Poema
Um poema é um texto que procura transmitir um conteúdo subjetivo - experiências, pensamentos e afetos - por meio da voz de um eu lírico, em linguagem figurada e com um ritmo verbal. Geralmente, é escrito em versos, mas pode ser também escrito em prosa. Na definição de Afrânio Coutinho, é "a forma que encorpa a poesia".[1]
SE EU MORRESSE AMANHÃ
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que amanhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o doloroso afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
Álvares de Azevedo [2]
No exemplo acima, o eu lírico procura transmitir a tensão entre a paixão pela vida e o desejo pela morte. Para isso, faz uso de diversos tropos - como "dor no peito", "fechar meus olhos" etc. -, que garantem ao texto imagens vivas que retratem o corpo do conteúdo. Além disso, emprega também diversos artifícios rítmicos - como rimas, versos métricos, assonâncias, aliterações etc. - que emprestam às palavras um aspecto musical.
Fortemente relacionado com a música, o poema tem as suas raízes históricas nas letras de acompanhamento de peças musicais. Até a Idade Média, os poemas eram predominantemente cantados. A partir do Renascimento - precisamente a partir dos humanistas italianos, como Francisco Petrarca e Dante Alighieri -, os poemas para recitar passaram a ser fortemente cultivados, mas desde a Antiguidade já existiam exemplos de poemas sem acompanhamento musical, como em alguns salmos bíblicos e em algumas odes de Horácio.
Pelo que sabemos, os poemas existem desde antes da escrita. Foi cultivado em muitas culturas, como na hebraica, egípcia e mesopotâmica, e em algumas, como na grega, o poema foi a forma predominante de literatura.[3]
História do poema no ocidente
editarO primeiro documento literário do ocidente é justamente um longo poema: A Ilíada, de Homero. Ao longo de toda a literatura grega, os poemas constituíram a principal forma de literatura, estando presentes em narrativas - Homero, Hesíodo -, peças de teatro - Ésquilo, Sófocles, Eurípides - e também em produções líricas - Píndaro, Safo, Anacreonte. A prosa, nessa época, só era bem difundida em textos filosóficos, que nessa época, não chegavam a ser considerados literatura.[4]
A tradição poética se manteve durante o período romano, e durante a Idade Média ocorreram diversas modificações. Para começar, perto da queda romana, as rimas se desenvolveram, nos poemas de Santo Ambrósio, e com a transição do latim para as línguas neolatinas, a versificação, antes pautada na duração das sílabas, agora se pautava na intensidade delas.[5]
A partir do Trovadorismo, os poemas ocidentais começaram a ser produzidos em línguas nacionais, mas somente no meio popular.
Com o Renascimento, os poetas desenvolveram as línguas nacionais europeias e passaram nelas com maior recorrência. Surgem os principais poetas europeus: Dante, Petrarca, Camões, Shakespeare etc., que desenvolvem diversas formas poéticas novas, como o soneto.
Com as revoluções culturais burguesas, com eco no Arcadismo e no Romantismo, os poemas assumem feição mais intimista, inaugurando um novo lirismo, em linguagem mais simples e nacional.
Com o surgimento do Simbolismo e das vanguardas europeias, o poema passa por diversas transformações: a popularização do verso livre, o surgimento do poema em prosa, o surgimento da poesia visual, a valorização de uma linguagem obscurantista, de difícil compreensão etc. Essas transformações são impulsionadas por grandes gênios como Charles Baudelaire, Walt Whitman, Paul Verlaine, Arthur Rimbaud, Stéphane Mallarmé, Emily Dickinson, Guillaume Apollinaire e muitos outros. Ao longo do século XX, durante o Modernismo, essas transformações se perpetuam e se desenvolvem por meio de nomes como T. S. Eliot e Ezra Pound.
Referências
- ↑ Coutinho, Afrânio dos Santos (2015). Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Vozes. p. 82. ISBN 978-85-326-3747-5
- ↑ AZEVEDO, Álvares de (2012). Lira dos vinte anos. São Paulo: Martin Claret. pp. 228–229. ISBN 978-85-7232-342-0
- ↑ «O que são poemas? Como e quando surgiram?». Consultado em 21 de maio de 2023
- ↑ «Literatura grega: características, obras, autores». Brasil Escola. Consultado em 13 de outubro de 2023
- ↑ CARPEAUX, Otto Maria (2012). A literatura grega-latina por Carpeaux. Rio de Janeiro: LeYa. pp. 120–122. ISBN 978-85-8044-525-1
Bibliografia
editar- COUTINHO, Afrânio dos Santos. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Vozes, 2015.
- CARPEAUX, Otto Maria. História da literatura ocidental. Rio de Janeiro: LeYa, 2012.