Sahel (Tunísia)

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 Nota: Para outros significados, veja Sahel (desambiguação).

O Sahel (em árabe: الساحل) é uma região do leste da Tunísia que se estende desde o golfo de Hammamet a norte até Chebba, algumas dezenas de quilómetros a sul de Mahdia ou, segundo outras fontes, se estende bastante mais para sul, até à região de Skhira, cerca de 100 km a sul de Sfax. O nome significa "litoral" ou "costa" em árabe. As cidades mais importantes da região são Sousse (a maior), Monastir (principal polo universitário da região) e Mahdia. A cidade histórica de Cairuão, capital de vários reinos medievais e classificada como Património Mundial pela UNESCO, também se encontra no Sahel.[1]

Sahel
—  Região geográfica e histórica  —
Sahel (Tunísia)
Postal de 1899 de Sousse, a maior cidade do Sahel
Localização
Ficheiro:Tunísia
Localização de Sousse, aproximadamente no centro do Sahel
Coordenadas 35° 49' N 10° 37' E
País  Tunísia
Localidades mais próximas Sousse, Monastir e Mahdia

Geografia editar

A paisagem do Sahel é composta por colinas que isolam as estepes baixas da costa e que estão cobertas de olivais, que sobrevivem apesar da baixa pluviosidade, a qual é compensada pela humidade atmosférica. A região tem caraterísticas geográficas particulares e distintivas e especificadades humanas e económicas desde a Antiguidade.

Em termos administrativos, o Sahel pertence a três províncias: Sousse, Monastir e Mahdia. É uma região relativamente pequena, com cerca de 140 km de norte a sul e entre 20 e 60 km de leste a oeste, totalizando aproximadamente 6 600 km de área, o que perfaz 4,02% da área total da Tunísia.

História editar

Fenícios, cartagineses, romanos e bizantinos editar

A maior parte das cidades sahelianas foram fundadas pelos púnicos, como é o caso de Hadrumeto (atual Sousse), fundada ainda antes da própria Cartago, no início do século IX a.C. por Fenícios de Tiro. Hadrumeto ganhou importância nos séculos seguintes tornando-se um dos principais entrepostos fenícios do Mediterrâneo Ocidental.

O Sahel foi palco de uma das batalhas mais importantes da guerra civil entre Júlio César e Pompeu. O primeiro desembarcou em Hadrumeto a 28 de dezembro de 47 a.C. e dirige-se a Tapso, que cerca. A batalha de Tapso tem lugar a 6 de fevereiro de 46 e resulta numa vitória esmagadora dos Populares de César. O cerco à cidade prosseguiu, mas pouco tempo depois a cidade era tomada[2] e César dirige-se para o norte da Tunísia.

O Sahel corresponde em grande parte à província romana de Bizacena. Durante o período bizantino, a região foi uma das sete províncias da prefeitura de África, que se estendia até ao oceano Atlântico. Historicamente, é uma região de intercâmbios (de comércio, turismo e de peregrinação).

Período árabe-muçulmano medieval editar

 
Ribat de Monastir

Com a chegada do Islão à região, esta torna-se a porta marítima da Ifríquia (nome da Tunísia medieval muçulmana), cuja segurança era prioritária, tanto mais que a capital, Cairuão, se encontra na região. Esta situação explica a construção de vários ribats, que têm funções defensivas e religiosas (ou "marabuticas"). Os ribats mais importantes foram os de Monastir, construído pelo governador Harthama ibn A'yun c. 796,[3] e o de Sousse, erigido pelos emires aglábidas.

Sousse é dotada nesse período de um estaleiro naval que tem um papel importante na conquista da Sicília, da qual a cidade é o porto de partida. A fundação de Mahdia pelos Fatímidas em 916[4] dá ao Sahel uma importância política que se prolonga durante o reinado dos Zíridas.

Cairuão perde um pouco da sua importância religiosa a favor de Monastir, onde são sepultados os príncipes zíridas e alguns sábios célebres, nomeadamente o imã Mezri. Mahdia foi a sede de uma corte esplêndida que atraía os poetas de todo o Magrebe, do al-Andalus e da Sicília. Todavia, as invasões hilalianas do século XI mergulharam a região no caos e o emirado zírida desmembra-se em várias pequenas taifas. O Sahel torna-se então o único domínio detido de facto pelos Zíridas, mas até Sousse se livra da sua soberania, adotando um sistema republicano. A invasão originou a criação de diversas aldeias que ainda hoje existem. Pouco depois a região enfrenta as invasões dos Normandos. Mahdia é tomada em 1148 pelas tropas de Rogério II da Sicília[5] e fica em mões dos Normandos até 1160, quando é conquistada pelos Almóadas. Depois disso, o Sahel entra em decadência com a transferência da capital para Tunes.

Idade moderna e contemporânea editar

 
O Bordj el Kebir, a fortaleza otomana de Mahdia)

No século XIX o Sahel foi dividido em dois "caidatos" ou awtan (plural de watan, "região"): o de Sousse (watan Susah) e o de Monastir (watan al'Munastir), este último correspondendo aproximadamente às províncias atuais de Monastir e Mahdia. Cada uma dessas divisões administrativas era governado por um caide, um cargo geralmente entregue a personalidades próximas da corte beilhical. Por vezes ambos os awtan tiveram o mesmo caide, como foi o caso dos grão-vizires Chakir Saheb Ettabaâ (1836) e Mohammed Khaznadar (1851), tendo este último ficado com o cognome "Mohamed, governador do Sahel" (Mohamed 'amil as-Sahil). A maior parte das cidades e aldeias do Sahel revoltam-se contra o bei de Tunes em 1864; em consequência disso são obrigados a pagar pesados tributos na forma de venda de bens (colheitas, gado, casas, etc.) e o confisco de extensos terrenos de oliveiras depois da campanha do general Ahmed Zarrouk.[6]

Com a instauração do Protetorado Francês da Tunísia, é criado o "caidato" de Jemmal, que se estendia por uma parte das atuais províncias de Monastir e Mahdia. A administração da região é centralizada em Sousse, onde é colocado um controlador civil, o que contribui para o enfraquecimento dos outros polos regionais.

Após a independência, o governo do Neo-Destour concede ao Sahel a sua união administrativa, com a abolição dos "caidatos" e a criação do sistema de províncias — toda a região fica dependente do governo provincial de Sousse até à criação das províncias de Monastir e Mahdia.

Principais localidades editar

Demografia editar

O Sahel carateriza-se desde há muito tempo pela sua grande população; juntas, as suas três províncias tinham 1 377 856 habitantes segundo as estimativas de abril de 2004 do Instituto Nacional de Estatística da Tunísia, ou seja, 13,9% do total do país. A região é assim a segunda mais populada da Tunísia, a seguir à Grande Tunes e calcula-se que cerca um em cada cinco tunisinos é originário do Sahel, contando não só com os sahelianos que vivem no Sahel, mas também os que residem noutras regiões da Tunísia ou no estrangeiro.

Economia editar

 
Olival perto de Sfax, uma paisagem comum no Sahel

O Sahel ocupa uma posição central na costa mediterrânica oriental tunisina e é uma das zonas balneares e turísticas mais importantes do país. Tem um elevado número de camas turísticas, concentradas sobretudo nas zonas em Sousse e Monastir, cidades turísticas por excelência e, desde os anos 1990, também em Mahdia, que tem vindo a desenvolver a sua vocação turística. O Aeroporto Internacional de Monastir - Habib Bourguiba é, dependendo dos anos, o primeiro ou segundo aeroporto tunisino com maior movimento anual de passageiros, tendo como único rival o aeroporto Tunes (ver Lista de aeroportos mais movimentados da África). O aeroporto de Monastir é também o aeroporto com mais voos charter de África. Sousse tem um porto de mercadorias importante e há vários portos de pesca e dois portos de recreio (Port El-Kantaoui, nos arredores de Sousse, e Cap Monastir).

A região é atravessada pelo grande eixo rodoviário constituído pela autoestrada A1, que liga o norte ao sul do país ao longo da faixa costeira, bem como por dois eixos ferroviários.

O serviço de transporte público em autocarros é gerido por uma empresa pública, a ociété de transport du Sahel (STS), com sede em Sousse e tem três divisões regionais, uma em cada província. O Metro do Sahel é uma linha ferroviária regional que liga Mahdia a Sousse, passando por Monastir.

Notas e referências editar

Bibliografia editar

  • Harrouch, Esma (1999), Murãbitûn: la ballade d'El M'zoughi : [roman], ISBN 9782738477378 (em francês), Harmattan 
  • Lamine, Ridha (2001), Villes et citadins du Sahel central (em francês), Sousse, Tunes: Faculté des lettres et sciences humaines de Sousse, L'Or du Temps 
  • Mrabet, Abdellatif (1998), Du Byzacium au Sahel (em francês), Tunes: L'Or du Temps 
  • Thyssen, Xavier (1983), Des manières d'habiter dans le Sahel tunisien (em francês), Paris: Centre national de la recherche scientifique