Narses (general sob Maurício)

 Nota: Para outros significados, veja Narses.

Narses (em grego: Ναρσής; m. 605), erroneamente referido como Anastácio (em latim: Anastasius; em grego medieval: Ἀναστάσιος; romaniz.: Anastásios) por Miguel, o Sírio e Bar Hebreu,[1] foi um oficial bizantino de ascendência armênia, ativo durante os reinados dos imperadores Maurício (r. 582–602) e Focas (r. 602–610), no final do século VI e início do século VII. Notabilizou-se por sua atuação no Oriente durante os conflitos com o Império Sassânida e teve papel central na expedição que reassegurou o trono do deposto Cosroes II (.r 590–628) em 591. Pouco após a execução de Maurício e a usurpação de Focas, rebelou-se até sua eventual execução. As fontes o celebram como um relevante general, cujo sucesso foi interrompido pela usurpação de Focas.

Narses
Nascimento século VI
Morte 605
Constantinopla
Causa da morte morte na fogueira
Nacionalidade Império Bizantino
Etnia Armênia
Religião Cristianismo
Dracma de Cosroes II cunhado em 590
Dracma de Vararanes VI (r. 590–591)

Narses é a forma helenizada e latinizada do nome. Em armênio, ocorre como Nerses. A atestação mais antiga do nome ocorre nos Feitos do Divino Sapor, uma inscrição trilíngue do reinado do xainxá sassânida Sapor I (r. 240–270). Em parta é registrado como Narsēs e em pálavi como Narsē. O nome deriva do avéstico Nairyō saŋha-, que literalmente significa "o de muitos discursos", ou seja, o mensageiro divino.[2]

As origens de Narses são desconhecidas, mas seu nome sugere ascendência armênia, como outros homônimos do mesmo período. Também é por vezes confundido ou identificado com alguns deles, como o Narses nomeado por Tibério II (r. 574–582) como subcomandante (hipoestratego) do general Maurício numa campanha contra o Império Sassânida por volta de 577-578, mas esse indivíduo melhor se associa ao sacelário homônimo ativo à época. Por volta de 587/88, aparece como dique de Constantina em Osroena. Filípico o designou como comandante do exército oriental que foi confiado a Heráclio, o Velho. É provável que tenha recebido essa função na posição de mestre dos soldados (honorífico ou titular [vacante]) igual em posição a Heráclio.[1]

 
Soldo de ouro do imperador Maurício (r. 582–602)
 
Soldo de ouro do imperador Focas (r. 602–610)

No final de 590 / começo de 591, serviu como membro da guarda do mestre dos soldados do Oriente Comencíolo quando marcharam em sua expedição ao Império Sassânida para restaurar o deposto Cosroes II (.r 590–628). Em janeiro de 591, Comencíolo foi demitido por alegadamente desrespeitar Cosroes e Narses o substituiu como comandante, indicando que devia ter uma posição de destaque na guarda.[3] Narses e Cosroes conduziram as tropas de Mardim para Dara, na Mesopotâmia, onde sua nomeação foi oficializada por Domiciano de Melitene, e então ao rio Migdônio e ao Tigre, onde esperaram reforços da Armênia liderados por João Mistacão.[4] Durante a decisiva Batalha do Blaratão, na qual o usurpador Vararanes VI (r. 590–591) foi totalmente derrotado, Narses comandou o centro do exército com Cosroes. Antes de regressar ao Império Bizantino, alertou ao reimpossado xainxá que lembrasse da ajuda que recebeu.[5]

Em 601, o nobre armênio Atato Corcorúnio rebelou-se e partiu da Trácia, para onde havia sido enviado anos antes, à Armênia, onde tomou a fortaleza de Naquichevão. Os bizantinos liderados por um general anônimo, o sitiaram e propõe-se que esse oficial seja Narses. O cerco foi infrutífero, haja vista a aproximação de um exército de alívio sassânida.[6] Em novembro de 602, Narses estava estacionado em Dara, mas após reclamações feitas por Cosroes, Maurício decidiu substituí-lo na fortaleza por Germano. No mesmo mês, Maurício e sua família foram destronados e executados por Focas (r. 602–610). No final de 603, após ter se tornado aparente que Cosroes não reconheceria Focas, Narses rebelou-se contra o usurpador e tomou Edessa. Enviou um pedido de ajuda a Cosroes e alegou, segundo algumas fontes, que estava protegendo Teodósio, o único filho sobrevivente de Maurício. Enquanto esteve na cidade, segundo Miguel, o Sírio, executou por apedrejamento o bispo calcedônio Severo de Edessa (578–603).[7]

No começo de 604, Germano sitiou Narses em Edessa, mas foi surpreendido por um exército sassânida que o derrotou e o feriu mortalmente. Pouco depois, quando os sassânidas estavam atacando Dara, Leôncio foi enviado para sitiá-lo. A cidade capitulou, mas Narses conseguiu escapar para Hierápolis Bambice em 605. Após a morte de Leôncio, Focas enviou Domencíolo ao Oriente, que persuadiu Narses a capitular sob promessas de salvo-conduto. Segundo Nicéforo Calisto Xantópulo, era um general formidável destruído por Focas, enquanto para Teófanes, o Confessor e Jorge Cedreno, era muito temido na Pérsia. Fontes tardias atribuem a ele a fundação de igrejas de São Pantaleão e dos Santos Mártires e também a fundação de um hospício.[7]

Referências

  1. a b Martindale 1992, p. 933.
  2. Fausto, o Bizantino 1989, p. 395.
  3. Martindale 1992, p. 933-934.
  4. Martindale 1992, p. 680–681.
  5. Martindale 1992, p. 934.
  6. Martindale 1992, p. 140.
  7. a b Martindale 1992, p. 935.

Bibliografia

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  • Fausto, o Bizantino (1989). Garsoïan, Nina, ed. The Epic Histories Attributed to Pʻawstos Buzand: (Buzandaran Patmutʻiwnkʻ). Cambrígia, Massachusetts: Departamento de Línguas e Civilizações Próximo Orientais, Universidade de Harvard 
  • Martindale, John R.; Jones, Arnold Hugh Martin; Morris, John (1992). «Narses 10». The Prosopography of the Later Roman Empire - Volume III, AD 527–641. Cambrígia e Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Cambrígia. ISBN 0-521-20160-8