Guaruba

Ave endêmica do Brasil em perigo de extinção

A guaruba (Guaruba guarouba ou Aratinga guarouba), também chamada de ararajuba, é uma ave psitaciforme endêmica do norte do Brasil, ameaçada de extinção.[1] As aves chegam a medir até 35 centímetros de comprimento, possuindo uma plumagem amarelo-ouro com rêmiges verdes.[3] Seus hábitos e ciclos de vida em estado selvagem ainda são pouco conhecidos, mas já foi obtida com sucesso sua reprodução em cativeiro. A população total não deve passar dos três mil indivíduos, e está em declínio, ameaçada pela destruição das florestas onde vive, e pela caça ilegal. Sua área de ocorrência diminuiu em 40% em relação à original.[4][5]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaArarajuba
Zoológico de Gramado, no Brasil
Zoológico de Gramado, no Brasil
Estado de conservação
Espécie vulnerável
Vulnerável (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Psittaciformes
Família: Psittacidae
Género: Guaruba
Espécie: G. guarouba
Nome binomial
Guaruba guarouba
Gmelin, 1788
Distribuição geográfica

Sinónimos
ararajuba, aiurujuba, guarajuba, marajuba, tanajuba,[2] ajurujuba, ajurujubacanga, guamba, guarujuba, papagaio-imperial.[carece de fontes?]
Guaruba guarouba - MHNT
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"Ararajuba" vem do termo tupi para "arara amarela", araraîuba. "Aiurujuba" e "ajurujuba" vêm do termo tupi para "papagaio amarelo", aîuruîuba.[6] Possui muitos outros nomes populares, como aiurujuba, guarajuba, marajuba, tanajuba, ajurujuba, ajurujubacanga, guamba, guarujuba, papagaio-imperial.[2]

Descrição e taxonomia

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A guaruba é uma ave vistosa, caracterizando-se por ter a plumagem inteiramente de um amarelo brilhante, salvo as pontas das asas, coloridas de verde-oliva. Não existe dimorfismo sexual. Tem cerca de 34 cm de comprimento.[7][8]

Sua situação taxonômica é polêmica e incerta. A espécie foi descrita pela primeira vez como Aratinga guarouba por Gmelin, em 1788, mas já foi colocada nos gêneros Aratinga, Conurus e Psittacus.[9] É relativamente isolada e não tem parentes próximos.[10] Sua maior afinidade está com o maracanã-nobre (Diopsittaca nobilis).[9] Em 1993, Slick, argumentando que algumas de suas características não se encontram em outras espécies do gênero Aratinga, propôs que fosse reclassificada como Guaruba garouba.[8] Poucos estudos têm sido feitos com esta espécie, e o conhecimento atual sobre ela é muito imperfeito.[9]

Ocorrência e ameaças

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Espécie endêmica do Brasil, seu território é pequeno e se confina à área entre o oeste do Maranhão, sudeste do Amazonas e nordeste do Pará. Recentemente foram avistados indivíduos em Rondônia e no centro-norte do Mato Grosso. A região mais importante está no Pará, entre o rio Tocantins e o baixo Xingu. Segundo Snyder, as populações parecem ser bastante móveis, sendo impossível prever sua localização dentro de sua área de distribuição,[11][12] mas Silveira & Belmonte, e Laranjeiras, localizaram grupos de residência fixa.[13][14]

A população total provavelmente nunca foi grande, mas hoje é com certeza pequena, estimada em apenas mil a três mil indivíduos, e está em declínio. A IUCN a classifica como espécie em perigo.[1]

A guaruba é ameaçada principalmente pela destruição de seu habitat, com suas áreas principais de ocorrência estando em regiões de conflitos pela posse da terra e de exploração madeireira, no chamado "arco do desmatamento" da Amazônia, complicando sua preservação. E apesar de protegida pela lei a espécie também sofre com a caça ilegal, tanto para o comércio, como por esporte e como para alimentação.[11][12] Se não forem realizadas ações de conservação em caráter urgente a espécie possivelmente será extinta dentro em breve.[8][13][15] Somente uma população é razoavelmente protegida, a que habita a Floresta Nacional do Tapajós e a Reserva Biológica do Gurupi no Maranhão, mas as outras estão sob pressão constante.[11] Sua conservação também é prejudicada pela falta de conhecimento sobre muitos aspectos básicos de sua história natural, biologia e ecologia.[16]

A Ararajuba não foi extinta no Maranhão podendo ser encontrada na Reserva Biológica do Gurupi, podendo ser vista pela vasto arquivos de fotos do ICMBio na área.

Biologia e ecologia

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Pouco se sabe sobre seus hábitos no estado selvagem.[8][10] Os registros de observação a encontraram em regiões de contato entre a floresta ombrófila densa submontana e a floresta ombrófila densa de terras baixas, ocorrendo em altitudes medianas entre a planície amazônica e os altos do planalto central.[17] Reúnem-se em grupos de até quarenta indivíduos, divididos em bandos menores de tamanhos variáveis que pernoitam em ninhos separados. Durante a estação chuvosa e o período de nidificação os bandos tendem a ser menores.[18] Enquanto algumas forrageiam e realizam outras atividades nos estratos inferiores, alguns indivíduos se colocam sobre as árvores emergentes da copa florestal, atuando como sentinelas.[13] Passam o período mais quente do dia em repouso, sob a sombra de uma grande árvore.[19] Já foi vista se alimentando de frutas, flores, brotos ou sementes de caju, açaí, anani e especialmente murici, entre outras espécies vegetais, mas não parece ser especializada neles.[8][16][20]

 

A corte entre os casais envolve o penteamento mútuo da plumagem. A cópula dura cerca de dois minutos, e em seguida o casal se dedica a explorar a região objetivando encontrar um bom lugar para o ninho.[13] A árvore eleita geralmente pertence a um pequeno grupo ilhado em uma clareira da floresta densa,[11] podendo ser de várias espécies, incluindo a itaúba (Mezilaurus itauba), o ipê-branco (Tabebuia roseoalba) e a muiricatiara (Astronium lecointei).[21] Seus ninhos são ocos escavados nessas árvores, estejam vivas ou mortas, geralmente a 15–30 m de altura. O vestíbulo do ninho é um túnel que penetra fundamente na árvore, abrindo-se no fim em uma câmara de postura que pode estar numa profundidade de mais de 2 m. O ninho é continuamente escavado pelos pais e pode ter várias entradas. É possível que essa profundidade incomum seja uma defesa contra predadores. Esse modo de nidificação especializado restringe as suas possibilidades para árvores idosas, grossas e de elevado porte - de 40 a 50 m de altura, com mais de 110 cm de diâmetro na altura do peito - mas essas mesmas árvores majestosas e antigas são os alvos preferenciais da indústria madeireira, que devasta a região onde as guarubas vivem.[13][22]

A postura e choco se faz entre novembro-dezembro e abril, mas pode variar regionalmente na dependência das chuvas.[23] A fêmea põe em geral de três a quatro ovos, mas aparentemente os ninhos são coletivos e a postura e eclosão se dão de forma assíncrona. Já foi encontrado um ninho com 14 pintos, mas o sucesso reprodutivo é baixo.[11][24] O grupo alimenta os que chocam.[19] Ao contrário do hábito entre os psitacídeos em geral, outros indivíduos do bando, além do casal, também colaboram no cuidado da prole recém-nascida. Os adultos se aproximam do ninho de manhã cedo, logo após as 6 h, sempre vocalizando. Isso de imediato alerta as crias, que se aproximam da entrada e também passam a vocalizar. Então os adultos descem do alto das copas para alimentar a ninhada, o que acontece oito vezes por dia. Os filhotes também vão à entrada do ninho outras vezes apenas para observar os arredores, mas sempre em presença do grupo, que se dedica então a outras atividades, como penteamento da plumagem, acrobacias nos galhos, lutas simuladas, vocalizações e interação com parceiros. Cada visita dura cerca de 35 minutos. Em alguns grupos os adultos pernoitam com os filhotes, enquanto que em outros eles são deixados sozinhos, indo o grupo dormir em outro ninho em uma árvore próxima. A saída do ninho das crias e seus primeiros voos são supervisionados pelos adultos. Os jovens são alimentados por algum tempo pelo grupo.[13][25]

O grupo é internamente muito sociável e cooperativo,[26] mas também é muito territorial, expulsando muitas espécies de aves de sua área de nidificação, incluindo rapineiros, tucanos e outros papagaios, usando técnicas agressivas de ataque e intensa vocalização. Por outro lado, toleram a presença de Picidae, Passeriformes, uma coruja (Strix virgata) e morcegos nas árvores em que nidificam. Seus principais inimigos são os tucanos Ramphastos tucanus e Ramphastos vitellinus, macacos, iraras e serpentes, que predam ovos e filhotes.[13] A Ara macao pode expulsar a guaruba de seus ninhos e o Falco rufigularis e outros rapineiros podem expulsá-las de seus locais de repouso e alimentação.[27]

Cativeiro

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Os primeiros registros sobre a espécie foram deixados no século XVII, e foi citada por muitos viajantes e exploradores dos séculos seguintes. Era e é popular entre os indígenas, e até hoje serve como moeda de troca entre algumas tribos.[28] Também é muito cobiçada no mercado nacional e internacional como animal de estimação, sendo dócil, sociável, afetuosa e "conversadora", e desde 1939 é tentada sua criação em cativeiro, muitas vezes bem sucedida. Porém, ela se revela custosa e difícil, a ave exige boas instalações e grande atenção, está sujeita a doenças e alterações de comportamento que podem incluir automutilação, e não é recomendada para amadores.[7][29]

Em cativeiro costuma fazer uma postura de três a quatro ovos entre outubro e março. Quando os filhotes são removidos para criação humana o casal pode realizar outras posturas. A maturidade sexual acontece entre os três e quatro anos de idade, e sua vida pode se estender até uma média de vinte a trinta anos.[8]

Ver também

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Referências

  1. a b c «Guaruba guarouba». Lista Vermelha da IUCN de espécies ameaçadas da UICN 2024 (em inglês). ISSN 2307-8235. Consultado em 4 de março de 2016 
  2. a b Ferreira, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.875
  3. «Zoological Nomenclature Resource: Psittaciformes» (em inglês). Consultado em 23 de outubro de 2010 
  4. Laranjeiras, Thiago Orsi (2008). Distribuição geográfica, história natural e conservação da ararajuba (Guarouba guarouba - psittacidae) (Dissertação de Mestrado em Ecologia). Manaus: INPA-UFAM. 114 páginas. Consultado em 4 de março de 2016 
  5. «Golden Parakeet (Guaruba guarouba) - BirdLife species factsheet». www.birdlife.org. Consultado em 4 de março de 2016 
  6. Vocabulário. Curso de Tupi Antigo
  7. a b Mancini, Julie Rach. Conure. John Wiley & Sons, 2006, p. 29
  8. a b c d e f Miyaki, Cristina et al. "DNA fingerprinting in the endangered parrot Garouba and other Aratinga species". In: Revista Brasileira de Genética, 18, 3, 405-411
  9. a b c Laranjeiras, pp. 1-2
  10. a b Oren, David & Willis, Edwin. "New Brazilian Records for the Golden parakeet (Aratinga guarouba)". In: The Auk, vol, 98, 1981, p. 394
  11. a b c d e http://www.birdlife.org/datazone/speciesfactsheet.php?id=9847
  12. a b Snyder, Noel F. R. Parrots: Status Survey and Conservation Action Plan 2000-2004. IUCN, 2000, p. 132
  13. a b c d e f g Silveira, Luís Fábio & Belmonte, Fernando José. "Comportamento reprodutivo e hábitos da ararajuba, Guarouba guarouba, no município de Tailândia, Pará". In: Ararajuba 13 (1):89-93, junho de 2005
  14. Laranjeiras, p. 92
  15. Laranjeiras, p. 24
  16. a b Laranjeiras, p. 3
  17. Laranjeiras, pp. 23; 41
  18. Laranjeiras, pp. 50-53; 79-81
  19. a b Laranjeiras, p. 55
  20. Laranjeiras, pp. 61-62; 93
  21. Laranjeiras, p. 69
  22. Laranjeiras, pp. 41; 60-71
  23. Laranjeiras, p. 96
  24. Laranjeiras, pp. 79; 96-100
  25. Laranjeiras, pp. 65-73
  26. Laranjeiras, pp. 72-73
  27. Laranjeiras, pp. 75-77
  28. Yamashita, Carlos. "Field observations of the biology and comments on the conservation of the golden conure (Guaruba guarouba)". In: Proceedings of the International Aviculturists Society, 2003
  29. Vriends, Matthew M. Conures: Everything about Purchase, Care, Nutrition, and Behavior. Barron's Educational Series, 2000, p. 6

Ligações externas

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