Sebastião Gonçalves Tibau

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Sebastião Gonçalves Tibau (ou Sebastião Gonçalves Tibao) (Loures, Santo Antão do Tojal, c.15871616) foi um aventureiro e pirata flibusteiro português do século XVII que, na região da atual Birmânia e antigo Reino do Pegu, chegou, pelo seu tino, valor pessoal, ambição e falta de escrúpulos, a senhorear-se do antigo Reino ou território de Sundiva, onde foi proclamado Rei e onde se manteve por largos anos, até que a desgraça o alcançou.[1]

Trecho de um mapa de 1724, onde aparece a ilha de Sundiva, Dianga, e "Xetigam" (Chatigão) no golfo de Bengala, sítio das façanhas de Tibau

Inícios

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Era natural de Santo Antão do Tojal, filho de pais humildes (embora os Tibau fossem originalmente da Nobreza), e embarcou para a Índia em 1605, após o que desertou do serviço da Coroa, seguindo logo para Bengala como simples soldado raso na Armada da Índia desse ano. A região do golfo de Bengala, onde governaram numerosos potentados indígenas, sempre em luta de rivalidades, e onde os Portugueses, idos de Goa e de Malaca, escapavam à disciplina e à vigilância das autoridades Portuguesas, enchera-se, assim, de fugidos à Justiça, ou levantados, como então se dizia, que sabiam encontrar, naquele ambiente, meios seguros de fazer a sua vida, servindo indistintamente, uns contra os outros, os Chefes locais.[1]

Sebastião Gonçalves Tibau começou por ser Feitor numas embarcações de sal, o maior negócio da região, e, amealhando alguns recursos, adquiriu uma jalea, embarcação miúda que servia para o comércio e para o ataque, em rios e estuários. Enchendo-a de fazenda, começou negociando por sua conta no Reino de Aracan ou Arracão, onde reinava um Sultão designado por Mogo, e estabelecendo-se em Dianga que, na época, fazia parte do referido Reino de Arracão.[1]

Massacre de Dianga

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O mercenário português Filipe de Brito e Nicote, que se apoderara e reinava em Siriam ou Sirião, e se tornara independente do Rei de Arracão, Min Raza Gyi, pretendeu também, em 1607, apossar-se de Dianga, resultando daí, na sequência da revolta, uma vingança do Sultão Birmanês, que fez trucidar os Portugueses que ali comerciavam. Este último fez massacrar não só o próprio filho de Filipe de Brito e Nicote (mandado em Embaixada pelo pai), mas cerca de 600 habitantes Portugueses de Dianga. Da matança escapou Sebastião Gonçalves Tibau.[2] Um pequeno número de Portugueses conseguiu escapar, estabelecendo-se numa ilha na foz do Ganges. Um deles era Sebastião Gonçalves Tibau.

Sundiva

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Na próxima ilha de Sundiva ou Sandwip, no golfo de Bengala, de 18 léguas quadradas, habitada por alguns Portugueses e muitos cristãos da terra, falecera o Regedor, um certo Manuel de Matos, e, imediatamente, um mouro de nome Fatecan, pretendeu apoderar-se da ilha, trucidando os Portugueses e seus auxiliares que lá viviam. Pouco depois do massacre de Dianga, e ainda em 1607, Sebastião Gonçalves Tibau, com 400 Portugueses, atacou e conquistou, entretanto, a ilha. No mar erravam alguns navios Portugueses, e contra eles se dirigiu o mouro, levando no seu barco uma grande bandeira em que se lia Fatecan, por Graça de Deus, Senhor de Sundiva, derramador de sangue cristão e destruidor da Nação Portuguesa. No encontro marítimo com o pequeno grupo das embarcações Portuguesas, quis a sorte que estas ficassem vitoriosas. Os Portugueses, derrotado e morto Fatecan, elegeram seu Chefe a Sebastião Gonçalves Tibau que, assim, ficou Senhor ou Rei de Sundiva, resistindo aos ataques dos inimigos com a gente que tinha a seu lado, Portugueses e nativos, com as alianças que estabelecia com uns ou com outros dos Chefes locais, inclusive arregimentando Espanhóis que levavam, por este Sudeste Asiático, a mesma vida aventureira de muitos Portugueses.[3]

Os esforços de Sebastião Gonçalves Tibau para que o seu Trono fosse reconhecido pelo Governo Português, quer o central de Lisboa quer o de Goa, não surtiram efeito pois, tanto em Lisboa como em Goa, não se prestavam ao seu jogo interesseiro e sempre se desconfiava das aventuras dos chatins (negociantes), que enriqueciam depressa.[3] Fundou então em Sundiva uma República de Piratas (cerca de 3000), da qual ainda hoje existem descendentes. Nos mares de Bengala, comanda uma formidável Esquadra de piratas. Governava a ilha como um Rei independente, tendo sob seu comando uma força de 1000 portugueses. Também ocupou as ilhas de Dakhin, Shahbazpur e Patelbanga. Com isto dedicava-se à pirataria espalhando a violência e o terror nos mares de Bengala. Faziam tanto medo estes piratas que um historiador do Grão-Mogol, Shiad-ud-din Talish, diz que «se cem navios (dos marinheiros da frota de Bengala) vissem quatro só que fossem dos outros (dos portugueses), as tripulações consideravam-se muito felizes se pudessem salvar-se pela fuga…[4]».

Sebastião Gonçalves Tibau indianizara-se sem, todavia, perder contacto com a sua Pátria. Em 1607, tomando partido pelo Rei de Anapuran, irmão do Rei de Aracan, recolheu uma filha daquele, converteu-a ao Cristianismo e desposou-a, herdando, assim, avultadas riquezas e territórios, ao mesmo tempo que promovia o casamento da Rainha Viúva de Anapuran com seu irmão António Gonçalves Tibau.[3]

Guerra contra Arracão

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Invadia nesse tempo Bengala o Grão-Mogol da Índia, que se defrontava com o Reino de Aracan. Tibau tomou o partido de Aracan porque, na ocasião, assim lhe convinha, sem medir as consequências futuras. Todavia, cedendo a ódios antigos, Tibau traiu o aliado e, encurralando a Frota de Aracan na foz dum rio, entregou-a ao Grão-Mogol, ajudando este a degolar e escravizar os subordinados de Aracan, e apossando-se de terras e riquezas. O Rei de Aracan jurou a sua perda, espetou vivo um sobrinho de Tibau e preparou-se para o destruir.[3]

Em 1615, não lhe restando recursos e pensando em conquistar Arracão, Tibau pediu a ajuda de Goa e apelou para o Vice-Rei, propondo um tributo. O Vice-Rei D. Jerónimo de Azevedo logo aceitou, e enviou em seu socorro uma Armada de 14 galeotas, uma urca e um patache, e por Capitão-Mor D. Francisco de Meneses, o Roxo, que já tinha sido Governador de Ceilão. A armada chegou em Outubro a Arracão, e logo (como lhe tinha ordenado o Vice-Rei) atacou a Frota Arracanesa do Rei Min Khamon, reforçada por uma frota Holandesa, sem esperar pela Frota de Tibau, como estava previsto com este. Em dois combates sucessivos, a Armada Portuguesa conseguiu varrer os de Aracan. Mas os Arracaneses, muito numerosos, levaram a melhor no primeiro combate e, quando chegou Tibau, furioso, atacaram de novo, e acabaram por vencer. Na batalha morreram muitos Nobres Portugueses, entre eles D. Francisco de Meneses, sucedendo-lhe o Almirante D. Luís de Azevedo, irmão do Vice-Rei.[3]

Pouco depois D. Luís de Azevedo voltou para Goa, com a maioria do exército, deixando Tibau com poucas forças e ficando, novamente, à mercê dos seus inimigos. Andavam já na região os holandeses, em guerra pérfida contra os portugueses, e a eles se aliaram os chefes nativos, revoltados contra a influência lusitana. Em 1616, Sebastião Gonçalves Tibau foi derrotado pelo Rei de Arracão, que invadiu e tomou posse de Sundiva. Escapado milagrosamente do combate naval, mas abandonado dos Portugueses, a quem já cedera o seu Reino de Sundiva, odiado dos naturais e ameaçado pelos Holandeses, aliados aos Soberanos indígenas, caiu Sebastião Gonçalves Tibau em decadência, não constando se teria morrido nos seus antigos domínios ou regressado a Goa com o que lhe restasse da sua antiga fortuna. Após a derrota de Tibau, os portugueses da Bengala Oriental (fora do controle de Goa) continuaram a dedicar-se à pirataria. Com as lutas acesas contra Holandeses e Ingleses, os domínios Portugueses da Birmânia foram-lhe sofrendo as consequências. Transitoriamente dependente do Sirião Português, o velho Reino de Sundiva de Sebastião Gonçalves Tibau seguiu a sorte de todo o Pegu e, com o desaparecimento dos seus aventureiros, os Chefes Filipe de Brito e Nicote e Sebastião Gonçalves Tibau, apenas ficaram na História do Oriente Português, aquele como Rei de Sirião e este como Rei de Sundiva.[3]

Tinha um irmão, António de Carvalho Tibau, também capitão de grande valentia: "chegou (…) com cinco jalias a brigar com cento do rei de Arracão, e não somente vencê-las, mas ainda tomar-lhas todas[5]".

Deixou pelos menos um filho, que levou o mesmo nome, e um sobrinho, também do mesmo nome (Gonçalves Tibau), que Sebastião Manrique encontrou na sua estadia em Dianga, e que o acompanhou na sua visita ao Rei de Arracão Sirisudhammaraja, em Mrauk-U, em 1630.

Referências

  1. a b c Vários. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. [S.l.]: Editorial Enciclopédia, L.da. pp. Volume 31. 612 
  2. Vários. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. [S.l.]: Editorial Enciclopédia, L.da. pp. Volume 31. 612-3 
  3. a b c d e f Vários. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. [S.l.]: Editorial Enciclopédia, L.da. pp. Volume 31. 613 
  4. Na terra da Grande Imagem p. 111
  5. Década XIII da História da Índia p. 440

Bibliografia

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  • Na Terra da Grande Imagem (aventuras de um religioso português no Oriente - Sebastião Manrique). Maurício Collis. Livraria Civilização - Porto. 1944.
  • Ásia Portuguesa, de Manuel de Faria e Sousa, parte III.p. 175-180 e 268-272.
  • Década XIII da História da Índia de António Bocarro. Publicada pela primeira vez em 1876, pela Academia Real da Sciencias de Lisboa, sob a direcção de Rodrigo José de Lima Felner, na Collecção de Monumentos ineditos para a história das conquistas dos portugueses em Africa, Asia e America - tomo VI - 1a serie. Lisboa, Typographia da Academia Real das Sciencias. P. 431-456, 477 & 530.
  • [1]