Identidade de polarização

Em álgebra linear, a identidade de polarização expressa um produto interno de um espaço normado em função de sua norma. Se uma norma surge de um produto interno, então a identidade de polarização pode ser usada para expressar esse produto interno inteiramente em termos da norma.

Vetores envolvidos na identidade de polarização.

A norma gerada por um produto interno, satisfaz a lei do paralelogramo: . De fato, como observado por John von Neumann,[1] a lei do paralelogramo caracteriza as normas que surgem de produtos internos. Explicitamente, se é um espaço normado, então:[2][3]

A lei do paralelogramo vale para norma se e somente se existe um produto interno em tal que para todo

Identidades de polarização editar

Um produto interno, em um espaço vetorial, gera uma norma por meio da seguinte relação:

 
Com a identidade de polarização a relação é invertida: é possível obter um produto interno de uma norma. Todo produto interno satisfaz:
 

Espaços vetoriais reais editar

Se o espaço vetorial é sobre os números reais, então as identidades de polarização são definidas por:

 

Essas formas são todas equivalentes por conta da lei do paralelogramo:[prova 1]

 

Espaços vetoriais complexos editar

Para o espaço vetorial complexo, as identidades de polarização devem considerar a parte imaginária do produto interno. A parte complexa do produto interno depende se é antilinear no primeiro ou no segundo argumento. A notação   que é comumente usada em física será assumida como antilinear no primeiro argumento enquanto   que é comumente usado em matemática, será considerada antilinear no segundo argumento. Elas estão relacionados pela fórmula:

 

A parte real de qualquer produto interno (independente de qual argumento é antilinear ou se é real ou complexo) é uma função bilinear simétrica que para qualquer   é sempre igual a:[4]

 

É sempre uma função simétrica, ou seja:[prova 1]

 
e também satisfaz:
 
Prova
 

Portanto  , em outras palavras, mover um fator de   para o outro argumento adiciona um sinal negativo.

Diferente da sua parte real, a parte imaginária de um produto interno complexo depende de qual argumento é antilinear.

Antilinear no primeiro argumento editar

Para o produto interno   antilinear no primeiro argumento, para todo  

 

A penúltima igualdade é semelhante a fórmula que expressa o funcional linear   em termos de sua parte real:  

Antilinear no segundo argumento editar

Para o produto interno   que é antilinear no segundo argumento, segue de  pela relação:   Então para quaisquer  [4]

 

Essa expressão pode reescrita como:[5]

 

Portanto se   denota as partes real e imaginária de um produto interno no ponto   do seu domínio, então sua parte imaginária será:

 
em que o escalar   está sempre localizado no mesmo argumento que o produto interno é antilinear.

Reconstruindo o produto interno editar

Seja   um espaço normado que satisfaz a lei do paralelogramo:

 
então existe um único produto interno   em   tal que   para todo  [4][1]

Outra condição necessária e suficiente para existir um produto interno que induz uma norma dada é que a norma satisfaça a desigualdade de Ptolomeu:[6]

 

Aplicações e consequências editar

Se  é um espaço de Hilbert complexo, então   é real se, e somente se, sua parte complexa é   o que acontece se, e somente se,   Similarmente,   é imaginário puro se, e somente se,   Por exemplo, de   conclui-se que   é real e que   é imaginário puro.

Isometrias editar

Se   é uma isometria linear entre dois espaços de Hilbert (logo   para todo  ), então

 
ou seja, isometrias linear preservam o produto interno.

Se   é uma isometria antilinear, então

 

Relação com a lei dos cossenos editar

A segunda forma da identidade de polarização pode ser escrita como:

 
Essencialmente, essa é uma forma vetorial da lei dos cossenos para o triângulo formado pelos vetores  , e  . Em particular,
 
em que   é o ângulo entre os vetores   e  .

Dedução editar

A relação básica entre a norma e o produto escalar é dada pela equação:

 
então,
 
similarmente,
 
As formas (1) e (2) da identidade de polarização são obtidas resolvendo essas equações para u · v, enquanto a forma (3) é obtida subtraindo essas duas equações (somando-as obtém-se a lei do paralelogramo).

Notas e referências editar

Referências editar

  1. a b Lax 2002, p. 53.
  2. Blanchard, Philippe; Bruening, Erwin (4 de outubro de 2002). Mathematical Methods in Physics: Distributions, Hilbert Space Operators, and Variational Methods (em inglês). [S.l.]: Springer Science & Business Media. p. 192. ISBN 0817642285 
  3. Teschl, Gerald (27 de março de 2017). «Mathematical Methods in Quantum Mechanics; With Applications to Schrödinger Operators». American Mathematical Society Bookstore. Theorem 0.19 (Jordan–von Neumann). ISBN 978-0-8218-4660-5. Consultado em 1 de fevereiro de 2022 
  4. a b c Schechter 1996, pp. 601-603.
  5. «normed spaces - Derivation of the polarization identities?». Mathematics Stack Exchange. Consultado em 1 de fevereiro de 2022 
  6. Apostol, Tom M. (1 de novembro de 1967). «Ptolemy's Inequality and the Chordal Metric». Mathematics Magazine (5): 233–235. ISSN 0025-570X. doi:10.1080/0025570X.1967.11975804. Consultado em 1 de fevereiro de 2022 

Notas editar

  1. a b Seja   Como   temos que   e   Além disso,   o que prova que   Como   temos que   e   portanto   o que prova que    

Bibliografia editar