Nordestino: ácidos graxos» (PDF). CNPA. Consultado em 29 de março de 2017 
  18. GUADALUPE LIMA PEIXOTO ANDRADE, MARIA (1 de fevereiro de 2013). «CARACTERÍSTICAS DA CARCAÇA E QUALIDADE DA CARNE DE CORDEIROS SANTA INÊS E MORADA NOVA EM DIFERENTES PESOS DE ABATE» (PDF). UFRPE. Consultado em 29 de março de 2017 
  19. «Ovinos Morada Nova - histórico, características e aptidões da raça». CPT 
  20. Sartori Bueno, Mauro (1 de janeiro de 2005). «MORADA NOVA: UMA RAÇA COM POTENCIAL PARA PRODUÇÃO DE CARNE» (PDF). Instituto de Zootecnia do Estado de São Paulo. Consultado em 24 de outubro de 2017 
  21. Machado, Théa M. «Raças raras de pequenos ruminantes no Brasil / Rare breeds of small ruminants in Brazil» 
  22. BERNARDO SEILAVI VILLARROEL, ARTURO (1 de janeiro de 2000). «Desempenho Reprodutivo de Ovelhas Deslanadas Morada Nova no Estado do Ceara». UFPI. Consultado em 7 de abril de 2017 
  23. Rodrigues de Sousa, Diego (1 de novembro de 2013). «Estimativa de parâmetros genéticos para prolificidade em ovinos da raça Morada Nova» (PDF). Embrapa. Consultado em 7 de abril de 2017 
  24. BRENER BEZERRA DE OLIVEIRA, FELIPE (1 de janeiro de 2015). «DESEMPENHO REPRODUTIVO DE OVELHAS MORADA NOVA: EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR COM GLICERINA NO PERÍODO DA PRÉ-COBRIÇÃO E IMPACTO DA CONDIÇÃO CORPORAL NO PÓS-PARTO» (PDF). UECE. Consultado em 7 de abril de 2017 
  25. Quesada, Maurcício (17 de outubro de 2001). «Efeitos Genéticos e Fenotípicos sobre Características de Produção e Reprodução de Ovinos Deslanados no Distrito Federal» (PDF). UnB. Consultado em 10 de abril de 2017 
  26. «Ovinos Morada Nova». Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos do Estado de Minas Ger 
  27. «Aspaco Portal - Raças: Morada Nova». www.aspaco.org.br. Consultado em 30 de março de 2017. Arquivado do original em 30 de março de 2017 
  28. Villela, Luciana Cristine Vasques. «Morada Nova». www.agencia.cnptia.embrapa.br. Consultado em 30 de março de 2017 
  29. «Embrapa lança 1º Sumário de Avaliação Genética de ovinos da raça Morada Nova - Portal Embrapa». www.embrapa.br. Consultado em 30 de março de 2017 
  30. «Mudança no clima faz produtores trocarem bois por ovelhas e cabras». leiamais.ba. Consultado em 10 de outubro de 2019 
  31. José Veríssimo, Cecília (1 de dezembro de 2006). «Tolerância ao calor em ovelhas lanadas e deslanadas, em Nova Odessa, Estado de São Paulo» (PDF). Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. Consultado em 5 de abril de 2017 
  32. «A raça Morada Nova: adaptabilidade e rusticidade para enfrentar as mudanças climáticas - Radar Técnico - Ovinos e Caprinos - MilkPoint». www.milkpoint.com.br. Consultado em 7 de abril de 2017 
  33. Oliveira, Steffan Edward Octávio; Costa, Cíntia Carol de Melo (1 de julho de 2013). «Perda de calor respiratório em ovinos Morada Nova no semiárido brasileiro». Journal of Animal Behaviour and Biometeorology (em inglês). 1 (1): 17–20. ISSN 2318-1265. doi:10.14269/2318-1265.v01n01a04 
  34. ALBERTO L. RUFINO, Luís (1 de novembro de 2016). «TOLERÂNCIA AO CALOR DE OVINOS MORADA NOVA CRIADOS EM CLIMA TROPICAL» (PDF). Embrapa. Consultado em 5 de abril de 2017 
  35. HODY GURGEL MORAIS, JACINARA (1 de setembro de 2011). «CARACTERIZAÇÃO DE ATRIBUTOS ADAPTATIVOS DE OVINOS DA RAÇA MORADA NOVA» (PDF). UFERSA. Consultado em 5 de abril de 2017 
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  38. Francisco Talamini do Amarante, Alessandro (1 de junho de 2004). «RESISTÊNCIA GENÉTICA A HELMINTOS GASTRINTESTINAIS» (PDF). Sociedade Brasileira de Melhoramento Animal. Consultado em 5 de abril de 2017 
  39. www.abissaldesign.com.br, Abissal Design & Comunicação -. «CRMV-PR: Imprensa > Notícias». www.crmv-pr.org.br. Consultado em 5 de abril de 2017 
  40. «Blog do Tião » Curraleiro/pé duro, "forte e selvagem como uma onça", é reconhecido oficialmente  » Arquivo». colunas.globorural.globo.com. Consultado em 30 de março de 2017 

Ligações externas

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