Vladimir Safatle

filósofo brasileiro

Vladimir Pinheiro Safatle (Santiago do Chile, 3 de junho de 1973) é um filósofo, escritor e músico brasileiro nascido no Chile. É professor titular da cadeira de Teoria das Ciências Humanas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Notabilizou-se ao grande público sobretudo por sua atividade como colunista no jornal Folha de S. Paulo.[1] Sua produção intelectual concentra-se nas áreas de epistemologia da psicanálise e da psicologia, filosofia política, Teoria Crítica e filosofia da música.

Vladimir Safatle
Filosofia contemporânea
Vladimir Safatle
Nome completo Vladimir Pinheiro Safatle
Data de nascimento: 3 de junho de 1973 (50 anos)
Local: Santiago, Chile
Principais interesses: Filosofia política, filosofia da mente, dialética, psicanálise
Trabalhos notáveis A Paixão do Negativo: Lacan e a Dialética
Grande Hotel Abismo
O Circuito dos Afetos
Influências: Hegel  · Jacques Lacan  · Karl Marx  · Theodor W. Adorno  · Freud  · Bento Prado Júnior  · Michel Foucault  · Gilles Deleuze

Biografia editar

Filho do ex-guerrilheiro Fernando Safatle, que participou da luta armada contra a ditadura no Brasil como militante da Ação Libertadora Nacional,[2] e de Ilmeide Tavares Pinheiro, Vladimir Safatle nasceu em Santiago do Chile, em 1973.[3][carece de fonte melhor] Comprometida com a construção do socialismo chileno, sua família se mudou para o Brasil em virtude da ascensão de Augusto Pinochet ao poder, quando Vladimir tinha poucos meses de vida. No Brasil, instalaram-se primeiramente em Brasília e, a partir de 1987, em Goiânia, quando seu pai assumiu o cargo de Secretário do Planejamento no governo de Goiás.[3]

Em 1991, mudou-se para São Paulo, onde iniciou seus estudos universitários.[3] Cursou simultaneamente a graduação em filosofia na Universidade de São Paulo e em publicidade na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Em 1997, concluiu o seu mestrado de filosofia na Universidade de São Paulo sob a orientação de Bento Prado Júnior, com o título "O amor pela superfície: Jacques Lacan e o aparecimento do sujeito descentrado". Em 2002, concluiu o doutorado em "Espaços e transformações da filosofia" na Universidade Paris VIII, sob a orientação de Alain Badiou. Sua tese de doutorado, intitulada A Paixão do Negativo: Modos de Subjetivação e Dialética na Clínica Lacaniana, foi publicada em 2006 pela Editora UNESP e traduzida para o francês em 2010 (Georg Olms Verlag).

Desde 2003, Vladimir Safatle é professor no Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo, sendo professor titular desde 2019, além de professor convidado e pesquisador em outras universidades e instituições europeias, africanas e norte-americanas (Paris I, Paris VII, Paris VIII, Paris X, Toulouse, Louvain, Stellenboch Institute of Advanced Studies/Africa do Sul, Essex, Berkeley).

Com Christian Dunker e Nelson da Silva Jr., fundou e coordena o Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da USP (Latesfip-USP).[4]

Vladimir Safatle é também compositor, tendo composto trilhas sonoras para peças de teatro como Leite Derramado e Caesar, ambas de Roberto Alvim. Pela última, recebeu o Prêmio Aplauso de 2015 por Melhor Trilha Sonora Original. Em 2019, lançou, juntamente com a cantora Fabiana Lian, o álbum Músicas de Superfície, com peças para piano e voz compostas entre 1994 e 1998.[5][6][7] Em 2021, lançou o álbum Tempo Tátil, pelo Selo Sesc.

Entre 2010 e 2019, foi colunista semanal do jornal Folha de S. Paulo.[8][9] Atua constantemente em programas televisivos, tendo sido comentarista político do Jornal da Cultura por quatro anos. Atualmente, é colunista do jornal El País.

Com participação política ativa, ministrou várias aulas públicas em greves e eventos de ocupação como "Ocupa Sampa" e "OcupaSalvador".[10] Foi convidado pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL),[11] a tornar-se candidato ao Governo do Estado de São Paulo na eleição de 2014. No entanto, a candidatura não prosperou por divergências internas.[12][13]

Trajetória intelectual editar

Em suas obras, propõe uma releitura da tradição dialética (em especial Hegel, Marx e Adorno) por meio da teoria psicanalítica de Jacques Lacan, além da reformulação de categorias clássicas do pensamento marxista, como fetichismo, crítica e reconhecimento.[14] Seu projeto filosófico funda-se na procura em construir uma ontologia subtrativa do sujeito a partir da elaboração das críticas feitas a seu caráter fundacionista pelo pós-estruturalismo. Tal ontologia subtrativa seria o horizonte para a reformulação de teorias do reconhecimento, assim como para o redimensionamento das dinâmicas produtivas nos campos da política e da estética.[carece de fontes?]

A seu ver, teorias hegemônicas do reconhecimento (como a que conhecemos através de Axel Honneth, Charles Taylor) pecariam por depender de uma antropologia profundamente normativa que acaba por naturalizar os pressupostos identitários da individualidade moderna. Este é o tema central de Grande Hotel Abismo e aprofundado no livro seguinte: O Circuito dos Afetos. A incorporação da reflexão psicanalítica de Jacques Lacan, com sua noção de sujeito descentrado e sua compreensão da produtividade de experiências de negatividade e desamparo aparece como capaz de fornecer um quadro radicalmente diferente para a inscrição das demandas de reconhecimento, permitindo o desenvolvimento do que o autor chama de "reconhecimento anti-predicativo". Politicamente, tal reconhecimento anti-predicativo permite abrir espaço teórico para uma política pós-identitária, capaz de operar através de um conceito não-substancial de universalidade que força a produção de processos de desinstitucionalização e de zonas sociais de indeterminação.[carece de fontes?]

Por outro lado, tal projeto permite dar lugar àquilo que, nos sujeitos, não se conforma à figura da identidade ou à uma redução egológica da subjetividade, procurando com isto desdobrar temáticas ligadas a não-identidade (Adorno) e ao descentramento (Lacan). Recusando limitar o sujeito ao papel de fundamento dos descaminhos do pensamento moderno no interior das sendas da representação e da identidade, sua filosofia procura insistir na irredutibilidade da centralidade das funções implicativas próprias ao sujeito. Lá onde houver implicação a um acontecimento com sua força de despersonalização e impessoalidade (no que paradoxalmente seu pensamento se serve de temáticas vindas de Deleuze e do pós-estruturalismo francês), haverá sempre um sujeito, por mais larvar que ele possa parecer. Neste sentido, poderíamos reconstruir o conceito de sujeito, mas não simplesmente abandoná-lo. Criticar a antropologia presente no horizonte da humanidade do homem não significaria assim criticar o sujeito como função implicativa.[carece de fontes?]  

Vladimir Safatle é um dos responsáveis pela edição brasileira das Obras Completas, de Theodor Adorno (Editora Unesp) e publicou, em 2019, Dar corpo ao impossível: o sentido da dialética a partir de Theodor Adorno , no qual procura interpretar a dialética negativa adorniana como uma forma de dialética emergente animada por uma processualidade contínua. Ainda organizou, juntamente com Edson Telles, um importante estudo sobre a ditadura militar e suas ramificações no presente, intitulado: O que resta da ditadura: a exceção brasileira (Boitempo, 2010), além de estudos sobre o colapso da esquerda brasileiras e seus modelos (Só mais um esforço). Publicou também contribuições à filosofia da música, à crítica da cultura e à teoria psicanalítica, assim como assinou a introdução à tradução brasileira de obras de filósofos contemporâneos como Slavoj Žižek, Alain Badiou e Judith Butler.[carece de fontes?]. Pela Editora Ubu é coordenador da Coleção Explosante, que publicou livros de Alain Badiou, Carlos Marighella e Frantz Fanon.

Desempenho em eleições editar

Ano Eleição Coligação Partido Candidato a Votos Resultado
2022 Estadual Federação PSOL REDE PSOL Deputado Federal 17.644 (0,07%) Suplente[15]

Obras editar

  • 2003 - Um limite tenso: Lacan entre a filosofia e a psicanálise. São Paulo: Editora Unesp (organização)
  • 2004 - O tempo, o objeto e o avesso: ensaios de filosofia e psicanálise. Belo Horizonte: Autêntica (co-organização)
  • 2006 - Sobre arte e psicanálise. São Paulo: Editora Escuta (co-organização)
  • 2006 - A Paixão do Negativo: Lacan e a dialética São Paulo: Unesp.
  • 2007 - Lacan. São Paulo: Publifolha (republicado pela Editora Autêntica).
  • 2007 - Ensaios sobre música e filosofia. São Paulo: Editora Humanitas (co-organização)
  • 2008 - A filosofia após Freud. São Paulo: Humanitas (co-organização)
  • 2008 - Cinismo e falência da crítica. São Paulo: Boitempo.
  • 2010 - La passion du négatif : Lacan et la dialectique. Hildesheim: Georg Olms Verlag.
  • 2010 - Fetichismo : colonizar o Outro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
  • 2010 - O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo (co-organização)
  • 2012 - A esquerda que não teme dizer seu nome. São Paulo: Três Estrelas.
  • 2012 - Grande hotel abismo: por uma reconstrução da teoria do reconhecimento. São Paulo: WMF Martins Fontes.
  • 2013 - La Izquierda que no teme decir su nombre. Santiago: LOM Ediciones
  • 2015 - O Circuito dos Afetos: Corpos Políticos, Desamparo e o Fim do Indivíduo São Paulo: Cosac Naify (republicado pela Editora Autêntica).[16]
  • 2016 - Grand Hotel Abyss: desire, recognition and the restoration of the subject. Leuven University Press
  • 2016 - Quando as ruas queimam: manifesto pela emergência. São Paulo: N-1 edições
  • 2017 - Só mais um esforço. São Paulo: Três Estrelas
  • 2018 - Patologias do social: arqueologias do sofrimento psíquico. São Paulo: Autêntica (co-organização)
  • 2018 - Um dia, esta luta iria ocorrer. São Paulo: N-1 edições
  • 2019 - Dar corpo ao impossível: o sentido da dialética a partir de Theodor Adorno. Belo Horizonte. Autêntica
  • 2019 - El circuito de los afectos: cuerpos politicos, desamparo y fin del individuo. Cali: Editorial Buonaventura
  • 2020 - Maneiras de transformar mundo: Lacan, política e emancipação, Belo Horizonte, Autêntica
  • 2021 - O neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico, Belo Horizonte : Autêntica (co-organização)
  • 2022 - Em um com o impulso: experiência estética e emancipação social - Bloco I. São Paulo: Autêntica Editora.[17]
  • 2023 - Junho de 2013: rebelião fantasma. São Paulo: Boitempo. (co-autor)[18]

Referências

  1. Buarque, Daniel (15 de março de 2015). «A Nova República acabou, diz filósofo Vladimir Safatle». UOL Notícias. UOL. Consultado em 14 de maio de 2016 
  2. Safatle lança livro na UBE dia 22
  3. a b c Gabriela Sá Pessoa e Tiago Mota (14 de dezembro de 2011). «Sociedade "pós-sushi"». Cásper Líbero. Consultado em 12 de março de 2014. Arquivado do original em 12 de março de 2014 
  4. Latesfip - Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise.
  5. «O piano do filósofo Vladimir Safatle e a voz de Fabiana Lian: união nada convencional». Rede Brasil Atual. 3 de julho de 2019. Consultado em 3 de abril de 2020 
  6. Pinheiro, Pedro Henrique (26 de julho de 2019). «Positivos em relação à produção musical brasileira, Fabiana Lian e Vladimir Safatle lançam "Músicas de Superfície"». Tenho Mais Discos que Amigos. Consultado em 3 de abril de 2020 
  7. Alves Jr., Dirceu (26 de fevereiro de 2017). «Roberto Alvim adianta "Caesar", versão de "Julio Cesar", em leitura gratuita no CCSP». Veja São Paulo. Consultado em 3 de abril de 2020 
  8. «Vladimir Safatle - Colunistas». Folha de S.Paulo. Consultado em 12 de março de 2014 
  9. «Vladimir Safatle: O último artigo». Folha de S.Paulo. 14 de junho de 2019. Consultado em 14 de junho de 2019 
  10. «Vladimir Safatle palestra sobre política dos afetos, na Reitoria da UFBA». Universidade Federal da Bahia. 29 de abril de 2016. Consultado em 16 de março de 2017 
  11. «Filósofo Vladimir Safatle se filia ao PSOL». Folha de S.Paulo. 7 de outubro de 2013. Consultado em 16 de março de 2017 
  12. Truffi, Renan (29 de maio de 2014). «O inimigo é a velha direita e não o PT, diz candidato do PSOL em SP». Carta Capital. Consultado em 16 de março de 2017 
  13. de Araujo, Pedro Zambarda (14 de janeiro de 2014). «"O PT é frouxo com a velha direita": Gilberto Maringoni, candidato ao governo de SP pelo PSOL, fala ao DCM». Diário do Centro do Mundo. Consultado em 16 de março de 2017 
  14. Silvio Carneiro. «Breve biografia comentada de Vladimir Safatle». Consultado em 12 de março de 2014 
  15. «Resultados-TSE». Consultado em 28 de julho de 2023 
  16. «Cosac Naify | O circuito dos afetos». editora.cosacnaify.com.br. Consultado em 21 de janeiro de 2016 
  17. aterraehredonda (6 de dezembro de 2022). «Em um com o impulso». A TERRA É REDONDA. Consultado em 14 de julho de 2023 
  18. «A rebelião fantasma: 10 anos de junho de 2013 com lançamentos pelo país e série de lives». Blog da Boitempo. 6 de junho de 2023. Consultado em 14 de julho de 2023 

Ligações externas editar