Rio Una (Rio de Janeiro)

rio que banha Cabo Frio e deságua próximo de Búzios

O rio Una é um curso d'água que banha principalmente os municípios de Cabo Frio e São Pedro da Aldeia, no estado do Rio de Janeiro. Sua foz está localizada em Cabo Frio, na praia de Unamar, em uma área da Marinha próxima do limite com o município de Armação dos Búzios. O rio possuí vital importância para a agropecuária local e, devido a criação de canais artificiais, viabiliza a drenagem de grandes áreas de baixada onde se localiza.

Rio Una
Rio Una (Rio de Janeiro)
Comprimento 23 km
Nascente Morro de Igarapiapunha, Araruama
Altitude da nascente 130 m
Foz Cabo Frio, Oceano Atlântico
Área da bacia 480 km²
Região hidrográfica RH do Rio Una e do Cabo de Búzios
País Brasil
Foz do Rio Una, em Cabo Frio (RJ)
Foz do Rio Una, em Cabo Frio (RJ)

Hidrografia editar

O rio Una tem como formador o Rio Godinho, que nasce em Araruama com o nome de Córrego do Poço, próximo a Via Lagos. A nascente do rio se dá em pouco mais de 130 metros de altitude, morro de Igarapiapunha, em Araruama, próximo ao limite com o município de Iguaba Grande. O trecho inicial, na zona de colinas, o rio Una recebe os rios Conceição e o Carijó (Carijojó), que no seu trajeto passa pela vila de São Vicente de Paulo. Logo depois da confluência com o Carijó, o Una ingressa na baixada e segue por 23 km até atingir a foz. Ao longo do percurso pela baixada recebe, pela margem esquerda, pequenos córregos e a vala do Marimbondo e, pela margem direita, os canais também retificados dos rios Papicu e Frecheiras, do córrego do Retiro e a uma longa vala com mais de 11 km que drena a totalidade do brejo Paraúna e outros a jusante, situados a oeste do cabo de Búzios e que se estendem até o Peró, em Cabo Frio.[1][2] Seu curso ao longo da baixada é uma sucessão de quatro retas até a estrada RJ 106. A partir daí o canal faz um trajeto em formato de meia lua até desaguar na praia de Unamar, dentro de uma propriedade da marinha, 5 km ao norte da ponta do Pai Vitório.[1]

O Rio Una é o principal rio da bacia hidrográfica do Rio Una, que compreende uma área de 480 km2 A bacia limita-se ao norte e oeste com a bacia hidrográfica do Rio São João, e a sudeste com microbacias e lagoas no Cabo de Búzios. A região abarca os municípios de Armação dos Búzios, Cabo Frio, São Pedro da Aldeia, Iguaba Grande e Araruama. O relevo encontrado na bacia hidrográfica é predominante plano, dominado por colinas baixas e planícies. Com grande destaque à baixada onde o rio Una percorre a sua maior extensão.[1]

Toda a bacia hidrográfica foi amplamente modificada pela ação humana. Existiam grandes brejos e alagados na área da baixada onde forma-se o rio Una, porém com ações do DNOS (Departamento Nacional de Obras e Saneamento) após os anos de 1940, foram em grande parte drenados, com o objetivo de combater a malária e possibilitar a plantação de arroz.[3] Proprietários rurais, prefeituras e empresas mobiliárias também participaram desse processo, com escavação de canais de drenagem que percorrem o rio Una e alguns de seus afluentes. Suspeita-se da existência de lagoas que resistiram a drenagem da baixada.[1] Examinando mapas e documentos antigos descobre-se que o Una lançava suas águas em grandes brejos na região da baixada, após as zonas das colinas e voltava a ter o leito aparente em regiões perto da foz. Existiam ali, antes das drenagens, grandes pantanais.[4]

O rio Una é um rio perene, ou seja, mantém o seu leito aparente durante o ano inteiro, porém alguns de seus afluentes tornaram-se intermitentes devido ao desmatamento das matas ciliares e a falta de proteção das nascentes, alguns deles com leitos secos durantes os períodos de estiagem[5]

Usos das Águas editar

O rio Una é usado principalmente para a irrigação de terras agrícolas através de canais que se estendem por toda extensão do rio. Existe também a importância das águas do rio para a manutenção da biodiversidade local.[1] Outros usos são a recreação e a pesca, em menor grau de valor econômico. O Rio Una e seus braços são de vital importância para a atividade agropecuária local, que se resume a criação de gado e o cultivo de pequenas lavouras.[6][7] A pastagem cobre boa parte da área da extensão do curso d'água e as áreas úmidas que percorrem os canais do rio também são utilizadas pelo pasto em várzea.[7]

O rio Una já foi utilizado para navegação na época do Brasil colônia, servindo para o transporte o transporte da produção da fazenda Campos Novos para o Rio de Janeiro,[3] mas não é mais viável o transporte de carga nas regiões produtoras rurais. A região situada próxima a foz do rio não é usada para navegação, pois está em área protegida pela Marinha do Brasil. Em 1934, o rio foi descrito por um documento da Comissão de Saneamento da Baixada Fluminense[8] como sendo de pouca profundidade, permitindo a navegação apenas em marés de sizígia. A navegação poderia se estender até a região de Campos Novos, alguns quilômetros de distância da foz do Rio Una. Atualmente, depois de obras do DNOS, seria possível a navegação em certas partes com profundidade de 3 metros, algumas em áreas protegidas.[9]

Há ainda o uso extensivo para a drenagem de águas pluviais, através certos córregos que percorrem grande parte do segundo distrito de Cabo Frio e deságuam no canal principal do curso d'água. A drenagem impede a criação de brejos e de regiões alagadas durante os períodos chuvosos.

Questões Ambientais editar

O ecossistema do rio Una seguem ameaçados por ações antrópicas, principalmente pela canalização, despejos de esgoto, poluição agrícola e invasão das margens. Tais ações humanas podem afetar diretamente as 48 espécies de peixes e outras diversas espécies de crustáceos, como o uçá, guaiamum e aratu, Além dos manguezais do rio.[1][10]

Salinização editar

O rio Una sofre de certos processos de salinização durante períodos de seca. Os sais se acumulam em trechos do rio longe da foz, devido a escassez de água. Em alguns desses trechos, o índice de salinidade chega a atingir 48g/kg, sendo maior do que os índices de salinidade encontrados no Oceano Atlântico, de cerca de 35g/kg. Com a água hipersalina, é inviável o cultivo de pasto nos rios da baixada, e com isso a agropecuária local é prejudicada.

Trabalhos de reflorestamento da mata ciliar são sugeridos para diminuir os impactos causadas pela salinização do rio em tempos de seca. O posicionamento de comportas em canais de maior risco pode ser uma solução viável a curto prazo, mas ainda não há estudos que discutam os riscos e os benefícios para o meio ambiente e a agropecuária regional.[11]

Mata ciliar e o desmatamento editar

Os trechos mais saudáveis do rio Una são aqueles que se encontram em preservação, na localidade da Marinha, onde a mata ciliar e a fauna local encontram-se praticamente intactas. O desmatamento das matas ciliares se estende por quilômetros e dão lugar a áreas de pasto e canais sem a vegetação ripícola nativa. Existem vestígios dos grandes pântanos que se espalhavam pelas redondezas do rio. É possível relatar também a destruição da savana estépica para criação de áreas de pastagens, o desmatamento das cobre quase toda a área de influência do Rio Una nas baixadas.[6]

Lixões e aterros editar

A área da bacia hidrografia possuí um aterro sanitário que recebe os resíduos gerados pela região. Existem também dois lixões, um em Búzios e outro em Cabo Frio, que se localiza em uma área onde é possível certa contaminação em áreas pântanos da região.[3]

Ver também editar

Referências

  1. a b c d e f «Plano da Bacia Hidrográfica da Região dos Lagos e do Rio São João - CBHLSJ» (PDF). Comitê da Bacia Lagos São João. Maio de 2005. Consultado em 19 de outubro de 2021 
  2. «Mapa Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Una e Zona Costeira Adjacente» (PDF). Consórcio Intermunicipal Para Gestão Ambiental da Região dos Lagos, Bacia do Rio São João e Zona Costeira. Consultado em 19 de outubro de 2021 
  3. a b c Dalva Mansur (13 de dezembro de 2013). «PROJETO DE DIAGNÓSTICO E ANÁLISE DO RIO UNA». Plenária das ONGs da Região dos Lagos. Consultado em 19 de outubro de 2021 
  4. Lamego, Alberto (1946). O Homem e a Restinga. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. p. 60 
  5. Dalva Mansur (11 de junho de 2013). «NOTA TÉCNICA». Plenária das ONGs da Região dos Lagos. Consultado em 19 de outubro de 2021 
  6. a b «Características ambientais - CILSJ». Consórcio Intermunicipal Lagos São João. Consultado em 18 de outubro de 2021 
  7. a b «Risco Ecológico da Bacia Lagos São João». Consultado em 19 de outubro de 2021 
  8. Goes, Hildebrando (1934). «Relatório apresentado pelo engenheiro chefe da Comissão de Saneamento da Baixada Fluminense». Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Ministério da Viação e Obras Públicas 
  9. Arthur Soffiati (12 de novembro de 2012). «Manguezais de Búzios Rio Una». p. 8. Consultado em 19 de outubro de 2021 
  10. Soffiati, Arthur (22 de setembro de 2006). «Alguns manguezais da Região dos Lagos». ((o))eco. Consultado em 23 de dezembro de 2021 
  11. «Agricultores da Região dos Lagos sofrem com salinização do Rio Una». 4 de março de 2015. Consultado em 19 de outubro de 2021