Usina Gustavo Richard

bem tombado em São José, Santa Catarina, Brasil

A Usina de Geração de Energia Gustavo Richard, também conhecida por outros nomes como Usina Gustavo Richard, Usina Sertão do Maruim ou Usina Maruim, é uma usina hidrelétrica brasileira localizada no Rio Maruim, no município de São José.

Usina de Geração de Energia Gustavo Richard
Localização
Localização São José, Brasil Editar isso no Wikidata
Rio Rio Maruim
Coordenadas 27°35'35.119"S, 48°42'25.771"W
Mapa
Dados gerais
Empresa geradora Celesc
Empresa operadora Celesc
Empresa distribuidora Celesc
Obras 1907-1910
Período de construção 3 anos
Data de inauguração 1910
Tipo fábrica
Capacidade de geração 0,62 MW
Unidades geradoras 3

Ativada em 1910, é a segunda usina mais antiga de Santa Catarina, e foi por décadas a principal fonte de abastecimento de energia elétrica de São José, da vizinha Biguaçu e da capital do estado, Florianópolis. Após o surgimento de novas fontes de energia, em especial o Complexo Termoelétrico Jorge Lacerda, sua importância diminuiu, mas seguiu servindo energia até sua desativação em 1972.

Desde a desativação, os prédio da Usina, localizados na atualidade no bairro Colônia Santana, permaneceram abandonados, tendo se deteriorado com o tempo. O conjunto foi tombado pelo município de São José em 2005. Recentemente, a Celesc S.A., gestora da Usina desde os anos 1960, anunciou um projeto para restaurar e reativar a usina como uma Central Geradora Hidrelétrica.

História editar

Criação editar

Durante uma escala em Florianópolis, o engenheiro argentino Miguel Vila Real Vela, que ia até o Peru instalando com sua equipe linhas de telégrafo, foi procurado pelo governador de Santa Catarina, Gustavo Richard, sobre a possibilidade de trazer energia elétrica para a capital catarinense. O engenheiro, após terminar seu trabalho, retorna para conduzir o empreendimento.

O governador concedeu autorização para a construção da Usina em 1907. Para tal, o rio Maruim foi o selecionado para receber a barragem que iria abastecer a região. O projeto foi supervisionado pelo engenheiro Vila Real Vela e realizado pela empresa luso-inglesa Simmonds e Saldanha, com os equipamentos para a construção sendo trazidos da Inglaterra.

A obra foi concluída em 25 de setembro de 1910, levando o nome do governador que a idealizou. Foi a segunda usina do estado, sendo concluída dois anos depois da Usina do Piraí, em Joinville.[1][2]

Anos de uso editar

Com 620 kW de capacidade instalada, a ativação da usina em 1910 também significou a chegada da eletricidade a São José, Biguaçu e Florianópolis - nesta, através de cabos submarinos, visto que não haviam ainda as pontes atuais que ligam ilha e continente.

O seu primeiro administrador, José João Kowalsky, construiu uma casa para si em 1922, que passou a fazer parte do conjunto arquitetônico. A usina funcionava todos os dias, exceto nas manhãs de domingo, domingos pela manhã, quando se fazia a limpeza e desobstrução das comportas da barragem e a manutenção das turbinas.

A empresa Simmonds & Williamson fica com a gestão da usina e da distribuição da energia para as cidades. Em 1924, a empresa, que desde 1918 operava sob o nome Companhia de Luz e Força, transfere suas atribuições de distribuição para a Bayton e Cia., que atua sob o nome de Companhia Tração, Luz e Força de Florianópolis. Cinco anos mais tarde, nova mudança, com a Bonachelli e Cia. assumindo a gestão. Em 1934, o interventor Nereu Ramos rescinde o contrato e transfere os bens e instalações da Bonachelli e Cia. para o estado, incluindo ai a Usina Gustavo Richard.

Após sua inauguração, a usina se tornou a terceira mais importante do país na geração de energia elétrica, abastecendo Florianópolis, São José e Biguaçu, tendo abastecido as cidades e permitindo a expansão urbana das cidades na primeira metade do século XX. Após alguns anos, surgem novas fontes, como a Complexo Termoelétrico Jorge Lacerda, na atual Capivari de Baixo, que surge em 1950 e passa a abastecer toda a região, se tornando a principal fonte de abastecimento de Florianópolis, e a Usina Hidrelétrica Garcia, de Angelina, inaugurada em 1960.

Em 1955, com o surgimento das Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) e da Empresa de Luz e Força de Florianópolis S/A (ELFFA), esta última se torna a nova gestora da Usina. Mais tarde, a ELFFA é incorporada a Celesc, que mantém a gestão da usina até hoje.

A usina foi desativada em 14 de setembro de 1972, dada a sua incapacidade de produzir energia na quantidade necessária diante das outras fontes. Foram 62 anos de uso.[2]

Anos de abandono editar

Após 1972, moradores da região ocuparam as casas do complexo, passando a criar gado nas proximidades. Durante os anos 1990, tímidas tentativas de dar um destino a usina surgem, como a suposta ideia de transforma-la em um Museu da Eletricidade, do qual, apesar de ter sido veiculada na mídia, existem poucas fontes.[3][2] Com o passar das décadas, o estado dos prédios da usina se deteriorou, com as peças sendo levadas - apenas um gerador permaneceu no local - a vegetação crescendo sem controle, danos nos telhados e calhas devido a oxidação e uso do prédio por usuários de drogas.

Em 2002, a Celesc tentou realizar uma reforma no complexo da usina, para torna-la um espaço de visitação, mas a ideia acabou não se tornando realidade. Em 2005, a Usina Gustavo Richard ganhou seu primeiro, e até agora único, tombamento, em nível municipal.[4] A Celesc, na época, tentou impugnar o tombamento sob, entre outros motivos, o fato de que a usina poderia voltar a ser funcional. Em resposta, a prefeitura argumentou que a usina poderia ser preservada ao mesmo tempo que poderia voltar a gerar energia.[2]

Em 2013, um estudo aprofundado que envolveu IPHAN e Celesc apontou que uma reativação da usina teria pouco impacto no patrimônio. Entretanto, o foco da Celesc na geração de energia levou a uma reunião com a prefeitura acerca da manutenção do patrimônio em 2016.[2]

Restauração editar

Após anos do tombamento, a Celesc assinou um contrato com quatro empresas visando a reativação da usina. Com custos estimados em nove milhões de reais, a reforma prevê a ampliação da geração para 1 MW - com duas turbinas de 500 kW no lugar das que foram perdidas.[5] Serão reaproveitadas as a estruturas da barragem, canal de adução e casa de força - esta será revitalizada, permitindo a visitação controlada.

Durante os eventos de aniversário de São José em 2023, a usina foi aberta a comunidade, marcando a retomada do local e a última visita antes do início das obras no local.[6] A previsão é que a usina se torne operante novamente no primeiro trimestre de 2024, se tornando mais uma das Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs) da Celesc.[7]

Características editar

O conjunto arquitetônico da usina é formado pelo prédio da casa de força, onde ficava a geração de energia, a barragem e as calhas que ligavam a água do rio para as turbinas e as casas que serviam de administração e alojamento.[8][9][8]

Casa de força editar

O prédio principal da usina abrigava as três turbinas e o painel de controle. O prédio tem base, pilares e arcos em pedra beneficiada, com as vedações de tijolos maciços vermelhos e telhas planas cinzentas, se assemelhando a construções industriais inglesas do período. A fachada principal, onde fica a grande porta de entrada, tem um frontão com um óculo como destaque. A fachada oeste recebe as três grandes calhas que trazem a água para as turbinas. O telhado de duas águas tem uma diferenciação na parte sul, onde fica o painel de controle e outros equipamentos, visando aumentar o pé-direito daquela área.[2]

Maquinário editar

Eram três conjuntos, cada um com uma calha, um transformador e uma turbina, cuja potências eram de 250 cavalos cada.[10] Os três transformadores garantiam a proteção da usina e dos operadores contra faíscas elétricas e raios.[2] A reforma deve manter a turbina original restante e instalar duas novas.[7]

Barragem editar

O sistemas de barragens e comportas fica no próprio rio. De lá, a água é levada até o prédio da usina por calhas até as turbinas. Segundo a Celesc, o rio tem capacidade de gerar até 1 MW de energia, podendo ser menos em épocas de estiagem, mantendo uma média de 650 kW.[2][7]

Referências editar

  1. «São José Cultura #2 – Usina hidrelétrica do Rio Maruim». Prefeitura Municipal de São José. 27 de janeiro de 2022. Consultado em 13 de maio de 2023 
  2. a b c d e f g h Pistorello, Daniela (16 de fevereiro de 2015). «Uma usina hidrelétrica ao sul do Brasil: tombar para preservar?». Faces da História - Revista Discente do Programa de Pós-Graduação em História da UNESP de Assis. Consultado em 13 de maio de 2023 
  3. SILVA, Marco Aurélio. Antiga usina será transformada em museu. Jornal Comunidade de São José, São José/SC, p.2, jun-jul. 1998.
  4. «Decretos de Tombamento dos Bens Históricos do Município» (pdf). Prefeitura de São José 
  5. «Usina hidrelétrica do Rio Maruim vai ganhar nova vida após 50 anos». Prefeitura Municipal de São José. 17 de novembro de 2022. Consultado em 13 de maio de 2023 
  6. «Celesc abre as portas da Usina Maruim para a comunidade». Celesc. Consultado em 13 de maio de 2023 
  7. a b c «Maruim: A nova usina centenária». 22 de março de 2023. Consultado em 13 de maio de 2023 
  8. a b «Usina Sertão do Imaruim». Portal de Turismo de São José. Consultado em 13 de maio de 2023 
  9. «São José – Usina Gustavo Richard». iPatrimônio. Consultado em 13 de maio de 2023 
  10. CUNHA, Sylvia Amélia Carneiro da. Gustavo Richard: Um republicano histórico em Santa Catarina. Brasília: Editora do Senado, 1995.