Regilena Carvalho

foi uma das poucas sobreviventes na Guerrilha do Araguaia, lutou contra a ditadura brasileira, foi presa e torturada

Regilena Carvalho (nascida Regilena da Silva Carvalho em Pedralva, 9 de janeiro de 1947), chamada também Regilena Carvalho da Silva e Regilena Carvalho Leão de Aquino, foi militante do PC do B e guerrilheira de codinome Lena; uma das poucas sobreviventes da Guerrilha do Araguaia. Concedeu diversos depoimentos sobre esse período histórico. Jornalista, escreveu o livro Araguaia - da guerrilha ao genocídio, com Rubim Santos Leão de Aquino.[1][2][3][4][5]

Regilena Carvalho
Nascimento 9 de janeiro de 1947
Pedralva
Cidadania Brasil
Ocupação Guerrilha do Araguaia

Vida política editar

Regilena casou-se com Jaime Petit da Silva em Itajubá em 24 de setembro de 1968. Seu companheiro já era militante do PC do B e a recrutou para organização em 1969. Dois anos depois foram morar na região escolhida pelo partido para o desenvolvimento da guerrilha rural, na região sul do Pará, integrando-se ao destacamento C da Guerrilha do Araguaia.[6]

No fim de julho de 1972 os militares chegaram à região. Com o Exército na área os guerrilheiros não podiam se dar o luxo de atirar para caçar e, como acampamento precisava se alimentar, Lena saiu numa manhã com a companheira Áurea Valadão para fazer uma caça silenciosa, porém acabou se perdendo de Áurea e dormindo na mata. Não conseguiu voltar para o acampamento e havia helicópteros sobrevoando a área. Faminta, desrespeitou uma norma de segurança do grupo, e chegou a um local conhecido, a morada de dona Valdó e seu Manuel, amigos dos guerrilheiros. No entanto, pela folhagem cortada na frente da casa Regilena percebeu que a vigilância do Exército tinha chegado até ali. O casal também estava diferente. Com as primeiras palavras de dona Valdó, a guerrilheira confirmou suas suspeitas; a senhora lhe contou que Maria Lúcia Petit da Silva, irmã de seu companheiro Jaime, tinha sido morta, e que achava que ela deveria se entregar. Maria Lúcia foi a primeira mulher morta do destacamento. Quando o helicóptero chegou para levar Regilena à prisão, ela hesitou e tentou fugir, mas acabou voltando e se rendeu. Lena foi levada para Brasília, onde ficou presa no 3º Quartel da Brigada de Infantaria, e recebeu um tratamento atípico; em depoimento afirmou ter apanhado apenas no primeiro dia de interrogatório e que acreditava não ter passado por outros tipos de tortura porque não era uma figura importante no partido.[7][4]

Durante o período que esteve na prisão, até dezembro de 1972, Regilena acompanhou a queda de seus companheiros do Araguaia; as informações detalhadas lhe eram dadas pelo general Antônio Bandeira, um dos responsáveis pelo combate à guerrilha. Mais tarde, em depoimento prestado na Câmara dos Vereadores de São Paulo, à Comissão de Inquérito de Desaparecidos Políticos, Regilena acusou o general Bandeira de ter afirmado que em 20 de setembro de 1972, Miguel Pereira dos Santos, morto em combate, teve sua mão direita decepada com o motivo de levar apenas a mão, e não o corpo todo, para que fossem identificadas as impressões digitais, constituindo assim uma nova evidência de que os corpos dos guerrilheiros eram trucidados pelos militares.[8][9][10][11]

Em 2006 a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça concedeu o status de anistiados políticos a 11 ex-guerrilheiros do Araguaia, incluindo Jaime Petit da Silva, companheiro de Regilena à época, e aprovou o pedido indenização encaminhado à Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.[12][6][13]

Obra editar

  • Carvalho, Regilena e Santos Leão de Aquino, Rubim. Araguaia - da guerrilha ao genocídio. 2011. ISBN 978-85-7961-589-4

Bibliografia editar

  • Direito à verdade e à memória: Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos / Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos - Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2007. ISBN 978-85-60877-00-3[14]
  • Gaspari, Elio. A ditadura acabada. 2016. ISBN 978-85-8057-916-1
  • Carvalho, Luiz Maklouf. Mulheres que foram à luta armada. São Paulo: Globo, 1998. ISBN 9788525021335
  • Merlino, Tatiana; Ojeda, Igor: Direito à memória e à verdade: Luta, substantivo feminino. São Paulo: Editora Caros Amigos, 2010.[15][16]
  • Maia, Iano Flávio de Souza. Guerrilheiras do Araguaia: os caminhos de quatro jovens militantes/ Iano Flávio de Souza Maia; Renata Coimbra Siqueira e Dantas; Verónica María Savignano. Campinas: Puc-Campinas, 2004. [7]

Referências

  1. «G1 > Política - NOTÍCIAS - Governo guarda dez ossadas de guerrilheiros do Araguaia». g1.globo.com. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  2. «Folha de S.Paulo - Livro relata abusos sexuais contra presos - 26/08/2007». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  3. «Mortos e Desaparecidos» (PDF). Portal EBC. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  4. a b de Paula Guerra, Fabiana (2006). «Araguaia: desvelando silêncios (A atuação das Mulheres na Guerrilha)» (PDF). Consultado em 30 de setembro de 2021 
  5. «O que foi a Guerrilha do Araguaia?». Brasil Escola. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  6. a b «JAIME PETIT DA SILVA - Comissão da Verdade». comissaodaverdade.al.sp.gov.br. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  7. a b de Souza Maia, Iano Flávio (2004). «Guerrilheiras do Araguaia: os caminhos de quatro jovens militantes/Iano Flávio de Souza Maia; Renata Coimbra Siqueira e Dantas; Verónica María Savignano» (PDF). Consultado em 30 de setembro de 2021 
  8. «Cadernos de Pesquisa do CDHIS - n. 34 - Ano 19 - p. 62-76». 2006. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  9. «Corte Interamericana de Direitos Humanos. Caso Gomes Lund e outros (guerrilha do araguaia) versus Brasil» (PDF). 18 de julho de 2009. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  10. «Publicação do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília (PPGHIS/UnB) No. 20, Brasília.». 2012. ISSN 2316-1191 
  11. «Miguel Pereira dos Santos». Memórias da ditadura. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  12. «Planalto. Indenizações - Anexo» (PDF). 2006. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  13. «Senado». www2.senado.leg.br. 14 de abril de 2006. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  14. «Direito à verdade e à memória: Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos». 2007. Consultado em 30 de setembro de 2021 
  15. Merlino, Tatiana (2010). «Direito à memória e à verdade: Luta, substantivo feminino» (PDF). Consultado em 30 de setembro de 2021 
  16. «Simesp | "Luta" sempre foi substantivo feminino». simesp.org.br. Consultado em 30 de setembro de 2021