Beija-flor-de-gravata-vermelha

espécie de ave
Beija-flor-de-gravata-vermelha
Macho
Fêmea
Classificação científica
Reino:
Filo:
Classe:
Ordem:
Família:
Gênero:
Espécies:
A. lumachella
Nome binomial
Augastes lumachella
Lesson, 1838
Distribuição geográfica
Sinónimos[2][3]

Ornismya lumachella Lesson, 1838
Amazilis lumachellus Lesson, 1843
Augastes lumachellus Lesson, 1838

O beija-flor-de-gravata-vermelha,[4] também conhecido como beija-flor-da-serra-pelada ou colibri-de-gravata-baiano[5] (nome científico: Augastes lumachella), é uma espécie de ave apodiforme pertencente à família dos troquilídeos, que inclui os beija-flores.[6] É residente e endêmico em áreas de topos de montanha da Chapada Diamantina, na Bahia, que integra a Cadeia do Espinhaço.[7] Seu habitat natural possui clima subtropical ou tropical de altitude. É uma espécie existente exclusivamente no Brasil. A espécie é classificada pela IUCN como "quase ameaçada" pela perda do seu habitat natural.[8]

Histórico da pesquisa e etimologia editar

Em 1838, René Primevère Lesson, ornitólogo francês, reconheceu o beija-flor sob o nome de Ornismya lumachella. Como localidade, ele o identificou como pertencente do estado da Bahia, no Brasil. O tipo de espécime vem da coleção de Charles Parzudaki (1806–1889). Foi John Gould que o classificou em seu livro The Birds of Australia (1840-1848), como o novo e atual gênero Augastes. Este nome possui origem grega antiga, derivado de augastës, augë, que significa "brilhante, radiante, luz solar"; e do neolatim lumachella, literalmente "mármore italiano que irradia fogo"; refere-se a um mármore amilolítico de conchas e caramujos fossilizados encontrados na Itália e na Áustria.[9]

Redescoberta editar

Em 1957, Augusto Ruschi e o ornitólogo francês Jacques Berlioz visitaram o Museu de História Natural em Londres, onde estavam localizados 14 foles de Augastes lumachella . Eles descobriram que a espécie não foi coletada por meio século e não havia informações precisas de sua procedência, pois a sua área de ocorrência era limitada e situada em região de difícil acesso antes da existência de estradas melhores e de automóveis. Enquanto Berlioz concluiu que a espécie havia morrido, Ruschi não estava convencido. No Museu Americano de História Natural, ele encontrou um fole com o local Morro do Chapéu, no Brasil. No Brasil, havia três cidades com esse nome. Em 1961, Ruschi decidiu visitar aquele que fica no sopé de uma montanha de mesmo nome. Depois de oito dias sem sucesso, ele quis desistir, depois conseguiu redescobrir a espécie em um desfiladeiro de quase 200 metros de altura na Cachoeira do Ferro Doido . Ele prolongou a sua estadia por dois dias e recolheu 24 machos e fêmeas da ave "extinta".[7]

Descrição editar

O macho tem 10,1 cm de comprimento e a fêmea 8,9 cm. Ambos pesam cerca de 4 g. O bico é preto, reto e mede 19,2 mm. O macho tem um verde brilhante na testa, queixo e garganta, que possui uma linha peitoral branca na base com uma gravata vermelha rubi no centro. A coroa, as bochechas e os lados do pescoço possui coloração preta com tons azulados. As partes superior e inferior e os élitros são verdes dourados brilhantes. As asas são pretas e roxas; baixo cobre vermelho; as superfícies superiores da cauda são azul esverdeadas. As pernas são pretas.[10]

A fêmea é ligeiramente mais pálida. A coroa, as costas e o pescoço são cercados; as bochechas, o queixo, os lados do pescoço e da garganta são cinza a castanho; na parte inferior e sob a cauda a mistura branca e cinza. As penas da cauda são vermelhas douradas, com penas exteriores cinzentas.[10]

Distribuição e habitat editar

Vive em áreas rupestres entre 950 e 1.600 m de altitude,[11] com predominância de moradia em cactáceas, bromélias, orquídeas e veloziáceas[12] em áreas pedregosas semiáridas dos cumes de serras e chapadas. Coexiste juntamente às espécies Colibri serrirostris e Colibri delphinae. Restrito à Bahia, entre Morro do Chapéu, Andaraí e Barra da Estiva (Chapada Diamantina, Serra de Sincorá, etc).[10]

Comportamento editar

O beija-flor-de-gravata-vermelha voa a alturas de cerca de 50 a 100 cm. Constrói um ninho a uma altura de 60 a 100 cm do solo, com a forma de um copo cônico com uma grande abertura acima. Para a construção, utiliza sementes de bromélias e margaridas transportadas pelo ar, além do cacto felpudo e algumas folhas, cobertas com fios de aranha e musgo. O ninho possui coloração cinza amarelado.[12]

Vocalização editar

Possui uma voz aguda, as vezes inaudível pelos seres humanos, emitidas na frequência de 10 a 14 mil Hz, já próximo do limite auditivo humano. Possuem vozes diferentes para expressar diferentes comportamentos, como agressivos, de alerta, sexual, entre outros.[10]

Hábitos editar

Banham-se nas plantas úmidas por orvalho e chuva, e voam de encontro a um ramo com folhas molhadas arrepiando toda plumagem sob o chuveiro assim improvisado. Há necessidade de tanta limpeza devido ao constante contato com o líquido viscoso das flores. Gostam de tomar banho de sol. Os pés têm um papel importante na limpeza. Beija-flores coçam-se em qualquer parte do corpo, até nas costas. Também bocejam frequentemente. Dormem de bico para frente e com a cabeça ligeiramente levantada, assim como a posição que assumem durante a chuva e quando cantam; colocam as asas por baixo da cauda; pousam em um galho fino para dormir.[10]

Alimentação editar

Alimentam-se exclusivamente de néctar, usando sua longa língua para retirá-lo da planta. A base de sua alimentação é o açúcar. O néctar e os carboidratos fornecem imediatamente a energia necessária para o seu voo. Possuem preferência em flores com o néctar diluído. O conjunto língua/bico do beija-flor é um mecanismo que funciona como uma bomba que puxa água. Ele tem que absorver o líquido mais rapidamente possível, pois bebe em voo. Chega a visitar mais de 200 flores de Salvia uma após a outra, procurando milhares de flores por dia.[10]

Acasalamento editar

 
Espécime em seu ninho, feito com as cerdas do cactos Micranthocereus purpureus, outra espécie também endêmica

Primeiramente, tem-se o canto do macho e a sua exibição num certo local para chamar a atenção de qualquer fêmea de sua espécie. Determina um território que defende de outros machos da sua espécie. Logo depois, o macho executa voos nupciais diante de uma determinada fêmea, utilizando-se também de sons (tanto vozes, como também sons decorrentes dos movimentos feitos). Finalmente termina quando a união dos sexos em um galho, com o macho pairando sob a fêmea pousada. Depois, o casal separa-se.[13]

Distribuição geográfica editar

Ocorre na porção baiana da cadeia do Espinhaço, na Chapada Diamantina.[14] Registros recentes da espécie na região do Boqueirão da Onça, no município de Sento Sé, Bahia, representaram uma ampliação na distribuição da espécie.[14]

Ameaças editar

O motivo de que esse animal consta na lista vermelha, é que esta espécie ocorre em poucos locais conhecidos dentro de uma faixa moderadamente pequena, que pode estar diminuindo de tamanho devido à perda de habitat. É consequentemente classificado como quase ameaçado.[15] Grande parte de sua área foi colonizada quando diamantes e ouro foram encontrados na região no século XIX, e pequenas operações persistem. Cristais de quartzo e manganês também são extraídos. A principal ameaça agora é a conversão de terras para a criação de gado na região.[8]

Referências editar

  1. BirdLife International (2021). «Augastes lumachella». IUCN Red List of Threatened Species. doi:10.2305/IUCN.UK.2020-3.RLTS.T22688069A172881351.en. Consultado em 7 de janeiro de 2022 
  2. Lesson, Rene P. (1838). «Espèces Nouveles d'Oiseaux Mouches». Revue zoologique par la Société Cuvierienne (em francês e latim). 1: 314–315. Consultado em 7 de janeiro de 2022 
  3. Lesson, René P. (1843). «Complemént a l'histoire naturelle des oiseaux-mouches». L'Écho du monde (em francês). 1: 755–758. Consultado em 7 de janeiro de 2022 
  4. Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 101. ISSN 1830-7809. Consultado em 13 de janeiro de 2022 
  5. «Augastes lumachella (beija-flor-de-gravata-vermelha)». Avibase. Consultado em 15 de outubro de 2022 
  6. Gill, Frank; Donsker, David; Rasmussen, Pamela, eds. (11 de agosto de 2022). «Hummingbirds». International Ornithologists' Union. IOC World Bird List Version 12.2. Consultado em 2 de outubro de 2022 
  7. a b Souza, Elivan (14 de outubro de 2009). «Ampliação de área de ocorrência do Beija-flor-de-gravatinha-vermelha Augastes lumachella Lesson, 1838) (Trochilidae)». Ornithologia. 3 (2): 145-148. Consultado em 8 de agosto de 2019 
  8. a b «The IUCN Red List of Threatened Species». IUCN Red List of Threatened Species. Consultado em 15 de agosto de 2019 
  9. Gould, John (1848). «The Birds of Australia : in seven volumes». nla.gov.au (em inglês). Consultado em 22 de agosto de 2019 
  10. a b c d e f Sick, Helmut (1997). Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira. p. 463. ISBN 85-209-0816-0 
  11. Machado, Caio (22 de maio de 2007). «Beija-flores e seus recursos florais em uma área de campo rupestre da Chapada Diamantina, Bahia» (PDF). Revista Brasileira de Ornitologia. Consultado em 13 de agosto de 2019 
  12. a b «beija-flor-de-gravata-vermelha (Augastes lumachella) | WikiAves - A Enciclopédia das Aves do Brasil». www.wikiaves.com.br. Consultado em 8 de agosto de 2019 
  13. Da Cruz Rodrigues, Licléia; Rodrigues, Marcos (dezembro de 2011). «Size Dimorphism, Juvenal Plumage, and Timing of Breeding of the Hyacinth Visorbearer (Augastes scutatus)». The Wilson Journal of Ornithology (em inglês). 123 (4): 726–733. ISSN 1559-4491. doi:10.1676/11-042.1 
  14. a b Vasconcelos, Marcelo (20 de maio de 2009). «Mountaintop endemism in eastern Brazil: why some bird species from campos rupestres of the Espinhaço Range are not endemic to the Cerrado region?» (PDF). Revista Brasileira de Ornitologia. Consultado em 8 de agosto de 2019 
  15. «BirdLife | Partnership for nature and people». www.birdlife.org. Consultado em 8 de agosto de 2019