Homo
Homo | |
---|---|
Ocorrência: 2.5–0 Ma
Plioceno–presente | |
![]() Características cranianas de algumas espécies de Homo (esquerda para direita: Homo habilis, Homo erectus, Homo floresiensis, Homo naledi). | |
Classificação científica | |
Espécies | |
Homo é o gênero que inclui automaticamente os humanos modernos (Homo sapiens sapiens) e espécies estreitamente relacionadas com eles. Estima-se que o gênero tenha se iniciado há cerca de 2,5-3,2 milhões de anos,[1][2][3][4] evoluindo de ancestrais australopitecíneos com o surgimento do Homo habilis. O H. habilis, especificamente, é considerado descendente direto do Australopithecus garhi, que viveu há cerca de 2,5 milhões de anos. Ainda, em maio de 2010, o Homo gautengensis foi descoberto, uma espécie que acredita-se ser ainda mais antiga que o H. habilis.[5] Mais recentes descobertas fósseis na mesma região, incluindo as icónicas pegadas Laetoli da Tanzânia, de 3,7 milhões de anos, que mostram pés semelhantes a humanos e locomoção vertical, cimentaram a ideia de que os homininis (primeiros membros da linhagem humana) não só se originaram na África,[6] mas permaneceram isolados por vários milhões de anos antes de se dispersarem para a Europa e Ásia.[7] A descoberta de pegadas humanas em Creta de aproximadamente 5,7 milhões de anos, publicada em 2017,[8] derruba essa imagem simples e sugere uma realidade mais complexa.[9]
O mais saliente desenvolvimento fisiológico entre as duas espécies é o aumento da capacidade encefálica (ou craniana), de cerca de 450 cm³ no A. garhi para 600 cm³ no H. habilis. Dentro do gênero Homo, a capacidade craniana novamente foi duplicada entre o H. habilis e o Homo ergaster, ou através do H. erectus ao Homo heidelbergensis, de há 600 milhares de anos. A capacidade craniana do H. heidelbergensis sobrepôs-se com a variação encontrada nos humanos modernos. Acreditava-se que o advento do gênero Homo tinha coincidido com a primeira evidência do uso ferramentas de pedra (a indústria Olduvaiense) e assim, por definição, com o início do período Paleolítico Inferior. No entanto, uma recente evidência encontrada na Etiópia indicou que a primeira vez que houve a utilização de ferramentas de pedra ocorreu há 3,39 milhões de anos.[10] O surgimento do gênero Homo coincide aproximadamente com o início da glaciação do Quaternário, o início da era do gelo atual.
Todas as espécies desse gênero, exceto o Homo sapiens (os humanos modernos) estão extintas. O Homo neanderthalensis, tradicionalmente considerado o último parente humano vivo, extinguiu-se há cerca de 24 mil anos. No entanto, uma recente descoberta sugere que uma outra espécie, o Homo floresiensis, descoberto em 2003, pode ter vivido tão recentemente como há 12 mil anos. Os outros Homininae sobreviventes — os chimpanzés e gorilas — têm um alcance geográfico limitado. Em contraste, a evolução dos seres humanos é uma história de migrações e miscigenações. De acordo com estudos genéticos, os humanos modernos foram criados a partir de "pelo menos dois grupos" de seres humanos antigos: os Neandertais e os Denisovanos.[11] Os seres humanos se dividiram e alguns deixaram a África várias vezes para ocupar a Eurásia e, finalmente, Américas, Oceania e o resto do mundo.
EtimologiaEditar
Nas ciências biológicas, em particular na antropologia e na paleontologia, o nome comum para todos os membros do gênero Homo é "humano".
A palavra homo é latina, no sentido original de "ser humano" e não "homem" no sentido genérico do gênero-neutro. A palavra "humano" em si vem do latim humanus, um cognato adjetivo para homo, que acredita-se ter sido derivada de uma palavra proto-indo-europeia para "terra", reconstruída como *dhǵhem-.[12]
O nome binominal Homo sapiens é atribuído a Carl Linnaeus (1758).[13]
Nomes de outras espécies começaram a ser cunhados na segunda metade do século XIX (H. neanderthalensis - 1864, H. erectus - 1892).
EspéciesEditar
O estatuto de espécies como o Homo rudolfensis, Homo ergaster, Homo georgicus, Homo antecessor, Homo cepranensis, Homo rhodesiensis e Homo floresiensis permanece em debate. O Homo heidelbergensis e o Homo neanderthalensis estão estreitamente relacionados uns aos outros e têm sido considerados como uma subespécie de Homo sapiens. Recentemente, o DNA nuclear de um espécime Neanderthal da Caverna Vindija foi sequenciado utilizando dois métodos diferentes que produziram resultados semelhantes em relação às linhagens do Neanderthal e do Homo sapiens, com ambas as análises, sugerindo uma data para a divisão entre há 460 000 e 700 000 anos, embora uma fração de população de cerca de 370.000 anos seja inferida. Os resultados de DNA nucleares indicam que cerca de 30% dos alelos derivados no H. sapiens também estão na linhagem do Neanderthal. Esta alta frequência pode sugerir algum fluxo gênico entre ancestrais humanos e populações neandertais.[14]
O Homo naledi foi descoberto perto de Joanesburgo, na África do Sul, em 2013 e anunciado em 10 de setembro de 2015 pela Universidade de Witwatersrand (Wits University), National Geographic Society, Departamento de Ciência e Tecnologia e pela Fundação Nacional para Pesquisa da África do Sul. Fósseis indicam que o hominídeo tinha entre 1,45-1,5 metro de altura e tinha um cérebro pequeno.[15] Os fósseis ainda têm ainda de ser datados, mas são estimados em cerca de 2,5 milhões de anos de idade..[16]
Espécie | Período de existência (Ma) | Onde viveu | Altura (adulto) | Massa (adulto) | Capacidade encefálica (cm³) | Registro fóssil | Descoberta / publicação do nome |
---|---|---|---|---|---|---|---|
Hominídeo de Denisova | 0.04 | Krai de Altai (Rússia) | 1 sitio | 2010 | |||
H. antecessor | 0.85 – 0.75 | Espanha | 1,75 m | 90 kg | 1.000 | 2 sitios | 1997 |
H. cepranensis | 0.8 – 0.35 | Itália | 1.000 | 1 calota craniana | 1994/2003 | ||
H. erectus | 1.8 – 0.03 | África, Eurásia (Java, China, Índia, Cáucaso) | 1.8 m | 60 kg | 850 (primeiro) – 1.100 (último) | Muitos | 1891/1892 |
H. ergaster | 1.8 – 1.3 | África Oriental e Austral | 1,9 m | 700–850 | Muitos | 1975 | |
H. floresiensis | 0.095 – 0.012 | Indonésia | 1,0 m | 25 kg | 400 | 7 indivíduos | 2003/2004 |
H. gautengensis | 1.9 – 0.6 | África do Sul | 1,0 m | 1 indivíduo | 2010/2010 | ||
H. georgicus | 1.8 | Geórgia | 600 | 4 indivíduos | 1999/2002 | ||
H. habilis | 2.1 – 1.5 | África | 1,0 – 1,5 m | 33 – 55 kg | 510–660 | Muitos | 1960/1964 |
H. heidelbergensis | 0.6 – 0.2 | Europa, África, China | 1,8 m | 90 kg | 1.100–1.400 | Muitos | 1908 |
H. neanderthalensis | 0.23 – 0.028 | Europa, Sudoeste Asiático | 1,6 m | 55 – 70 kg | 1.200–1.900 | Muitos | (1829)/1864 |
H. naledi | 0.2 - 0.3 (2017 estimativas) | África do Sul | 1,5 m | 45 kg | 560 | 1 sitio | (2013)/2015 |
H. rhodesiensis | 0.3 – 0.125 | Zâmbia | 1.300 | Muito poucos | 1921 | ||
H. rudolfensis | 2.5 - 1.8 | Quênia | 1 crânio | 1972/1986 | |||
Homem da caverna do Veado Vermelho | 0.0145 - 0.0115 | China | Muito poucos | 1979/2012 | |||
H. sapiens idaltu | 0.16 – 0.15 | Etiópia | 1.450 | 3 crânios | 1997/2003 | ||
H. sapiens sapiens (humanos) | 0.195 – presente | Mundo | 1,5 – 1,8 m | 50 – 80 kg | 1.000–1.850 | Ainda vivo | —/1758 |
Migração e miscigenaçãoEditar
A perspectiva deste planisfério centra-se no pólo norte, para facilitar a compreensão das rotas das migrações.
O Homo habilis, que é considerado o primeiro membro do gênero Homo, deu origem ao Homo ergaster. Alguns H. ergaster migraram para a Ásia, onde eles são chamados Homo erectus, e para a Europa com o Homo georgicus. O H. ergaster na África e o H. erectus na Eurásia evoluíram separadamente por quase dois milhões de anos e, presumivelmente, separaram-se em duas espécies diferentes. O Homo rhodesiensis, que era descendente do H. ergaster, migrou da África para a Europa e se tornou o Homo heidelbergensis e, mais tarde (cerca de há 250 000 anos), o Homo neanderthalensis e o hominídeo de Denisova na Ásia. O primeiro Homo sapiens, descendente do H. rhodesiensis, surgiu na África há cerca de 250 000 anos. Há cerca de 100 000 anos, alguns H. sapiens sapiens migraram da África para o Levante e se reuniram com os neandertais residentes, com alguma miscigenação genética.[17] Mais tarde, há cerca de 70 000 anos, talvez depois da catástrofe de Toba, um pequeno grupo deixou o Levante para preencher a Eurásia, Austrália e, mais tarde, as Américas. Um subgrupo entre eles encontrou os Denisovanos[18] e, depois de alguma misgenação, migraram para preencher a Melanésia. Neste cenário, a maior parte das pessoas não-africanas de hoje têm origem africana ("hipótese da origem única"). Contudo, também houve alguma mistura entre os neandertais e os Denisovanos, que evoluíram localmente (a "evolução multirregional"). Resultados genômicos recentes do grupo de Svante Pääbo também mostram que há 30.000 anos, pelo menos, três subespécies principais co-existiram: os Denisovans, Neandertais e os Cro-magnons.[19] Hoje, apenas o Homo sapiens sapiens sobreviveu, sem outras espécies ou subespécies existentes.
Ver tambémEditar
Referências
- ↑ 'Homo' is the only primate whose tooth size decreases as its brain size increases por Juan Manuel Jiménez-Arenas, Juan Antonio Pérez-Claros, Juan Carlos Aledo, Paul Palmqvist. On the Relationships of Postcanine Tooth Size with Dietary Quality and Brain Volume in Primates: Implications for Hominin Evolution. BioMed Research International, 2014; 2014: 1 DOI: 10.1155/2014/406507
- ↑ 'First human' discovered in Ethiopia por Pallab Ghosh em 4/mar/2015 na "BBC News"
- ↑ Stringer, C.B. (1994). «Evolution of early humans». In: Steve Jones, Robert Martin & David Pilbeam (eds.). The Cambridge Encyclopedia of Human Evolution. Cambridge: Cambridge University Press. p. 242. ISBN 0-521-32370-3 Also ISBN 0-521-46786-1 (paperback)
- ↑ McHenry, H.M (2009). «Human Evolution». In: Michael Ruse & Joseph Travis. Evolution: The First Four Billion Years. Cambridge, Massachusetts: The Belknap Press of Harvard University Press. p. 265. ISBN 978-0-674-03175-3
- ↑ Curnoe, D. «A review of early Homo in southern Africa focusing on cranial, mandibular and dental remains, with the description of a new species (Homo gautengensis sp. nov.)». Homo. 61 (3): 151-77. doi:10.1016/j.jchb.2010.04.002
- ↑ Harrison, Terry (2011). Paleontology and Geology of Laetoli: Human Evolution in Context. Volume 2: Fossil Hominins and the Associated Fauna. [S.l.]: Springer. pp. 141–188. ISBN 978-9400735088
- ↑ Harrison, Terry (2011). Paleontology and Geology of Laetoli, Tanzania: Human Evolution in Context. Volume 1: Geology, Geochronology, Paleoecology and Paleoenvironment. [S.l.]: Springer. ISBN 978-9048199556
- ↑ Gerard D. Gierlińskia et al. Possible hominin footprints from the late Miocene (c. 5.7 Ma) of Crete? Procedimentos da Associação de Geólogos, 2017 DOI: 10.1016/j.pgeola.2017.07.006
- ↑ Fossil footprints challenge established theories of human evolution publicado pela Universidade de Uppsala (2017)
- ↑ McPherron, S. P., Z. Alemseged, C. W. Marean, J. G. Wynn, D. Reed, D. Geraads, R. Bobe, and H. A. Bearat. 2010. Evidence for stone-tool-assisted consumption of animal tissues before 3.39 million years ago at Dikika, Ethiopia. Nature 466:857-860.
- ↑ Mitchell, Alanna (30 de janeiro de 2012). «DNA Turning Human Story Into a Tell-All». NYTimes. Consultado em 31 de janeiro de 2012
- ↑ dhghem The American Heritage Dictionary of the English Language: Fourth Edition. 2000.
- ↑ Note: In 1959, Linnaeus was designated as the lectotype for Homo sapiens (Stearn, W. T. 1959. "The background of Linnaeus's contributions to the nomenclature and methods of systematic biology", Systematic Zoology 8 (1): 4-22, p. 4) which means that following the nomenclatural rules, Homo sapiens was validly defined as the animal species to which Linnaeus belonged.
- ↑ Biological Anthropology: 2nd Edition. 2009. Craig Stanford et al.
- ↑ Shaun Smillie,"Homo naledi--New human ancestor buried its dead," Times Live, 10 Sept 2015.
- ↑ Berger, Lee R.; et al. (10 de setembro de 2015). «Homo naledi, a new species of the genus Homo from the Dinaledi Chamber, South Africa». eLife. 4. doi:10.7554/eLife.09560. Consultado em 10 de setembro de 2015. Resumo divulgativo
- ↑ Green RE, Krause J, et al. A draft sequence of the Neandertal genome. Science. 2010 May 7;328(5979):710-22. doi:10.1126/science.1188021 PMID 20448178
- ↑ Reich D, Green RE, Kircher M, et al. (dezembro de 2010). "Genetic history of an archaic hominin group from Denisova Cave in Siberia". Nature 468 (7327): 1053–60. doi:10.1038/nature09710. PMID 21179161.
- ↑ Reich D ., et al. Denisova admixture and the first modern human dispersals into southeast Asia and Oceania. Am J Hum Genet. 2011 Oct 7;89(4):516-28, doi:10.1016/j.ajhg.2011.09.005 PMID 21944045.